domingo, 24 de abril de 2011

BULLYNG PARA TODO LADO



BULLYNG PARA TODO LADO

José Ewerton Neto

ewerton.neto@hotmail.com




Depois de bala para todo lado, bullyng para todo lado. De repente, só se fala em bullyng, todos são especialistas em bullyng, todos são testemunhas de bullyng, todos são vítimas de bullyng.
Dá até a impressão de que em breve todo mundo vai ter razão em sair matando a três por quatro, só porque foi chamado de “orelhudo” ou de “baleia” nas escolas. Também, pudera!, com um nome bonito desses até eu ando desconfiado. Vai ver que ter sido apelidado de “cultura” , nos tempos de ginásio, só porque eu sabia citar, de cor, as 7 maravilhas do mundo antigo, não passava de bullyng. Deveria, então, vítima tardia, estar pensando seriamente em comprar um revólver para me vingar. A questão é: de quem?
Eis o que me parece o grande problema das potenciais vítimas de bullyng. Para quem endereçar a ira se, de uma forma ou de outra, a maioria dos seres humanos – e não só os desvalidos - estão condenados a sofrer humilhações a vida inteira? O que se verifica, na prática, é a reação equivocada das possíveis vítimas, sempre em direção ao alvo errado. Não apenas dos que chegam às últimas conseqüências como o “monstro” de Realengo, mas, por exemplo ( numa situação que está virando rotina em São Luis) daqueles que, para reclamar de suas condições adversas, atravancam ruas e avenidas prejudicando quem nada tem a ver com isso. Ora, se aqueles a quem colocamos no poder permitem que vivamos em condições humilhantes porque devemos nos vingar de outras vítimas, que nada tem a ver com isso?
O mais lógico, seria fazer com que a represália a uma injustiça prejudicasse aqueles que nos fazem penar, e tão somente eles. Claro que a idéia de vingança com as próprias mãos é indefensável, mas nunca é demais lembrar que o bullyng tem largura e comprimento muito mais longo do que os bancos de escola. Eis algumas de suas faces:

BULLYNG TIPO 1: É o bullyng como imaginamos à primeira vista, mesmo que não saibamos a exata tradução: um apelido aqui, outro ali, uma gozação mais forte, uma intenção de deixar alguém em desvantagem, típica do sempre feroz relacionamento humano (continuamos com os mesmos instintos de quando éramos animais selvagens, lembremos disso).

BULLYNG TIPO 2: É o bullyng disfarçado, mas que todo mundo aceita como sendo inerente às relações sociais ou às organizações onde se trabalha. É o assédio sexual que sofrem as mulheres, é a imposição de ser revistado na saída do trabalho como se fosse um ladrão, é ser tratado profissionalmente como um moleque de recados, é puxar o saco do seu chefe, escancaradamente. Esse é o pior tipo do bullyng tipo 2. É aquele que você impõe a si próprio, humilhando-se em troca de um salário melhor e pagando o preço da própria desonra.

BULLYNG TIPO 3: É o bullyng imposto a toda uma coletividade, a um povo. Que você tende a interpretar como sendo típico do poder, esquecido de que são homens iguais a você que fazem isso. É ter de aceitar mensalões, prefeitos que roubam milhões, compram fazendas e aviões e continuam prefeitos, é ter de aceitar impostos absurdos, multas extorsivas, guardas de trânsito mal educados...É se obrigar a ter por ídolos idiotas do BBBrasil e a gostar do Faustão.

Ou seja, se você quer ter razões para sair matando não é por falta de bullyng. Se você não se revolta é porque, graças a Deus, aprendeu a ter paciência e adquiriu pensamento cristão. Ou será que somos todos masoquistas?

segunda-feira, 18 de abril de 2011




O MEDO DE PERDER O CELULAR José Ewerton Neto ewerton.neto@hotmail.com


Acredite se quiser. Tem gente que ao invés de ter medo dos políticos que lhes roubam – ou de acordar tendo uma fantasia sexual com a Suzana Vieira – tem medo de perder o celular. Isso tem nome, chama-se Namofobia e está ficando cada vez mais comum. Segundo a revista Psique, Namofobia é a angustia atribuída à ausência do celular, o que pode causar ansiedade e depressão. Pessoas que sofrem desse medo sentem-se rejeitadas quando ninguém lhes telefona e enfrentam síndromes de abstinência quando estão sem o aparelho. Portanto, já vai longe o tempo em que o medo fundamental do ser humano era o medo da morte que, segundo os especialistas, estaria por trás de todos os outros. Se, hoje em dia, esse medo continua de tocaia, ninguém parece ligar muito para isso, indicando que o ser humano sofisticou-se até em matéria de medo. O velho e tradicional medo da morte, ficou ultrapassado, caiu de moda, não dá mais Ibope. ( Já existe mulher queixando-se de depressão e se suicidando até por não conseguir abrir, sozinha , uma lata de sardinha). Para se ter uma idéia do que anda acontecendo, eis algumas fobias ainda não catalogadas:


MEDO DE SILÊNCIO. Pesquisas científicas recentes dão conta de que mais da metade da humanidade sente verdadeiro pavor a qualquer situação de silêncio. Mas não estamos falando do silêncio tradicional, beirando o absoluto, estamos falando de qualquer coisa abaixo de cento e trinta decibéis que é o barulho da turbina de um avião a jato ou o emitido por Galvão Bueno, histérico, gritando gol. Qualquer coisa abaixo disso hoje deixa o doente em polvorosa, desnorteado, apavorado, explicando-se assim a compulsão que esses psicopatas têm de transformarem seus carros em trios elétricos ambulantes. A vida só tem sentido para eles se houver barulho, gritaria, berro. Difícil descobrir com precisão quando e onde começa a fobia, mas, segundo um estudioso, é difícil acreditar que pessoas aparentemente normais, que permaneçam mais de meia hora assistindo a um show de forró, ouvindo as mesmas músicas repetitivas com um som estridente e de dar em doido, possam sair do ambiente com os ouvidos, os nervos – e a inteligência – completamente intactos. O mesmo estudioso sugeriu, para reabilitá-los, tentar reeducar seus ouvidos para o som de música clássica, mas, reconhece que o perigo de que aconteça algo pior é concreto: diante de qualquer som de boa qualidade o viciado pode ter a compulsão de se suicidar, ou sair matando o primeiro que aparecer.



MEDO DE LIVRO. Muito mais gente do que se pensa – e não só o nosso ex-presidente Lula – tem verdadeiro pavor de livro, esse objeto outrora tão útil e tão simpático, que hoje os ricos usam para enfeitar a estante e os pobres para calçar a geladeira. Esse tipo de pânico pode acontecer, de forma inesperada, em qualquer lugar: nas ruas, nas casas, nas filas de loteria, mas, principalmente, nas escolas e universidades. Lá, o livro é cada vez mais visto como um monstro apavorante e assustador. Os primeiros sintomas da doença se manifestam como uma pequena inquietação toda vez que alguém fala em leitura, quando se está despreocupado, por exemplo, assistindo ao programa do Faustão. Daí até chegar a ponto de ser possuído pela obsessão de queimar estantes e bibliotecas é um passo. ( Uma das alunas de uma faculdade maranhense, que foi entrevistada em estado lastimável, confessou que tudo começou com um ponto e vírgula. Algumas semanas mais tarde, sem saber porquê, já não podia ver um sinal de reticências na página de um livro ou num quadro-negro que tinha vontade de sair correndo). O fato é que já existe cientista justificando a atual violência nas escolas e o famoso bullyng” como sendo, nada mais nada menos, que o reflexo desse terror. O que fazer agora? – atormentam-se os pedagogos. Como eliminar de vez o livro do processo de aprendizagem? Uma das idéias ( originárias do Ministério da Cultura – o mesmo que aprovou a doação de mais de um milhão para Maria Betânia fazer um blog ) é a de se passar a ensinar as matérias curriculares, entremeadas com letras e de forró ou funk: os alunos dançando e rebolando, enquanto o professor-cantor berra palavras, números e fórmulas. O método pode soar surpreendente, mas do jeito que as coisas andam, quem sabe...

sábado, 9 de abril de 2011

QUANDO NADA É IMPORTANTE

Se o que dizem as pessoas tivesse alguma importância o que seria de nós? Melhor não escuta-las, ou não traduzir o que dizem. 1. “Eu não tenho medo da morte. Tenho medo da desonra.” José de Alencar, ex-vice-presidente, em suas ultimas entrevistas. Certo, José de Alencar, mas você não quis reconhecer a sua própria filha ( só o fez na justiça ) e ainda chamou a mãe da garota de prostituta. Uma questão de morte ou de desonra? 2. “Podem inventar tudo. Mas é impossível separar nossas trajetórias. Não significa, entretanto, que somos a mesma pessoa.” A presidente Dilma, referindo-se ao ex-presidente Lula. Resumindo: trajetória é PT, mesma pessoa é Mensalão. Foi isso o que você quis dizer, presidenta? 3. “O mundial já é amanhã, mas os brasileiros pensam que será depois de amanhã.” Joseph Blatter, presidente da FIFA. Não se preocupe em entender , Blatter, já que você não é brasileiro. Na hora em que começarem a fazer as obras a toque de caixa e sem licitação, você entenderá como essa turma pensa, E MUITO, no amanhã de suas famílias. E no depois de amanhã. E na eternidade. 4. “Eu agora estou feliz”, Pato, craque do Milan, sobre seu namoro com a filha do primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi. Deve ser por isso que Ganso já deu um pontapé no Santos e está doido para ir curtir essa felicidade toda na Itália. (Depois dizem que bicho não pensa.) 5. “Nem de direita, nem de centro, nem de esquerda” Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, falando da linha doutrinária do seu recém-fundado partido.” Mais ou menos como a maioria, não é Kassab? Nem de direita, nem de centro, nem de esquerda... Mas do bolso. 6. “Eu adoro sentir que sou uma garota de alguém. Adoraria ser amarrada e espancada. Mas, sem chicotes e correntes, prefiro usar as mãos.” Rihana, cantora. (Seu namorado está em regime de liberdade condicional por bater nela.) É isso aí, Rihanna. Se Mike Tysson tivesse te conhecido, na época, não teria ficado em cana por estupro. Bastaria ter te procurado. 7. “Tinha muito o que pensar, então viajei para o Peru. E sabe porque não vou à Europa, nessas circunstâncias? Porque lá tudo funciona, já estou acostumado. Mas, no Peru? Nada funciona, nada.” Mathew Mc Counaghey, ator norte-americano casado com uma brasileira. Mathew esteve no Brasil há muito pouco tempo, o que mostra que os norte-americanos não perdem a mania de confundir o Brasil com outros paises da América do Sul. Ô raça, que não aprende mesmo Geografia! 8. “Na república islâmica do Irã, não há.” Ali Akbar, chefe de imprensa do governo do Irã, garantindo que não há gays em seu país. Pela Lei da Ocultação da Realidade, dá para desconfiar que eles existem, pelo menos na Chefia de imprensa do governo, certo Akbar? 9. “O Fluminense foi um sonho de verão”, técnico Muricy Ramalho, após demitir-se do clube, alegando falta de estrutura. Um sonho de verão que rendeu muita grana para o técnico e que foi abandonado covardemente, quando a canoa começou a fazer água. Como ele saiu para ganhar setecentos mil no Santos, o melhor time do Brasil em termos de craques, agora mesmo é que o sonho vai começar. Quanto à estrutura... Ora, ficar conferindo grana enquanto os craques fazem os gols, não carece de estrutura, não é mesmo, Muricy? José Ewerton Neto ewerton.neto@hotmail.com

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A BELEZA MORRE

A BELEZA MORRE Mas, o que é a beleza? Certamente não é o que se apregoa nos out-doors e na fala de colunistas sociais e agitadores midiáticos quando querem promover algum evento. Basta olhar as fotografias dessas celebrações, repletas de coroas buxudos, peruas encarquilhadas e jovens de rosto padronizado e anódino para se ter uma idéia do quanto o conceito de beleza vulgarizou-se. “Gente bonita”, eles insistem em propagar. Mas, onde? Elizabeth Taylor, atriz britânica morta na semana passada aos setenta e nove anos, construiu o mito de sua formosura numa época em que boniteza não era, como hoje, accessível a todas, nem palavra fácil na boca de todo mundo. Constituiu, com a italiana Sofia Loren e a francesa Brigite Bardot nas décadas de sessenta e setenta, um painel de mulheres sedutoras tão fora do padrão convencional - mesmo no ambiente cinematográfico, tão concorrido - que causa estranheza que, passados tantos anos, pouca gente tenha surgido, capaz de ombrear-lhes em atração, personalidade e estilo. Hoje, de BBBs a jogadores de futebol, de Brunas Surfistinhas a Suzanas Vieiras, todos se consideram bonitos, talvez porque botoxes e aplicações cirúrgicas estão aí mesmo, para fornecer-lhes essa doce ilusão. Como resultado disso, o que se vê, são expressões caricatas de harmonia estética eclipsando-se aqui e ali, enquanto se corrompe o conceito da sedução, justamente porque a beleza verdadeira precisa muito mais que um rosto medianamente bonito e de um corpo sarado, para instalar seu reinado. Possivelmente, o mito criado em torno das três aconteceu porque a beleza de cada uma, mesmo visceral, lhes era um adendo ao que representavam além de simplesmente atrizes: mulheres diferenciadas pelo magnetismo, inteligência ou personalidade. (Mesmo Brigite, a menos talentosa das três, personificou, com brilho incomum e, talvez, inconsciente, uma antecipação ao fenômeno Beatles, quando tornou-se o estuário das aspirações libertárias e sexuais de uma juventude feminina, então reprimida. A sua beleza , estonteantemente juvenil foi a arma utilizada para expor o embrião desse tipo de transgressão, que tanto chocou o puritanismo da época.) Tão dissociada da beleza unicamente física, por sua vez, estava a beleza de Liz Taylor, que seu eterno apaixonado , o ator Richard Burton , igualmente talentoso e que, como ela, foi indicado ao Oscar pelo filme Quem tem medo de Viginia Wolf? comentou, numa das primeiras vezes em que a viu : “ Ela transmite uma sensação de perigo...É um dos poucos seres seletos que não são atores segundo nossos padrões, mas, quando postos na tela, emanam alguma coisa que, com franqueza, não compreendo...É uma moça bonita, sem dúvida. Tem olhos maravilhosos, queixo duplo, seios excessivamente desenvolvidos e pernas meio curtas”... Ora, pernas curtas, seios exagerados e queixo duplo, são aberrações físicas que nada têm a ver com beleza, certo? Mas, ela “Emanava alguma coisa que, com franqueza, não compreendo”...Portanto, o mistério, essencial a qualquer beleza que se preze. Quem diria isso de Gisele Bundchen? Ou de Ivete Sangalo? Ou de Adriane Galisteu e mais de cinqüenta e tantos modelos que se vê todo dia, na tevê, insistentemente paupérrimos, da beleza transitória atual? “A beleza é apenas a promessa da felicidade” disse um dia, de forma algo cruel, Montagne. Elizabeth Taylor em algum momento de sua juventude compreendeu isso, o que a fez tornar-se mais bela que tantas e permitiu que sobrevivesse à beleza física: aquela que, simplesmente, morre.