sábado, 21 de novembro de 2009

OS CAMINHOS DA SABEDORIA

Texto publicado na seção Hoje é dia de...
O estado do Maranhão hoje, sábado, 21



OS CAMINHOS DA SABEDORIA

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com


Sabe-se da sabedoria das expressões populares. Tantas vezes, no entanto, as repetimos, automaticamente, sem nos preocuparmos em saber como e onde surgiram. Pesquisando suas origens e analisando-as sob a ótica atual percebemos como são tortuosos os caminhos da sabedoria!


1. O pior cego é aquele que não quer ver.
Tudo começou quando se realizou a primeira cirurgia de transplante de córnea, num aldeão chamado Angel, em Nimes, na França, 1647. Ao recuperar a visão, no entanto, Angel afirmou que preferia o mundo que imaginava antes, suplicando então para lhe arrancarem, de novo, a visão. Para ele, como para muita gente, o mundo que se imagina é muito melhor do que o que se vê.
“É por isso que existe tanta gente que gosta de novela. Na tela, o mundo parece melhor e, diante dela, os telespectadores não se importam em continuarem cegos para o resto da vida”.

2. A dar com o pau.
Muitos escravos africanos quando vinham de navio para cá, preferiam morrer de fome, recusando-se a comer. A sopa, com angu, era enfiada então pelas suas goelas com uma colher de pau.
“Os desvalidos nordestinos (equivalentes modernos dos escravos de ontem) já não se recusam a viver e têm direito até à bolsa-família. Seus escravizadores é que já não lhes dão com o pau, mas com a bolsa.”

3. Quem não tem cão caça com gato.
Trata-se de uma adulteração da expressão original, que dizia que quem não tem cão caça como gato, no sentido de sorrateiramente, matreiramente.
“O certo seria que, atualmente, usássemos as duas versões. Para pobre: quem não tem cão caça com gato; para rico: quem não tem cão caça como gato.”


4. Vá tomar banho.
Os índios, à vista do fedor que exalava dos brancos e suas vestes, os mandavam tomar banho, toda vez que chegavam perto da água.
“Hoje, os índios chegaram à conclusão de que nada disso adiantou. Embora tenham ensinado os brancos a tomarem banho, em compensação, não conseguiram lhes ensinar a não emporcalharem seus rios e suas praias.”

5. Dar com os burros n`água .
Na época da colonização os burros, que eram usados pelos tropeiros para carregar alimentos, perdiam-se nas enchentes e nos terrenos alagadiços.
“Hoje, qualquer chuva faz com que as grandes cidades fiquem intransitáveis, por falta de planejamento dos seus administradores. Donde se conclui que se na época da colonização os burros davam na água, hoje a água é que dá nos burros. (Os burros somos todos nós, que votamos em tanta gente incompetente.)

6. Para inglês ver.
Em 1830 a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que extinguissem o tráfico de escravos. O povo, então, dizia que as leis eram apenas para inglês ver.
“Hoje o que não falta é lei, para compensar as que não se cumprem. As de transito, por exemplo, cada vez mais rigorosas e inúteis, visam apenas a extorsão de seus cidadãos e já não são feitas para inglês ver, mas para brasileiros conferirem. No caso, os picaretas da administração pública, que conferem, cédula por cédula, o lucro obtido com a extorsão.

7. Pensando na morte da bezerra.
A expressão tem origem nas tradições hebraicas, quando os bezerros eram sacrificados pela religião. Um filho do rei Absalão tinha tanto apego a uma bezerra, que acabou morrendo também, o que gerou o dito popular.
“Hoje, as revistas especializadas afirmam que os homens que têm a sorte de encontrarem uma mulher que saiba executar, com talento, o pompoar ( popular bezerra), quando perdem a mulher ficam inconsoláveis e choram também, durante muito tempo, a morte da bezerra.

8. Eles que são brancos que se entendam.
No século dezoito um brasileiro, mulato e capitão, queixou-se de um igual ao seu superior, português, que respondeu: “Vocês que são pardos que se entendam”. O fato chegou ao vice-rei do Brasil Luis Vasconcelos que mandou prender, por isso, o oficial português. Ante a reação indignada do oficial Dom Luis respondeu: - Nós que somos brancos, cá nos entendemos.
“Antigamente, portanto, branco entendia branco, e preto entendia preto. Hoje, depois da invenção das cotas raciais na universidade, o branco tornou-se pardo e o pardo virou preto . Não se entendem nem brancos nem pretos, muito menos pardos, e nós, que nunca ligamos para isso, temos agora cores que nem nós mesmos entendemos.

9. Jurar de pés juntos.
Durante a Inquisição os réus eram obrigadas a ficar de pés juntos, amarrados, até confessarem seus supostos crimes.
“Hoje isso está cada vez mais difícil, principalmente para as mulheres. As do Big-Brother, por exemplo, já estão tão acostumadas a ficarem com as pernas abertas que não conseguem mais juntar os pés.

10. OK.
Expressão norte-americana que quer dizer 0 killed, ou seja, nenhum morto. Na Guerra de secessão norte-americana o gesto sinalizava que estava tudo bem, já que ninguém morrera.
“É como o pessoal do governo se refere ao apagão. A situação, para eles, está OK e assim vai continuar por muito tempo, porque ninguém morreu. Que o OK de Deus nos proteja!

sábado, 14 de novembro de 2009

SUPER CHICO

Texto publicado na seção Hoje é dia de...

O Estado do Maranhão, hoje, sábado



SUPER CHICO


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com


Ao recorrer à expressão Super-Chico poderia estar fazendo menção ao Rio São Francisco que, depois de normalmente ser chamado grande Chico, agora, revigorado pelo PAC, segundo Lula, salvará o Nordeste. Porém - calma! -, por enquanto, ainda não há vez para ele. Em matéria de Super-Chico só poderíamos estar falando de outro: o Buarque de Holanda.
É ele que continua dando de dez. Além de ter vendido horrores com seu ultimo romance Leite Derramado (num país onde ninguém se derrama por um livro), já existe um outro, sobre a história de suas músicas, que dispara nas primeiras posições de venda. Como se não bastasse, em paralelo, a revista Rolling Stone escolheu a sua música Construção, como a melhor entre as cem melhores do cancioneiro popular brasileiro. Mais do que Carinhoso, de Pixinguinha – que ficou em segundo, mais do que Águas de Março, de Tom Jobim – que ficou em terceiro, e mais do que qualquer música de Noel Rosa que – pasmem! - só aparece em qüinquagésimo com a música Conversa de Botequim. Onde será que esconderam Três Apitos, Feitio de Oração, Ultimo Desejo, e tantas outras de Noel?
Lembro que me tornei ardoroso fã de Chico Buarque na minha adolescência quando, num programa chamado Esta Noite se Improvisa o ouvi cantar a música Feitiço da Vila, embora, então, gostasse mais da jovem guarda e dos Beatles, como quase todos de minha idade. Logo vim a saber, através do meu pai, violonista e profundo conhecedor de MPB, que esta era uma composição de Noel Rosa, um autor que até então não conhecia. Essa admiração se completou quando Chico, logo a seguir, compôs Quem te viu quem te vê, outro samba que se tornou, junto ao de Noel, meu favorito.
Recentemente, escrevi um especial no caderno Alternativo deste jornal, sobre a situação da literatura atual, em que a penúria de grandes ou anônimos escritores nacionais foi contraposta, em termos de sucesso, à glória exclusiva, total e incontestável de Chico Buarque, agora, não mais como compositor, mas como escritor. Com alguma surpresa, para mim, recebi várias manifestações de apoio e mensagens de congratulações sobre a matéria do texto e, numa mesa-redonda para estudantes do curso de Letras, da UFMA, fui questionado pela aparente ousadia de estar colocando em cheque um mito inquestionável como Chico Buarque.
A razão, agora me referindo ao desprezo da lista a um gênio do porte de Noel Rosa, parece estar justamente aí: na cada vez mais revigorada criação do Super-Chico: daquele que qualquer coisa que faça há de estar acima do bem e do mal, inclusive, de um talento como o de Noel Rosa, no caso, maior que o dele. No Brasil, parece dar-se o fenômeno do oito ou oitenta. Desprezam-se determinadas personalidades com a mesma facilidade com que se ignoram os defeitos de outras, em quem só se reconhecem virtudes. Como dizia Tim Maia, o Brasil é um estranho país onde puta goza, gigolô tem ciúme, traficante fuma maconha e comunista é de direita. Nestas circunstâncias, torna-se até natural que nele aconteça o que doravante deveria passar a se chamar a Lei de Chico: “Quer dar uma de intelectual e está difícil, ou então quer vender revista? Ora, é fácil: fale de Chico Buarque ou diga que leu seu livro”.
Tal exagero tem ilustração na recente biografia de Wilson Simonal (alguém se lembra dele?). Este, um cantor mulato e beiçola, nascido em Realengo teve, na época dos anos 70/80, sucesso em várias camadas sociais bem maior que o de Chico mas os meios de comunicação reservaram prontamente para ele um lugar desprezível no limbo da história, com a pecha de dedo-duro e possível agente do Dops –sem que nada disso tenha sido provado. O curioso é que, nas primeiras eleições convocadas pela “Revolução” sua conduta tenha sido, no mínimo, mais corajosa que a de Chico Buarque, quando manifestou abertamente seu voto contra o establishment , enquanto Chico, com toda a sua aura de herói que até hoje persiste, preferiu ficar em cima do muro dizendo: “A única coisa que tenho certeza é de que votarei na melhor música.”
Voltando às listas - razão desta reflexão -, afinal de contas, para que servem e o que querem dizer? Listas já elegeram Maradona como maior que Pelé e já tem gente dizendo por aí que Zico também foi, mas os sábios sempre acreditam que elas passarão e, ao fim, a verdade será salva pela história. Será? Quantas listas apressadas serão suficientes para diminuir a importância de um compositor como Noel Rosa, que também perdeu para Chico, recentemente, como maior compositor do século? Ao discutirmos esse assunto, um amigo lembrou que as preferências evoluem com a sucessão das novas gerações, tornando-se o xis da questão saber até que ponto a continuidade pode transforma-las num juízo de valor definitivo para a história.
Isso significa que, ainda estamos bem quando a grandeza de Noel Rosa é comprimida, mas a favor de Chico Buarque, cujo talento, embora inferior ao do mais arrebatador gênio da música popular brasileira - morto aos 26 anos com mais de 230 músicas registradas em seu nome - é também de um notável compositor; apesar dos exageros do Super-Chico. Pelo mesmo raciocínio, porém, as próximas gerações incorporarão os grandes sucessos atuais como referência da melhor música de todos os tempos e, provavelmente (e infelizmente) nestas poderão entrar Zezé di Camargo e Luciano, Ivete Sangalo, Bruno e Marrone... etc. Já pensou?

sábado, 7 de novembro de 2009

ALGUNS TIPOS DE VENENO LETAIS

cronica publicada na seção Hoje é dia de...
O estado do Maranhão, hoje, sábado, dia 5


ALGUNS TIPOS DE VENENOS LETAIS

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com


Por acaso o caro leitor sabe quais são os venenos mais letais que existem? Nestes dias de tsunamis, epidemias e catástrofes, nada como conhecê-los para melhor se prevenir:

1. Toxina Botulínica – (infecta-se através da inalação ou ingestão de água ou alimentos contaminados).
Dez mil vezes mais potente que os venenos de cobra, essa toxina age sobre o sistema neurológico, causando paralisia dos músculos respiratórios e morte. Curiosamente, em pequenas doses, essa substância é usada em tratamentos estéticos para amenizar rugas – é o famoso botox.

2. Toxina Big-Brotherlínica- ( a infecção surge através da visão, ininterrupta ou não, de programas do tipo reality-show).
Dez mil vezes mais potente do que o vazio causado pelo analfabetismo adulto, a toxina big-brotherlínica age sobre o que resta de neurônios inteligentes na mente do indivíduo incauto, impedindo-o de formular o raciocínio mais elementar. São conseqüências da ingestão desse veneno atitudes impensadas como: impulsos de se candidatar para participar do programa; exibir preferências por esse ou aquele exibicionista da tela; votar por telefone, ajudando as redes de televisão a enriquecerem às custas de sua própria doença.
Curiosamente, em pequenas doses, a toxina big-brotherlínica serve para enriquecer cafajestes e espertalhões, que, pragmaticamente, aprenderam a ingerir a dose certa do veneno, como o apresentador do programa Pedro Bial.

3. Toxina Tetânica (infecta-se através de contacto dos esporos da bactéria com ferimentos da pele).
Trata-se da toxina causadora do tétano, doença que ataca o sistema nervoso provocando espasmos musculares, dificuldade de deglutição, rigidez muscular do abdome e taquicardia. Estima-se que 300 mil pessoas se contaminem com o veneno, por ano, no mundo. – Desse total, metade morre.

4. Toxina Automovânica ( a infecção é adquirida pelo contacto e pelo uso de veículos de locomoção, denominados automóveis)
Trata-se de toxina relativamente moderna causadora do famoso stresse do trânsito, doença que ataca o sistema nervoso e causa múltiplos acidentes, seguidos de ferimento e morte. Embora inicialmente considerada salutar para o homem, a toxina automovânica adquiriu contornos de holocausto, sendo, atualmente uma das maiores causas de morte no mundo. Seus sintomas mais deletérios são: no caso do cidadão de classe baixa a dissipação de suas economias para adquirirem drogas (veículos) de custo muito superior às suas posses e, no caso das autoridades picaretas, a aquisição de carros importados com o dinheiro alheio - com o fim de exibição pura e simples. Estima-se que uma população maior do que a de uma grande guerra mundial esteja sendo seja exterminada por conta desse veneno.

5. Toxina Diftérica (infecta-se através de gotículas de saliva da fala ou do espirro de pessoas contaminadas).
O sujeito que se contamina com essa toxina pena um bocado com uma doença infecciosa aguda, a difteria, que atinge órgãos vitais , como coração, fígado e rins. Há vacina contra a difteria, mas a taxa de letalidade ainda é bastante alta, beirando os 20%.

6. Toxina Forróhistérica ( a infecção surge através do ouvido, quando se escuta ininterruptos sons de forró a altíssimos decibéis)
O sujeito que se contamina com essa doença perde por completo a noção do grotesco e da educação, provavelmente por ter seu ouvido danificado, passando a não ter complacência dos órgãos dos vizinhos: ouvido, fígado e rins. Até hoje não foi descoberta vacina contra a forróhisteria, já que não passa de um paliativo o recurso a outras histerias, como musica sertaneja e funk (cuja carga de letalidade compulsiva é quase semelhante)
Alguns cientistas acreditam que uma dose compacta e regular de
música erudita, como as de Bethoven, Chopin ou Villa-Lobos poderia fazer os atingidos se libertarem dos aspectos mais predatórios da doença Já os pessimistas acreditam que , ao contrário, em contacto com esse tipo de música os infectados passariam a apresentar ciclos cada vez mais furiosos de reação. A taxa de letalidade causada pelo forró eletrônico no Nordeste é alta atingindo cerca de 80 a 90% da população. No Ceará, chega a 100 %.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A IRA DOS CONTRA-DEUS

artigo publicado sábado na Seção Hoje é dia de..
Jornal O estado do Maranhão, 31.10.09


A IRA DOS CONTRA DEUS

“Deus é o único ser que para reinar nem precisaria existir”
Charles Baudelaire

José Ewerton Neto
Membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com


Eles estão com raiva de Deus. Primeiro foram os cientistas, capitaneados por Richard Dawkins. Escreveram livros execrando a figura divina e faturando muita grana com isso. Agora é a vez de José Saramago, o escritor português prêmio Nobel (o único da língua portuguesa). Qual a razão de tanta raiva? Procuramos entrevistar Deus para saber o que ele acha disso:

- Salve senhor Deus!
- Pode falar meu filho. Mas, prefiro que me chame de você. Sou simples, como o universo, embora a humanidade insista em tentar complicá-lo.
- O senhor, isto é, você, está a par do que vem acontecendo?
- Sim, sem precisar que me digam, porque, como você sabe, eu tudo ouço e tudo vejo. Primeiro soube do cientista que escreveu Deus, um delírio, depois soube de outro, mais outro... Agora o português, Saramago. Um diz que eu não existo; que não passo de um delírio, outro escreveu um romance para falar mal de mim. Ora, se eu sou um delírio, sou matéria de sonho, portanto tenho alguma serventia, não? E depois, esse escritor português, Saramago... Parece piada de português.
- Você leu seu romance Caim?
- Com toda essa eternidade pela frente, mesmo assim não vou perder meu tempo, embora tenha de sobra.
- Por quê? Você sofreria com as acusações?
- Não, não pelas acusações, que me são indiferentes. Nem pela argumentação, muito pobre, mas, justamente pela falta de talento e originalidade. O autor sequer é inteligente ao tomar imagens bíblicas, sabidamente simbólicas, para suportar suas acusações. Muito pouco para um intelectual desse porte. Isso me leva a acreditar no que foi dito por algum de vocês: que certos intelectuais gostam mesmo é de miséria.
- Você podia nos explicar melhor?
- Claro que sim. Existe miséria maior do que a daquele que atira contra a fé alheia? Que pode haver de mais sublime no universo do que a esperança e a fé? De que vale a vida sem estas? Nunca pedi a ninguém que tivesse fé em mim, sempre deixei a quem quer que fosse a liberdade de acreditar ou desacreditar. Aliás, nunca fiz questão da crença de ninguém. Se sou a verdade, não é preciso que o diga. Não foi assim que Cristo respondeu a Pilatos?
- Como você classificaria essa ira? Afinal de contas, pelo que sabemos, você nunca fez algum mal a eles, muito pelo contrário.
- Pois essa deve ser a razão do ódio. Eles não tem raiva de ditadores ou de terroristas, muito menos de bandidos ou estupradores, tampouco das ideologias ou das políticas desumanas, eles não vociferam contra os que fazem mal à humanidade, é mais cômodo para eles ostentarem raiva de mim.
- E justificam a raiva propagando a sua inexistência.
- Pois é, ficam irados justamente contra quem dizem não existir. Dá para entender? E se dizem sábios... O que mostra que o que existe mesmo nas suas mentes além de muita soberba, é um grande paradoxo.
- Que grande decepção, não é?
- De fato, essa humanidade me cansa. Dei inteligência à matéria inanimada para que muitos pudessem pensar e refletir sobre a beleza do universo e, daí, entenderem o exercício da vida como uma construção da fé, mas vejo que justamente os que estudaram um pouco mais, são os primeiros a esbravejar. Mostram apenas arrogância, pois tendo sido gratificados com a ventura de terem aprendido um pouco mais, não têm humildade suficiente para reconhecer o quanto todo conhecimento humano é ínfimo diante da criação, da grandeza e do fim do universo. Esquecem que alguém, muito mais sábio que eles, no passado dizia: quanto mais sei mas sei que nada sei.
- E agora, o que pretende fazer?
- Você quer dizer, para colocá-los no devido lugar? A palavra represália nunca existiu para mim. Jamais interferi nas coisas dos homens e vou continuar fazendo da mesma forma, contemplando-os de longe, como sempre. Talvez tire um breve cochilo de alguns milhões de anos até que essa civilização se extinga. Então, quem sabe, possibilite o aparecimento de outra raça mais generosa, que me traga mais satisfação. Como você sabe, planeta para isso é o que não falta, tempo e espaço também.
- Muito agradecido, pela entrevista, senhor Deus e queira perdoar-nos. Alguma recomendação final?
- Não fique bravo comigo e procure entender: cochilar dá muita preguiça e nada é mais cansativo do que não fazer nada, mas, creia, é muito melhor do que ler livros como esse, de José Saramago. Jamais faça essa besteira.