domingo, 27 de maio de 2012

O PAÍS DA CORRUPÇÃO ( ATÉ TIRA-TEIMA)


artigo publicado sábado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O estado do Maranhão




Todo ser humano é potencialmente um corrupto. Certamente, se já pudessem manipular grana, alguns dos milhões de espermatozóides preteridos na corrida para o óvulo, em busca da vida, comprariam de bom grado a vaga que lhes permitiriam  não morrer em seguida.
            Terá sido sempre assim, na luta pela sobrevivência, sendo a vida, como os cientistas sabem, a grande “obsessão” de qualquer organismo celular. Corromper-se para sobreviver é apenas mais um imperativo da condição humana, entendo-se como corrupção, neste caso, qualquer ação que, tirando proveito de uma situação ou do ambiente, permita a preservação da existência. “O gene é egoísta”, como diz o cientista Richard Dawkins em um de seus livros.

           
            2. Instintivo sim, porém não concebível; explicável, mas não justificável. Se todos os instintos animalescos que sentimos não pudessem ser debelados não teríamos chegado ao estágio atual de civilização, onde seres convivem sob um conjunto de normas selecionadas para compor uma sociedade razoavelmente ética.
            A inteligência humana foi capaz de elaborar códigos de conduta, cujo benefício em termos da melhoria nas relações humanas se  sedimentaram , ao longo dos anos, naquilo que chamamos consciência, de forma tal que o uso de artifícios condenáveis como a corrupção, embora instintivo, deveria repercutir como abominável em pleno século XXI . Ou seja, seres incapazes de controlar a própria cobiça, deveriam causar muito mais repugnância que lagartos, ratos,  baratas e cascavéis
            No entanto, não é o que se vê no cotidiano desse país em que vivemos. Nada mais sintomático de uma sociedade complacente que a ausência de revolta diante do que foi exibido esta semana, na Tevê, durante a atual CPI . Nesta, Carlinhos Cachoeira, acusado de corrupção sob um vendaval de provas contundentes, negava-se a responder a qualquer pergunta fazendo de seu silêncio uma ato de deboche a toda uma nação. E quem estava lá para  defendê-lo como advogado, fazendo-lhe parceria nessa ostentação de achincalhe ? O Sr.  Tomás Bastos, ex-ministro da República.
            Repito! Um ex-ministro da república não tem pejo em manifestar solidariedade a um corrupto. Seria cômico se não fosse trágico; desprezível, se não fosse asqueroso.

                                                                      

            3. Semana passada, durante o jogo de futebol Vasco da Gama x Coríntians, o juiz anulou um gol do time carioca, alegando impedimento e causando revolta nos jogadores prejudicados.. De pronto, a rede Globo de televisão exibiu em cadeia nacional  o Tira-Teima do lance ( dispositivo que se propõe a eliminar as dúvidas existentes ). Surpreendentemente - para quem estava assistindo à partida-, o Tira-Teima confirmou a atitude do juiz, validando a decisão do árbitro.
            Acontece que, mais tarde, o Canal Fox reproduziu o mesmo lance, congelando-o um a dois segundos antes do vídeo exibido pela Globo– portanto, de forma mais precisa, e chegando à conclusão oposta: o atacante estava legitimamente em condições de fazer o gol e o time carioca foi prejudicado pela interpretação do árbitro.
            Ou seja, a Rede Globo foi, no mínimo, tendenciosa. Como todo mundo sabe, a todo-poderosa emissora de televisão privilegia os times de máxima torcida - nos quais investe mais dinheiro, o que permite chegar-se a uma conclusão: O Tira-Teima da rede, tido até então como a última palavra em termos de análise dos lances de futebol, não passa de um mecanismo capaz de ser viciado pelos interesses da emissora.
            Triste país em que até os Tira-Teimas são corrompidos!

                                               ewerton.neto@hotmail.com                                                                                                          http://www.joseewertonneto@blogspot.com
    

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O FIM DO MUNDO ( OU PIOR)




Tem gente que morre de medo do fim do mundo. Tive  um colega de faculdade que dizia que o fim de todo mundo, coletivamente, com data e hora marcada,  até que não seria tão ruim assim: “o pior é ter de ir desacompanhado, sempre”.  Baseado no que se vê, todo dia por aí, acrescento  que o pior mesmo vai ser agüentar o que nos espera. Escolha a catástrofe:

1.                 Daqui a 30 anos, os atuais 200 EX-BBB`s se transformarão em mais de cinco mil. Haverá um na tevê, outro no ministério da  cultura, uma na capa de sua revista pornô e outro candidato a presidente da República. A profissão de Ex Big-Brother, será  reconhecida e disputadíssima. As escolas se especializarão na profissão, sendo uma das matérias mais importantes do currículo a de “como tornar-se uma prostituta, fazendo de conta que é atriz ”.  Livros de Bruna Surfistinha serão  adotados como complemento curricular.

2.                  Daqui a 30 anos todas as MINORIAS terão direito a cotas especiais , menos os heterossexuais, que estarão aguardando uma mudança na constituição para serem reconhecidos como tais. Haverá cotas nas universidades para pretos, índios, gordos, tatuados, carecas e sararás. Se você chamar alguém de gordo  irá para a cadeia. (Mas se você colocar em sua carteira de identidade que é escritor terá de pedir perdão em público).
                  
3.                 Daqui a 30 anos o PT continuará no poder. ZÉ DIRCEU, herói da luta contra a ditadura, será pranteado como herói nacional, depois de morto. Será decretado luto oficial por três anos e o dia de sua morte passará a ser feriado nacional.
                  
4.                Daqui a 30 anos, RONALDO, o fenômeno, será considerado o maior jogador de futebol que já houve no Brasil - maior ainda do que Pelé. A imprensa e os torcedores falarão com saudade de 2002,  último ano em que o Brasil ganhou uma Copa do Mundo, e recordarão , com tristeza, do ano em que o Brasil perdeu a copa em pleno Maracanã. Mas não estarão se referindo ao “maracanazzo” de 1950, quando perdemos para o Uruguai, mas ao de 2014, quando perdemos, em pleno Maracanã, para a Argentina.


5.                 Daqui a 30 anos haverá mais CARRO do que gente. Pessoas sairão para comprar uma pizza e só voltarão meses depois, devido a engarrafamentos.  Alguns nunca mais voltarão. A grande maioria população brasileira será nômade porque viverá no próprio carro. O divertimento preferido dessa imensa população em trânsito, ao invés de contar os buracos,  como se faz hoje  São Luis,  será o de contar acidentes e cadáveres de motociclistas nas estradas.

                                     

6.                 Daqui a 30 anos IVETE SANGALO será considerada a maior cantora do passado e o axé será considerado internacionalmente o ritmo nacional por excelência.  Sambas, só serão executados em missa . O ritmo predominante nas paradas será uma mistura de axé-forró-música-sertaneja –buzina-de-carro e latido-de cachorra-no-cio. Luan Santana será recebido pelo presidente da República para ser agraciado com uma medalha de honra ao mérito pelo tanto que fez pela música popular brasileira e Fiuk Jr. filho de Fiuk e neto de Fábio Junior,  comporá uma canção em homenagem ao Brasil, inspirada na Aquarela do Brasil.
                  
7.                 Daqui a 30 anos a COCAÍNA que hoje é transportada em ovos de páscoa e ursinhos de pelúcia, será consumida livremente  e enfeitará os bolos confeitados,  nas festinhas de aniversário de criança. Os pais e os meninos, devidamente eufóricos e excitados, cantarão Parabéns a Você,  não para o aniversariante , mas para a cocaína.
                  
8.                 Daqui a 30 anos,  para poder pagar o SEMANÃO ( evolução aperfeiçoada do mensalão )  e o salário dos deputados ( que terão  reajustes anuais de 400% acima da inflação, legitimados por lei)  as multas e os impostos que hoje são abusivos, serão extorsivos. Será criado o imposto sobre o ar que se respira e quem espirrar em público pagará multa pelo excesso de ar utilizado.

9.                 Daqui a 30 anos, a BALA PERDIDA será considerada  o mais popular anestésico nacional de efeito imediato. Finalmente oficializada, continuará fazendo parte do kit bolsa-família, distribuída  gratuitamente à população  e incentivada pelo governo.

                   Quem tem medo do fim do mundo? 

sábado, 12 de maio de 2012

A CENA MAIS BELA

artigo publicado na seção Hoje é dia de...
O estado do Maranhão, hoje, sábado



                                                                                



            Todo brasileiro, mais cedo ou mais tarde, dá uma de entendedor de futebol ou de cinema. Por isso, peço que me perdoem a ousadia de tentar selecionar a mais  bela cena dos filmes que já assisti sem ser crítico de arte ou especialista no assunto.
            Já vi cenas antológicas em cinema, algumas muito conhecidas e compartilhadas com o deslumbramento da maioria, outras, nem tanto, por isso julgo que seja necessário explicar antes de tudo o que, para mim, seria uma bela cena.
            Uma bela cena, certamente, não seria motivada pela paisagem ( porque aí seria fotografia); uma bela frase ( porque aí seria poesia) uma bela mulher ( porque aí seria vida), nem mesmo a junção dessas motivações, porque aí seria apenas o belo, simplesmente. Uma bela cena, sempre difícil de definir, seria aquela que transcendesse a percepção de beleza propriamente dita e que nos remetesse, através da emoção, à sensação de que existe um intraduzível algo mais, um sentimento que extravasasse o aprisionamento aos limites da condição humana para tanger algo de mais além e sublime. 
            A meu ver nenhuma memorável cena de filme, sempre mencionadas pelos críticos e admiradores (a corrida de bigas do filme Bem-Hur, a despedida do E.T. no filme do mesmo nome, etc. etc.) supera em tocante representatividade  a cena fundamental – para mim – passada  no excelente filme do diretor polonês Roman Polanski “ O Bebê de Rosemary” vivida pela atriz Mia Farrow. Tento resumir:


                                                                   

            “A mãe, grávida, tenta livrar seu filho da terrível sina que reservaram para ele: tornar-se a reencarnação do próprio Satanás. De início, a revelação surge como uma pequena suspeita que, aos poucos, vai se avolumando numa seqüência aterrorizante. Ela se descobre vítima de uma conspiração em que estão envolvidas justamente as pessoas em quem ela mais confia e que poderiam ajudá-la. Seus vizinhos, seus amigos, seu médico e, por fim, seu próprio marido e pai da criança. Aniquilada e enfraquecida pela progressão da gravidez, ela se vê cada vez mais impotente para confrontar a dolorosa confirmação da suspeita que a atordoa. Ao final, enfraquecida, tomba no meio da rua e entra em trabalho de parto. Ao despertar, escuta o som do grito de uma criança em meio à noite de trevas. Percebe que é a voz de seu filho, seu primeiro filho. Trôpega e esperançosa caminha até o berço. Com dificuldade dele se acerca até que, quando levanta o véu que o cobre , sofre um impacto. Lá não está uma criança, mas uma horripilante figura: um monstro, uma mistura de lobo e gato; o Satanás. Não pode evitar um gesto de horror enquanto contempla a figura hedionda que se agita e chora no berço clamando pelo seu aconchego de mãe. Apesar de tudo, é seu filho, então, inconsciente e débil, mas seguindo seu impulso toma a decisão. Vence o sentimento de repulsa, segura o pequeno monstro como a qualquer bebê frágil e o  embala. Canta uma canção de ninar que perdura por muito tempo depois em nossos ouvidos como um emblema da vitória da mãe, do sentimento de mãe contra todo o horror que possa existir no destino humano e nos mistérios entre o céu e a terra.”        
            Nesta véspera do Dia das Mães, ao recordar esta cena, recorro ao  talento do cineasta Roman Polanski para homenagear o amor materno: o único capaz de transcender a tudo: desde o mal que existe dentro e fora de nós mesmos, até o silêncio pungente - de ausência - que perdura no coração daqueles que já não as têm.    

        
                                               ewerton.neto@hotmail.com
                                               http://www.joseewertonneto.blogspot.com

sábado, 5 de maio de 2012

ENTRE O PROVINCIANISMO E O CAOS


artigo publicado, hoje, sábado,
na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão


400 anos, mais de um milhão de habitantes. Com essa idade e essa população já era tempo de a cidade almejar ser incluída na categoria metrópole. O que lhe falta? Recursos  tem para isso: tamanho, beleza natural, recursos financeiros. Mas, ao que tudo indica, lhe custa desgarrar-se do espírito de província associado ao caos urbano, que reina em toda metrópole que não se cuida.
            Teria uma coisa a ver com outra: essa incapacidade de superar o caos anunciado pelo crescimento e que se manifesta na desordem do trânsito e na falta de segurança, cada vez maior? O dilema ser ou não ser metrópole, eis a questão, no caso sanluizense, parece esbarrar além da carência histórica de bons planejadores em sua administração, nas atitudes comezinhas de sua sociedade, transparentes até nos aspectos mais vulgares do cotidiano. Vejamos algumas dessas manifestações:

1.                 Existe algo mais provinciano do que a mania, tão corriqueira em nossa  sociedade dita “vip”,  de, depois de acomodarem seus traseiros em aviões de rota internacional – muitas vezes na classe econômica –, assim que chegam por aqui, correrem  para as colunas sociais dos jornais a fim de colocarem suas fotos em locais e praças manjadíssimas dos Estados Unidos e da Europa – América Latina também serve - como se tivessem aterrissado  num planeta distante,  de outra galáxia?
            O mais grotesco nessa história é o sorriso orgulhoso e embevecido dessas pessoas, crentes de que estão realizando um grande feito quando, em metrópoles de fato, isso há muito tempo deixou de ser notícia, de tão banal que é. (Como todos sabem, em tempos de globalização qualquer trabalhador de empresa multinacional  viaja cinco a dez vezes por ano ao exterior, sem que as páginas dos jornais se abarrotem de fotos de suas empreitadas).
            Houve tempo em que se  considerava chique, por aqui, viajar para o Rio de Janeiro.  Ridicularizava-se, então,  a maneira de falar puxando pelo s,  imitando os cariocas, que era empregada pelos nossos exibicionistas assim que  voltavam de lá. Tudo leva a crer que serão necessários mais 400 anos para que os daqui possam aprender que fariam  muito melhor se registrassem, para deleite de si mesmos e de sua futura memória,  as belezas naturais maranhenses: as dunas de Barreirinhas, as praias dos Lençóis e do Saçoitá etc.,  que, inclusive, fazem  o deslumbramento de estrangeiros, cuja finalidade turística principal é se divertir e não se exibir.  


                                                                         

2.                 Outra mania tacanha da terrinha é a badalação em torno de um grande local/acontecimento que, obrigatoriamente, tem de estar repleto de gente. Quando acontece de a mídia privilegiar um  local desses, para lá corre todo mundo, como uma horda que não tem o que fazer nem o que pensar. (Sobra até para inauguração de shopping-center!). Lá estarão por dias e dias  as mesmas pessoas, os mesmos rostos, a mesma disposição em torno de uma badalação cada vez mais insípida até que o falso prazer se esvaece por excesso e inanição. O evento é logo substituído por outro, depois outro, sempre um só. A medida de sucesso empregada, ao contrário da  performance de um eventual artista; do ambiente agradável ou da paisagem desfrutada é sempre a “o volume de gente que estava presente”. Tal coisa, típica de cidadezinha, jamais acontece numa verdadeira metrópole quando existe diversidade de opções e multiplicidade de critérios, personalidades e avaliações.

3.                   Outro vício incapaz de desgarrar-se de uma cidade em seus opulentos quatrocentos anos é a de se taxar, com extrema facilidade, personalidades variadas em diferentes atividades como “ Os melhores da cidade”. Assim é que fulano de tal é o melhor cantor de São Luis, Beltrano é o melhor fotógrafo, cicrana  tem o melhor salão de beleza, e outra o melhor vinho . No ramo de medicina então a coisa chega a ser tragicômica. Doutor X é o melhor cardiologista, doutor Y é o melhor ginecologista e a  Doutora Z a melhor “colocadora de botox” da ilha. O pior é que eles mesmos acabam acreditando nisso e haja preço exorbitante na fuça do paciente!
                        Outro dia fui estacionar  o carro no centro da cidade e um guardador de carro se apresentou: “Sou Boca de Chuveiro, o melhor guardador de carro da cidade, portanto...” e apresentou-me um simulacro de tíquete de estacionamento,  arrancado de um pedaço velho de caixa de papelão. Sem permitir que desconfiasse que eu duvidasse de si, por segurança, o cumprimentei: “Meus parabéns”, e puxei as três pilas que me exigia. De adiantamento.