terça-feira, 28 de julho de 2009

OS CÃES NOS VENCERAM

Artigo publicado no jornal O Estdo do Maranhão, sabado passado


OS CÃES NOS VENCERAM


ewerton.neto@hotmail.com
artigo publicado na coluna Hoje é dia de, Estado do Maranhão, sábado



Um dos maiores orgulhos da raça humana é a crença de que, por ter sobrevivido até hoje, o homem é superior e distinto das demais espécies. Engano crasso, pois aí estão outros animais que sobreviveram melhor aos séculos como ratos, mosquitos e... cachorros. Poucos duvidam que, depois que a raça humana se for, restarão para sempre os indefectíveis mosquitos, ratos e baratas. E os cachorros, sobreviverão? Não interessa, o que importa é que hoje vivem muito melhor que os seres humanos conforme mostra recente reportagem da revista Veja, desta semana. Eis alguns breves tópicos dessa trajetória vitoriosa:

1. Os cães eram lobos há muitos anos. Ninguém sabe como é
que se adaptaram à convivência humana. Provavelmente, logo viram que a proximidade lhes era providencial para ganhar comida, cama e roupa lavada em troca de um servicinho aqui, outro ali. Se com isso perderam características como a intrepidez natural, de animais selvagens, em compensação as substituíram pelo arsenal de qualidades oportunistas dos seres humanos: dissimulação, vaidade, covardia e... Eis que sobreviveram e estão aí até hoje. Enquanto isso, seus ancestrais, os lobos...

2. Os cães levaram uma grande vantagem, ao longo dos
séculos, com essa história de melhor amigo do homem. Ora, se os humanos jamais praticaram e entenderam esse negócio de amizade, cedo haveria de surgir um vácuo de carência afetiva, onde colocariam a primeira raça que deles se aproximasse. O fato de que, vez por outra, atitudes caninas de lealdade sejam registradas e louvadas, não seria apenas porque estas sejam tão raras no gênero humano? Por outro lado, quantas e quantas vezes crianças e velhinhas não foram trucidadas por cães? Que história é essa de melhor amigo? Isso mais parece história para boi dormir, ou melhor, para cachorro cochilar. Na poltrona do papai.

3. Igualmente muito espertos, jamais quiseram aprender a
linguagem humana. Cedo aprenderam que a origem de todos os problemas humanos nasceu com a linguagem: casamentos que não sobrevivem, amizades que não duram, leis que não funcionam etc. tudo por causa do excesso de palavras. Daí que se até hoje os cães latem, isso é para que os seres humanos jamais saibam o que estão pensando, demonstrando assim que se especializaram ao longo dos séculos em usar a incompreensão e o silêncio em proveito próprio. Com isso se tornaram melhores filhos, melhores amigos e até melhores amantes que os seres humanos. Não é isso mesmo, peruas carentes?

4. Eternamente empolgados consigo mesmos eis que, completados 40 anos da conquista da lua (?), os homens se esqueceram de que quem primeiro saiu da órbita terrestre não foi um homem, o russo Gagarin, mas a cachorrinha Laika, hoje esquecida e injustiçada. A diferença é que os cachorros, mais sábios, nunca mais se prestaram a aventuras inúteis, enquanto os homens continuaram insistindo com elas, gastando rios de dinheiro para encontrarem pedaços de rochas, mais devastadas que as do sertão do Ceará. Cães, aliás, sempre foram muito mais pragmáticos: a única viagem em que embarcam, sem lucro à vista, é a do próprio enterro.

5. Hoje os cachorros gozam de privilégios que os humanos não têm. Existe 1 pet-shop para cada conjunto de 1200 cães, enquanto o número de farmácias é de uma para cada 2600 humanos. Cães desfilam de um lado para outro em carrinhos de bebês, vão para cabeleireiro, dormem no sofá de analistas e dia virá em que a grande preocupação da comunidade científica será tentar descobrir onde é que fica o ponto G das cadelas. Outra grande diferença se refere à assistência médica. Enquanto as carteirinhas dos planos de saúde dos humanos não dão direito a nada, um cão é atendido rapidamente em clínicas especializadas sem que seja preciso apresentar sequer carteira de identidade.

6. Nada porém é mais emblemático da vitória dos cães do que
o cocô. Enquanto os humanos têm nojo das próprias fezes e, quando vêem um igual defecando na rua, chamam a polícia e lhe atiram pedras, quando se trata de um cão, riem, fazem gracinhas e só faltam cantar parabéns para cada monturo que aparece. Seus donos fazem fila para assisti-los defecar nas praças, com o mesmo prazer que estivessem assistindo ao show do funeral de Michael Jackson. Quando os animais terminam, lá permanecem as fezes, enfeitando os caminhos como se fossem flores ao nível do chão. Ninguém limpa, ninguém acha que isso seja falta de educação; o que nos leva a uma curiosidade final. Será que se ao invés, o cachorro é que fosse o dono e levasse o humano para passear, não saberiam ter a educação de limpar seus dejetos?
Possivelmente não, embora isso pudesse ter acontecido muito tempo atrás, quando os cães ainda tinham educação. Agora é tarde, eles já aprenderam com os seres humanos.

domingo, 26 de julho de 2009

Os cães nos venceram





OS CÃES NOS VENCERAM


ewerton.neto@hotmail.com
artigo publicado na coluna Hoje é dia de, Estado do Maranhão, sábado



Um dos maiores orgulhos da raça humana é a crença de que, por ter sobrevivido até hoje, o homem é superior e distinto das demais espécies. Engano crasso, pois aí estão outros animais que sobreviveram melhor aos séculos como ratos, mosquitos e... cachorros. Poucos duvidam que, depois que a raça humana se for, restarão para sempre os indefectíveis mosquitos, ratos e baratas. E os cachorros, sobreviverão? Não interessa, o que importa é que hoje vivem muito melhor que os seres humanos conforme mostra recente reportagem da revista Veja, desta semana. Eis alguns breves tópicos dessa trajetória vitoriosa:

1. Os cães eram lobos há muitos anos. Ninguém sabe como é
que se adaptaram à convivência humana. Provavelmente, logo viram que a proximidade lhes era providencial para ganhar comida, cama e roupa lavada em troca de um servicinho aqui, outro ali. Se com isso perderam características como a intrepidez natural, de animais selvagens, em compensação as substituíram pelo arsenal de qualidades oportunistas dos seres humanos: dissimulação, vaidade, covardia e... Eis que sobreviveram e estão aí até hoje. Enquanto isso, seus ancestrais, os lobos...

2. Os cães levaram uma grande vantagem, ao longo dos
séculos, com essa história de melhor amigo do homem. Ora, se os humanos jamais praticaram e entenderam esse negócio de amizade, cedo haveria de surgir um vácuo de carência afetiva, onde colocariam a primeira raça que deles se aproximasse. O fato de que, vez por outra, atitudes caninas de lealdade sejam registradas e louvadas, não seria apenas porque estas sejam tão raras no gênero humano? Por outro lado, quantas e quantas vezes crianças e velhinhas não foram trucidadas por cães? Que história é essa de melhor amigo? Isso mais parece história para boi dormir, ou melhor, para cachorro cochilar. Na poltrona do papai.

3. Igualmente muito espertos, jamais quiseram aprender a
linguagem humana. Cedo aprenderam que a origem de todos os problemas humanos nasceu com a linguagem: casamentos que não sobrevivem, amizades que não duram, leis que não funcionam etc. tudo por causa do excesso de palavras. Daí que se até hoje os cães latem, isso é para que os seres humanos jamais saibam o que estão pensando, demonstrando assim que se especializaram ao longo dos séculos em usar a incompreensão e o silêncio em proveito próprio. Com isso se tornaram melhores filhos, melhores amigos e até melhores amantes que os seres humanos. Não é isso mesmo, peruas carentes?

4. Eternamente empolgados consigo mesmos eis que, completados 40 anos da conquista da lua (?), os homens se esqueceram de que quem primeiro saiu da órbita terrestre não foi um homem, o russo Gagarin, mas a cachorrinha Laika, hoje esquecida e injustiçada. A diferença é que os cachorros, mais sábios, nunca mais se prestaram a aventuras inúteis, enquanto os homens continuaram insistindo com elas, gastando rios de dinheiro para encontrarem pedaços de rochas, mais devastadas que as do sertão do Ceará. Cães, aliás, sempre foram muito mais pragmáticos: a única viagem em que embarcam, sem lucro à vista, é a do próprio enterro.

5. Hoje os cachorros gozam de privilégios que os humanos não têm. Existe 1 pet-shop para cada conjunto de 1200 cães, enquanto o número de farmácias é de uma para cada 2600 humanos. Cães desfilam de um lado para outro em carrinhos de bebês, vão para cabeleireiro, dormem no sofá de analistas e dia virá em que a grande preocupação da comunidade científica será tentar descobrir onde é que fica o ponto G das cadelas. Outra grande diferença se refere à assistência médica. Enquanto as carteirinhas dos planos de saúde dos humanos não dão direito a nada, um cão é atendido rapidamente em clínicas especializadas sem que seja preciso apresentar sequer carteira de identidade.

6. Nada porém é mais emblemático da vitória dos cães do que
o cocô. Enquanto os humanos têm nojo das próprias fezes e, quando vêem um igual defecando na rua, chamam a polícia e lhe atiram pedras, quando se trata de um cão, riem, fazem gracinhas e só faltam cantar parabéns para cada monturo que aparece. Seus donos fazem fila para assisti-los defecar nas praças, com o mesmo prazer que estivessem assistindo ao show do funeral de Michael Jackson. Quando os animais terminam, lá permanecem as fezes, enfeitando os caminhos como se fossem flores ao nível do chão. Ninguém limpa, ninguém acha que isso seja falta de educação; o que nos leva a uma curiosidade final. Será que se ao invés, o cachorro é que fosse o dono e levasse o humano para passear, não saberiam ter a educação de limpar seus dejetos?
Possivelmente não, embora isso pudesse ter acontecido muito tempo atrás, quando os cães ainda tinham educação. Agora é tarde, eles já aprenderam com os seres humanos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, ultimo sabado

SOBREVIVENTES DOS PENSIONATOS

José Ewerton Neto, engenheiro, membro da AML, autor de Ei, você conhece Alexander Guaracy?

ewerton.neto@hotmail.com




São eles: jovens, lutadores, intrépidos. Antigamente moravam em repúblicas, hoje moram em pensionatos. As repúblicas eram mais fechadas: clubes de Luluzinha e Bolinha, os pensionatos de hoje são abertos, permitem a convivência dos sexos. Antigamente os das repúblicas queriam mudar o mundo, mas o sonho acabou, disse John Lennon, e os do pensionato, hoje, mais pragmáticos, só querem o justo sucesso, encarando os reveses da vida com muito humor e ironia. Usando um pouco dessa verve , que lhes é tão característica, destacamos alguns dos seus tipos mais comuns:


Rafinha, 22, estudante de fisioterapia. Diz que gostava mesmo era de fitoterapia, mas acabou confundindo-se e fazendo vestibular para fisioterapia. É considerado a alegria da casa, principalmente no fim do mês, porque é o único que ainda tem grana para emprestar para a turma. Vive trocando a pronuncia das palavras. E-mail, pronuncia eu meio, e Google pronuncia gagogo. Os outros desconfiam que isso não passa de uma estratégia para não dar a impressão de que seu português é ruim assim mesmo Além de trocar palavras troca também namoradas, chaveiros de times de futebol e cedês piratas. Ultimamente, anda na fase de tentar trocar suas respostas nas provas, com quem não for muito esperto.
De onde veio: da barriga de sua mãe
Apelido: Rafael
Despesas mensais: 700 da faculdade mais 400 com jogos de qualquer espécie, mas o que mais aprecia é jogar suas apostilas no lixo. O dinheiro do pensionato, empresta a juros.

Patricia, 25, estudante de psicologia. Considera-se a musa do pensionato, desde que foi eleita numa eleição indireta, apenas com a presença de sua colega de quarto. Na eleição direta, com a presença da maioria, ao invés de musa foi eleita a me-usa. De personalidade conflitante, tem horror a ser considerada Patricinha, a ponto de pedir para ser chamada Teresinha mesmo tendo o nome de Patrícia. Instável, sabe brigar, pelos seus direitos e reivindica a três por quatro o direito de poder usar calcinhas alheias. Voluntariosa, sabe armar um barraco com mais perfeição do que consegue ligar um liquidificador. Cozinha tão bem que deixa todo mundo com água na boca, já que o melhor das refeições que prepara é a água que distribui depois. Não sabe concluir uma frase sem que use o “doido” ou “doida” e como também não sabe iniciar uma frase sem que use o “doido” ou “doida” todo mundo, acha que, no fundo, ela quer ser psicóloga para descobrir o que existe no meio do que não diz.
De onde veio: Da praia ( sempre)
Apelido: Patê: Pa de patrícia e tê de Teresinha.

Celina, 22 é estudante de direito. Jamais passa despercebida, porque seu principal meio de comunicação é um grito. Quando fica rouca de tanto gritar ás vezes pede emprestado o grito da colega. De manhã, aproveita o canto do galo ou o latido do cachorro da vizinha. Solitária, já tentou por várias vezes namorar pela internet mas gritou tanto que assustou o cara do outro lado. Gosta de ouvir música de fossa e forró. Seu professor de Direito Constitucional lhe explicou que o que há de comum entre os dois ritmos é a referência à merda: o primeiro no nome, o segundo na qualidade.
Despesas mensais; 800 da faculdade, 400 do pensionato e alguns pensamentos.
Tempo de pensionato. Faz tanto tempo que tem a impressão de que está virando pos-graduada em pensionato.

Luana, 33, estudante de odontologia. Resolveu entrar na faculdade de Odontologia na esperança de um dia conseguir tirar um aparelho dentário, que carrega desde o tempo de criança (desconfia que era de sua mãe) Muito carente chora até quando lê bula de remédio que, juntamente com O Alquimista, de Paulo Coelho, é o seu romance predileto. Morre de saudade da família, do namorado e, às vezes, até das namoradas do mesmo. Quando existem sessões de vídeo na casa e passa filme de terror, ela se lembra de sua primeira aula prática extraindo um dente, grita tanto que vira a atriz principal.
Apelido: (bebê de proveta, por causa do tamanho). Explica que até hoje sua caligrafia é péssima, por ser tão baixinha que nunca conseguiu escrever uma letra maiúscula.
Despesas mensais: mil reais da faculdade, mais pensionato, mais o que paga para um rapaz de 18 anos - um flanelinha, que ela gratifica para fingir que é seu namorado e lhe levar para show de forró e Vale Festejar.

Rosiris, 24, estudante de engenharia. Já tinha na bagagem experiência em pensionato, quando morava em Teresina. Sua mala é tão grande que tem gente que desconfia que ao tentar trazer o pensionato junto, descobriu sua vocação de engenharia. Acredita que toda experiência é válida pelo amadurecimento pessoal, por isso prefere frutas maduras, filmes maduros, professores maduros, e um coroa maduro - para que a sua juventude seja menos dura. É a mais descolada da casa, vive se soltando de si; as amigas, desesperadas, tentam cola-la de volta mas não tem jeito: só vários dias depois que passa a ressaca. Fã de Norah Jones teve de deseducar seus ouvidos para poder encarar as forrós e os reggaes, tão disputados pelo resto da turma. Acabou deseducando também os dedos dos pés que raramente vêm um desodorante e os das mãos, que costumam avançar em busca de melecas - no nariz dos outros.
De onde veio: lembra-se vagamente que estava num berço de hospital
Tempo de pensionato: dois invernos, quatro verões e Vocês verão!

Alvadina, 24, É a CDF oficial do pensionato e o CPF também, já que ela costuma empresta-lo como objeto de utilidade pública pois é única da casa ( e da rua) cujo nome não está no SPC. Faz duas faculdades Arquitetura e Administração, mas acha que não vai conseguir passar em nenhuma, porque até hoje não soube administrar o tempo para arquitetar uma vingança contra quem lhe chama de Dina-ssaura. Chega sempre de noite varada de fome e, às vezes, de vara mesmo. Sua ânsia de estudar é tão grande que coleciona frases de Lairton dos Teclados, notas baixas em matemática e editais de concursos, o ultimo dos quais o da Raposa, onde passou dois dias na fila para se inscrever no concurso de merendeira.
De onde veio: do Piauí
Apelido: Dinas-saura
Despesas: do Pensionato, mais despesas sociais, mais despesas de concursos.

Fernando, 23 estudante de medicina. Divide o tempo entre a faculdade, a namorada, o violão e o trabalho – não oficial - de guardador de carro na Praia Grande. De lá tira o dinheiro para pagar a faculdade no fim do mês. Dá que sobra. Considerado o mais preguiçoso da casa não vai até a esquina a pé, porque a preguiça não deixa. Ele explica que isso são ossos do ofício, porque para trabalhar e estudar não precisa arredar o pé. (Embora seja péssimo em Anatomia, ele diz que desse tipo de osso ele entende.) Quando está cansado começa tocar violão, para que todos saiam de casa e ele possa dormir tranqüilo.
Apelido: Milionário
Despesas: Neste fim de ano compra um carro. Já comprou até a carteira de motorista, com o cartão de crédito da Íbis CA

Ligia, 19. estudante de enfermagem.
É a mais calada da casa por isso tem gente que anda querendo usar a sua boca para que esta não perca o prazo de validade. Quando, raramente, abre a mesma solta pérolas do tipo: sou louca por dinheiro! Ou seja, custa tanto a falar que quando fala a frase já vem vencida, usada e abusada. Já teve vontade de explodir quando queria estudar e os outros não deixavam, mas ficou com medo do barulho passar a ser mais requisitado do que o som de axé do som de Rosiris. Tem uma tosse crônica, que ela diz que é sotaque do Ceará.
De onde veio: do Ceará, ou melhor, de uma banda de forró
Despesas mensais: o pensionato, a faculdade, mais o que ela escuta de graça.
Apelido. Os outros nunca perderam tempo em colocar porque, como ela não fala, nem vale a pena ficar chateada.

sábado, 11 de julho de 2009

A LINGUA DO SANTO

Artigo publicado no Jornal O estado do maranhão, neste sábado,


A LÍNGUA DO SANTO


José Ewerton Neto, membro da AML, autor Ei, você conhece Alexander Guaracy?

ewerton.neto@hotmail.com


Muita gente fala sobre o culto religioso afro-brasileiro sem ter conhecimento de causa e pronuncia certas palavras sem saber ao certo o que significam. Num esforço de tornar esse significado mais accessível eis uma modesta tentativa de entende-las, adaptando-as ao nosso cotidiano.



1. Amaci. Banho de ervas sagradas, usado para purificação.
Eis aí o que deve estar faltando para grande parte dos políticos brasileiros, sempre tão contestados. Antes de tomar posse todos deveriam praticar um amaci. Haja erva!

2. Axé. Energia vital. Força espiritual da natureza.
O que têm a ver com isso o ritmo baiano denominado axé? Em vez de energia vital, energia elétrica, em vez de força espiritual, força em decibéis. Em vez de uma dupla (energia vital e força espiritual) um trio elétrico. Não deveria ser Axé-music, mas Ache-música.

3. Agô. Licença, permissão, perdão. Ex. “Agô, meu pai!”
Dizem que a turma do PT está doida para adaptar-se à língua do santo como forma de melhor exaltar Lula, mais ou menos como era reverenciado ACM na Bahia. “Agô, presidente Lula, nosso pai!”

4. Bori: Ritos para o fortalecimento espiritual da cabeça (ori ) de uma pessoa, por meio de oferecimento de alimentos Ex. “Dar comida ao ori.”
A bolsa-família, portanto, não passa de uma espécie de Bori, do governo Lula para o povo. Deu tão certo, (não só espiritualmente) que o povo ficou de cabeça feita para o resto da vida.

5. Corpo fechado. Proteção contra inimigos e má sorte, obtida por meio de rituais como a abertura de pequenas incisões na pele, em que pós mágicos são inseridos.
A maioria das atrizes da tevê vive dizendo que têm o corpo fechado contra as intrigas das concorrentes e da imprensa. Pois é, quanto mais corpo fechado, mais abrem as pernas.

6. Descarrego. Ritos ( banhos, passes , oferendas etc.) para afastar as energias negativas e abrir os caminhos de uma pessoa.
O descarrego de Dunga, técnico do Brasil, tem dois nomes: mediocridade ( dos demais times ) e Luis Fabiano.

7. Equede. Cargo do candomblé reservado às mulheres que não entram em transe. Uma de suas funções é auxiliar os membros do terreiro quando incorporados.
Suzana Vieira e Ana Maria Braga acham que poderiam ser equedes. Elas juram que só entram em transe quando vêm rapazinhos cafajestes, com idade para serem seus netos.

8. Encosto. Perturbações atribuídas aos maus espíritos ou a energias negativas.
Os técnicos Muricy Ramalho e Vanderlei Luxemburgo, depois de demitidos correram para a imprensa para jurar que ficaram assim por causa de um encosto. Querem fazer acreditar que seus fracassos nada têm a ver com o fato de serem dois incompetentes, disfarçados de sumidades.

10. Odara. Bonito, saudável, equilibrado, ereto, duro e grande.
Caetano Veloso fez uma música com esse nome. Com certeza, não se inspirou em si mesmo.

8. Obsessão. Perturbação de origem espiritual.
Toda obsessão tem origem difícil. A obsessão de Lula pelo Coríntians a ponto de fretar um avião para papagaiar os jogadores do time depois de uma modesta conquista (menosprezando assim todos os demais times brasileiros) talvez seja apenas uma obsessão meio boba, de origem espiritual. Será? Nem assim se explica.

11. Ponto Riscado. Desenho ou digrama feito pela entidade espiritual no chão do terreiro contendo os símbolos que a identificam.
As autoridades francesas que, até agora, não deram resposta sobre a causa da queda do Air Bus ( e nem vão dar) deveriam se mancar e pedir a ajuda de um pai de santo, para substituir a parafernália dos seus computadores de bordo por um ponto riscado. Ficaria muito mais seguro.
12. Orixá. Nome genérico das divindades usado no terreiro de rito nagô ou queto.
Como no Brasil todo mundo se julga ou é tratado como divindade ( de Ronaldo fenômeno a Ivete Sangalo, passando por Paulo Coelho e qualquer BBB) está explicado porque no terreiro Brasil as únicas divindades que não faturam com isso são os orixás.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

UM CONTRATO PARA MICHAEL(JOHN E ELVIS)


UM CONTRATO PARA MICHAEL (JOHN e ELVIS)



“De todos os mecanismos de fuga a morte é o mais eficaz.” H.L.Mencken



José Ewerton Neto, membro da AML, autor de Ei, você conhece Alexander Guaracy?

ewerton.neto@hotmail.com




Em algum momento, morte e vida parecem estabelecer um contrato em relação ao futuro de alguns seres humanos. Como se a vida dissesse : “Quero que estes sejam meus e suas trajetórias sejam fulgurantes” e a morte concordasse, mas impondo suas condições: “Tudo bem, mas assim que começar a decadência, eu os arranco para mim.” Assim, nesses seres especiais, escolhidos em meio à horda humana vão se conjugar talento, fama, dinheiro, solidão, stress, decadência e morte precoce. Ou será apenas por coincidência que Elvis Presley, John Lennon e Michael Jackson, os símbolos máximos da música pop e da juventude moderna, tenham tido trajetórias de vida tão parecidas?


Talvez, mas como se pareceram desde o início! Infância conturbada (recente biografia de John sugere que ele tinha relação incestuosa, não resolvida, com a mãe, e o menino Jackson sofria com os estupros que seu pai praticava com uma de suas irmãs), juventude arrebatadora à reboque de talento precoce, vida adulta transbordante de drogas, amores insatisfeitos, e fama, muita fama. A montanha de dinheiro surge como conseqüência e não como principal objetivo. Afinal de contas, o móvel de suas vidas é a fama e o brilho: a consciência do próprio talento não os deixam raciocinar com a mente chã dos carreiristas de multinacionais e órgãos públicos. Alguém há de ponderar que os Beatles ainda não morreram todos e que John não tombou de overdose, mas foi assassinado.


Enganam-se; pois os Beatles já estavam mortos desde que se fragmentaram (o sonho acabou, dissera John e ele sabia melhor que ninguém que a vida acaba quando o sonho acaba). Sua morte, por mãos estranhas, apenas incorporou o trágico para emoldurar o tédio de quem não suportaria a decadência no rumo do homem comum, ao aceitar, como válvula de escape para suas indagações artísticas e existenciais, a convivência com uma artista vulgar e sem brilho como Yoko Ono. Como se a morte - do contrato acima - tentasse preservar o ídolo, transformando-o em mito, para que ele não aportasse à velhice anódina e quotidiana, própria dos que envelhecem à deriva de um brilho que já não há, como tantos artistas – só para lembrar os do ramo musical brasileiro- Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento e outros. Noel Rosa, outro que morreu cedo, claro, é de outra estirpe.


O apogeu desses três músicos, a ponto de terem se transformado em lendas, não teve raízes apenas no talento, mas no fato de incorporarem, em determinado instante de suas vidas, a tradução das aspirações de jovens cuja “rebeldia sem causa”, inerente ao universo de perspectivas conflitantes num universo cada vez mais inseguro, escolhe na música e no comportamento de seus ídolos, o escoadouro para seus horizontes limitados. Elvis Presley, o primeiro, encarnou com seus requebros e sua música sedutora, a promessa visual dessas realizações. John Lennon (os Beatles), inspirado no primeiro, projetou a fugaz possibilidade de um universo novo, contestador e realizável; e Michael, Jackson, embora perdido nas elucubrações de um novo poder; o midiático, num mundo já fragmentado e sem ilusões, mesmo assim era o sobrevivente da eterna utopia, a referência ainda possível para milhões de adolescentes do mundo todo.


Sem dúvida, foi apenas com os Beatles que as aspirações juvenis ao longo de todas as épocas ganharam o status de uma revolução. Através deles e de suas músicas inaugurou-se o tempo em que o espírito jovem e sua inquietação, começaram a pairar sobre outras necessidades sociais – uma avalanche vaga como o conceito da juventude, que, no entanto, sobreviveu por mais de uma década e deixou marcas para sempre. É fácil perceber, contudo, que em termos mundiais, pouco se poderá esperar para o futuro de novos ídolos com a mesma força aglutinadora de seus anseios. Muito da melhor da arte estaria perdido sem juventude perdida, como o comprovaram, Rimbaud, Caravaggio, James Dean, Marlon Brando, os escritores beats e outros tantos, mas nada surge mais perdido nas gerações atuais que a incapacidade de descobrir os tesouros dessa perdição, pois “A juventude não passa de uma ilusão que os jovens perdem de propósito, em troca da ilusão futura de que a tiveram um dia.”


Um sintoma dessa decadência - da rebeldia jovem no sentido criativo - se verifica aqui mesmo, no Brasil, onde o predomínio da música de forró eletrônico e de pagodes cosméticos, muito mais que extratos de uma pobreza musical avassaladora , denotam uma juventude que não consegue mais extrair de sua rebeldia natural um dom, e que resume, na ostentação de uma mediocridade musical em altíssimos decibéis, uma apatia típica de desiludidos.


O que sucedeu, após o fim de Jackson, foi do mesmo teor para todos, como se viu à exaustão depois da morte deste: fãs lacrimejantes, declarações de amor, recorrência a frases feitas, na boca de gente que pouco têm a ver com o ambiente artístico, como presidentes e autoridades. Uma epidemia tão pouco convincente de compaixão, beirando a histeria, que nos leva à pergunta intuitiva “Precisava tudo isso?”, mas de onde não se consegue bloquear, contudo, um sentimento real e inexplicável de pesar, que nos invade como um surto de melodia plangente em nosso sangue, mesmo que não os aceitemos como ídolos.


É que, independente da geração a que pertencemos, não somos arrebatados pelos personagens, mas pelas suas músicas. Elas é que nos incorporaram e não o vice-versa. E, ao escutá-las mais uma vez, resgatando inopinadamente um pedaço de nossa memória que ainda queríamos vivo, somos possuídos pelo impulso de reverenciar com nossa tristeza e comoção, conscientemente ou não, aqueles que tornaram possível isso e que já não estão mais.
O CÉU É A CHAPINHA


José Ewerton Neto, membro da AML, autor de Ei, você conhece Alexander Guaracy?
ewerton.neto@hotmail.com



Alguns anos atrás muitas queriam ser louras. Podia não ser por causa dos homens, mas era, pelo menos, pelo efeito que se supõe que vá causar em alguém, quem sabe no cachorrinho da vizinha ou no gato de estimação. O cabelo tinha que ser louro, os dentes, o sorriso, a sobrancelha e até a mente.

Foi a época em que se deu o surto da loura burra, denunciada pela música. Quando perceberam que estavam indo longe demais e que seus neurônios, já poucos, estavam diminuindo mais ainda, as crioulas louras resolveram dar para trás (favor não confundir) e a onda refreou um pouco. Ser loura estava dando muito trabalho e, como estava difícil a uma sarará se destacar num mundo repleto de louras, viram que o lucro era pequeno, já que gastavam muita tinta, perdiam muitos namorados e ainda passavam por burras.

A solução para essa eterna ânsia de inconformismo, nunca refreado, com o que Deus deu a cada uma, surgiu recentemente com um dispositivo denominado chapinha. Sim, chapinha, um nomezinho até faceiro, tão vulgar e nada mágico, no diminutivo, como elas carinhosamente gostam, e com uma promessa irresistível: tornar seus cabelos muito lisos, mais lisos do que bunda de estátua, ou melhor, mais lisos do que a bolsa de muitas.

De que se trata mesmo? De uma nova geringonça tecnológica, que pode até se apresentar no formato ameno que elas desejam, mas que, no fundo, não passa de uma corruptela do ferro elétrico, pronta para executar, a ferro e fogo - e elétrons muito revoltados - a tarefa de distender todas as moléculas de seus cabelos espessos, até torna-los lisos. Uma expressão da força física da natureza, domada a serviço do improviso humano, ou melhor, das mulheres. Estatística recente mostrou que em cada 100 mulheres 90 já fizeram chapinha, 5 querem fazer , 4 morrem de vontade de fazer e uma já morreu fazendo. Alguma razão para tanta preferência? Conjeturemos ao redor de algumas:

1. Ânsia de mudança. Todo mundo quer mudar, é da natureza humana estar sempre inconformada com o que quer que seja e, sabendo-se que a única coisa que pode ser alterada no corpo são os cabelos, nada como uma chapinha. Quem tem cabelo pinchaim passa para duro, quem tem duro passa para esticado, quem tem esticado passa para massacrado, quem tem massacrado passa para liso, quem tem liso passa para flutuante e quem tem flutuante passa para aéreo. Aéreo, na realidade, não passa de um eufemismo, para não ficarem ofendidas com o vulgar careca.

2. Dá menos trabalho. Claro que deve haver um forte impulso sado- masoquista na atitude de alguém que cede os seus adorados cabelos para serem esmagados por uma resistência elétrica a mais de 100 graus. Porém, por mais doloroso que isso pareça, é sempre bom lembrar que qualquer outras alteração que se deseje no corpo demanda uma série de penalidades, muito mais torturantes e caras. As mulheres se conformam, fantasiando que comprimir o seu cabelo num chapa quente é uma sensação tão agradável quanto a que deve sentir um saco de estopa, quando engomado por um ferro elétrico, mas tudo bem. Algumas são capazes de jurar que dá até para sentir uma gostosa brisa refrescante.

3. Está na moda. Nenhuma mulher, de verdade, deixa de se incomodar com uma pergunta do tipo: “O que você está esperando para experimentar?” Que equivale a dizer: “Como você é fora de moda!” Por isso, a sensação de ir a uma festa sem chapinha é a mesma de estar usando um manjado marido, numa balada promovida por estudantes. Ou tomando chá verde quando as amigas já estão na décima dose de caipirinha. Sem contar que muito melhor que o resultado da chapinha é a expectativa. Ficarei com a cara da Vitória Beckam ou da Taís Araújo? Ou, sendo pessimista, da Suzana Vieira ou do Clodovil? Nesse ambiente, de profunda insegurança, basta observar o olhar de admiração do seu chefe para uma estagiária recém-contratada para concluir pesarosa: “Só foi contratada por causa da chapinha.”

Se, como dizia Oscar Wilde, não existe pecado maior que o tédio, a chapinha no cabelo é o movimento mais ao alcance delas, na vida atual, para não pecar. Contra o tédio da realidade, contra as injustiças do mundo e contra a própria incoerência de desejar ser preta na hora da cota do vestibular, mas preferir ter o cabelo liso, na hora de se exibir.

Mais importante do que a constituição, as discussões infindáveis sobre o aborto, o aquecimento global e sobre qual foi a causa da queda do avião da Air-France, ter uma chapinha à vista, para elas, é a solução universal para tudo e mais alguma coisa, porque uma mulher sem chapinha pode até ter o céu no firmamento, mas não na cabeça.