sábado, 27 de setembro de 2014

O JARGÃO CORPORATIVO (E SUAS PÉROLAS)



Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado



A coisa se dá mais ou menos assim: se o argumento é falso e  inconsistente,  nada como tentar dourar o que se diz com uma palavra de origem inglesa. E pronto,  entende-se que  mensagem esteja sendo dada , sabe-se lá como, porque  o mais difícil é que alguém a entenda.

            É fácil imaginar a enxurrada de palavras de uma grande corporação como, por exemplo, a Petrobrás: Meritocracia, benchmarking, endomarketing, expertise, empowerment, atiradas nos ouvidos de engenheiros e peões no chão de fábrica, para conseguirem, um barril a mais de petróleo, enquanto nos altares da hierarquia político-administrativa os mesmo  jargões voam para lá e para cá, só que , nesse caso, para embotarem a realidade dos milhares de toneladas  de barris perdidos em negociatas escusas. Triste função essa,  a das palavras em uma corporação dominada pelo vício: a de tornarem-se hipócritas para poderem suportar a  hipocrisia ainda  maior de suas diretorias.
            Mas, o que é mesmo que esses jargões corporativos tentam significar?

            1.Agregar valor. Aparentemente significa incorporar ao trabalho algo que o qualifique ou o torne mais sofisticado.
            Depende. Se for para o peão, agregar valor ao próprio trabalho significa suar mais a camisa e morrer o mais rápido possível, de preferência. Já se for para os executivos significa agregar mais valores ao próprio bolso. Seja lá como for. 

            2.Douwnsize. Encolhimento. Técnica que tem por objetivo a redução dos níveis hierárquicos de uma organização.




                                                 





            Por incrível que possa parecer admite-se que, quando você diz a alguém que vai levar um pé na bunda devido a um douwnsize,  este deva sair dando pulos de alegria,  o que não daria se se tivesse falado em encolhimento. É o tal de racismo de linguagem!

            3.Brainstorm. Termo que, em inglês significa tempestade cerebral; representa uma oportunidade para expor ideias livremente.
            Já pensou numa corporação como a rede Globo, um brainstorm com a participação de Faustão, Ana Maria Braga e Luciano Hulk? O que sobraria depois de uma tempestade (cerebral)  dessas?




                                                     





            4.Brilho no olho. Expressão para caracterizar profissional motivado ou muito empenhado.
            Por que será que ninguém atentou antes, na Petrobras, para o formidável brilho do olho torto de Cerveró? Quanto brilho no olho! Quanta motivação e empenho! Só poderia dar no que deu.

            5.Está no DNA. Diz-se do modelo de atuação já incorporado à cultura da empresa e ao modo de a organização atuar.
            Se o PT fosse uma corporação  (será que não é?) a culpa poderia ser do DNA, não é mesmo, Dilma? E estaríamos  conversados.

            6.Pensar fora de caixa. Ter ideias diferentes das convencionais, propor soluções nunca testadas.
            O Brasil tornou-se um  país tão pobre de ideias que os únicos que conseguem pensar fora da Caixa, são justamente os da Caixa Econômica Federal.

            7.Outsourcing. Mão de obra terceirizada com o intuito de reduzir os custos internos.
            Na prática significa demitir os operários com carteira  assinada , contratando-se uma empresa terceirizada que contrata peões. Esta, por sua vez,  contrata outra terceirizada que contrata miseráveis  e assim por diante, até que os contratados remanescentes estejam mais  para animais escravos do que para seres humanos. Mas por favor, não confunda! Outsourcing  nada tem a ver com terceirizar  os lucros. Esses não!  

            8. Workaholic. Pessoa viciada em trabalho.
            A expressão, de origem inglesa,  nada tem a ver, com trabalhador  viciado em álcool, como sua sonoridade poderia sugerir, à primeira vista. Como se sabe  o trabalhador viciado em álcool pelo menos encontrou o que fazer. Já um workaholic dificilmente   encontrará o que fazer na vida, além de puxar saco.




                                                     






            9.Mentoring. Acompanhamento de um profissional mais experiente (mentor) para dar conselhos e orientar a carreira.
            Será mesmo que alguém precisa disso para ter sucesso  hoje em dia? Já pensou mentoring de Ex-BBB, a profissão mais almejada pelos jovens desta nação? Ou mentoring de cantor de música sertaneja? Na antiga Grécia, só para recordar,  tal tipo de coisa  dava em pedofilia,  e só raramente dava realmente em carreira (quando o rapaz tinha de sair correndo antes que fosse tarde). 

                                                                       ewerton.neto@hotmail.com                                                                        http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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