segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ENTRE FATOS E FRASES

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção
Hoje é dia de...Caderno Alternativo, último sábado


ENTRE FATOS E FRASES


                                                                                  José Ewerton Neto



                        Os últimos dias começaram surpreendentes  com a súbita presença de uma baleia na praia da Raposa, justamente enquanto se realizava, aqui na capital,  o SLZ Fashion Week.  Vocês sabem o que é o SLZ Fashion Week? (Assim mesmo é que se escreve, com nome inglês, na terra de Gonçalves Dias, onde se dizia que era de bom tom falar português, e de preferência, o melhor).
                        Pois  perguntem para a baleia, já que, segundo consta, ela deve ter vindo do Canadá, onde se fala francês e inglês muito bem. A coitada, que estava bem magra, teria se empolgado com a oportunidade de posar como modelo no SLZ FASHION WEEK e, prevendo que teria, afinal, sua chance num evento meio provinciano, emagreceu o quanto pode e por aqui chegou para concorrer com as ex-gordas daqui. Morreu de anorexia - coitada! - antes de desfilar, mas teve direito aos seus dois minutos de fama, que as demais iludidas bobinhas da ilha não tiveram. “Pelo menos isso!” ela teria dito antes de dar seu último suspiro. Quanto às frases:

                        1. “NÃO BOTO OS PÉS LÁ NO FLAMENGO. NEM NO ESTÁDIO.” Zico, ex-craque do time e atual técnico do Iraque, magoado com seu clube de origem, que o acusou de favorecimento aos filhos, quando dirigente.
                        Se pudesse tiraria até seus gols de lá, não é mesmo, Zico?

                        2. “UM DOS SONHOS QUE TENHO É FAZER UM PROGRAMA SOBRE AUTOMÓVEIS, QUE SÃO MINHA GRANDE PAIXÃO” Tânia Oliveira, em entrevista ao portal IG
                        Um programa sobre automóveis, ou num automóvel? Explica esse negócio direito, Tânia.

                        3. “ JURO POR DEUS, ELA NUNCA ME DEU BRONCA. EU TE JURO QUE NÃO, MAS SE NÃO QUISER ACREDITAR...SEI QUE É DIFÍCIL...” Fernando Hadad, ministro da Educação ao sair, sorridente, de uma reunião com a presidente Dilma.
                        Isso  ministro, sorria de felicidade e puxa-saquismo! São tantos os ministérios e tão poucas as oportunidades de chegar perto da chefa, que suas broncas  estão sendo disputadas no tapa.

                        4. “A CANÇÃO MORREU. A TECNOLOGIA MATOU O INTIMISMO.” José Ramos Tinhorão, jornalista e crítico musical,  sobre os shows que movem multidões aos estádios.
                        Não seja tão otimista, Tinhorão. Mais dia menos dia o forró acabará matando a tecnologia.

                        5. “OS TORCEDORES ME VAIAM PORQUE SOU BONITO, RICO, E GRANDE JOGADOR”. Cristiano Ronaldo, atacante do Real Madrid.
                        Quanta modéstia, “grande” Cristiano! E você nem quis dizer que se considera  dez vezes melhor que o Pelé e o Messi juntos, e vinte vezes mais bonito que o Brad Pitt e a Angelina Jolie.

                        6. “NÃO ACREDITO QUE A VIDA COMECE NO BERÇO E TERMINE NO TÚMULO.” Nicete Bruno, atriz, que acredita na reencarnação.
                        Você tem toda razão, Nicete. Mas a vida também pode começar num túmulo e terminar num berço – a depender do otimismo.

                        7. “PASSEI TRÊS MESES ME OLHANDO NO ESPELHO. ACABEI PARECIDA COM O JÁDER BARBALHO” Fafá de Belém, depois que colocou Botox no rosto.
                         Dos males o menor, certo Fafá? Pelo menos o botox só deixa a mulher horrorosa! Acusada de corrupção, por enquanto, ainda não...

                        8. “ PREFIRO OS BARES PEQUENOS E DESAJEITADOS, QUE CHEIRAM SEMPRE UM POUCO A XIXI. AÍ ME SINTO À VONTADE” Lady Gaga idealizando os bares que costumava freqüentar, antes de se tornar famosa.
                        Cada um se inspira como pode. Tá explicado, enfim, porque as músicas de Lady além de terem cheiro de xixi, têm som de xixi.

                        9. “ DEUS É O CONJUNTO DE LEIS QUE REGEM A NATUREZA” Leonard Mlodinow, físico e escritor, em entrevista à Veja.
                        Isso! E um belo dia esse conjunto de leis teve um orgasmo, aconteceu o BIG-Bang e tudo começou. (Orgasmo de Deus é diferente, certo Leonard?)   

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                                                                                   



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

TERROR E HORROR, DEZ ANOS DEPOIS

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção
Hoje é dia de...Caderno Alternativo, sábado


Terror e Horror. Dez anos  depois da tragédia em Nova Iorque que abalou o mundo, do horror já esquecemos, mas o terror continua assunto do dia. Talvez porque o horror, esta palavra que significa violenta sensação de medo e padecimento atroz, tenha sido vivido apenas pelos milhares de vítimas que há dez anos tiveram suas vidas interrompidas. Para mortos assim, envolvidos em batalhas das quais não participavam, edificamos  monumentos , tomamos uma coca-cola, fazemos discursos, e a vida continua
                   Mesmo que tenham padecido  “o horror, o horror!” de que falava Marlon Brando no filme O coração das trevas   , baseado na obra prima de Joseph Conrad. No caso deles, um horror tão real quanto bestial, tão pouco cinematográfico quanto  demasiadamente humano, porque causado pelo próprio homem.
                  Ora, se  estes (os terroristas ) são especialistas em disseminar o horror, por que continuam à solta, e às vezes chegam a ser venerados pós-morte, como aconteceu com Osama Bin Laden? Por que ainda há quem os defenda em nome de ideologias? Isso nos leva, dez anos após, a refletir sobre a matéria de que são constituídos e que os faz germinar um após  outro, para sempre, infelizmente e indefinidamente.  

                   CRUELDADE – Uma ocasião  perguntaram a Napoleão Bonaparte o que era preciso para ganhar uma guerra. Ele  respondeu: Dinheiro, muito dinheiro, bastante dinheiro! Ao perguntar-se a um aliciador  de terroristas o que seria necessário para formar um exército perfeito ele certamente diria : prometer-lhes crueldade, muita crueldade, bastante crueldade.
                   ESTUPIDEZ – Para um terrorista não pode faltar o tipo de estupidez que não vem da ignorância, mas da incapacidade de refletir. Ao contrário do bom Don Quixote que no afã de defender a nobreza perdida do ser humano se dirigia contra moinhos de vento, o terrorista é capaz de enxergar até torres de concreto como suas inimigas, e de derrubá-las sobre os corpos de milhares de vítimas, curiosamente os mesmos inocentes em defesa dos quais tenta justificar a sua maldade.
                   COVARDIA  Não pode haver terrorista sem elevada dose de covardia: a daquele que se insurge contra pessoas frágeis e indefesas com medo de enfrentar, de igual para igual, militares, Ao se imolarem, fingindo-se de heróis ou patriotas, pretendem que não se reconheça a monumental covardia daquele que se esconde da vocação de monstruosidade, através da própria morte.
                ÓDIO – Um terrorista precisa possuir um ódio  pessoal , imenso, avassalador. Mas, ao contrário do que muitos pensam o grande ódio do terrorista não nasce da revolta contra esse ou aquele, mas contra si mesmo. Com medo e vergonha de se suicidar sozinho e sem justificativa para viver, tenta pelo menos iludir a memória, doando-se uma importância que nunca teve em vida, mesmo que para isso tenha de levar de roldão pessoas inocentes.     

                  
         2. Isto posto, deveria ficar para a humanidade a questão de por que somos eternamente incapazes de isolar a maldade. Em nosso país,  tantas vezes justificamos a violência como tendo por fundo uma causa social quando sabemos que não é isso,  que para contestar essa idéia bastaria apontar a quantidade imensa de pessoas que sendo vítimas da miséria social não escolheram o caminho do crime.
                   Talvez porque, convivendo com o bem e o mal, pela nossa própria natureza humana, sejamos um pouco terroristas também. Quando ameaçamos nossos vizinhos no trânsito por motivo fútil , quando nos solidarizamos com assassinos ao invés de com suas vítimas, ou  quando, possuidores de algum cargo de poder, rugimos contra os subordinados com os quais não simpatizamos.
                   Do meu último romance O infinito em minhas mãos retiro este prólogo:  “A maior arrogância do ser humano não é acreditar que Deus tenha a sua imagem e semelhança, mas imaginar que o Diabo pode ser pior do que ele.” Possuindo a maldade dentro de nós, o que nos distinguirá da perversidade animal será o fato de nos olharmos quotidianamente no espelho e superarmos nossos instintos, exercitando o Conhece-te a ti mesmo, do qual falava Sócrates. Não parando para refletir sobre isso quando, apressados, tentamos justificar e explicar barbaridades contra esse ou aquele, não passamos  de meros simpatizantes de assassinos, terroristas também.

                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O A-B-C de São Luis

artigo publicado no caderno especial do jornal
O estado do Maranhão, por ocasião do aniversário
da cidade em 8 de set 2011


Com São Luís as vésperas de completar 400 anos, ainda existem cidadãos que desconhecem o bê-a-bá de sua cidade, o significado de suas expressões mais típicas. Num esforço de livre interpretação e inspirado na “deliciosa” leitura de O bê-á-bá de Brasília, de Marcelo Torres e Maranhão na Ponta-da-Língua , de José Neres e Lindalva Barros
surgiu esta forma bem-humorada de homenagem.


Ata. O maranhense chama de ata o que em todo lugar é fruta-de-conde. Isso porque quando acabou a  monarquia os condes passaram a trabalhar nas sinecuras fazendo atas. E lá estão até hoje.

Atraca. O que lá fora é chamado de diadema ou tiara, por aqui virou atraca. Isso porque os marinheiros depois de aportarem no Desterro, saíam sedentos atrás das meninas da rua 28 e lhes doavam tiaras. Mas o que queriam mesmo era  atracá-las. 

Anjo da guarda. Um dos bairros mais recentes e populosos de São Luis,  já foi considerado um dos mais violentos, numa época em que os guardas não faziam por menos. Daí a razão do nome. O anjo era para proteger dos guardas.

Areal. Antigo nome do bairro que hoje se chama Monte Castelo. Em época de chuva são tantos os buracos que tudo fica um lameiro só. Dizem os atuais moradores que o bairro já foi um monte de areia, virou um monte Castelo, e hoje é quase  um monte de lama.

Batizar o carro. Diz-se de levar o carro recém-adquirido para receber a proteção de São José de Ribamar através das bênçãos do padre. Talvez seja essa á a principal razão pela qual o sanluizense só gosta de carro zero.  Para não cometer o pecado de mudar o nome de batismo do carro.  

Baldiar. O sanluisense diz baldiar ao invés de vomitar, porque quando chegava na quarta-feira de cinzas dos antigos carnavais estava tão bêbado que, para vomitar, confundia o penico com um balde.

 Bode. (de bode). O sanluizense diz que a mulher menstruada está de bode porque antigamente, quando ela chegava  nessa fase, mudava de humor e ficava zangada feito um bode. E principalmente, gostava de inventar chifres na própria cabeça - mesmo os que já existiam.

Cabaço. Cabaço, por aqui, significa hímen, virgindade. Tudo começou quando num passado um tanto remoto as meninas protegiam seu sexo com os braços. Os homens diziam “Tira cá o braço!” Virou “tirar o cabaço”.

Cagado. Diz-se da pessoa que tem sorte. Ao contrário, quem faz besteira faz cagada. Portanto São Luis não é só a cidade que têm os universitários que menos lêem livros no Brasil, é também o único lugar do Brasil em que é melhor ser cagado  do que cagar. Alguma coisa a ver com a outra?

Cafundó dos Judas. Cafundó significa lugar muito remoto e cafundó dos Judas, de mais longe ainda. Como nossos deputados adoram inventar municípios e, com muito mais velocidade, os vereadores da capital apreciam criar vereadores o povo anda dizendo que os município são extraídos dos cafundós, e  os vereadores dos Judas. 

Cidade. São Luis é uma cidade heróica que resistiu aos franceses, aos holandeses, portugueses, mamelucos, imigrantes e demais  descendentes, só não consegue resistir aos seus legisladores, que dela tiram uma cidade atrás da outra: São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Raposa  e agora estão pensando no Maiobão. Qualquer dia a cidade de São Luis será apenas da Praia Grande ao Monte Castelo e olhe lá. E ainda tem a TV Cidade, a Cidade Operária  e,  uma verdadeira atro-cidade, no trânsito!  

Cambito. Perna muito fina. Se Gisele Bundchen por aqui houvesse nascido jamais chegaria onde  chegou. Teria sido reprovada no vestibular por causa dos cambitos.

Catiroba. Mulher muito feia. Xandy, o pseudo-cantor quando aqui se apresentou há cerca de dez anos chamou as sanluisenses de feias num episódio deu muito o que falar. Como a reza da sanluizense é fatal, o disse-não-disse do dito cujo acabou lhe custando caro quando acabou casando com Carla Perez, esta sim, uma verdadeira catiroba.

Égua. O sanluizense quando se espanta ou vê algo absurdo exclama “Égua!”, porque os primitivos mandões e poderosos eram tão ignorantes que pareciam cavalos. Evidentemente, como ninguém poderia chamá-los de cavalos, socorria-se exclamando; “Égua!”, para disfarçar.

Enxerida. Mulher que se mete em coisas alheias.  Dizem que quando a maranhense fica desse jeito é porque não consegue um homem para inserir-se nela. Quando passa muito tempo sem ser inserida, fica enxerida.

Hem-Hem. Expressão que tanto pode significar sim como não. As grandes decisões maranhenses são tomadas desse jeito. Manuel Beckmam jamais teria dito “Pelo povo do Maranhão, morro contente”, mas “Hem,Hem”.

Hum-Hum-  Tradução do hem-hem para o inglês, segundo a maioria das trezentas e tantas escolas que se aprimoram em ensinar inglês na ilha.

Mexer a priquita. Expressão usada para mandar alguém sair da inércia. Essa é uma das razões pela qual o estudante maranhense tem um dos mais baixos índices de leitura no país, e, também, um dos maiores de mães solteiras adolescentes.  As mães mandam a filha mexer a priquita e parar de fazer nada. Bem mandadas, quando não estão dançando forró, mexem a priquita pra valer.  

Na hora. Expressão que o sujeito usa para dizer que está pronto para resolver o problema de alguém em cima da hora, mas que, na prática, significa dizer que está pronto para não fazer nada hora nenhuma. Hino de guerra dos guardadores de carro da cidade.

Pedra.  Refere-se à música de qualidade. Tudo começou quando o som que se ouvia em São Luis era tão ruim que as pedras que batiam nas cabeças dos dançarinos (nas brigas habituais das baladas ) tinham um som mais bonito do que o que se ouvia nas radiolas. O pessoal criou o hábito de pedir pedra e mais pedra.

Qualira. O maranhense chama gay de qualira porque o primeiro gay maranhense foi um português que se chamava Lyra, era enrustido e se casou com uma índia que quando soube exclamou: “Quá, Lyra!”

Ri-Ri. O sanluizense chama zíper de ri-ri porque quando a parceira permite que ele o abra, primeiro ele ri de felicidade. Depois ela.

Se  acha. Pessoa convencida e arrogante,  que causa indignação porque se pretende superior as outras. A frase é complementada por um definitivo “a ultima coca-cola do deserto”,  “a ultima virgem de São Luis”, “ o único buraco de rua que foi tapado”, etc.

                                                        etc





sábado, 3 de setembro de 2011

UMA VERGONHA MUITO INCONVENIENTE


artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O estado do Maranhão, hoje
sábado


Jornal O estado de São Paulo, edição de 13 de Agosto de 2011. Algumas notícias de primeira página:
                        “ Juíza é assassinada no Rio, outros 69 estão ameaçados.”
                        “ Pressionada, Itália anuncia corte de gastos.”
                        “ Fotos de presos pela PF geram crise”
                        “O universitário do Maranhão é o que lê menos”.  Peraí, O UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO É O QUE LÊ MENOS?                     
                        De fato, o jornal, em reportagem interna, lamentava que a pesquisa em várias universidades brasileiras denunciasse aquilo que já se desconfiava: o universitário brasileiro, de um modo geral lê muito pouco, não só comparado a países de cultura tradicional como a França e Alemanha como – para falarmos de países vizinhos – Chile e Argentina. O que não se sabia é que, entre eles, o pior é o maranhense. Só para termos uma idéia enquanto 23 % de universitários gaúchos lêem dez livros, em média por ano, o mesmo porcentual maranhense não chega a sequer um livro. Repito: 23% DOS UNIVERSITÁRIOS MARANHENSES NÃO CHEGAM A LER SEQUER UM LIVRO POR ANO.
                        Se essa constatação, publicada  num dos jornais de maior circulação do país, e por aqui reproduzida,  chegasse a nos envergonhar , por que então nenhuma autoridade  se manifestou a respeito? E, quando estou falando de autoridades estou falando também, também de interessados próximos: reitores, professores, intelectuais, secretários de estado e... Os  próprios estudantes.
                        Talvez porque essa não passe de mais uma vergonha inconveniente. E bote inconveniente nisso!  É preferível  falar no sucesso do Geia  ( muito justamente, aliás); no reconhecimento (finalmente) do bumba-boi com patrimônio cultural do Brasil; nos projetos para comemoração do quarto centenário de São Luis e , nunca , na verdade acachapante de que NINGUÉM QUER MAIS SABER DE LER NUMA CIDADE QUE SE INTITULA ATENAS BRASILEIRA . Principalmente, seus universitários.

                        2. Mas, por que a pouca leitura significaria uma vergonha? Aí é que está, fosse eu um jovem universitário, doido para passar no vestibular do BBBrasil ou ávido para curtir shows de Sorocabas na Expoema,  ficaria pensando toda vez que um sujeito viesse pela enésima vez falar nesse assunto “abominável” da necessidade de leitura “Por que será que essa turma não para de encher o saco? Puxa vida, tenho muito mais o que fazer do que ficar meia hora penando em cima das páginas de um livro.” E  reconheço que,  dentro de sua lógica de bobo feliz com sua parvoíce, ele teria razão.
                        Pois só pode avaliar a fortuna trazida por um livro quem habituou - se, desde cedo a ler. Como dizia um escritor francês, jamais coube ou caberá ao ser humano ser proprietário de sua morte genética, mas de sua morte intelectual sim, e nossa raça se aprimorou em se suicidar da melhor forma. O universitário maranhense, ao que tudo indica, está sabendo muito bem escolher a sua: é também entre todos os universitários brasileiros o que menos freqüenta bibliotecas.
                        Ora, se estamos lidando com mortos intelectuais prematuros de nada  vale evocar frases como as de que “ A literatura não faz alguém mais ou menos feliz, mais ou menos rico, mas é a principal estimuladora da única coisa que diferencia um animal do outro: a reflexão, ou seja, aquilo que o distingue.” O que soa desconcertante - nesse esforço que todo ser humano deveria ter para distinguir-se de outros animais -   tanto ou mais que o desapego dos universitários maranhenses pelo instrumento mais rico que possuem para que possam se tornar melhores profissionais,  é a indiferença das autoridades a respeito.
                        Claro, por que tocar na ferida de mais uma vergonha inconveniente?

                                                                       ewerton.neto@hotmail.com