artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o estado do Maranhão, hoje, sábaso
Morreu
o maracujá-pênis. Sem pompa e circunstância, sem aplauso, sem choro e sem vela,
sem discurso de vereador. Morreu onde nasceu, num pequeno sítio em São José de Ribamar, humilde
como sempre foi, sem entender muito bem a razão de tanto interesse humano pelos
seus dons, digamos assim, fálicos. Teve vida gloriosa e breve, embora modesta,
e faleceu ao lado das folhas secas do pequeno pomar onde nasceu, sob o olhar
vigilante de sua dona, Maria Rodrigues, de 56 anos que até agora não conseguiu
conter o choro diante de sua partida irremediável.
Alguns pequenos detalhes de sua ‘curta’
biografia:
Tudo começou quando num belo dia
dona Maria resolveu comprar um maracujá comum, amarelo e redondo. (Até aí nada
demais, pois quem não gosta de maracujá, principalmente amarelo?) Sua
surpreendente trajetória só começou a se delinear quando Dona Maria resolveu
plantar o fruto no quintal do seu sítio. Eis que, contrariamente a todas as
previsões de falta de cuidados, o pé de maracujá, mesmo assim cresceu. Foi crescendo,
crescendo, cada vez mais até que...
Meses depois, noutro belo dia, o
filho de dona Maria, que caminhava pelo pomar, não conseguiu conter um grito de
pavor ao deparar com um gigantesco pênis, pendurado num galho de uma árvore.
Muita coisa deve ter passado pela cabeça do pobre garoto (nenhuma delas, de
desconfiança das mulheres de casa, diga-se de passagem) até constatar que, de
fato, tratava-se mesmo de um maracujá. Nem precisa falar de sua corrida
desabalada para avisar dona Maria, Deus e o mundo. Pronto! Estava descoberto o
maior fenômeno natural jamais ocorrido na cidade: um pujante e sedutor maracujá-pênis,
pendurado no galho de uma pequena árvore, mostrava potencial para seduzir todas
as mulheres carentes e não-carentes deste planeta.
A partir de então, divulgado o fato
nas redes sociais e na imprensa, todo mundo sabe mais ou menos o que aconteceu
no que se refere ao seu apogeu e glória. Dona Maria, de repente, viu seu modesto
sítio transformado em atração turística internacional, a princípio freqüentado apenas
por vizinhos e curiosos, para logo
depois ser invadido por turistas e jornalistas do Brasil e do mundo. Resolveu, claro, cobrar pela exposição, como dizia: “Já
perdi a conta de quantas pessoas passaram por aqui, de manhã, de tarde e de
noite. Depois que o meu celular sumiu passei a cobrar 2 pela visita, 15 para
tirar foto e 30 para filmar”. Ou seja, tabela de cobrança tão perfeita assim,
nem mesmo a do leão do imposto de renda! A única falha na contabilidade de Dona
Maria foi ter esquecido de cobrar o lucro pela fantasia sexual propiciada, de
graça, às mulheres.
Tão surpreendente quanto a vida do
maracujá-pênis foi sua morte precoce. A hipótese, por ela levantada, da ação
dos cupins para justificar o ocaso precoce do fruto tão sedutor e gostoso (em
ambos os sentidos), é refutada pelas mulheres da cidade, compreensivelmente
revoltadas. “E o maracujá-pênis, propriamente dito? Quem se preocupou com o seu
próprio bem-estar e prazer? Não teria sido melhor ter nascido um maracujá comum
e azedo do que ter sido transformado num prostituto fudido e mal-pago?”
Tantas possíveis explicações psicológicas
parecem tardias, agora, para compensar a perda de um personagem tão simpático e
querido do povo da cidade. Sabe-se, no entanto, que as comunidades populares
femininas da cidade balneária já estão se movimentando para exigir de seus
administradores que seja erigida, de imediato, uma estátua do maracujá em praça
pública, capaz de preservar para sempre sua saudosa e insubstituível memória.
De preferência, dizem elas, em
tamanho cinco vezes maior que o original.