quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2016 ( TUDO O QUE JÁ SE SABE)




artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão, hoje,
quinta-feira




Gordo, magro, saudável, doente, sortudo ou azarado? Todo final de ano os humanos  se lançam  à esperança de que, num passe de mágica, um bilionésimo de segundo faça as coisas mudarem para melhor. E, tentando adivinhar como será o 2016  aparecem macumbeiros e charlatões de tudo quanto é lado. Ora, saber como ‘ele’ será não parece tarefa tão difícil assim, não é?  Senão, vejamos:

            1.O VLT não vai sair do lugar. Sim senhores. Passa ano, sai ano, entra prefeito, sai prefeito, o VLT não sairá do lugar, muito menos em 2016. Nem adianta especulações: definitivamente, o VLT que um dia desfilou gloriosamente pelas ruas de São Luís continuará no mesmo lugar, num depósito de sucata, cada vez mais entregue às baratas, às ferrugens e ao esquecimento mesmo tendo custado tanto dinheiro do povo, e feito mais sucesso em sua chegada do que quando aqui chegou,  pela primeira vez em São Luis,  o avião Sampaio Correa em 1922


                                              




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            2.Cerveró não vai fugir. Vontade é que não falta pro homem (cujo olho esquerdo foi parar perto do nariz de tanto conferir grana  roubada). Mas não será em 2016 que ele fugirá. A razão é simples: a incontornável dificuldade de um disfarce. Como encontrar máscara capaz de ocultar aquele olho torto? A verdade é que seus conselheiros chegaram à conclusão de que com aquela face de ciclope, Cerveró  seria descoberto até em festa de halloween

                                                        


            3.Rogério Ceni continuará homenageado pelo São Paulo. Pobreza de ídolos dá nisso e o São Paulo  F.C. vai ter que continuar a homenagear Rogério Ceni por falta de assunto. Se não for ele, será quem? Afinal de contas, o São Paulo F.C é um time que, mesmo nadando em dinheiro, nunca teve ídolos merecedores de idolatria e identificados com o clube,  como Pelé e Garrincha. O jeito é se contentar com esse, pois como já disse alguém, cada um tem o ídolo que merece.  Se Rogério Ceni (apenas um bom goleiro, nunca um mito)  num arroubo de ‘heroísmo patriótico’ disse que quando morrer quer ter suas cinzas atiradas na grama do estádio do São Paulo, que tal providenciar um mausoléu para o empolgado goleiro,  no mesmo Morumbi? Sai Rogério Ceni, entra em ceni (ou seria cena?)  um  Mausoléu do tamanho da megalomania dos seus dirigentes.

                                                  





            4. Safadão estará no show de Roberto.  Primeiro foi Ivete Sangalo, depois Paula Fernandes e,  assim por diante, passando por Michel Teló até chegar a Ludmila. Quem duvida de que o próximo será Wesley Safadão? Deviam  ter parado em Paula Fernandes,  que não sabe cantar e nem compor, mas pelo menos é bonita, porém,  o rei,  a essas alturas...Será que ainda se recorda de que um dia cantou, lindamente,  coisas como  Amélia,  de Ataulfo Alves,  ou o fado Coimbra?

                                                           




            Com aquele cabelo de índia velha, desmemoriado, entulhado de azul e mais atarantado do que chinês em jogo de futebol  Roberto Carlos será capaz de beijar a mão de Wesley, pensando que este, com seus longos cabelos, espichados a ferro em brasa, é uma linda cinderela; e achando o máximo do detalhe tê-lo como fundo musical para cantar Detalhes.   
            Ainda  há muito mais, mas o espaço é pouco. Deu para sentir como será  o 2016?
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com,
                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com




quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

UMA VOZ DO CAPETA!




artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão,
hoje quinta-feira.


Corpo, mente, braços, pernas, pra quê? Seres humanos são dispensáveis, principalmente se for para atender outro humano. Se você ainda não apreendeu isso, precisa aprender com urgência. Ou melhor, poupe seu trabalho: se você tem um celular uma prestadora de serviços telefônicos logo lhe ensinará.

            Você verá que seres humanos foram substituídos por uma voz.  Uma voz inumana, monocórdia, indiferente e... Outro dia disquei tentando resolver um problema junto a uma concessionária de serviço telefônico. Fui recebido por uma voz que me oferecia dez a vinte opções de escolha para atendimento.  Pensei, enquanto tratava de me decidir, que se existissem dois milhões de opções o tom de voz seria o mesmo. Era a voz de alguém, claro, mas de alguém que não existia, pelo menos de corpo e alma presentes. Estaria o dono dessa voz num escritório, no pico do Everest, no céu,  no purgatório ou no inferno? Seria a voz do capeta? De opção em opção com um fundo musical mais torturante do que a fala imperturbável do meu “amigo virtual”  fui adentrando no reino do desconhecido, do improvável e – logo constatei – do insolúvel.

            Sim, porque se você quiser de fato resolver seu problema nem adianta tentar, como alternativa, uma das lojas das concessionárias ou a internet. Loja? 




                                                      






As lojas são plenas de atendentes para fazê-lo adquirir um contrato, nunca para solucionar seu problema. Isso você deduz, rapidamente, após um  “proveitoso” diálogo com a atendente que, via de regra, se passa assim, depois que ela se adianta : “Queira me desculpar, moço, mas esta loja não é pra isso” “Como?” “É o que  estou  lhe explicando. Aqui  não tratamos de problema de clientes, muito menos dos seus aparelhos.“ “Como???? Mas...Será que entendi? Então  só resta acreditar que...” “Isso mesmo! Seres humanos nesta loja servem apenas de enfeites. Volte para a voz. Seu problema é com ela!”

            Na Internet, o calvário é da mesma ordem. Nesta, os seres humanos não são substituídos por vozes, mas por palavras e senhas. Um e-mail mandará você ligar para  um telefone especial ( o mesmo da voz que você já conhece) , este  mandará você de volta à Internet.

            Dia virá, muito em breve, que (numa mensagem de telefone, ou na rede) alguém lhe acusará de um crime que você não cometeu. As janelas e os sites se abrirão fornecendo-lhe algumas opções para provar a sua inocência. Você apertará botões e mais botões freneticamente, mas uma mensagem surgirá em resposta acusando a invalidade dos seus dados. Advogado? O  que significa isso a estas alturas? Foi substituído por um ‘help’ na tela do computador  que não lhe olha, nem lhe vê. Desesperado, você tentará  identificar um telefone, um só,  no qual consiga descobrir a voz de um mísero ser  humano que lhe ajude. Em vão. Suando frio,  só lhe restará voltar ao computador para buscar esclarecer, por fim,  o erro tão grave que você cometeu  mas aí já será tarde demais. A  polícia estará nesse momento batendo à sua porta. Seres humanos, finalmente!




                                                  





            Porém, não pra lhe ajudar, mas para lhe levar pro  inferno. E,  assim, você chegará à conclusão (um tanto tardia) que a voz, que lhe atende sempre tão mal do lado da recepção da companhia telefônica, é, como você desconfiava, a voz do capeta.  
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

ENTREVISTA ( SOBRE O OFICIO DE MATAR SUICIDAS)














ENTREVISTA COM O ESCRITOR JOSÉ EWERTON NETO
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale" entrevista o escritor José Ewerton Neto
 (21/12/15)



José Ewerton Neto - Foto Divulgação
ENTREVISTA:

Ademir Pascale
: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

José Ewerton Neto: Comecei como muita gente fazendo poesia e meu primeiro livro publicado chamou-se Estátua da Noite, quando tinha 18 anos. Mais tarde ganhei um prêmio de poesias com o livro Cidade Aritmética, que foi publicado em 1995, mas a minha produção literária se intensificou no gênero de narrativas com dois livros de contos, três novelas e um de crônicas. No próximo ano sairá mais um livro de contos, também premiado em concurso.

Ademir Pascale
: Você é autor do livro "O oficio de matar suicidas" (Arte Pau Brasil / Escrituras). Poderia comentar?

José Ewerton Neto: O livro O oficio de matar suicidas, partiu da ideia um tanto bizarra de alguém que, marginalizado pela sociedade, e sem coragem de se matar, tem o impulso de resolver seus problemas financeiros se propondo a abreviar suicidas em potencia sem coragem para tanto. As propostas oriundas de potenciais candidatos se sucedem e a visão da personalidade corrompida de alguns desses personagens no auge do sucesso social, faz aflorar no personagem a obsessão pelo ofício de matar, sem gerar uma satisfação íntima no indivíduo apesar do sucesso financeiro repentino. Aos poucos o matador se defronta com um mistério policial que ele precisa solucionar e que parte dele mesmo.

Curiosamente, a editora destaca na contracapa do livro dois casos reais acontecidos na vida brasileira de natureza semelhante aos descritos na narrativa e posteriores à concepção do livro.

Ademir Pascale: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?

José Ewerton Neto: Escolho aleatoriamente um pequeno trecho da fase inicial da sina do personagem quando ele ainda está se iniciando no oficio que escolheu:

Era uma coroa, Amália, de uns quarenta e tantos anos, mas provavelmente quarenta anos de fila do SUS, desses que custam a passar. Não era rica.
- Sabe por que quero morrer?
Receei ofendê-la, por isso respondi.
- Não.
- Eu matei um homem.
Percebi que ela falava “um homem” com certo orgulho.
- Por quê?
- Era o meu marido.
- Bem... – não completei a frase. Ia dizer que eu não estava ali para fazer uma investigação policial, que esse não era o meu ramo. Ela insistiu.
- Era um excelente marido.
- Hum, hum.
- Oh, como eu o adorava! Mas...
Resolvi participar do jogo. Fazer a pergunta que ela aguardava.
- Vá lá, então por que o matou?
- Oh, por que me pergunta isso? Você não tem pena de mim? Serei forçada a responder. Que vergonha para mim! Ele era homossexual.
- Desde o começo ou depois de conhecê-la? – Não pude controlar as palavras. A pergunta saiu sem pensar.

Ademir Pascale: Se você fosse escolher uma trilha sonora para "O oficio de matar suicidas", qual seria?

José Ewerton Neto: Não sei se ao longo de todo o filme, mas para determinados momentos de tensão da narrativa, quando o personagem descarrega seu revólver após desenvolver uma crescente aflição em relação ao que inconscientemente vai fazer, talvez o Bolero, de Ravel, caísse bem, quando a melodia eleva e acelera o tom de seus acordes.

Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para adquirir o seu livro?

José Ewerton Neto: O livro está sendo oferecido na Arte Pau Brasil e na Cia. dos Livros, pela Internet e em breve estará nas livrarias principais. Em São Luís, onde moro, já está nas bancas de revista e nas livrarias.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

José Ewerton Neto: Um livro de contos O que dizem os olhos, premiados pela FunC ( Fundação cultural da Prefeitura de São Luis) , sairá no próximo ano, editado pela referida Instituição.

Perguntas rápidas:

Um livro: Dos lidos mais recentemente. “Fala Memória”, de Vladimir Nabokov. Lidos, há mais tempo “Don Quixote de la Mancha”, de Cervantes.
Um (a) autor (a): Dentro do gênero policial (de O oficio de matar suicidas): Lawrence Block , Peter Robinson e Stieg Larsson
Um filme: “A primeira noite de tranquilidade” e o faroeste “Shane”
Um dia especial: Qualquer dia é especial. Se não é tem que ser, porque a vida do ser humano é muito curta.

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

José Ewerton Neto
: O tema do livro é aparentemente mórbido e complexo, mas a narrativa é leve, como foi apontado por críticos a respeito das primeiras edições. Sendo assim, confio em que os leitores sentirão prazer com a leitura.  
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O Ofício de Matar Suicidas - José Ewerton Neto
 Descrição: http://www.cranik.com/images/impressora2.jpg

Entrevistado: José Ewerton Neto.
E nos informar pelo e-mail: 
cranik [@] cranik.com  

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A HISTÓRIA DAS CALCINHAS








Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão.


A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CALCINHA ( II )

            Segue, abaixo, a prometida segunda parte de A verdadeira história da calcinha, aqui publicada duas semanas atrás. Lembremos que essa primeira parte trata dessa genial invenção humana,  desde os primórdios até a chegada do século XIX:

            1.Ao longo do século XIX novos tipos de tecido foram criados, com  formas cada vez menores e ousadas buscando gradativamente a combinação  entre sensualidade e conforto, mas essas transformações só vieram pra valer mesmo a partir da metade do século passado quando uma série de conquistas de liberdade de expressão e corpo começaram  a ganhar espaço a partir dos Estados Unidos. Se no século XIX as mulheres usavam ceroulas que iam até abaixo dos joelhos, o surgimento da lycra e do náilon possibilitou uma série de inovações, o  que permitiu chegar até a um curioso modelo nos anos 90: uma calcinha com bumbum falso, com um enchimento de espuma de nylon de vários tamanhos e modelagens. Adivinhem de onde veio a ideia?


                                              



            Acertaram os que votaram no país do mundo mais especializado  em bumbum (e infelizmente no que sai dele) : o Brasil,  que até então ainda não ganhara oficialmente a copa - do bumbum - mas já caminhava para isso.

            2. A primeira guerra mundial provocou uma revolução no comportamento feminino já que as mulheres passaram a ocupar funções de maior importância na sociedade e de maior liberdade de movimentos. Ou seja, enquanto os maridos se comprimiam nas trincheiras protegendo-se do inimigo suas mulheres espaçavam-se em busca dos ‘amigos’ e haja calcinha querendo ser menor e mais aderente ao corpo. Os seios também adquiriam vontade própria e pediam praticidade e... Olhares. Assim, a partir de 1914 o sutiã foi devidamente reconhecido na América industrial quando foi patenteado pela  socialite nova-iorquina Mary Phelps Jacob. A primeira peça fabricada por ela era feita com dois lenços, um pedaço de fita cor-de-rosa e um pouco de cordão, fazendo com que, diante da incrível novidade, os pedidos proliferassem. Logo a seguir, a fábrica de roupas femininas Warner Brothers Corset Company, comprou a patente mostrando que as patentes pulavam de mão em mão tão depressa quanto os seios.
            Era o inicio da industrialização da lingerie. A partir daí as calcinhas da época passaram a inovar até chegar a um acessório  sensual muito usado na década de 20, a charmosa cinta-liga, imediatamente chamada (do ponto de vista masculino) de sinta-a-liga. O cinema e as casas de espetáculo cuidaram de espalhar, pelo imaginário masculino, o modelo das dançarinas de Charleston que exibiam suas cintas-ligas por baixo das saias de franjas, enquanto se sacudiam ao som frenético de jazz-bands.


                                               




            Veio a recessão e a indústria americana tratou de encontrar uma alternativa mais resistente e barata, quando em 1938 a Du Pont criou o nylon, mudando de vez a história da lingerie. Adeus rendas e bordados! Mas não foi só a matéria-prima que mudou, as mulheres também. A feminilidade passou a ser explorada pela mídia e os anos 50 podem ser considerados fundamentais para a revolução das calcinhas, exibidas no cinema. (Se hoje tem marmanjo que se baba diante do que contêm as calcinhas de Valeska Popozuda ou de Gisele Bundchen imagine o que seriam capazes de fazer, anos atrás, diante das calcinhas de  Sofia Loren ou Marylin Monroe!). Era de fazer qualquer adolescente, futuro cronista ou não, não arredar o pé do cinema para assistir Boccaccio 70 com a mulher mais linda e sensual de todos os tempos (Sofia). Independente do cinema, não raras vezes sempre se dava um jeito para que a peça pudesse ser vista mesmo por debaixo de tantas saias e anáguas. Nos colégios, a cor da calcinha da professora (quando valia a pena) estava mais na ponta da língua dos alunos do que quem descobriu o Brasil. Até chegar aos anos 70.



                                          




            3. No fim da década de 60, o movimento feminista por igualdade de direitos ganhou as ruas. Acabara-se definitivamente a ditadura do recato e do erotismo e o padrão da geração “paz e amor” enaltecia os seios pequenos. As mais radicais até queimavam os sutiãs em público numa demonstração de liberdade. Aliás, bons tempos esses em que para se protestar queimavam-se  sutiãs ao invés de ônibus!

            O comprimento das saias subia pelas coxas das mulheres mais depressa do que o dedão do Ricardão até se transformarem em mini, pelas mãos da estilista Mary Quant, Subia, subia, enquanto inúmeras variações de peças íntimas surgiam e se consolidavam. Transparências, rendas, tecidos mais finos, tangas – não havia mais limites para a moda e a imaginação das estilistas, até que as mulheres resolveram dar um basta nesse sobe-mas-nunca-chega quando, depois de abolir os sutiãs, dispensaram de vez as calcinhas, aparentemente buscando... conforto. Uma imensa geração afirmava já em 1980 que nada usavam por baixo da camiseta ou de seus jeans.



                                           




            4.O desprezo às calcinhas, felizmente, durou pouco.  As mulheres não demoraram a perceber que tanto a calcinha quanto o sutiã eram fundamentais para manter os seios e a sensualidade e logo concluíram que radicalizaram demais ao investir contra as duas peças como sinônimo da opressão. Hoje, a lingerie atual possui duas vertentes, uma mais elaborada adotada para ser vista e feita em tons variados, dos clássicos preto e branco ao rosa, verde água ao azul-claro. A outra, predominando o branco e o preto, é essencialmente básica, com modelos sem costura, feita em tecidos elásticos que não retêm a umidade e são, sobretudo,  “respirantes”.



                               




            Ou seja, independente de qual seja a vertente da fabricação o essencial na busca da perfeição é que o único elemento a ficar sem respiração continue a ser, cada vez mais,  o homem.
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sábado, 5 de dezembro de 2015

CLUBE DAS CHIFRADORAS DO MARANHÃO




MAIS 7 MIL BOIS SAEM DE SÃO LUIS, VIA
PORTO DO ITAQUI, RUMO A VENEZUELA
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SEMANA PASSADA JÁ FORAM 15 mil.





                                              





Frases mais ouvidas no

CLUBE DAS CHIFRADORAS  DE SÃO LUIS


1."“Uma pena que o resto chifrudos que permaneceram na ilha não sejam enviados para a China”.


2." Pelo visto vão acabar com o nosso clube. Pelo andar da carruagem não vai ficar um na ilha."


resposta da colega:





                                                





"Duvido!".


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

NAURO MACHADO, POETA





artigo publicado hoje, quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão

NAURO POETA, POETA  NAURO
Jose Ewerton Neto, autor de O Oficio de matar  suicidas

                Morto Nauro Machado, as declarações em louvor à sua memória não se demoraram em exaltações à sua  obra poética, pois esta, já consolidada e sabida, disso não precisava. Com notável frequência aqui e ali, se preferiu destacar alguns aspectos singulares de sua trajetória de vida, como escritor e, principalmente, como personagem de si mesmo, com toda a refulgente abrangência que, no seu caso, isso lhe propiciou.  
            De todas as excepcionais virtudes de seu talento múltiplo (era também ensaísta e cronista) nenhuma terá se estratificado mais no horizonte da imortalidade do que a de ter sido um poeta na verdadeira acepção da palavra (perdoem-me o clichê ) como hoje em dia já não há. Um autodidata que desde cedo, na juventude, incorporou e escolheu como objetivo maior de sua vida a dedicação ao exercício da poesia em sua totalidade e sem concessões. “A danação divina”,  “a maldição benfazeja”, “ o veneno da tristeza na alegria ou vice-versa”, enfim todas essas imposições que fazem parte do labor cotidiano de quem dedica sua vida a tanger os píncaros da glória, sabendo-se no entanto, torturantemente preso ás amarras de sua sina: essa dedicação solitária do escritor a um ofício que é duro, mas como dura! , como ele muito bem soube destacar em versos  de quem vivia  e sabia do que estava falando.
            E que poucas vezes teve sua tradução artística expressa de forma tão escancarada e sublime como no filme Infernos, de Frederico Machado, seu filho,  quando este conseguiu, com raro talento,  captar todo esse formidável compromisso de um artista (seu pai) para com sua vocação.




                                                    






 Ali estão o poeta andarilho, os livros que amava,  a febril intensidade de sua vocação, a pulsação de seus versos em sua voz, o desapego  às formalidades e às convenções quando em busca de sua liberdade poética,  e a fotografia da incorporação das ruas e luzes da cidade como personagem dessa sua cruzada de forma tal que, em contrapartida acabou se tornando, ele mesmo,  personagem de sua cidade, como destacaram alguns.  Nauro Machado foi magnificamente feito ator de si mesmo nesse   curta metragem tão premiado, evocando em seu roteiro, mesmo sem citação,  os famosos versos de Fernando Pessoa : “O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.” Quem o sucederá?
            Conversávamos, eu e alguns amigos escritores,  sobre essa impossibilidade. Uma plêiade de notáveis poetas continua, graças a Deus, a ritmar a pulsação do coração poético da ilha de forma que, quer queiram quer não, quer insistam em desfigura-la ou não,  esta jamais se dissociará de seu destino de ser a Atenas Brasileira . No entanto,  o formato de alguém transformado em sinônimo da poesia  a ser apontado nas ruas por mendigos, desvalidos, boêmios, intelectuais, ou simplesmente fantasmas do cotidiano, que apontavam a Nauro Machado como se aponta a alguém de quem se percebe a aura de uma significância impalpável , já não existirá mais.



                                                        


                                



            Pois os tempos modernos são plenos de velocidade, instabilidade, fragmentação e disputa pela sobrevivência e de espaço nas ruas e nas redes sociais. A poesia continuará jorrando  nos intervalos dessa azáfama, mas não se espera que se aproprie e se concentre  em determinados indivíduos  motivados a fazer mais que de suas vidas poesia (como fez Rimbaud, por exemplo,  em certa fase de sua existência)  da poesia suas vidas. Como fez Nauro Machado, poeta.
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A FILA ANDA





Artigo publicado hoje, quinta, no jornal
o Estado do Maranhão


Tudo começou quando o pequeno Abel, o filho de Adão e Eva, aproximou-se dos pais para ver aquilo que os dois estavam fazendo. Claro, os dois estavam tão concentrados (ou enlevados, ou seduzidos, ou distraídos) que não atentaram para a curiosidade do menino e, pronto, estava formada a primeira fila humana da qual se tem notícia.




                                              





            De lá para cá as filas tomaram conta de tudo – e de todos. Uma revista científica, este mês, lamenta que em pleno século XXI os homens não tenham inventado para organizarem-se algo melhor do que filas, o que não é de estranhar. Até hoje os humanos ainda não inventaram um equipamento de proteção contra a chuva melhor do que o guarda-chuva ou algo para puxar saco de alguém melhor do que reuniões que, no final das contas, não passam de filas de babacas,  em torno de uma mesa e  um chefe. O certo é que, por costume ou sei lá o quê, de tanto conviverem com as filas, os homens adotaram cada vez mais as mesmas. Brasileiros, em especial.

            Brasileiro adora uma fila! Vive  reclamando , mas adora. Senão, como explicar que se sujeitem a permanecer horas e horas numa fila de loteria, sabendo de antemão que suas chances de ganhar são tão intensamente miseráveis quanto grandiosas são suas chances de estar fazendo papel de idiota para um Governo que lhe explora? Brasileiro gosta tanto de fila, que de algum tempo para cá passou a responder a quem lhe pergunta como vai usando a expressão “A fila anda!”, querendo dar a entender que as coisas estão mudando para melhor.

            Vai gostar de fila assim, na fila do inferno!, 




                                                    






disse-me  um dia  um matemático amigo meu , que , a essas alturas , deve estar enfileirado numa fila de psicopatas. Foi ele que, outro dia, para confirmar a sua teoria da predileção do brasileiro por filas, postou-se em pleno sol de meio dia, no meio da praça Deodoro, olhando fixamente para o sol, com os óculos escuros. Imediatamente, acercou-se alguém para perguntar o que ele estava observando. “Uma fila de sombras querendo entrar no sol”, respondeu, adiantando que aquele seu lugar era o único propício para observar isso.  Quando seus olhos se cansaram, afinal, olhando desta vez para trás, o que viu lhe confirmou a pesquisa: havia mais de cem pessoas querendo desfrutar da mesma informação. Quando se afastou, desnecessário dizer da expressão de agradecimento e vitória daquele que ocupou o seu lugar.

            “O brasileiro só se sente bem se estiver numa fila”, completa. E estas bem que proliferam ao gosto do freguês: fila para deixar criança em colégio; fila de guardador de carro para guardar seu carro; fila de jogo de futebol, fila de bolsa família e fila do ENEM. Evoluíram, aprimoraram-se e tornaram-se pós-modernas. Entre as mais recentes; de filas  de motos nos estacionamentos a filas de motoqueiros estendidos no asfalto;  De filas de bois despachados do Porto do Itaqui a filas de chifrudos que permaneceram na ilha, etc. etc

            Finalizando a sua robusta pesquisa o estudioso amigo meu conseguiu destacar as 3 leis fundamentais da ‘sua’ Teoria das Filas:

            1.A única fila em que pobre chega na frente é de espermatozoide. (Mas ao chegar, já entra na fila dos arrependidos.)




                                                 





            2.O direito das filas geralmente obedece a lei domais forte. Ou do mais rico, ou da mais boazuda.

            3.Nenhum ser humano se livrará da fila. Nem que seja a do seu enterro.
            Até mesmo porque, aí mesmo é que  a fila anda.




                                                





                                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
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