artigo publicado no Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão
A VERDADEIRA
HISTÓRIA DO NOME DO SAMPAIO
“O original
é um indivíduo que se coloca à parte.” Fiódor Dostoiévski.
1.Corria o
ano de 1922 em São Luís. Quer dizer, nem corria tanto assim. As notícias do
resto mundo chegavam atrasadas, o dinheiro no bolso era lerdo, rapidez só mesmo
em se falar mal da vida alheia. Avião, por exemplo, era novidade maior do que
foi, há duas semanas, Seleção Brasileira de Futebol apanhar de sete.
Pois foi por
essa época que Pinto Martins, cearense e Walter Hinton, norte-americano, se
uniram numa empreitada. (Normalmente, mistura de cearense com norte-americano
ou dá Estátua da Liberdade libertando-se e fazendo ponto na praia de Iracema,
ou cabeça-chata fazendo exibição de forró no East Village). Mas, Pinto e
Walter, surpreendentemente, estavam era cruzando os céus das Américas, pela
primeira vez, em um hidroavião, com
escala prevista em São Luís. Ora, se o primeiro voo do mais pesado que o ar havia
sido feito somente há 16 anos por Santos Dumont, em seu 14 Bis, e, muito longe,
em Paris, imagine-se o alvoroço da cidade para participar também da brincadeira
e ver de perto que raios de troço era esse tal de avião. Os comentários só
podiam ser dessa ordem:
Pinto Martins
“Já vi muito
pinto voar, mas nessa altura, não. Ainda mais cabeça-chata!”, ou
“Por que
será que o aparelho pilotado pelo cearense se chama hidroavião? O que podem ter
em comum avião , cearense e água se água é coisa rara no Ceará?)
2.O certo é
que tudo era mesmo extraordinário e jamais visto. Ainda mais que o avião tinha
nome, e se chamava Sampaio Correia, ou
melhor Sampaio Correia II. A explicação para
um nome de gente no aparelho é que o avião foi doado aos pilotos aventureiros
pelo presidente do Aero Clube Brasileiro, o senador José Matoso Sampaio
Correia, carioca, sendo bastante normal, já
nessa época, que os pilotos
retribuíssem a gentileza botando no avião o nome do doador. Não se diga, porém,
baseado no que fazem os senadores hoje
em dia , que o senador Sampaio Correia doou o avião em troca da propaganda de seu nome. Não havia IBOPE e
televisão muito menos. Talvez quisesse mesmo era se eternizar, coisa que de outra forma jamais
conseguiria.
3.Foi então
que no dia previsto, 7 de dezembro de 1922 uma multidão de quinze mil pessoas (grande
parte da população da cidade) se acotovelou para ver o show da chegada do dito
cujo, mais ou menos como se acotovelam hoje as pessoas para saudar celebridades
da música como Ivete Sangalo, Claudia Leite etc.. Como toda celebridade que se
preze Sampaio Correia, o avião, também não compareceu no dia do show. Ficou
retido em Belém, não por jogada de marketing, mas por razão mais vulgar: falta
de combustível, o que só fez aumentar a ansiedade do povo. Quando aqui aterrissou
dois dias depois dá para imaginar a
festa: discurso de político, homenagens, passeios em clubes, etc.
Quando os pilotos se despediram da Ilha do
Amor, só uma semana depois, Pinto estava definitivamente consagrado. Se seu outro
pinto (o de baixo) trabalhou enquanto seu
dono tirava férias, já que mulher pra isso não deve ter faltado, nunca
se soube. A herança principal deixada foi justamente o nome do avião.
4.Nome por
nome, o time de São Pantaleão até que ,
já tinha um : se chamava Remo. Mas, quer coisa melhor do que um nome de gente e,
ao mesmo tempo, de avião? Pois foi essa
brilhante ideia que ocorreu ao taberneiro Almir Vasconcelos ao colocar na
pequena agremiação o nome do avião: quem
simpatizasse com o time lembrava logo do avião e quem sabe, depois dessa ele começasse a decolar. E foi o que,
definitivamente, aconteceu.
A partir daí
todos sabem da história. Às vezes esquecem é que o time é um dos mais originais
do mundo, não só pelo nome como por muitos outros motivos. Entre eles:
1.O único no
mundo que tem nome de um avião.
2.O único
que no seu uniforme, inicialmente visava as cores do Maranhão e dos Estados
Unidos e acabou dando na Bolívia. Ou
seja, o único que tem as cores de três países.
3.O único
cujo distintivo foi de autoria de um sapateiro.
4.O único
time que já foi campeão da terceira divisão , da segunda e da quarta. (E que em
breve vai ser da primeira).
5. O único
que tem o calção cáqui.
Sei que
algum leitor já está contestando: calção cáqui, cadê o calção cáqui? O calção
cáqui, senhores está na história do clube e jamais devia ter sido conspurcado.
Esse calção verde de hoje não passa de uma aberração e um acinte à
originalidade do clube. Que figurinistas, torcedores, diretoria, políticos,
embaixadores e presidentes do Brasil ou da Bolívia se unam contra a corrupção
de um de seus símbolos, que tornam o time de São Pantaleão o mais original do
mundo, enfim, “aquele que se coloca à parte”.
Pela volta
imediata do calção cáqui!
p.s Algumas
dessas Informações foram colhidas no livro Terra, Grama e Paralelepípedos
(imprescindível para quem gosta de História e nosso Futebol) de Claunísio
Amorim Carvalho.
ewerton.neto@hotmail.com http://www.joseewertonneto.blogspot.com