segunda-feira, 30 de maio de 2016

MANUAL PARA MODELO




artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão,
semana passada.


UM MODELO DE GAROTA
            

                Garota de hoje que se preze almeja ser modelo. Mas não um modelo de garota, mas, modelo simplesmente. Como a Gisele Bundchen, como a Yasmin Brunet, como a Camila Queiroz,  da novela Verdades Secretas. Nada de querer ser médica ou cientista, pra isso precisa estudar e ralar ( coisa complicada demais para neurônios imediatistas). Melhor sonhar  ser modelo e, de cima de um salto de 30 cm saltar...rumo ao mundo  e à vida das celebridades.
            Com o propósito de ajuda-las eis algumas dicas:

            1.Uma modelo perfeita tem de ser magra, muito magra. A relação ossos x carne deve ser, de preferência harmoniosa, mas, em caso de briga, os ossos devem sair vitoriosos. Estes (os ossos ), devem se impor com destaque e tudo o que houver acima e ao redor,  como carne, pele, sangue, são perfeitamente  dispensáveis. Nada de gorduras. Numa modelo perfeita a única coisa que pega bem ser gorda é a carteira. Esta sim,  tem de estar sempre recheada.



                                                          





            2.Uma modelo deve ser alta , muito alta, de preferência a perder de vista. Uma mistura  de torre Eiffel com TorreéFeia. O rosto, padronizado e comum a todas, pode ficar em cima do pescoço, mas de preferência alguns centímetros acima do convencional, já que elas terão, obrigatoriamente, de  andar com o rosto empinado. De tão alta sua cabeça não precisa chegar a bater no céu, mas deve ser suficientemente elevada  para que ela  ande nas nuvens.

            3.Uma modelo deve ter intimidade com saltos de todos os tipos, desde os  de sapato aos com vara. A convivência com saltos de sapato é para que ela não se desequilibre em desfile. Já com vara ( não confundir com o esporte olímpico) é para que ela possa praticar mais tarde, de madrugada, depois do desfile, quando todos os desequilíbrios forem bem vindos.
                                              

            4.Além de alta, uma modelo perfeita deve ser o mais esticada possível, mas nada de isso acontecer à custa de exercícios físicos, alongamentos etc. Esticada,  de convencida, vaidosa mesmo. Nada de namorar engenheiro, médico ou  advogado, mas só de jogador de futebol pra cima. Político mensaleiro com conta na Suiça, às vezes até serve. Mas só para as principiantes.

                                                



            5.Falta de bunda é essencial. Uma modelo em busca de perfeição deve evitar nádegas convencionais. No restrito universo das modelos perfeitas a bunda não pode ser completa nem no nome. Gisele que o diga . Em vez de Bundachen, Bundchen, faltando um a.  

            6.Uma modelo perfeita deve ser nova, muito nova, cada vez mais nova. Foi-se o tempo em que elas eram escolhidas em festas de aniversário ou desfilando nos shoppings centers. Agora são requisitadas nos jardins de infância pelos especialistas. Assim como os promissores jogadores de futebol são caçados nos dentes de leite por empresários ambiciosos, as modelos são catadas nos jardins de infância pelos caçadores insaciáveis, ávidos por iniciarem-nas no incrível Mundo Feio das Mulheres Lindas ( leiam livro com esse título,  de Michael Gross)

            7. Uma modelo perfeita deve gostar de ler livros de formação profissional, ou seja, iniciadores  de seu futuro sucesso. Nada de Clarice Lispector ou Virginia Wolf, mas, de preferência 50 tons de cinza, desde que as 50 tonalidades acinzentadas não ocultem as cores  rosas,  do Book Rosa. 

                                               





Sabe o que é isso mamãe da futura modelo? Não? Até parece que você não gosta de novela.
                                                                                   ewerton.neto@hotmail.com

                                               

quarta-feira, 25 de maio de 2016

ELES TÊM MAIS CARA DE...





artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão,


Certo,  eles são famosos,  ricos e  poderosos. Mas a verdade é que têm muito mais cara de...

            1.Suzana Viera. Tem cara de dona de salão de cabeleireiro. 

                                                      



Dessas que para mostrar o potencial artístico do salão trocam de cabelo uma vez por semana e da cor do  mesmo três vezes ao  dia. Cuja relação conjugal é indefinida: pros familiares diz que tem marido, pras amigas diz que tem um namorado. As empregadas juram que ela tem vários gigolôs, porém  só ela mesma sabe que, no fundo,  todas as hipóteses são verdadeiras.

            2.Eduardo Cunha.  Tem cara de despachante do Detran. Desses que andam de um lado pro outro com uma pasta debaixo do braço com ar de sapiência. Por vezes surge, não se sabe como, na mesa do diretor, com os pés em cima da carteira,  falando ao celular e fumando um cigarro. Embora todos o conheçam, o acesso à sua pessoa está reservado aos que têm grana. Neste caso, ele é capaz de debulhar seu problema tintim por tintim antes mesmo de você abrir a boca.  Enfim, ele é o cara!

            3.Dilma Roussef. Tem cara de dona de boate GLS. 


                                            



Dessas que são  difíceis de se enxergar na boate, mesmo que elas não abram mão de controlar tudo. É que existe um lugar estrategicamente reservado para ela num canto, próximo ao balcão e sob  intensa penumbra. Lá ela  permanece, sempre acompanhada do mesmo grupo de parceiras, onde se destaca um gay. Entre todas,  é o que mais se parece com uma mulher.

            4.Michel Temer. Piloto de avião. Desses que a gente descobre,  certo dia,  tomando cafezinho no bar do aeroporto. Desconfia-se que  deva ser algum piloto de avião e é. Que usa uma camisa de branco imaculado e sapatos de bico fino pretos e  lustrosos. Que quando caminha no salão do aeroporto, carregando uma mala, junto a seus parceiros, comissários de bordo, (de onde, para onde?) a arrogância parece querer  insinuar alguma  intimidade com Deus,  de tanto viver perto do céu.

            5.Neymar. Cobrador de Van. Desses que trocam de penteado e de brinco mais depressa do que o  motorista muda de rota. Que nunca têm moeda pra dar de troco e cuja expressão padrão é o olho esquerdo meio fechado e um sorrisinho irônico e benevolente no canto da boca. Serve tanto para que o cliente deixe o troco de gorjeta, como para a primeira garotinha que pintar, exibindo o bumbum apertadinho, através da bermuda curta.

            7.Ivete Sangalo. Lutadora de UFC, prestes a se aposentar. Dessas que adoram falar de sua trajetória de vida, dizendo ter sido jogadora de futebol feminino, bandeirinha, halterofilista e lutadora de UFC, não necessariamente nessa ordem. Dessas que falam grosso e provocam as adversárias. Cujo marido é também lutador de UFC, mas pra ter filho é uma luta! Que quando o marido aparece sorrindo, já se sabe: acabou de apanhar. Da mulher.

            8.Lula. Dono  de borracharia ou mecânica  quebra-galho, de fundo de quintal. 




                                                     





Desses que, de repente, aparecem no meio de pneus velhos, borrachas, pregos e cascas de laranja parecendo terem vindo do banheiro só para perguntar com os olhos: “Tá tudo em ordem?” Que somem no meio da sucata, tão depressa como  chegaram sempre impecavelmente vestidos de camiseta, barriga exagerada, boné e sandálias.  Desses que se orgulham do polegar cortado, no exercício da profissão,  como prova de qualidade: “Cobro mais caro porque o serviço é garantido” E, com metade do dedo em riste: “ Vai que é sua, Mané!”

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

sexta-feira, 20 de maio de 2016

AS PIORES NOTÍCIAS (PODIAM SER PIORES)




COM COMENTÁRIOS DE JUCA POLINCÓ



O POLITICAMENTE INCORRETO

NOTÍCIAS E FRASES DA SEMANA


1.PEDRO PARENTE AFIRMA QUE ACABOU INDICAÇÃO DE POLÍTICOS PARA CARGOS DA PETROBRÁS
Comentário de Juca ( o Polincó, abreviação de politicamente incorreto)
“Só mesmo um Parente, para acabar com essa pouca vergonha de nomeação de Parentes ( e de acólitos de políticos) para cargo público. “

2.MEDO VOLTA ÀS RUAS COM ÔNIBUS QUEIMADOS EM 6 LOCAIS DE SÃO LUIS.
Comentário de Juca Polincó,
“E isso sem incentivo. Já pensou quando a Tocha-Olímpica chegar por  aqui? “

3.VIATURA POLICIAL PEGA FOGO NO BAIRRO DO ANGELIM
(Segundo informações a viatura sofreu uma pane elétrica)
Comentário de Juca
“Não acredito em pane  elétrica. Ou foi por solidariedade aos ônibus queimados ou sentimento de culpa por não ter chegado a tempo de evitar os incêndios.

4. DOIS  ASSALTOS DE ÔNIBUS POR DIA ACONTECEM EM SÃO LUIS
            (Enquanto o incêndio corre à solta,  equipes de policiais fazem blitzes  em cada canto da cidade para pegar cidadãos honestos, mas descuidados , como na saída da Ponte de São Francisco, justamente na hora em que pior é o engarrafamento, nas condições mais degradantes para os trabalhadores).
Comentário de JUCA POLINCÓ, o sábio da periferia
“ Fácil de explicar: é mais fácil um sujeito enfiar  um bafômetro na boca de um cidadão honesto, do que apontar uma arma para um marginal . O risco é abaixo de zero, e há garantia de que vai sair com saúde e, quem sabe,  com grana!”

5.CIDADÃOS LUDOVICENSES PERMANECERAM EM FILAS QUILOMÉTRICAS PARA REGULARIZAR  TÍTULOS DE ELEITOR NO ULTIMO DIA. ( jornal O Estado)
Comentário de JUCA.
“Ludovicense  adora fila, principalmente quando é para dar uma de otário ou ser  roubado.
Dar uma de otário: Penar em fila de Loteria para os outros montarem na grana. Ser roubado: Penar em fila de TER para votar mais tarde no ladrão que vai lhe roubar.

6.ESTE MÊS FORAM APREENDIDOS 63 ANIMAIS , NO TRÂNSITO DA CAPITAL
Comentário de JUCA
“Coitados! Justamente os que não causam nenhum mal. Pior  são os de duas pernas que infestam o mesmo trânsito.”

7.361 PRESOS FORAM  LIBERADOS PARA PASSAR O DIA DAS MÃES EM SUAS CASAS.
JUCA comenta:
“Dos 361 só voltou a metade.  A estas alturas devem  estar escondidos no coração da mãe, (onde sempre cabe mais um), se for a sua própria. Ou então na bolsa que roubaram ( se for a mãe dos outros).


FRASES:
1.Como é que uma mulher inteligente pode ser sexual? Gwyneth Patrow, atriz britânica, expondo seu dilema (revista Conta Mais).
Comentário de JUCA
“Esse dilema é fácil de resolver,  Gwyneth. É só botar a inteligência pra ficar excitada e o sexo pra pensar.”
2.Não existe mais isso de apanhar calada. Vamos gritar nas horas ruins e gemer só na hora boa. ” (Elza Soares, na revista Contigo
JUCA POLINCÓ:

“Até parece que você não  sabe Elza. Na hora boa dá pra gritar , gemer e apanhar, tudo ao mesmo tempo, certo? Já esqueceu ou é a  idade, Elza?”

sábado, 14 de maio de 2016

TÍTULOS DE LIVROS ( e seus mistérios)



artigo publicado quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão

http://www.blogsoestado.com/ewertonneto/wp-admin/post.php?post=46&action=edit

Na primeira vez em que encontrei o escritor Josué Montello, no Rio de Janeiro,  lembro que à vista do livro, que lhe apresentei, comentou: “Tem um título muito bonito”, referindo-se a O menino que via o além.  
            Mais tarde, ele me escreveria uma carta muito gentil afirmando haver gostado do livro, mas não sei se,  de fato, o leu,  já que escritores consagrados e com múltiplos afazeres não têm tempo tão disponível assim para leituras,  tantos são os livros que lhes mandam, à parte os que têm de ler por dever de ofício. Mas não deve ter sido por causa do título, que esse  livro recebeu uma condecoração nesse mesmo ano da FNLIJ Fundação Nacional do livro infanto-juvenil como “altamente recomendado para leituras em escolas de todo o Brasil” e , logo a seguir, teve quinze mil exemplares adquirido pela prefeitura de Belo Horizonte o que provocou da parte da editora uma terceira edição.



                                         





            Não deve ter sido pelo título, mas guardo a convicção de que um bom título sempre ajuda, não? Embora até hoje não tenha ideia conclusiva a respeito do grau de influencia do título, ou  da capa de um  livro, na sedução inicial que se estabelece perante o  leitor, guardo a convicção de que isso encerra mais mistérios ‘do que sonha a vã inteligência humana’.  O que induz a pensar que carece da parte do mercado editorial um estudo mais sério e profundo a respeito desse tema.
            Lembrando que a maioria entra numa livraria hoje quase por descuido, o bom título para impulsionar as vendas seria aquele capaz de cooptar o leitor deixando-o sem alternativa diante de uma atração intransferível. Casos exemplares em livros de autoajuda parecem ter sido elaborados com essa única finalidade. Que alma desprevenida, religiosa ou não, é capaz de resistir a um título do tipo “Jesus, o maior psicólogo que já existiu.”? Existe imaginação mais benfazeja do que aquela que o transporta  para um divã, com Jesus Cristo, ao lado lhe escutando?
            Acertar na mosca, não é tarefa fácil, porém, para alguém que busque a junção do criativo com o impactante, comercialmente falando, sendo, no entanto, isso perfeitamente possível. Títulos óbvios para obras geniais existem às pencas: Romeu e Julieta; Madame Bovary; Os irmãos Karamazov; Tom Jones; e são frequentes nos textos considerados clássicos, eis que  a genialidade do autor, posicionando-se à espreita no que vem pela frente, se basta e se resolve por si.

                                         



 Mas sempre foi possível escrever, também, um grande clássico com nomes pra lá de belos, como Emily Bronte, em O Morro dos ventos uivantes ( realce-se aqui a feliz solução encontrada para a tradução do original Wuthering Heights, tornando-o ainda melhor),  ou Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust.
            Como os gênios da literatura acima citados já não surgem hoje em dia com a mesma profusão, entendo que se deva ter algum cuidado na escolha do nome que se deva dar a um livro, em paralelo à dimensão daquilo que se pretende ter escrito. Certo, muitas vezes o excesso de cuidado redunda em fracassos retumbantes, mas com cuidado - e muita sorte -,  é possível sonhar em um dia alcançar as soluções geniais encontradas por John Fante em Pergunte ao pó; Scott Fitzgerald em Suave é a noite; Carson Mc Cullers em  O Coração é um caçador solitário; ou para não citar só os estrangeiros Olha para o céu, Frederico! de J. Cândido de Carvalho ou o recente O Amor e outros objetos pontiagudos, de Marçal Aquino.  
                                                                                  Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas.

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com


sábado, 7 de maio de 2016

MÃES E BARATAS




artigo publicado no jornal o Estado doMaranhão

http://www.blogsoestado.com/ewertonneto



            O que podem ter em comum mães e  baratas para que alguém as associe justamente no dia em que se pretende homenagear as mães,  se as baratas são animais tão repulsivos,  para elas?
            Imagino que algum dia na vida, cara leitora, você já tenha tentado matar uma barata ou, pelo menos -  se sua coragem não permitiu – haja suplicado  a alguém para isso. Matou mesmo? Ficou  aliviada ao ver aquele pobre cadáver, massacrado a seus pés? Aí é que está. Você jamais deveria ter tanta certeza. Se a jogou logo no lixo para dela se livrar, perdeu a oportunidade de vê-la voltar a caminhar lentamente, estraçalhada, ensanguentada e débil, mas, sobrevivente. Será que esses asquerosos animais ressuscitam? Quase isso.
            Sim, minha amiga, uma barata é dura de matar e possui razões físicas para tanto. Enquanto um ser humano aguenta 12 vezes a força de gravidade da Terra, as baratas suportam 126 vezes. 

                                           




Elas possuem antenas que servem como sensores, visão noturna para enxergar com pouca luminosidade e um design corporal, digamos assim, semelhante à blindagem dos tanques de guerra, uma carapaça que protege todos os órgãos do corpo. Portanto, nem Mike Tyson em sua plenitude física, ou qualquer outro homem, com técnica e táticas de UFC, etc. daria sequer para a saída contra uma barata que tivesse, pelo menos, a metade do seu tamanho. Baratas, enfim, são capazes de resistir às  hecatombes mais avassaladoras e, em seus túneis e esgotos, ou subterrâneas valas por onde caminham no avesso da noite humana, estarão certamente ao final dos tempos, vitoriosas, esperando o surgimento de uma nova era.
            Resistência igual ou maior que as das baratas, caros leitores, só a das mulheres, especialmente  quando mães.
            Ninguém mais que as mães merece o epíteto de ‘duras de matar’. Mãe resiste a nove meses de parto, nove anos de abandono,  nove décadas de vida e nove séculos de ingratidão. Mãe carrega durante meses um corpo na barriga, durante anos uma criança nos braços e, pelo resto da vida as preocupações do lar. Mãe resiste a tudo: a pancada de sol, de chuva, de bandido, e de marido. Mãe se acostumou a sublimar as próprias dores e as dos filhos, que multiplica por mil. Mãe trabalha fora e dentro de casa. Mãe não descansa. Quando se diz ‘fulana de tal acaba de descansar’, aí é que começa o trabalho. Mãe não tem tempo para si, mas tem para todo mundo. Mãe é dura de matar, e sequer dura é. Pelo contrário, é suave, mas se resiste tanto só pode ser  porque não há quem consiga dobrar suavidade e ternura.
            Só que, ao contrário das baratas, nada lhe foi doado pela natureza para ter tanta resistência. Não tem carapaças, nem antenas, nem visão noturna. Não tem feromônios , nem cercis ( pelos que medindo o movimento do ar em volta, permitem detectar o inimigo). Sequer têm patas resistentes. Por que consegue, mesmo doente e enfraquecida, atender os filhos? Como consegue, no escuro, perceber a ansiedade de suas crianças? Como adivinha que em algum lugar do mundo um filho seu está precisando de ajuda?


                                                    



            Ah, sim, mãe tem também um coração imenso, do qual vulgarmente se diz que sempre cabe mais um. Deve ser esse coração tão branco -  pela esperança e pela pureza de alma -,  que lhe dá essa formidável resistência: afinal, só mãe tem um coração de mãe.
                                                           “A todas as mães, e em memória da minha.”

                                                           ewerton.neto@hotmail.com

terça-feira, 3 de maio de 2016

BELA, RECATADA, DO LAR E...PC




http://www.blogsoestado.com/ewertonneto/


“Bela, recatada e do lar”. Nenhuma frase ‘bombou’ na net nos últimos quinze dias mais do que essa. Bastou a revista Veja qualificar a eventual futura primeira dama da Nação, Marcela Temer, com essa expressão para que o tom calhorda e sub-reptício da frase fosse denunciado em postagens e fotos na mídia virtual. Poucas vezes o que há de mais abjeto por detrás do politicamente correto (P.C.) foi tão combatido e  execrado.
            O sentimento de todos diante do fato pode ser resumido através de uma equação simples.
            “Bela, recatada e do lar” =/ ou Politicamente Correto =/ ou O que há de mais oportunista na intenção dos manipuladores.

            Se é fácil entendemos a tentativa de manipulação na frase “Bela, recatada e do lar”, é justo que nos lembremos do que seria mesmo esse P.C, eis que muitos douram o uso da expressão para que não se alcance seu real sentido.
            Encontramos no google que “Politicamente correto é atuar no processo político de forma a atender todas as demandas legais ligadas a esse processo, sendo ainda honesto, íntegro e socialmente  responsável”. Ora, isso deveria ser sempre válido para cidadãos comuns e para políticos,  mas sob o empuxo da corrupção desenfreada que reina em nosso país o que poderia ser  P.C.  no seu sentido original, quase sempre carrega uma intenção sorrateira por detrás. No caso de Marcela Temer parece claro que essa intenção sorrateira era a de promover uma onda de simpatia antecipada à futura primeira dama da Nação, para tornar menos espinhosos os caminhos do novo presidente. Enfim, para que o fato (politicamente incorreto) de o presidente da república ter casado com uma mulher trinta anos mais nova não redundasse, para ambos, em um prejuízo de simpatia.
            É fácil confirmar que cada palavra dessa expressão tem a sua dose de P.C.  à sua maneira.
            Bela, ali colocada para provocar uma onda de simpatia  que os naturalmente belos têm. Num país com vocação para o narcisismo sem causa é, também, uma forma de exorcizar a eterna sensação de que ainda somos um país de pobres e mal ajambrados.
            Recatada, palavra posta ali para espantar o clichê definitivo da Marcela- aventureira,  estigma que carregam todas as que se aproximam de velhos com mais do dobro de sua idade, como é o caso de Michel Temer.           
            Finalmente, o “do lar” retirado a fórceps do reino das palavras, expressão que, de tão antiquada, torna notório o recurso à desfaçatez e à hipocrisia.
            Contra o politicamente correto do termo, ribombaram as reações, quase sempre simpáticas e brincalhonas de celebridades que não costumam se  disponibilizarem para tal. 

                                           



Fico pensando em como seria salutar se todos nos insurgíssemos, de vez em quando,  contra tantas obrigações politicamente corretas que nos impõem por trás das verdadeiras intenções, que são as de se locupletarem com nosso dinheiro: Blitzes da lei seca, em horários incômodos e degradantes para o trabalhador,  cuja única explicação por trás dessa forma de atuação  é a de extorsão; a obrigatoriedade do voto; o falso patriotismo que acabou degenerando em um dos  mais hipócritas costumes impostos a um cidadão: a obrigatoriedade da cantoria do hino nacional em qualquer joguinho de futebol etc.etc.
            “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas” no dizer de Samuel Johnson. O “politicamente correto”, também, da forma com que é  exercido hoje é, não apenas um refúgio para canalhas, mas uma fortaleza.  Que o “Bela, recatada e do lar” não seja, por sua vez,  o primeiro dos refúgios  pretendidos pelos que pretendem se aboletar  no palácio da Alvorada.  
Autor de O ABC nem humorado de São Luís
ewerton.neto@hotmail.com