artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão
A idéia
elementar, evoluída há séculos para bem
da sociedade, de que bandido tem que
permanecer na cadeia, neste país encontra enorme dificuldade em se concretizar.
Se por um lado, faltam cadeias em todo o território nacional, por incúria
administrativa, sobram idéias para suprir essa falha, sempre inspiradas no
jeitinho brasileiro de que “se não dá para resolver o essencial, tratemos de
amenizar o drama” que é o mesmo de dizer
“já que existe tanto bandido nas ruas, um a mais um a menos não vai fazer diferença”. Ou seja, como
sempre as vítimas que se explodam.
Pois é
partindo daí, desse jeitinho brasileiro, que surgem as mais ‘brilhantes’ idéias para
aliviar o problema, desde penas
alternativas para soltar bandidos a até,
por último, colocar tornozeleiras nos
pés dos ditos cujos para identificá-los, deixando-os à solta. Como se fizesse
diferença, para alguém que vai morrer, ser
queimado por um marginal com ou sem tornozeleira.
Já que
precisa ser assim: Tornozeleira neles!, mas
não custa prever o que resta acontecer.
1.Como são
tantos os bandidos neste país e tão poucas as cadeias não é exagero acreditar que logo passaríamos a
ter uma ‘inflação’ de tornozeleiras por aí muito maior do que aquela dos tempos
de Collor de Mello. Em dois, três ou cinco anos no máximo, a tornozeleira
passaria a ser um acessório de moda mais comum do que tatuagem, por exemplo. E
haja marmanjo entrando de tornozeleira em fila de loteria, em churrascos de fim
de semana, em festa de aniversário ou em missa de sétimo dia.
A turma das
redes sociais e dos rolezinhos, sempre ávida por novidades, disputaria entre si
para ver quem circularia com a
tornozeleira mais bonita e os concursos de modelo dos shopping-centers brindariam
não mais a magrinha menos feinha, mas aquela com a tornozeleira mais
vistosa.
2. Haveria
tanta tornozeleira pra tudo quanto é lado que os bandidos comuns ficariam irreconhecíveis,
destacando-se, porém, quem tivesse tornozeleira de grife, ou seja, original da
cadeia, ao invés da imitação adquirida em qualquer esquina. Este, logo assumiria
seu prestígio: seria disputado por um monte de mulher em qualquer balada e
seria o mais respeitado pelas gangues. Enfim, o marginal de respeito já sairia
da cadeia direto para o estrelato,
digamos assim, sendo fácil imaginar seu sucesso ao chegar em
casa e , principalmente, ao ser festejado pela turma do bairro. “Tá vendo essa
tornozeleira, mãe? Essa ganhei matando e
estuprando gente na cadeia, não é tornozeleira pirata que vagabundo compra de
qualquer china.”.
Para poder diferenciar
um bandido chique, tipo político corrupto (mensalão e adjacências) teriam de
ser confeccionadas tornozeleiras
especiais. Neste caso, o bandido chique,
antes mesmo de ser condenado, e sem precisar passar sequer uma noite na cadeia,
receberia a tornozeleira em casa, levada por uma comitiva de figurões. Não é
difícil imaginar também o que poderia acontecer
com o dono de uma tornozeleira dessas, ao ser interceptado na avenida, em sua
Hilux, por um pobre guarda desavisado.
- Documentos,
por favor!- diz o guarda.
- Você não
sabe com quem está falando.
- Desculpe, por acaso você é algum político?
- Melhor que
isso. Não apenas sou político, como
tenho tornozeleira.
-Como?? – o
guarda hesita.
- Tá vendo esta
aqui em meu pé?
- Uma
tornozeleira, mas....
- Nem mas nem
meio mas, presta mais atenção!
-Estou
confirmando, é sim: Tornozeleira Especial!
Oh, por favor, desculpe senhor, queira me desculpar, não me leve a mal, sou
apenas um pobre soldado!
E assim por
diante. Mas se essa é a solução: Tornozeleira, neles!
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