artigo publicado hoje na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão
Como se um cantor do tamanho de
Tim Maia ( em todos os sentidos ) precisasse ser completado, principalmente
depois da excelente biografia de Nelson Motta sobre ele. Já leram? Boa
oportunidade de conhecer um pouco mais de um formidável cantor que por trás de
sua decantada porralouquice tinha a postura irreverente decalcada de um
inconformismo em relação às coisas absurdas do país em que vivia.
E cujo
talento para denunciá-las chegou ao ápice na sua mais famosa frase “O Brasil é um país em que puta goza, gigolô
tem ciúme, traficante fuma maconha e comunista é de direita”. Querem resumo melhor
que esse? A frase foi tão boa que, anos
depois, o tempo demonstrou que faltava
ainda dizer que:
...
e em que o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara , escolhido por
seus pares, é homofóbico e racista enquanto
o marginal número um do país Fernandinho Beira-Mar ( Será mesmo? O páreo
é duro!) estuda teologia.
...e
em que Carnaval na época, Carnaval fora de época, outros carnavais e tragédias
decorrentes de enchentes são considerados pelos governantes desse país eventos da mesma vulgaridade, tanto é assim
que parecem fazer parte do calendário anual de eventos rotineiros. E todos eles riem, batem palma, continuam sorrindo e são reeleitos, com se nada tivessem a ver
com isso.
...e
em que na prova nacional para selecionar estudantes (ENEM) o hino do Palmeiras
(colocado propositadamente por um estudante, no meio da redação para avaliar o nível dos examinadores) obteve uma das melhores notas indicando que: ou os examinadores sequer se dão ao trabalho
de ler as provas, ou são palmeirenses. Ou que, na verdade mais crua, conseguem
ser ainda mais ineptos do que os próprios estudantes.
...e
em que as vítimas assassinadas por motivo torpe ou cruel só têm direito, pelas
leis deste país, a regime fechado e único para toda a eternidade ( a tampa do
caixão) enquanto seus assassinos têm direito a todo tipo de regime livre:
semi-aberto, quase aberto, arreganhado , ou aberto total, indicando que este é
um país cujas leis são feitas – como disse alguém - por
bandidos e para bandidos.
...
e em que leis cada vez mais rigorosíssimas, secas e ressequidas, são inventadas a toda hora, nas quais alguém que toma duas gotas de cerveja ,
se for pobre vai para a cadeia, já quem dirige irresponsavelmente e mata, (como fez o filho Thor, de Eike Batista ) sequer se apresenta na
Justiça, desde que tenha pai milionário.
Aliás, nem precisava. Bastava ser rico.
...e
em que governos não têm dinheiro para construir hospitais , mas têm dinheiro para construir luxuosos
estádios de futebol a preços exorbitantes e supervalorizados, que após a Copa
do Mundo só servirão para moscas e dejetos de passarinhos. Ou seja, ao invés
dos uniformes brancos de enfermeiras e médicos os doentes terão de se contentar,
para sempre, com o branco dos elefantes - brancos.
...e
em que sob pressão da opinião pública, deputados
brasileiros abrem mão de três dos muitos salários (auxílio-paletó) que
recebiam mas , por debaixo dos panos, arrumam
meios de compensar suas ‘perdas’ salariais, continuando a fazer a festa com o
dinheiro público. Ou seja vai-se o auxílio-paletó, celebra-se o auxílio-cueca. Troca-se
o salário a perder de vista pelo salário que ninguém avista.
...e
em que hospitais públicos são inaugurados
(como se deu no Ceará e foi denunciado pelo programa CQC) em grande
pompa com shows de Axé-music em que se
paga 150 mil para Ivete Sangalo. Porém, mais de duas semanas após o Hospital
não funciona e não recebe sequer um doente, dando a entender que este é um país,
também, em que axé virou remédio e cantor
cura pneumonia.
Etc.
etc. etc.