domingo, 28 de agosto de 2011

HINO NACIONAL AO ARROZ DE CUXÁ


artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, ontem, sábado


Ouviram do Rio Anil as margens  não tão  plácidas, de um povo heróico (não há outra saída ) um brado retumbante: “ Quero o mesmo IPTU de volta, abaixo o aumento da CEMAR!”. E o sol da  liberdade ( só se for do bairro da Liberdade) em raios fúlgidos brilhou no céu da ilha nesse instante.
                   Se o penhor dessa igualdade (todos são iguais diante do cuscuz Ideal) conseguimos conquistar com braço forte (de tanto carregar  caranguejo) , em teu seio ò liberdade, desafia o nosso peito a própria morte. ( se o peito de frango morto fosse nosso,  até seria bom!)

                   Ó ILHA AMADA,  IDOLATRADA
                   SALVE-NOS, SALVE-NOS!

                   São Luís, um sonho intenso, um raio vívido, vindo de uma barreira eletrônica à terra desce, se em teu formoso céu risonho  e límpido a imagem do Cruzeiro ( Cruzeiro não, Sampaio Correia) resplandece.
                   Gigante pela própria natureza, ( só pode ser um buraco de rua )  é belo, forte, impávido colosso e o teu futuro espelha essa grandeza.
                   Terra adorada, entre outras mil, és tu São Luís, ó ilha amada a primeira de quase mil vereadores. Para esses filhos, serás sempre mãe gentil,  ilha amada, São Luís.

                   Deitado eternamente em berço esplêndido ( mas sem poder morrer por falta de cemitério), ao som do forró e à luz do céu profundo. Fulguras ó São Luís, florão da ilha, iluminada ao sol do Novo Shopping  da Cohama (mais um).
                   Do que a terra mais garrida os teus tristes campos de Perizes tem mais flores (todo dia morre alguém) Nossas praias tem mais vida ( e preço de matar ),  nossa vida em teu seio mais amores (amores para todo mundo, mas grana só  para os  que mamam).
                  
                   Ó ILHA AMADA,  IDOLATRADA
                   SALVE-NOS, SALVE-NOS!

                   São Luís de amor eterno seja símbolo, o lábaro de ATENAS BRASILEIRA que ostentas estrelado, e diga o verde-louro dessa flâmula: indiferença no presente, esquecimento no futuro, apenas a glória do passado.
                   Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta ( greve de guardadores de carro, greve de táxi-pirata) Nem teme quem te adora a própria morte ( os hospitais metem mais medo )
                   Dos filhos corruptos deste solo ( que jamais irão para a cadeia) serás sempre mãe gentil, pátria amada Brasil .


sábado, 20 de agosto de 2011

CONTENHAM A LIBIDO, GAROTAS!

artigo publicado hoje, seção Hoje é dia de...
Caderno alternativo, jornal O estado do Maranhão


Noite de quarta-feira, em São Luis. O que tinha tudo para ser apenas mais uma noitada de amor e prazer acabou em tragédia, num motel da Cidade Operária, numa combinação que cada vez mais está se tornando rotineira nas crônicas policiais: um coroa assanhado, uma gata fogosa, uma caixinha de viagra e...   
                   Para as meninas que gostam de curtir a vida  adoidado um pouco mais de cautela e caldo de galinha não vai lhes fazer mal nestes tempos que correm. Se você é uma delas, cara leitora, mas não é necrófila, não gosta de filme de terror, nem de sexo bizarro, seguem algumas recomendações elementares antes que seja tarde:
                  
1.                 EXIJA O CHECK-UP ANTES. Isso mesmo. Além da camisinha como preventivo, passe a acrescentar mais um: a radiografia do parceiro, devidamente assinada por um bom cardiologista. Jamais se iluda com um palavreado romântico. Se o sujeito, com a orelha mais vermelha que um pimentão, tentar lhe conquistar com conversas do tipo: “Meu coração está batendo mais forte, diante de sua gostosura.”, desconfie e caia fora. Vá lá que esteja dizendo a verdade!... Isso pode ser muito, muito perigoso.  

2.                  FUJA DOS GRUPOS DE RISCO. Entenda-se: homens com mais de quarenta anos. A partir daí suas chances de copular com um cadáver aumentam na mesma proporção da quantidade de botox enfiada na face embonecada do dito cujo. .  Se o seu problema é de tempo para chegar ao orgasmo, substitua um de quarenta por dois de vinte e vá em frente. Mesmo que os dois rapazes juntos não cheguem aos dez minutos que você necessita, ou à metade da grana que você receberia de um velho só, pelo menos lhe restará  o consolo de saber que se um dos dois morrer ninguém vai lhe acusar de estupradora. .

                        3. NÃO DÊ MAIS DE UMA. Contenha-se, fique fria, cobre o triplo pela segunda, enfim, procure satisfazer-se com uma só, até mesmo se , por ironia do destino, estiver gostando. Saiba que a partir da segunda, suas chances de alcançar um inesquecível orgasmo, aumentam nas mesmas proporções que as dele de transformar-se num esquecido cadáver. Mesmo que ele, para sua surpresa, revele-se “ de morte” na cama, de repente – pimba!... lá se foi um herói. Aliás, lembre-se sempre disso: na sua profissão “mais vale um morto vivo que um “de  morte” morto.”

4.          FIQUE DE OLHO ABERTO. Embora os olhos fechados possam estimular a libido, mantê-los bem abertos, nem que seja a intervalos regulares e disfarçados, pode ser uma precaução essencial. Sim, porque os gritos e sussurros que sinalizam o prazer são – por culpa da natureza humana  – os mesmos sons que servem para denunciar a chegada ao céu ou o inferno. Somente os olhos bem abertos serão capazes de avaliar, por sua vez, quando os olhos bem abertos do parceiro estão prestes a travar para sempre - não porque você seja boa de cama, mas de coma.

                   5. NÃO VÁ DE CARRO PEQUENO. Nada de carro pequeno. Prefira um desses horrorosos carrões que circulam por aí e que parecem ambulâncias, tratores ou caminhões. (Pode reparar que eles têm quase sempre um coroa, com cara de idiota, a dirigi-los, provavelmente porque estão a par  das complicações sexuais vitais de homens nessa idade). Lembre-se de que o  futuro ex-parceiro, agora cadáver, estará muito mais duro do que esteve há pouco o órgão que lhe causou a morte.
                   Somente num carro desse tamanho haverá espaço suficiente para ocultar um defunto estirado no banco traseiro sem que isso venha a lhe trazer complicações com a polícia. Aliás, se houver chances, prefira mesmo uma ambulância, porque se acontecer o pior, será muito melhor perante os parentes do morto, dar uma de enfermeira do que de carniceira.


                                                        ewerton.neto@hotmail.com


sábado, 13 de agosto de 2011

O PAI, O FILHO E O PRESENTE

artigo publicado hoje, sábado, no jornal
O estado do Maranhão, caderno Alternativo, seção
Hoje é dia de...


Nesta época, indefectivelmente,  aparecem na imprensa as mesmas manjadas listas de sugestões de presentes para os pais compostas de gravatas, computadores, camisas de time, etc. Haja criatividade para sair da rotina!
                   Esquecem que um bom presente depende fundamentalmente do pai em questão. Ora, embora tenham algumas características levemente semelhantes, como sexo, careca e barriga de cerveja, na verdade,  um pai nunca é igual ao outro, embora todos tenham uma notável identidade quando se trata de xingar  o motorista vizinho, no trânsito.
                   Para simplificar a questão e ajudar na escolha, poderíamos dividir o pai em três tipos.
                   O pai antigo (ou melhor, às antigas)   é aquele que ama tanto os filhos que não hesita em tê-los cada vez mais, de preferência com várias mães. Esquece da maioria deles com freqüência de forma que, lembra-lo disso, mesmo que seja  com um presente, não é exatamente aquilo que ele gostaria de receber. O pai moderno, por sua vez, gosta tanto de filhos que seu maior sonho é tornar-se um deles, fumando a mesma maconha, dançando o mesmo forró e batendo o mesmo carro.  Daí que não convêm, justamente nesse dia, xingá-lo de pai, sendo preferível, convida-lo para tomar umas e outras  chamando-o daquilo que ele já está acostumado: mano, cara, ou doidão.  
                   Já o pai ultra  moderno é aquele plenamente consciente do seu papel de mãe e dona-de-casa. Dotado de uma dose exagerada de amor paterno é capaz de fazer tudo pelos filhos, de preferência se estes não forem seus.
                   Suas possíveis reações.

                   1. Livros. Pode ficar certo de que o pai às antigas, pelo menos, fingirá que gosta. Você jamais o verá lendo uma única página do dito cujo,  seja de Paulo Coelho ou de Hemingway, mas, ele, certamente, ficará envaidecido com a lembrança. Gostaria de poder dizer-lhe,  na lata,  que teria preferido uma revista Playboy com a Malu Mader (que ele nunca conseguiu encontrar) mas tem plena consciência de que o entendimento perfeito entre pai e filho fica implícito na enorme lista de devedês pornôs compartilhados, de Gretchen a Rita Cadilaque.    
                   O pai moderno, mais pragmático,  lhe chamará de idiota se você cair na besteira de lhe trazer um  Chico Buarque ( com razão, aliás) . E berrará, para todo mundo ouvir,  que o único livro que leu - e gostou, foi o de Bruna Surfistinha. Claro que isso estará longe de abalar a formidável relação que vocês têm, já que chamar o outro de idiota é o tratamento preferido entre ambos.
                   Quanto ao pai ultra-moderno talvez preferisse O Diário de um banana, pensando que é sua autobiografia.

                   2. Musicais. Para agradar musicalmente um pai às antigas, um Nelson Gonçalves ou um Altemar Dutra serão muito bem recebidos. Mas você fará melhor se o convidar para inaugurá-los na Zona, em companhia de algumas “amigas”. O pai moderno, por sua vez,  ficará sensível à um Rolling Stone, ou a um Beatles mas, desconfiado de uma  potencial indireta,  correrá para o espelho a fim de checar se não sumiram definitivamente seus cinco e meio últimos fios de cabelo,  que preserva com precioso carinho há quinze anos.
                   Quanto ao ultra-moderno nem caia na besteira de lhe trazer uma Amy Whinehouse . Julgando-se o homem mais antenado da face da terra, portanto o mais alegre e otimista, considera  Amy muito triste e só vibra  de alegria quando ouve Ivete Sangalo ou Shakira. Pensando bem, é bom deixar esse negócio de musica de lado e dar-lhe um abadá do Marafolia. Seus olhos brilharão de alegria.   

                   3. Restaurante. Jamais gaste seu dinheiro oferecendo um almoço numa churrascaria para um pai às antigas. Ele não gosta de celebrações em família, justamente por não saber, exatamente, qual é a sua. Um pai moderno poderá gostar disso, em parte, desde que a sobremesa seja boa, entendendo-se como isso uma boa rodada de cocaína.  Quanto ao pai ultra-moderno, ele será capaz de aceitar  o convite com uma condição: desde que esteja presente o melhor amigo da família: o Souza. Que é colega de trabalho de sua querida esposa e que, por coincidência, desconfia que seja o verdadeiro pai do seu filho.  

                   Bem, embora esses tipos representem as espécies  fundamentais e mais corriqueiras de pai, entre elas ainda existe uma minoria de tipos: discretos, reservados, silenciosos  e que não fazem questão  de solenidades, confraternizações, e muito menos de alardear o amor de pai.   Para estes, quem sabe,  o filho  seja  o melhor presente?

                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SANLUIZENSES

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, sábado passado


Rumo aos quatrocentos anos, a bordo da estação Sanluizana, algumas reflexões vadias, mas nem tanto.  

                   1. Pronto! Acabaram de descobrir a solução para os buracos de rua, o trânsito congestionado e os semáforos que não funcionam: mais dez vereadores para a câmara municipal. Segundo informações, a custo, em breve,  de um milhão e meio de reais. Portanto, em matéria de idéias para resolver os problemas estruturais e crônicos de uma população tão carente, nada como as soluções geniais dos legisladores maranhenses. No âmbito estadual quando a coisa está ruim, criam-se municípios. Na capital, quando a coisa está pior, criam-se vereadores.

                   2. Deu na imprensa que a atual secretária do IPHAM está alertando sobre o iminente risco, para São Luis, de perda do título  de Patrimônio Cultural da Humanidade, caso não sejam feitas reformas urgentes no patrimônio arquitetônico da cidade. (Imagine se essa comissão de analistas soubesse que  os escritores da cidade têm de entrar na justiça para receber os prêmios que lhes são concedidos pelos órgãos oficiais da cidade, por ocasião dos concursos literários! E que seus advogados ainda têm a coragem de recorrer,  quando os juizes dão ganho de causa aos artistas em primeira instância.)  

                   3. E a ilha de São Luis, ao invés de apenas água, agora está cercada de pirataria por todos os lados. Segundo as manchetes dos jornais  40% da frota de táxis circulando na capital é pirata.  Outro dia, parei meu carro no centro e quase tomei um susto quando pessoas que eu nunca tinha visto mais gordas desejavam entrar no meu carro. Demorei a perceber que não se tratava de uma invasão de sem-terra, ou, melhor, de sem-carros,  mas de pessoas disputando uma condução , simplesmente achando, por hábito, que todo carro que parasse naquele local era um táxi-pirata. Expliquei-lhes que por enquanto não, mas ia começar a pensar seriamente na hipótese se as coisas piorarem. (Parece que, por aqui, para ganhar mais uns trocadinhos bastam um carro velho, gasolina e cara-de-pau.)   

                   4. E a excelente idéia de fazer da recuperação do antigo prédio do  edifício BEM o início da revitalização do centro da cidade, parou no décimo andar . Parou por quê? Por que parou?
                   No rumo contrário das decisões burocráticas oficiais que tomaram a triste decisão de fugiram do centro, foi muito reconfortante saber, na ocasião,  que o governo da capital optara pelo caminho acima, consciente de que essa debandada causava um grande mal à cidade. Só que o outrora majestoso edifício agora permanece parado no ar, escorado no passado como um pássaro ferido que tenta se levantar e não consegue. E pior, sem os belos murais de Antonio Almeida. Quer dizer então que o sacrifício da arte do saudoso e genial Antonio Almeida foi em vão?

                   5. Nada mais provinciana que a obsessão da “gente bonita” da capital (como dizem os colunistas) com a divulgação de suas viagens ao exterior. Esquecidos de que, com o fortalecimento do real, a globalização, e o cosmopolitismo das empresas, todo mundo hoje viaja para o exterior assim que lhe dá na telha ou quando sua empresa manda, os “bonitinhos” assim que põem o pé fora do Brasil, tratam logo de enviar para a imprensa fotos e textos, narrando suas aventuras pelo exterior como se fossem  desbravadores tardios e tivessem estado, ao invés de nas ruas de Paris ou Nova Iorque,  dentro de um foguete interplanetário, passeando em outro planeta. .
                   Tão jeca quanto essa é  a mania sanluizense, muito difundida  na imprensa, de - quando se pretende alguma melhoria na cidade - pleiteá-la em nome do turismo ou do turista. Ora, não é o cidadão sanluizense menor que o turista, nem deveria ser menos merecedor da atenção das autoridades por ter nascido aqui. O ambiente em que vive  (aeroporto, rodoviária, praias etc) deve ser melhorado, principalmente por causa dele, por seus direitos fundamentais como cidadão e não apenas por causa de quem chega aqui uma vez e vai embora.  Ou será que, por  ter sido tão maltratado ao longo dos anos, o conceito pessoal do cidadão sanluizense se degradou,  a ponto de se considerar em vão solicitar melhorias em seu nome?

                                                                  ewerton.neto@hotmail.com