sábado, 25 de fevereiro de 2012

CARNAVALESCAS ( OU NEM TANTO )

artigo publicado na seção Hoje é dia de...
jornal O Estado do Maranhão, hoje, sábado



CARNAVALESCAS (OU NEM TANTO)

                                                                                              José Ewerton  Neto



                        A vida é absurda, dizia Clarice Lispector. Sendo assim, o carnaval (com toda a sua porralouquice gostosa) não é absurdo, absurda é a vida. Neste caso, como classificar o critério usado pelos jurados das escolas de samba para escolher as vitoriosas? Bizarro? Confuso? De outro planeta? Surpreendente?
                        Nada. Nenhuma palavra na língua portuguesa seria capaz de exprimir a sutileza intelectual, e a precisão científica de um jurado, que é capaz de dar uma nota de 9,25 para uma escola e 9,5 para outra. Como será que ele consegue ser tão preciso? Teria olhos capazes de olhar por cima, por baixo, e pelos lados? Disporia de uma sensibilidade artística tão apurada capaz de ser aferida em centésimos? Seria uma mistura de Oswald de Souza, o matemático, Joãozinho Trinta, o carnavalesco, Gilberto Freire, o sociólogo e Selminha, a porta-bandeira?
                        Tanta bizarria  degenerou, mais uma vez em confusão A recente invasão de um sujeito no local da apuração das escolas de samba de São Paulo para arrebatar as notas dos jurados e jogá-las no lixo dá muito bem a dimensão do grotesco dessas apurações que, na realidade, pretendem julgar o impossível de ser julgado, devido a extrema subjetividade do que se avalia. Parecidas por definição, e estruturalmente tolhidas  em suas nuances coreográficas  pelo ritmo cadenciado do samba-enredo e sua lenta evolução,  o desfile de uma escola de samba quase sempre se torna repetitivo e cansativo  ao invés de  opulento e sedutor, carecendo, por isso, de socorrer-se de centésimos matemáticos para doar-se alguma credibilidade competitiva.
                        A precisão infinita desses jurados, capazes de se locomoverem nos centésimos da coitada da matemática me faz ocorrer uma sugestão: que sejam convidados a se juntarem aos cientistas que arduamente procuram, há dois anos em vão, o bóson de Higgs, (a partícula de Deus).
                        Com a ajuda deles, quem sabe...


                        2..Deu neste jornal: “Apesar do tempo festivo, a maioria dos turistas preferiu conhecer as belezas arquitetônicas e naturais da capital e de outros municípios do estado a participar das folias do Momo(...) A médica Maria Timbó, por exemplo, disse : Há dez anos quando aqui estive, fiquei encantada com a beleza dos casarões, mas agora muitos deles estão mal conservados. É preciso um pouco mais de cuidado para que a cidade fique mais bonita.”
                        Portanto, ao invés do que os administradores desta cidade pensam, não é só um carnaval movido a  incentivos o que atrai os turistas, porém, mais que isso, as belezas peculiares  da cidade. Afinal, parece que os turistas não vêm conhecer São Luis por causa do carnaval, mas, vice-versa, aproveitam o  Carnaval para conhecer a cidade. Que bom seria se eles percebessem que nossa capital deveria proporcionar aos visitantes, de forma cada vez mais atrativa, seus recursos naturais intrínsecos. Os mesmos que - conforme palavras dos turistas - padecem da penúria de incentivos, que não faltam, contudo, ao carnaval.



                        3. E, por falar em matemática, alguém se deu ao trabalho de calcular a quantidade de silicone que passa no sambódromo em dias de carnaval. Não é difícil: 2 mil mulheres por escola, vezes 300 ml em média... vezes dois peitos = 16,8 toneladas de silicone – sem contar os homens. O que leva a um cada vez mais insinuante problema de aferição: como julgar a perfeição dessas quase dezessete toneladas?
                        Eis mais uma sugestão para explorar a capacidade desses jurados de escola de samba: introduzir a qualidade do silicone implantado como mais um quesito a ser analisado como nota.
                        Obs. Só não valeria avaliar o silicone de peruas fogosas, useiras e vezeiras do Carnaval, como Suzana Vieira. Senão seríamos forçados a vê-los recorrer mais uma vez aos decimais, só que, desta vez, negativos. Ou centesimais?                                                                                                                                                                                                                    ewerton.neto@hotmail.com


                        

sábado, 18 de fevereiro de 2012

AS MARCHINHAS DE SEMPRE E PARA SEMPRE


artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal O Estado do Maranhão, hoje, sábado


Passa ano sai ano ressurge o velho debate carnaval tradicional x carnaval atual cujo ápice é a disputa marchinhas carnavalescas x  música baiana. Sem saudosismo,  as marchinhas dão de dez a zero,  até mesmo porque,  além de melodia, têm letras que eternizam uma época bem mais que a mera excitação momentânea dos trios elétricos, causada pelo som ensurdecedor e convidativo ( vá lá ), necessariamente  movido a álcool e -  talvez -,  alegria.  
            São tão eternas essas marchinhas expressando sentimentos universais e atemporais que ao invés de terem ficado datadas  expressam , com pequenas adaptações a vida atual. Como é fácil comprovar:
           
            1. “Pode me faltar tudo na vida, arroz feijão e pão Pode me faltar manteiga  e tudo mais não faz falta não. Pode me faltar o amor Há, há, há, há!Isto até acho graça Só não quero que me falte A danada da cachaça.”
            Essa marcha celebrava a cachaça como instrumento de escapismo. E se antecipa aos conselhos de auto-ajuda de hoje com uma pérola  da sabedoria:  “Pode me faltar amor! E isso até acho graça.” A tecnologia, contudo, descobriu matérias primas mais eficazes  – e mais nocivas - como estimuladoras da fuga da realidade. Bastaria então, na letra, substituir cachaça por televisão.

            2. “Solteira eu não quero, casada traz complicação. A viúva tem saudades, a desquitada é a minha solução”.
            As opções parecem ultrapassadas diante das centenas de alternativas surgidas em termos de sexo e relacionamento. Mas a mensagem de busca, por uma solução, continua perene.

            3. “Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí!Não vai dar? Não vai dar não?Você vai ver a grande confusão que eu vou fazer bebendo até cair. Me  dá me dá me dá, ô!Me dá um dinheiro aí!”
            A letra da marcha referia-se a mendigos. Hoje continua atual - já que tanto pedem dinheiro os pobres como os ricos - se prestando até para hino da equipe do ministério  de Dilma.  Como todo mundo sabe já caíram mais de seis, bebendo ou não, querendo mais dinheiro e fazendo confusão.

            4. “Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar Dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro bebê não chorar. Dorme filhinho do meu coração,  pega a mamadeira e vem entrar pro meu cordão Eu tenho uma irmã que se chama Ana de piscar o olho já ficou sem a pestana (...)Eu tenho uma irmã que é fenomenal Ela é da bossa e o marido é um boçal”
            Não parece o nosso vice-presidente Michel Temer, brandindo  um cartão de crédito na mão  diante da esposa-gata, trinta anos mais nova e pedindo uma chupetinha?  E ela, respondendo no mesmo tom, dizendo, para  provoca-lo, que tem uma irmã fenomenal. Só que o nome da mana, ao invés de Ana é Michelle. Quanto ao boçal...  Bem.  

            5. “O teu cabelo não nega mulata porque és mulata na cor Mas como a cor não pega mulata eu quero o teu amor.  Tens um sabor bem do Brasil, tens a alma cor de anil! Mulata mulatinha meu amor, fui nomeado teu tenente interventor”
            Bastaria substituir o teu cabelo não nega por  “tua chapinha não nega” Quanto ao sabor bem do Brasil e a alma cor de anil, que ninguém se preocupe com isso pois ninguém jamais entenderá ( Teria o sabor bem do Brasil a ver com grana na mão?).  


                                                                


            6. “Ó abre alas que eu quero passar Ó abre alas que eu quero passar Eu sou da lira não posso negar Eu sou da lira não posso negar Ó abre alas que eu quero passar Ó abre alas que eu quero passar Rosa de ouro é que vai ganhar.”
            Existe hino mais apropriado para as mil e uma  paradas GLS existentes por esse Brasil afora? Certo, ninguém fora do Maranhão sabe que eu sou da lira pode perfeitamente ser “travestido” para eu sou qua... É só divulgar.

            7. “Se você fosse sincera Ô ô ô ô Aurora Veja só que bom que era Ô ô ô ô Aurora
Um lindo apartamento com porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor. Madame antes do nome você teria agora Ô ô ô ô Aurora!”
            Todo mundo sabe que esta letra refere-se à mágoa de alguém que doou tanta coisa a uma mulher e levou chifres. Ou seja, nada mudou. Pensando bem, para os dias atuais, talvez se devesse acrescentar ao porteiro - e ao elevador - um negão como personal trainner.

            8. “Eu só me caso com mulher rica, amor de  rica sempre fica. A rica quando morre deixa sempre um milhão, rádio, geladeira. Deixa até televisão.”
            Toda mulher rica  e perua ( e quanto mais rica mais perua ) continua adorando um gigolô. A única diferença é que atualmente elas,  ao invés de darem uma televisão para o “namorado”, o põem para trabalhar na televisão. Não é mesmo, Suzana Vieira?

            9. “Tava jogando sinuca uma nega maluca me apareceu. Vinha com um filho no colo e dizia pro povo que o filho era meu, não senhor! Tome que o filho é seu, não senhor. Pegue o que Deus lhe deu, não senhor!”
            Atualíssima. Mais dia menos dia o desavisado “paisão” Joel Santana, técnico  do Flamengo estará cantando esta marchinha para a presidente Patrícia Amorim, ou vice-versa. . O filho sem pai, alguém duvida que  será o  Ronaldinho Gaúcho?.

            10. “ Oh, jardineira por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.”
            Essa sim, para se modernizar ficaria muito melhor assim:
            “Oh, trepadeira por que estás  tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi o coroa que quebrava o teu galho deu dois suspiros, depois morreu!
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
           




domingo, 12 de fevereiro de 2012

A LENDA DE ANA JANSEN E SUA CARRUAGEM



artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo, jornal
o Estado do Maranhão, ontem, sábado


1. A lenda de Ana Jansen e sua carruagem é a mais famosa de São Luis, por motivos não muito bem entendidos. Freud não explica e São José de Ribamar muito menos. Aliás, se Ana Jansen soubesse que um dia iria virar lenda, vaidosa e ousada como era, teria sido lenda antes de ter vivido para poder gozar dessas horas de fama que não estão ao alcance de qualquer imortal que se preze. Como se sabe, as candidatas à celebridade de hoje vivem exibindo suas grandes e pequenas vergonhas em rede nacional ao vivo, por dois míseros segundinhos de fama.
            O fato é que Ana Jansen , que não era lá essas coisas de boniteza, se perpetuou bem mais do que se tivesse escrito um romance, por exemplo. Isso, embora já não desse dinheiro, na época, dava muito prestígio - pelo menos o suficiente para fazer companhia, no futuro, à estátua de algum pilantra transformado pela História em herói, no corredor soturno de algum museu.  

            2. Admitindo que ela tenha sido mortal um dia, tudo começou quando ela nasceu  em São Luiz, em 1787. Nessa sociedade de então, provinciana e carente, ela começou a treinar para virar lenda quando enviuvou duas vezes. Nessa época, é bom lembrar, não havia divórcio fácil, nem desquite ou amizade colorida, as mulheres se casavam para sempre e a única forma da mulher conseguir casar duas vezes era matando o marido, o que, aparentemente, não aconteceu.  Melhor acreditar que os maridos, sabendo que ela estava predestinada a virar lenda, facilitaram-lhe o trabalho, inclusive deixando muito dinheiro para ela.
            Ora, o fato de ter se livrado de dois maridos da forma mais segura que existe, que é o desaparecimento destes sem assassinato, faz desconfiar de que muita coisa da qual se falava a seu respeito como, por exemplo, a de que era cruel com seus escravos, não passava de inveja de mulher fofoqueira, desejosa de ter tido a mesma sorte. Inclusive, a história que se conta por aí, de que ela caminhava sobre uma trilha de escravos para não sujar os sapatos franceses quando seguia para seu sítio – que crueldade tem isso? Muito prefeito de interior faz igual ou pior hoje em dia, comprando carros importados com o dinheiro público, e pisoteando, da mesma forma, carentes e futuros cadáveres, e nem por isso deixam de ser admirados e reeleitos.
            O certo é que Ana Jansen incomodava muita gente: era pobre e ficou rica, era feia e teve homem como quis e,  além disso, entrou na política. Criou desafetos às pencas  até que morreu para bem de todos e felicidade geral da nação ludovicense, mais ou menos em paz, em 1869.  


            3. Se esse é um resumo das peripécias de Ana Jansen quando viva imagine o que ela não fez depois de morta!
            Toda quinta-feira ela pegava uma  carruagem , saía do cemitério e ia rever suas diversas casas residenciais. (Tem-se de admitir que a vida no cemitério é meio enfadonha para quem trepava quando e onde queria. O estoque de pretendentes era desanimador, e ainda por cima, não havia viagra).  Era justo que tivesse saudades e quisesse escapar daquela monotonia.  
            Intrépida como sempre, lá ia ela com um batalhão de decapitados dirigindo a carruagem e fazendo um barulho dos infernos. Decapitados? Claro, embora o povo com isso se espantasse, era natural que - depois de lidar, em vida, com certo tipo de gente - ela passasse a confiar, agora, em seres humanos sem cabeça, inclusive o cavalo que puxava a carruagem. O que prova que, ao contrário do que se dizia, era a favor da igualdade social e não via diferença, por exemplo, entre cavalos e seres humanos. Quanto ao barulho, isso só causava estranheza porque ainda não havia trios elétricos e carros de som, cujo barulho, como se sabe, é muito mais ensurdecedor e infernal.

            4. E, foi assim que, de passeio em passeio, eternizou-se a lenda de Ana Jansen e sua carruagem que, no entanto, foi gradativamente caindo de moda e deixando a sensação de déjà vu, substituída que foi pelos desfiles carnavalescos das escolas de samba, repletos de decapitados vivos e cavalos com cabeça, entre demônios sarados e diabas completamente nuas. 
            Hoje, quando ela sai para desfilar em com sua carruagem pelas ruas do centro de São Luis, ninguém se dá ao trabalho de espiá-la (preferem o forró do Arlindo, o reggae da Toca da Praia ou a Bandida). Descansando em sua sepultura, nos intervalos dos desfiles de sexta, ela pensa: “A indiferença desse pessoal não me atinge! Nenhum deles vai virar  lenda!”

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com    
  

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O A-B-C BEM-HUMORADO DE SÃO LUIS (3)



E, continuando a disposição de enfatizar as mais curiosas expressões típicas do Maranhão, de forma bem-humorada, como homenagem aos quatrocentos anos desta cidade eis sua versão terceira. Sempre na carona dos livros sobre esse assunto de José Neres e Lindalva Barros, J.R.Martins, Marcelo Torres, de Brasília, e dos leitores que me escrevem e sugerem.

                       
            Homalhada. Lésbica. O termo teria evoluído como uma corruptela da palavra humilhada, pois houve um tempo, nem tão distante assim, em que se reconheciam  apenas dois sexos e os demais eram humilhados, ao contrário de hoje.  

            Janambura. Dos tempos da... Referia-se a alguma coisa para lá de antiga, tipo bondes, honestidade e vendedor de quebra-queixo. Janambura é um tempo em que, por aqui,  motorista era chamado de chofer, e em que moto só  enchia o saco quando ganhava do Sampaio Correia.  

            Jereba, urubu de cabeça vermelha. Sendo urubu – o símbolo do Flamengo  e, mais ainda, tendo a cabeça vermelha, é possivelmente,  o mais flamenguista de todos os bichos, precisando, com urgência, tornar-se conhecido nacionalmente. Aliás, Jereba não se parece mesmo com o Wagner Love  vertendo copiosas lágrimas  por amor ao mengão, enquanto embolsa quinhentas mil pilhas por mês?




            Junteiro. Aquele(a)  que tem as pernas juntas. Garrincha o mais genial de todos os junteiros morreu pobre porque juntava as próprias pernas  -e separava a das mulheres -, dizem, muito melhor do que juntava dinheiro

            Ladrão. Aquele que executa alguma tarefa com habilidade fora do comum. Ou seja, o Maranhão é a única terra em que ser ladrão é uma virtude e ser taxado disso um elogio. Donde se conclui que os políticos ladrões, que por aqui se reelegem, são admirados primeiro porque roubam e, segundo, porque executam essa tarefa com invejável perfeição.

            Lamparina-de-forró. Pessoa freqüentadora de forró e outras festas. Refere-se a pessoas do sexo feminino, e a chama da lamparina faz alusão a um fogo que demora a  apagar. Nos tempos modernos o termo deveria ter evoluído de lamparina de forró para curto-circuito de forró já que o fogo das forrozeiras atuais, além de ser difícil de apagar pode ser ligado, a todo instante, na tomada. Com três pinos, de preferência.  

            Lascar. Sair-se bem em exames escolares ou em outras provas seletivas. Ou seja, para se entender melhor:  quem se lasca tira zero,  quem lasca tira dez. O que tem tudo a ver, já que as provas do ENEM são “de lascar” e o conhecimento dos alunos  da idade da pedra lascada. 

            Lapinguachada. Vergastada, chicotada. Os especialistas chegaram à conclusão de que não adianta pesquisar a origem porque nunca vai ser descoberto se o termo tem a ver  com as piadas sobre gaúchos que insinuam que muitos  deles  gostam  de levar uma lapingauchada

            Lazeira. Coisa muito ruim. Desgraça! Segundo pesquisadores foi uma simplificação da expressão “descendo ladeira abaixo” Uma coisa é certa: só muita ladeira abaixo ou “lazeira” para explicar como se chegou de Atenas Brasileira  a Jamaica Brasileira.

            Leprelé. Alguém sem valor, desprezível. Muita gente diz que  Pelé como jogador foi genial, mas como pessoa não passa de um Leprelé. Mais gente ainda diz que a Lei Pelé, que ele inventou, está mais para Leprelé do que para LeiPelé.

            Lombra. Ginga, malandragem, vigarice. Muitos homens ainda acreditam  que as mulheres ficam fascinadas com um cara cheio de lombras, mas a verdade é que entre um homem sem grana e outro com lombras,  ela fica com o que tem lombras porque, assim, tem mais chances de garantir os dois.   

            Madame. Donas de cabarés, pensões e prostíbulos. Na realidade, são peruas cuja elegância, charme e inteligência se assemelha  e rivaliza com as que aparecem nas colunas sociais dos jornais da cidade sob o suposto de “gente bonita”

            Lortégane. Ânus. Eis descoberta, no linguajar maranhense, a versão popular mais erudita possível para algo tão popular.

            Mãe-do-corpo – Útero. Ao contrário, porém,  do que se poderia pensar baseado na lei da Relatividade dos Pensamentos e das Coisas o do homem não se chama Pai-do-corpo. Sabe como é... Hoje ninguém sabe quem é o pai.

            Lustro. Surra. Dizem que as vítimas apanhavam tanto que as lágrimas os lustravam. Que crueldade! Hoje quando os humildes não brotam lágrimas, os governos providenciam chuva e lama. Que se não “lustram” a crueldade, a ilustram muito bem.  

            Mal-enjambrado. Mal-vestido, desleixado. Os ricos mal-enjambrados desta terra são tão perfeitos que agora deram para enfiar botox no rosto para melhor aparecerem nas fotos dos jornais. O esforço foi recompensado! Seus rostos ficaram mais mal-enjambrados do que suas vestes.

            Mamanhar. Pedinchar insistentemente com os olhos. Na realidade, nesta terra, a “mamanha” começou com os olhos, depois foi para a mão direita, a esquerda, as duas e, finalmente, todos os órgãos do corpo humano. Todos mamanham por aqui, de flanelinhas a políticos pedindo verbas e cargos. Ou seja, ninguém duvida que a expressão mais certa seria Maramãnhar. 

            Mão-de-Nenêm. Pessoa avarenta, mesquinha, mão-de-vaca.  Segundo os especialistas  a grande diferença do sujeito Mão-de-nenêm para o Mão-de-vaca é que o Mão-de-Nenêm  age assim para  guardar a grana para a mãe do neném, o outro para a  vaca. 

            Livro. Parte folhosa do estômago dos ruminantes. No caso do boi, usado no preparo de mocotó e dobradinha. Dizem que os universitários maranhenses ( que são os que menos lêem no Brasil) lêem bem mais esse tipo de livro do que os outros - de papel.

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com