sábado, 29 de setembro de 2012

VIDA E MORTE DO MARACUJÁ-PÊNIS



artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o estado do Maranhão, hoje, sábaso


Morreu o maracujá-pênis. Sem pompa e circunstância, sem aplauso, sem choro e sem vela, sem discurso de vereador. Morreu onde nasceu, num pequeno sítio em São José de Ribamar, humilde como sempre foi, sem entender muito bem a razão de tanto interesse humano pelos seus dons, digamos assim, fálicos. Teve vida gloriosa e breve, embora modesta, e faleceu ao lado das folhas secas do pequeno pomar onde nasceu, sob o olhar vigilante de sua dona, Maria Rodrigues, de 56 anos que até agora não conseguiu conter o choro diante de sua partida irremediável.  
            Alguns pequenos detalhes de sua ‘curta’ biografia:
            Tudo começou quando num belo dia dona Maria resolveu comprar um maracujá comum, amarelo e redondo. (Até aí nada demais, pois quem não gosta de maracujá, principalmente amarelo?) Sua surpreendente trajetória só começou a se delinear quando Dona Maria resolveu plantar o fruto no quintal do seu sítio. Eis que, contrariamente a todas as previsões de falta de cuidados, o pé de maracujá, mesmo assim cresceu. Foi crescendo, crescendo, cada vez mais até que...
                                                                               
            Meses depois, noutro belo dia, o filho de dona Maria, que caminhava pelo pomar, não conseguiu conter um grito de pavor ao deparar com um gigantesco pênis, pendurado num galho de uma árvore. Muita coisa deve ter passado pela cabeça do pobre garoto (nenhuma delas, de desconfiança das mulheres de casa, diga-se de passagem) até constatar que, de fato, tratava-se mesmo de um maracujá. Nem precisa falar de sua corrida desabalada para avisar dona Maria, Deus e o mundo. Pronto! Estava descoberto o maior fenômeno natural jamais ocorrido na cidade: um pujante e sedutor maracujá-pênis, pendurado no galho de uma pequena árvore, mostrava potencial para seduzir todas as mulheres carentes e não-carentes deste planeta.
            A partir de então, divulgado o fato nas redes sociais e na imprensa, todo mundo sabe mais ou menos o que aconteceu no que se refere ao seu apogeu e glória. Dona Maria, de repente, viu seu modesto sítio transformado em atração turística internacional, a princípio freqüentado apenas por vizinhos e  curiosos, para logo depois ser invadido por turistas e jornalistas do Brasil e do mundo. Resolveu,  claro, cobrar pela exposição, como dizia: “Já perdi a conta de quantas pessoas passaram por aqui, de manhã, de tarde e de noite. Depois que o meu celular sumiu passei a cobrar 2 pela visita, 15 para tirar foto e 30 para filmar”. Ou seja, tabela de cobrança tão perfeita assim, nem mesmo a do leão do imposto de renda! A única falha na contabilidade de Dona Maria foi ter esquecido de cobrar o lucro pela fantasia sexual propiciada, de graça, às mulheres.
            Tão surpreendente quanto a vida do maracujá-pênis foi sua morte precoce. A hipótese, por ela levantada, da ação dos cupins para justificar o ocaso precoce do fruto tão sedutor e gostoso (em ambos os sentidos), é refutada pelas mulheres da cidade, compreensivelmente revoltadas. “E o maracujá-pênis, propriamente dito? Quem se preocupou com o seu próprio bem-estar e prazer? Não teria sido melhor ter nascido um maracujá comum e azedo do que ter sido transformado num prostituto fudido e mal-pago?”
                                                                       
            Tantas possíveis explicações psicológicas parecem tardias, agora, para compensar a perda de um personagem tão simpático e querido do povo da cidade. Sabe-se, no entanto, que as comunidades populares femininas da cidade balneária já estão se movimentando para exigir de seus administradores que seja erigida, de imediato, uma estátua do maracujá em praça pública, capaz de preservar para sempre sua saudosa e insubstituível memória.
            De preferência, dizem elas, em tamanho  cinco vezes maior que o original.
                                                                                                                                                                                                                               ewerton.neto@hotmail.com
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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

COMO IDENTIFICAR UM BOM CANDIDATO



Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, sábado, passado


Se a idéia que os eleitores brasileiros têm de seus políticos é a pior possível, deve-se reconhecer que a recíproca também é verdadeira. Só isso explica que um candidato contrate um carro velho disfarçado de trio elétrico, para fazer urrar, sob elevados decibéis, nos ouvidos de um potencial eleitor seu nome ou número, tendo ao fundo a música mais paupérrima e irritante possível. Uma, duas, três, milhares de vezes por dia, sem compaixão pelo sossego do pobre cidadão.
                        Ora, se um candidato acredita piamente que conseguirá votos dessa forma isso é o mesmo que acreditar, também piamente, que ele considera seu eleitor um idiota ou um retardado mental Equivale à crença de que é possível enfiar na cabeça de alguém um nome apenas pela sua mera repetição desenfreada, mais ou menos como faria um domador com o animal que pretende adestrar.  Ou seja, para eles o eleitor é um ser completamente estúpido.
                        Já que esse procedimento deve estar em dia com a abordagem aconselhada pelos seus marqueteiros, que tal tentar identificar  o bom político pela sua similaridade midiática já que até dentro de suas casas, numa tela de televisão, eles fazem questão de aporrinhar seus eleitores?

1.                Político Xuxa. É aquele que quando era pobre não se importava em ver (ou gozar) com a coisa preta. Agora, que está com a vida cor-de-rosa, dá uma de defensor das minorias. Baixinhos, altões, sapatonas, bipolares etc.

2.              Político Asa de Águia. É aquele que tão logo vê uma chance de locupletar-se com o dinheiro público avança em cima do voto do eleitor como uma águia. Mas, assim que se elege desaparece e voa. Feito a mesma águia.

3.                 Político Chiclete com Banana. É aquele que para se eleger promete o que lhe dá na telha: de chiclete a banana, passando por hospitais e foguetes interplanetários.  

4.                 Político Avenida Brasil. É aquele que acredita que seu eleitor é vagabundo ou não tem o que fazer. Por isso acha que toda ruela ou beco, por onde seu eleitor transita, é uma imensa Avenida Brasil que ele pode ocupar a hora que quiser com bandeiras, passeatas, carreatas e gritarias de acólitos e  puxa-sacos.

5.                 Político Mastruz com Leite. É aquele que só almoça em restaurante do Calhau e adjacências, mas em época de eleição se manda para o Mercado Central ou Feira do João Paulo e faz questão de comer até mastruz com leite com os feirantes – principalmente se houver uma câmera de televisão por perto.

6.                 Político Jô Soares. É aquele que antes da eleição faz graça para todo mundo rir, mas depois que se elege só atende depois das onze e meia.




7.                 Político Companhia do Pagode. É aquele político que se anuncia jovem, com quase quarenta anos, mas quer aparentar vinte graças ao Photoshop. Que nunca foi visto antes em lugar algum da cidade mas se for eleito, logo passará a ser visto em companhia de um bom  pagode.

8.                 Político Big-Brother-Brasil. É aquele que promete um milhão se for eleito e, depois de meter um bando de periguetes e  aventureiros dentro de uma casa alugada, faz de conta que aquilo é um comitê de campanha eleitoral.                                                                                          ewerton.neto@hotmail.com                                                                       http://www.joseewertonneto.blogspot.com

sábado, 15 de setembro de 2012

BRAZUCA, A BOLA DA VEZ



artigo publicado sábado passado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão


Chama-se BRAZUCA, com z, a bola que vai ser jogada de um lado para outro, durante a copa de 2014 e que dará o tom, nesse período, da alegria e do mau humor brasileiro. Esse foi o nome escolhido, numa competição em que derrotou suas colegas Carnavalesca e Bossa-Nova.
                        A escolha teria sido justa? Pensando bem, todo o povo brasileiro deveria ter sido chamado a participar.  Futebol é tão importante no Brasil que todos adorariam, mesmo porque se já são obrigados a votar em políticos que não conhecem e que não querem ver mais gordo, por que não se disporiam a votar em alguém ( a bola) que jamais ficará azucrinando seus ouvidos, repetida e cruelmente, dia após dia,  até chegar às eleições?
                        De minha parte, prefiro mesmo a Brazuca, mas devo reconhecer que, até nesse tipo de eleição, os candidatos são muito fracos. Começa que Bossa-Nova nunca foi nome de bola, não cheira a bola, nem tem sabor de bola. Como todos sabem, bola de futebol nunca foi coisa de Mauricinhos  e a Bossa-Nova, como todos sabem, foi um som ( às vezes magnífico, às vezes chatinho) egresso das reuniões da alta classe-média carioca, regadas a uísque importado e bom vinho. Bem ao contrário de onde se dá bem uma verdadeira bola de futebol, com serventia para sem- terras e com terras, pardos, cafuzos e sararás, com cotas e sem cotas.
                        Quanto à Carnavalesca, pior ainda. Já pensaram, durante a copa, o Neymar reclamando de que não consegue tratar bem a ‘Carnavalesca’ porque esta vive lhe chamando de ‘Mascarado’? E se a ‘quarta-feira de cinzas’ começar  mais cedo? Ora, dos males o menor, mesmo com Z e tendo gente dizendo por aí que o nosso ‘complexo de vira-lata’ falou mais alto e nos submetemos mais uma vez aos gringos, expulsando o s, para  agrada-los.
                        Pelo sim, pelo não, nada como tirar essas dúvidas com ela própria,  Brasuca, a brasileirinha que todos conhecemos:  apanha dos maridos, tem mais de cinco filhos , adora um forró e vibra mais ainda com novela do que com viagem de moto-táxi (este sem querer). Cujo sonho maior não era ser uma mulher –bola, mas uma mulher...Melancia
                                                                       

                        - E então Brazuca? Você está feliz com a vitória?
                        - Acho que sim, nunca pensei que alguém um dia  fosse se lembrar de mim.
                        - E agora, quando pretende sair do sonho e cair na real?
                        - Bem que eu gostaria que caísse algum real em meu bolso, tenho cinco filhos para criar, mas não sei não...
                        - Pelo menos agora você será uma mulher famosa no mundo inteiro. Já se acostumou com o z no lugar do s?
                        - Com o z no lugar do s, sim, mas o que eu gostaria mesmo era de um gringo no lugar dos meus maridos.
                        - Por que, você podia explicar melhor?
                        - E precisa? A idéia que a gente tem é que gringo não bate em mulher, não chifra a gente e tem bastante dinheiro.
                        - Mudemos de assunto. Você já pensou em como vai treinar para se dar bem na copa?
                        - E por que você acha que eu fui escolhida? Ora, filho, sempre fui treinada nisso de  levar chute de homem a torto e a direito: de escanteio, de pênalti, de lateral é comigo mesma, portanto, não vou  estranhar.
                        - Quais o  seus planos, então, para o futuro?
                        - Futuro? Acho que a única coisa que vai valer mesmo a pena para mim é o show de abertura onde espero conhecer de perto Roberto Carlos, Galvão Bueno, o Cristo Redentor e a Carminha.  Quanto a mim... Quem duvida de que se o Brasil perder ninguém vai culpar o Neymar, nem  o Mano Menezes, muito menos a Presidenta, que têm muito dinheiro? A culpa será mais uma vez da pobre Brazuca. Quer apostar?

                                                                                  José Ewerton Neto
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com                                                                       http://www.joseewertonneto@blogspot.com

sábado, 8 de setembro de 2012

SE SÃO LUIS...




Se São Luiz fosse uma mulher 
ainda assim  seria uma ilha.  Vá lá, o poeta disse que nenhum ser humano é uma ilha, mas São Luis teria de ilha o que somente certas mulheres têm: o comportamento reservado e especial, a pose paradisíaca, a aura oceânica cercando-a por todos os lados como  se dela pudesse jorrar, de repente...uma fantasia amorosa. Já repararam na reverência que salta aos olhos de quem observa uma mulher-ilha se aproximar?
                        Sendo ilha (o que nem de longe significaria que fosse orgulhosa ou inacessível) teria forçosamente também os braços longos, que avançam em direção ao resto do mundo. Pois é, suas pontes seriam seus braços e que braços! Acordam abraçando o alvorecer como a uma criança, seguindo depois para o quotidiano  e o que vier.
                        Sua cabeça - e com certeza São Luis não seria uma dessas mulheres espevitadas e sem cabeça – teria tudo para ser a mesma do poeta Gonçalves Dias, pequenina lá do alto em sua praça, contemplando o mar e a poesia.
                        Seu coração, quer queiram quer não, teria de estar no centro. Como todo mundo sabe, existe uma turma de administradores arvorados a  seus donos, que tudo fazem para remover seu coração dali. Ora, mais que insensíveis são, sem dúvida, péssimos cirurgiões, pois o coração de uma cidade, como o de uma mulher-ilha, é ‘intransplantável’. Alguns anos atrás, a cidade foi atendida em uma cirurgia que lhe reabilitou o coração, numa operação muito propriamente chamada Reviver. Ultimamente, alguns de seus administradores tem tido a iniciativa de revitalizar certas ‘artérias’ que inflamam seu coração. Demoraram a aprender que não há porque maltratar o coração de uma mulher que precisa, ao contrário, ser tratado com muito carinho. Pode-se dizer que esse coração, apesar de tantos maus-tratos acumulados ao longo de sua vida, resistiu à passagem dos séculos  e resistirá à dos milênios.   
                  Seus olhos, claro, não se parecem nem um pouco com os semáforos e as barreiras eletrônicas que ficam espiando qualquer distração do cidadão, para calcar-lhes uma multa. (Isso se chama extorsão). Muito ao contrário, seus olhos são vigias noturnos de sua tranqüilidade: movem-se como os vaga-lumes, e dia claro, já estão nos raios de sol que descendo  do céu clareiam a vida da cidade e sua paisagem.
               Seus ouvidos continuam imunes a todas as perturbações que a velhice, se é que podemos falar assim, lhe impõe. Aprenderam a ouvir de tudo: forró, reggae, trovões nas tempestades, foguetes no Reveillon etc., mas nada lhe causa mais incômodo do que propaganda de político. É impressionante como estes, que dela se propõem a cuidar,  sejam os primeiros a não terem dó dos seus ouvidos.  Imperturbável, ela sequer se protege com fone de ouvido, espera pacientemente pelo som da maresia batendo nos arrecifes quando chega a madrugada e pronto, está disposta para um novo dia. Além de bela: heróica e elegante.
            Quanto a seus pés, prefere andar descalça. Isso para não tropeçar nos buracos que seus administradores lhe impõem. Um buraco ali, outro ali, ela se fere acolá, mas jamais perde a elegância. Para isso  tem as pernas grossas de tanto subir as ladeiras  que a levam do centro à Praia Grande, seu roteiro preferido.

                                                                          

            Por fim, sua boca. Ah, sua boca, que não se parece nem um pouco com a de Angelina Jolie, ou de Carolina Dickman, e nem precisa! Parece-se isto sim com a da mulata faceira e sensual do grande escritor maranhense, e que se alimenta, além de beijos, de um bom  arroz de cuxá e peixe frito, no intervalo de um caranguejo e outro. Só não me pergunte onde, para não despertar ciúmes de donos de restaurantes. Aliás, essa mulher não é chegada a restaurantes pseudo-chiques do Calhau e adjacências. Já foi encontrada para os lados do Quebra-Pote, na Raposa, no Araçagi ou em qualquer lugar onde a poesia se misture com a comida. Já não se disse que o vinho é o prato intelectual da comida? Pois é, São Luis é o prato intelectual de qualquer restaurante da ilha, e, como o vinho, quanto mais velha melhor e mais saborosa para todo aquele que tenha o mínimo de refinamento cultural.
            Alguém a encontrou por aí? Por favor, dêem-lhe os parabéns por mim, e não se esqueçam de dizer-lhe que, mesmo quatrocentona, continua cada vez mais jovem e mais bela!

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
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sábado, 1 de setembro de 2012

JULIANA PAES GABRIELA X SONIA BRAGA GABRIELA




artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão



Juliana Paes x Sonia Braga. Se todo brasileiro gosta de novela   político parece gostar mais ainda. Repórteres do CQC foram entrevistar políticos em Brasília para investigar se eles se interessam mais por novela ou pelo Brasil. Alguém duvida da resposta? Do Brasil não querem saber, mas da Avenida Brasil...Todos sabiam da última de Carminha e  de quantos chifres tinha o Tufão etc., mas nenhum deles sabia citar os nomes dos  réus do processo do Mensalão.
                        - Zé Dirceu? Esse não era um jogador que jogava no Cruzeiro, no tempo de Tostão?
                        - Não, esse era outro Dirceu. O Dirceu Lopes
                        - Ah, sim, o Zé Dirceu... Acho que agora me lembro. Era o barbeiro preferido do Lula, não? O que ele fez ou deixou de fazer?
                        Alguns poucos se lembravam, vagamente, de quem era Zé Dirceu.
                        O que é muito compreensível. Por que um político (de verdade) se interessaria pelo julgamento do mensalão se ele já sabe, mais que ninguém, do resultado? Nas novelas, pelo menos, dá para se torcer por um final: previsível, mas ainda assim, um final. Já os julgamentos de políticos, como todos sabem,  tornaram-se  novelas de péssimo gosto: encenação,  atores pífios, e direção de reality show de segunda categoria esmeram-se para que as acusações se diluam no cotidiano do cidadão brasileiro, rumo à absolvição previamente anunciada. Cadeia, se houver, vai ser só para um passeio de fim de semana.

                        2. Mas a disputa ‘anunciada’ acima era entre Juliana Paes e Sonia Braga, e não Mensalão x Novelas. Nesta, há mais gente do que se pensa; motoristas de táxi, estudantes, donas de casa, papagaios e ursinhos de pelúcia empenhados em dar a sua sincera opinião. Afinal de contas, ser Gabriela não é para qualquer uma.
                        Como o ser humano é, por natureza, saudosista ( todo nascimento de alguém é um ato de nostalgia em que o bebê já nasce chorando de saudade da barriga da mãe ) Sonia Braga parece estar levando uma pequena vantagem. É que Juliana não consegue disfarçar, apesar da exuberância e sensualidade, que  já adentrou naquela faixa, de vinte e cinco aos trinta, que  são os ‘dez’ anos que mais custam a passar para uma mulher.  Se quiséssemos nos aprofundar, no entanto, o mais lógico seria que chegássemos a um empate técnico. Senão vejamos.
                        1. Beleza. Neste quesito eu, por exemplo, acho que sou mais a Sonia, embora  Juliana não seja – nem de longe! - de se jogar fora. Quer dizer, eu mesmo não sei. Quem sabe eu seja mais a Sonia por dentro (embora nunca vá saber, infelizmente), enquanto a Juliana é melhor por fora. Aliás, as duas se parecem tanto que Jorge Amado, hoje no céu, deve estar arrependido de não ter feito Gabrielas gêmeas.Uma pro turco e outra para ele - que me perdoe a Zélia Gatai.

                                                                      

                        2. Altura. Parece que Juliana é mais alta, mas será que isso é mesmo uma vantagem? Se é melhor para  trepar no telhado, como Gabriela gosta, deve ser bem pior para subir em árvores ou para dançar no meio da rua como ela também gosta. Igualmente, deve ser bem pior para dar uma escapada sem ser vista como ela gosta mais ainda.  

                                                                 

                        3. Sensualidade. Acredito que neste quesito Juliana ganhe por alguns milionésimos de diferença, não é mesmo? Provavelmente, a diferença deva estar está nos olhos de Juliana Paes “de ressaca parecendo uma epilepsia do mar” como disse de Capitu seu autor Machado de Assis. O escritor carioca falou isso se referindo a Capitu, mas deve tê-lo feito pensando também em Gabriela, de Jorge, o que evidencia, sem dúvida, um adúlterio intelectual, mas perfeitamente compreensível dado o que suas heroínas eram.
                        4. Gabrielismo. Qualidade de ser Gabriela. Já li o livro há tanto tempo que já não sei perfeitamente o que significa ‘ser Gabriela’, mas acho que deve ser uma coisa assim, meio baiana, do tipo “fingir tão completamente, que chega a fingir que é inocente  do desejo que faz os  homens sentirem”. Nessa história de Gabrielismo talvez facilite, (recorrendo mais uma vez a Machado) se dissermos  que Gabrielismo é aquilo que uma Capitu seria se tivesse nascido na Bahia, ao invés de no Rio.         
                        Portanto, é difícil evitar o empate embora  muita gente ache que não há como Sonia não ter sido mais Gabriela do que a Juliana está sendo, até mesmo porque, na época de Sonia ainda não havia sido inventado o Viagra. Ora, não era qualquer uma que seria capaz de fazer aqueles embolorados coronéis  transarem tanto num capítulo só. Era preciso ser muito Gabriela para isso!
                        Enfim, empate técnico, que há de soar para as duas como o título daquele filmezinho tão antigo:
                        “Matemática zero, amor dez.”                                                                                                                                                     ewerton.neto@hotmail.com                                                                      http://www.joseewertonneto.blogspot.com