sábado, 29 de novembro de 2014

JUVENTUDE




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje,
sábado


Juventude é uma palavra do tipo das que evocam algo que todo mundo sabe o que é, mas que, quando chamados a explica-la, ninguém consegue fazê-lo perfeitamente.  Mais ou menos como tempo, infinito, amor, etc.   Causa espécie, portanto, que existam países ou estados que adotem em suas funções públicas órgãos como Secretarias da Juventude, ou Ministérios da Juventude. Qualquer  dia vão inventar o Ministério do Amor, porque o da Felicidade, esse já existe ( na Venezuela, creio).  Ora, como haver uma secretaria direcionada a  algo que não se sabe exatamente o que é? Onde começam as atribuições  e onde terminam?



                                                    





            Admitindo que isso seja um esforço,  meritório , diga-se de passagem, dirigido a uma faixa etária da vida da população, carente de assistência, como determinar com precisão essa faixa? Outro dia li um artigo da BBC News , reproduzido pela Internet em que psicólogos britânicos chegaram à conclusão de que a adolescência não era mais a mesma, e sua vigência deveria se estender  até os 25 anos.  Se isso for verdade, onde começaria a juventude, hoje? Ou será que acabou? Tento imaginar a confusão na definição das atribuições peculiares a um serviço que não sabe exatamente a quem  se dirige. Tanta dificuldade teria tudo  para  gerar uma carga adicional que certamente ocuparia pelo menos um ano de serviço dos funcionários desse órgão: “a definição do para que e para quem  estamos aqui”. Há de se formar comissões,  seminários ,  estudos e pesquisas e eis que, com isso,  se arranjou o que fazer em pelo menos um ano de atividades bastante pródigas em direção a...A quem mesmo?





                                                  






            Uma  outra questão de conteúdo menos pragmático e mais filosófico,  talvez seja  a de natureza ética, digamos assim. Ora, porque uma predisposição direcionada a promover melhorias no bem-estar da juventude e não da infância ou  da velhice – sabidamente mais necessitados? Não estaria havendo aqui uma espécie de discriminação contra os menos dotados de vida e  saúde , disfarçada sob o eflúvio de uma sedução benfazeja que sempre acontece quando se usa o termo juventude? Como se sabe nem os velhos gostam de serem chamados  de velhos, mas, seria função dos governos dourar suas realizações em termos dessa  expectativa ou efetivá-las, independente de faixa etária?  Na verdade, tudo fica mais vago quando, para definição do que se pretende ( ou do que não se pretende),    os governos se apropriam dessas palavras que abrangem muito mais que exprimem. Deve soar mais bonito um ministério ou uma secretaria da juventude que uma da velhice, mas é sempre bom lembrar o risco instalado quando se recorre ao que  tanto pode dizer tudo como absolutamente nada,  para que o desempenho final não seja tão vago como as palavras que os inspiraram. 




                                                





            Apenas para não perder de vista o mistério que é a juventude, um esforço do cronista com uma ajuda inicial de Jean Cocteau para lembrar o que poderia ser, o que não é, o que nunca será,  essa tal de juventude, em singelas tentativas:
            1.”A juventude é uma conquista da maturidade”. Jean Cocteau

            2.Juventude é aquela fase da vida do ser humano que ele nunca sabe exatamente quando começa; sabe menos ainda enquanto permanece; e faz questão absoluta de jamais saber quando termina.

            3.A vida de um ser humano é aquilo que sobra,  depois da eternidade de 4 ou 5 anos de juventude.

            4.A juventude não existe. Para os jovens porque não aprenderam o suficiente para vivê-la. Para os velhos porque não têm vida suficiente para apreendê-la.

            5.Onde está a juventude?. Na vida moderna se passa diretamente de criança adultificada para adulto infantilizado.

            6.A juventude não é uma época, uma estação para pessoas com pouca idade, mas um encontro , independente da idade, de alguém com seu próprio deslumbramento.”




                                               




            7.A juventude é uma viagem que você fez por pouco tempo , em uma época imprecisa, a um corpo e  alma de alguém, que tinha uma capacidade surpreendente de fingir que era você.

                                                                       ewerton.neto@hotmail.com                                                                                 http://www.joseewertonneto.blogspot.com

sábado, 22 de novembro de 2014

NOMES, HIDRAMIXES E SOBRENOMES



artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


O que, afinal de contas, existe entre o indivíduo e a palavra que o nomeia? E esse nome, pertence a essa pessoa, ou o inverso é mais verdadeiro? E a partir de quando e até quando?
            São perguntas, cuja solução até agora ninguém, mesmo os especialistas, ousaram decifrar ou pesquisar. Por isso mesmo, não convêm cavoucar o vão misterioso dessa interface  que evoca questões jamais solucionáveis, do tipo: Que teria sido do Rei Pelé, sem o apelido, que o consagrou? Será que teria se tornado rei do futebol houvesse adotado para ídolo o  nome próprio, Edson Arantes do Nascimento, mais apropriado, aliás,   para síndico de condomínio ou gerente de  supermercado? Suas jogadas de craque reverberariam  na voz dos locutores com a mesma empatia de quando gritaram “Gol de Pelé”? Como  todo mundo sabe a questão do nome na trajetória do maior jogador de todos os tempos foi de tal maneira crucial que o próprio Edson Arantes do Nascimento  logo se distinguiu do ídolo Pelé, por vontade própria a ponto de se referir ao mesmo como se fosse outro.  E assim tantos, etc. etc


                                                 


            Sendo essa, a meu ver, a problemática fundamental inerente ao ato de nomear um indivíduo. Antes mesmo de se dar um nome a alguém já existe no âmago dessa procura, a questão do outro, a busca de alguém especial,  cujo nome ressoe capaz de incorporar ao vindouro  uma identidade mais nobre que a do destino que se lhe anuncia.  Nas classes desfavorecidas deste Brasil,  então, o costume de doar a um filho um  nome original e inventado,  perpassa toda a esperança de um título diferenciado, capaz de distingui-lo do ambiente que o cerca. (Como se fosse um título de nobreza jamais visto). Por isso, sempre achei lamentável a prática  de se ridicularizar esse costume popular , especialmente nos ambientes intelectualizados e universitários, enquanto a criação de neologismos, na literatura, é supervalorizada . Ora, por que o ato de inventar um nome próprio é sempre piada de segunda, e os neologismos de Manoel de Barros ou Guimarães Rosa são considerados, sempre, a quintessência  da arte?
            Poucas vezes, na ficção ou na realidade, essa ‘angústia’ do nome foi exposta de forma tão contundente quanto na reportagem do escritor e publicitário Nelin Vieira, divulgado na imprensa maranhense anos atrás. Nelin Vieira, cujo faro jornalístico para detectar preciosidades do comportamento humano que vão do tragicômico ao bizarro em questão de dois minutos ou três parágrafos, descobriu em sua cidade, São Mateus, um personagem que queria se chamar e já se intitulava Hidramix Rios-Raios-Paraíso Di-Forças Hahlmeixeixas Hinfinito. Ele, o personagem em questão, borracheiro, humilde de formação, chamado João de Deus da Silva, de repente, passou a abominar o nome de batismo e quis cognominar-se HIdramix, etc. e tal, passando – que coincidência! -  necessariamente por infinito, palavra cuja presença, em seu  nome de fantasia,  por si já é uma insinuação, um significado  e um clamor. Precisava que João de Deus explicasse a causa? Se precisasse,  a reportagem, ( cujo assunto mereceu, em janeiro de 2001 crônica do escritor José Sarney a respeito publicada  no jornal A Folha de São Paulo) exibia as palavras de João de Deus/Hidramix mostrando a motivação pré-anunciada: “Pretendi sair do anonimato, tornar-me um ser diferente, um novo alguém , fugir desse João de Deus da Silva que todo mundo é nesta cidade”
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            Muito mais poderia ser dito e investigado a respeito desse tema, houvesse espaço nesta crônica. Para os que querem conhecer mais, não só de Hidramix (ele existe e é real) como  desse portentoso painel de seres especiais, exposto no livro O centésimo emprego de seu Lelé Bristol


                                                         





Nelin Vieira estará relançando o seu interessante livro - que expõe a face desfocada de seres comuns, a meio caminho entre a realidade e o sonho para destacar o que possam ter de mais humano e ao mesmo tempo sobrenatural e perene  -  em São Mateus, dia 29 deste. Lá estarão todos os personagens dessa imensa galeria: Hidramix, Chico Fumaça, Lelé Bristol etc. Por sua vez, para os que se mostram curiosos com a problemática do tema levantado acima, à guisa de investigação, aponto o trabalho deste cronista em seu trabalho de Pós-Graduação em jornalismo cultural, 2008,  A invenção de nomes próprios: algo mais do que um mero costume. Será arte?, em http://www.cambiassu.ufma.br.




                                                       




            Portanto, aos que tiverem o privilégio de  visitarem São Mateus nesse dia festivo, além do acesso ao livro, de quebra, a possível solução de uma das questões: Terá João de Deus da Silva encontrado seu Hidramix, ou ainda estará à procura?
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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sábado, 15 de novembro de 2014

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO TEMPO




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado

Ninguém sabe quando o tempo começou se é que começou. É sempre bom lembrar que o tempo nunca foi um sujeito digamos assim, reconhecível. Tem muita gente sábia, inclusive, que acha até que ele nunca existiu. Ora, que ele não existirá um dia, isso não resta a menor dúvida, pois morreremos. Mas quanto a sua existência no passado e presente....
            Tenho a impressão de que Albert Einstein, num momento mais de sutileza do que de sabedoria criou  a tal de Teoria da Relatividade para resolver essa questão. Ao dizer que o tempo é relativo, ficando em cima do muro, como um bom mineiro, selou definitivamente a sina do tempo como  elemento improvável, sem revelar que este nunca passou de  uma invenção humana. Relativo, ora bolas! Que você diria a um médico que um dia lhe confirmasse que o filho era seu, mas que isso era relativo, e - ainda mais-, a depender da velocidade da luz? Como? – você responderia - A depender de quê cara-pálida? Você está querendo dizer da velocidade com que essa  mulher dá a luz com outro?




                                                       







            2.Durante milhões de anos pairou sobre nós  a desconfiança de que o tempo era coisa de quem não tinha o que fazer,  mas a verdade é que ninguém ligava muito pra ele. Vivia-se, ou melhor,  sobrevivia-se e isso era mais importante que o tempo. Se sobrava  vida, quem ligava para o tempo? As preocupações só começaram pra valer depois da revolução industrial quando chegaram as locomotivas.  A partir daí, agora sim, pois  precisava se saber que hora um trem ia chegar e partir. Foi então  que os homens  adotaram o relógio, sem desconfiar de que  estavam entrando numa fria.





                                                          






            3. (Na verdade, com essa invenção, os homens julgaram estar matando dois coelhos com uma cajadada só: primeiro a dúvida científica, segundo a filosófica. Quanto à científica, o relógio foi um achado, pois ao proporcionar a medição comparativa do que estava acontecendo, tomando como referência uma volta da terra em torno do seu eixo,  o tempo colocava-se a  serviço do homem, mais ou menos como sempre foi exigido que Deus assim o fizesse. Quanto à filosófica,  a essas alturas, o “Penso, logo existo”  de Descartes já não resolvia a questão fundamental do orgulho humano. Sim, porque após Darwin ter provado que até um chimpanzé pensava também,  nossa existência perdeu um tanto de sua  aura de divindade. Ora, se não passamos de chimpanzés, tão feios e tão pouco inteligentes quanto, que raios estamos fazendo aqui ?  Para que serve a nossa existência?)
            E foi assim que, como se tivéssemos finalmente aprisionado o tempo numa caixinha (se temos o tempo e o controlamos ,devemos existir, ora pois!),  recuperamos o nosso orgulho e este se fez  cada vez mais presente na vida moderna.


            4. Algumas dezenas de anos se passaram, mas já foram suficientes para comprovar o que não queremos pensar, mas temos certeza. Oprimidos, neuróticos, limitados, controlados por uma caixinha presa em volta do braço os homens é que se tornaram escravos de sua própria criação. Tal e qual prisioneiros, que ganham a liberdade condicional às  custas de serem vigiados por uma tornozeleira,   é como se também fôssemos prisioneiros, carregando relógios ao invés , a nos determinar   o que devemos fazer hoje, amanhã e sempre. Sem entender o que está ocorrendo, só nos resta vociferar contra o tempo  convictos de que se não há outra saída  temos de nos vingar dele de alguma forma . “Que merda de tempo difícil” “Por que esse tempo está passando tão depressa?” “Ah, se Deus me desse um pouquinho mais de tempo!”



                                                               

                                                         





            O curioso é que xingamos o tempo mas esquecemos de acusar o relógio, máquina  que inventamos e que nos aprisiona e tortura. Admitindo que o tempo exista mesmo,  bem que ele poderia responder:  “Pare de me xingar, insensato, e se preocupe um pouco mais consigo mesmo. Livre-se do seu relógio. Sua vida vale  muito mais que ele.”
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                         http://www.joseewertonneto.blogspot.com


sábado, 8 de novembro de 2014

AS MELHORES FRASES DO CINEMA





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Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje,
sábado


As melhores frases do cinema estão longe, muito longe, das melhores da literatura. Explica-se: o cinema é outra linguagem, as frases não são necessariamente inventivas, mas marcantes,  evocam , principalmente o clima, a emoção e o nível de tensão  acumulados pela sucessão de imagens que caracterizam um  bom filme. Dissociadas da situação envolvida, são frases simples, do quotidiano, que  poderiam perfeitamente ser ditas em circunstâncias, digamos assim, menos nobres. Como, por exemplo:

1.”i’ll be back” ( Eu vou voltar). Arnold Shwarzenegger , em O Exterminador do Futuro.
Poderia ser dita por qualquer presidiário de Pedrinhas, qualquer dia e qualquer hora, dentro do recinto,  curtindo um pagode e comendo churrasco. No caso, o voltar é para casa.




                                               





2.”Meu nome é Bond. James Bond”. Sean Connery, em O satânico Dr. No.
“Galo. Meu nome é Galo.” Levir Culpi técnico do Atlético a Vanderlei Luxemburgo ou aos torcedores do Mengo que tripudiaram do Atlético nas redes sociais, antes do jogo de quarta-feira. Como todo mundo sabe, o Atlético reverteu uma situação de três gols de diferença o que, para o convencido Luxemburgo e para parte da torcida carioca  eram favas contadas.

3.”Todos esses momentos perdidos no tempo, como lágrimas na chuva”. Rutger Hauer, em Blade Runner.

Eduardo Suplicy, na Avenida Paulista em São Paulo, filosofando sobre sua trajetória de vida, lembrando a esposa Marta e tentando cantar, com sua voz monocórdia e interminável a indefectível Blowin in the Wind, de Bob Dylan. O problema é que lágrima tem muita, o que falta agora é chuva.

4.”Francamente, querida, eu não dou a mínima!” Clark Gable em E o vento levou.
Poderia ser o Pedro Bial, o Luan Santana ou o Miguel Falabela, porque, de fato, eles não dão só o mínimo.




                                                   





5.”O melhor amigo de um homem é a sua mãe.” Anthony Perkins, em Psicose.
Para o poeta Vinícius de Moraes esse melhor amigo não era o cachorro, mas o uísque. Segundo ele, o uísque era o cachorro engarrafado. Se você for pinguço, como Vinícius, a mãe é páreo duro, mas, peraí... mãe é a melhor amiga, não melhor amigo. Continua dando uísque, não é?

6.”Eu gostaria de saber como deixar você.” Jake Gillenhaal em o Segredo de Brokeback Mountain.
Daniela Mercury e sua companheira Malu Verçosa, em versão feminina, baiana, com acarajé e sem montanhas.




                                                    






7.”Você sabe assoviar, não sabe Steve? Você só tem que unir os lábios e soprar”. Lauren Bacall em Uma aventura na Martinica.
Conselho de mãe para dupla sertaneja, no Brasil. Não seguiram e olha só a merda que deu: abriram a boca toda  e nunca mais quiseram parar de se esgoelarem!




                                                   




8.”Mamãe sempre disse que a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai pegar”. Sally Fields em Forrest Gump.

Ah, se a vida fosse tão simples como uma caixa de chocolates! A questão não é o que você pega pela vida afora, mas o que você vai ter de pagar por isso.
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sábado, 1 de novembro de 2014

O PESO DAS PALAVRAS




Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


O PESO (NUNCA LEVIANO) DAS PALAVRAS


As palavras que, como se sabe, são seres vivos (no dizer do escritor Vítor Hugo ), talvez por causa disso, têm peso. Algumas são muito  densas, outras nem tanto e isso varia, nem sempre dependendo do seu significado, mas conforme a circunstância e o local. O que, aliás, está de acordo com o capítulo de  Física que trata disso.
             Qual, por exemplo,  o peso da palavra Leviana? Seguramente, não é tão leve quanto a sua própria sonoridade e origem etimológica sugere. A julgar pelas últimas eleições deve pesar muito mais do que obras realizadas, argumentos estatísticos, explicações econômicas, ou acusações de corrupção, a partir da conclusão a que chegaram especialistas políticos quando concluíram que a palavra Leviana saída da boca de Aécio Neves, no local errado e em hora errada, lhe custou milhões de votos  do eleitorado feminino provocando uma nova onda pró-Dilma num momento em que seu vigor eleitoral se  encontrava arrefecido. Explicação: depois desse  xingamento, intencional ou não, milhares de mulheres mudaram de intenção de voto por se sentirem ofendidas,  em solidariedade à condição feminina da presidente do Brasil.




                                                        





            Será? Dá para dimensionar seu alcance? Evidente que não e foge do  propósito desta crônica avaliar em que medida isso influenciou ou não. Antes,  o propósito aqui é o de  lembrar o que sempre anda muito esquecido - especialmente nas redes sociais onde as palavras são atropeladas pelos urros : ou seja, que  os pensamentos, hoje em dia,  não estão tratando bem as palavras, talvez por estarem, quase sempre, num nível inferior a elas.   As  palavras têm peso sim, sempre tiveram  e é preciso muito cuidado com isso  porque se maltratadas ou usadas fora de hora e a reboque de pensamentos que as tratam como cavalos puxados por cabrestos, elas se vingam, se impõem  e... pesam.

            Senão,  voltemos à  palavra Leviana. Do dicionário Larousse: 1. Que procede ou julga precipitadamente sem refletir, imprudente 2. Sem seriedade, que procede repreensivelmente 3. Leve.

            Portanto, eliminando-se a terceira conotação, hoje totalmente em desuso, vê-se que existe claramente entre os dois primeiros significados uma diferença de peso, quanto se trata de pender mais para a ofensa ou não. A segunda hipótese é mais densa nesse sentido:  ao acusar  uma mulher de leviana alguém a estará acusando de não ser séria, ou de uma mulher que age de forma repreensível. Ora, se alguém a classifica de algo assim poderia estar chamando-a de puta, ou quase puta, de vagabunda ou quase isso, não?

            Torna-se bastante sintomática, então, a questão do peso relativo se  lembrarmos que a palavra Leviano,  aplicada ao sexo masculino, parece não ter uma conotação tão arrasadora. Talvez porque acusar uma mulher de agir de forma repreensível a aproxime perigosamente do pior insulto que pode desqualificar uma pessoa do sexo feminino, que é o de ser chamada de puta. Todas as mulheres com quem comentei tal assunto, inclusive as que não haviam se dado conta, acharam profundamente lamentável a pronunciação de Aécio Neves, ao qual se aderiu, perigosamente, sua fama de conquistador de atrizes da  Globo, aliadas a especulações perfidamente alimentadas pelas redes sociais em torno de uma possível conduta amoral




                                                  




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            Guardo a impressão de que Aécio não se deu conta do alcance do erro que estava cometendo, ao adotar o deslize muito comum, hoje em dia, de não atentar, para o peso que têm as palavras. Ele simplesmente não se deu conta, por não ter vivência popular, com outra implicação que se refere aos fatores  que podem influenciar esse peso,  como foi sugerido acima: a ambiência, o local e as circunstâncias.  Ora, no meio social frequentado por ele,  chamar alguém de  leviano talvez não ofenda tanto, porque as pessoas desse ambiente, de poder aquisitivo mais elevado,  interpretam a palavra  em questão aproximando-se de sua primeira interpretação, porém  quando se vai em direção às classes menos favorecidas o Leviana soa progressivamente mais ofensivo . Ao perigo de não se saber o peso das palavras soma-se mais um; o de não conhecer o poder de sua relatividade.
            Complicado? Nem tanto, se as pessoas lessem mais, cada vez mais e procurassem intuir melhor as palavras, para poder,  em contrapartida,  seduzi-las com empatia. 





                                                   






            Se as tratássemos bem não se vingariam jamais de nós, não é mesmo Aécio? Antes de chamar a uma mulher de Leviana da próxima vez (seja ela presidente ou não, presidenta ou não ) é mister que, na pressa do pensamento, você não olvide jamais as palavras. Incapazes de correrem como os pensamentos, elas não têm tanta pressa assim, mas têm peso. Ainda que, curiosamente, flutuem.

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                    http://www.joseewertonneto.blogspot.com