domingo, 23 de outubro de 2016

BOB DYLAN VENCEDOR (ou o prêmio que queria um prêmio)



(Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas)
artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão


A recente premiação do Nobel de literatura para Bob Dylan, poeta e músico (porém, mais músico que poeta)  indignou muita gente no meio intelectual e provocou um daqueles debates sem solução a que já estamos acostumados, em outros temas. Neste  caso: até que ponto um prêmio de literatura deve ser exclusivo de quem pratica a literatura através da escrita de livros?
            Alguns elementos para o debate:

            1.Bob Dylan tem tal envergadura como ícone da cultura universal  do final do século passado que não vale a pena esmiuçar sua biografia à cata de referências que o credenciem como artista. É desses talentos que, surgindo raramente, conseguem aglutinar multidões em torno de seu brilho, e conseguem cintilar, mesmo num céu já polvilhado de estrelas.

            2. Seu talento musical, no entanto,  é de tal  forma exuberante que limita a compreensão do seu alcance literário e esse parece ser o xis da questão. Como dissociar uma coisa da outra? Se a concessão de um prêmio é, por natureza,  competitiva, deveria ser elementar que todos pudessem disputa-lo em igualdade de condições. Ora, soa como covardia para com os demais poetas do mundo ( que escrevam apenas livros) que um deles possa concorrer  a um prêmio literário à reboque das músicas que canta, e das fascinações que suscitou a partir disso.

            3. Parece oculto a tanta gente que discordou da escolha, o fato de  que a literatura sai ganhando com a eleição de Dylan de uma forma sutil, porém mais explícita do que aparenta à primeira vista.  Sim, a velha Literatura sai dos debates irradiando mais uma vez a sua notável abrangência  e sua face universal ( principalmente para os que disso ousam duvidar) de maior de todas as artes.  Só mesmo a Mãe  Literatura, poderia encampar , sob debates, ou não , um divo de outra arte, colocando- o  premiado sim, mas como um refugiado,  sob seu manto.  
                                                  
                                    

            4.A atribuição do Prêmio de Literatura para Dylan (sendo ele estranho no ninho ) nada tem de  inovadora, inusitada, sequer original. Aqui mesmo, no Brasil, escritores e críticos literários que se escandalizaram  com a escolha do músico, aceitam naturalmente que Chico Buarque de Holanda, por exemplo, seja concorrente a prêmios literários e os vença , sem mérito literário, certamente porque pesa na concessão do prêmio, a densidade de seus títulos  oriundos da música . No caso de Dylan há uma diferença. O norte- americano jamais se propagou  escritor ou poeta, como fez Chico Buarque . Não foi ele quem procurou o Nobel, mas, o vice-versa que aconteceu.

            Dito isso, os argumentos contra e a favor de Dylan/Nobel,  se exaustivamente discutidos, apenas escondem  o aspecto mais danoso dessa problemática. Até que ponto hoje se fazem prêmios para...premiar o prêmio? Seja na Suécia, no Brasil ou em Portugal? Quantos dos prêmios imerecidamente ganhos por Chico Buarque, Gabriel Pensador e outros aconteceram apenas por que, hoje em dia, não se fazem mais prêmios para premiar o escritor, mas escolhe-se alguém famoso para engradecer o prêmio?
            Neste sentido, o maior dos prêmios, conhecidos, o Nobel apenas se tornou mais uma vítima dessa doença típica da modernidade: a de querer aparecer - como diria o caboclo. E escolheu para isso (maquiavelicamente, diga-se de passagem) alguém acima de qualquer suspeita: o grande Bob Dylan.

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

terça-feira, 18 de outubro de 2016

ADOLESCENTE VIROU ROBÔZINHO




MAIS NOTÍCIAS DA SEMANA COM COMENTÁRIOS
de Juca Polincó ( o filósofo politicamente incorreto da periferia)



1.Os cientistas David, Duncan e Michael ganharam o prêmio Nobel 2016 de Física há poucos dias investigando o estado exótico da matéria.
Comentário de Juca:

"Imagine o impacto para seus estudos quando virem a foto do rosto de Ludmila após a cirurgia que fez. Agora vão ter que evoluir para estudar a transição da matéria para estados super-exóticos!"



2.Cláudia Leite disse em programa de tevê que rasgou calça dançando KUDURO
comentário de Juca:

" Bem melhor do que rasgar o KU dançando PDURO , certo, Cláudia? Ou não?"



3. Mulher Melão provou que tem palavra. Na noite da última quinta-feira (13), Renata Frisson, resolveu cumprir a promessa feita aos torcedores rubro negros e postou uma foto como veio ao mundo, em seu perfil no Snapchat. A regra era tirar uma peça pra cada gol.
Comentário de Juca:

"Mulher de palavra ( e de bunda solta ) é essa daí . O problema é que se ela for esperar cada gol  de Leandro Damião e Guerreiro pra  tirar uma peça , vai morrer de bunda frustrada por não poder exibi-la. Será que, como dizem os rivais palmeirenses, vai precisar pedir ajuda da Rede Globo pro Flamengo fazer gol e ela poder mostrar a bunda?"

domingo, 9 de outubro de 2016

NO MARANHÃO SE FALA ASSIM




artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão


Aqui se fala assim. Ou se falava? Dia virá ( e não falta muito) em que do Oiapoque ao Chuí só haverá uma fala, sem a riqueza idiomática peculiar a cada região do país.  E essa fala será em uníssono, repetição das asneiras que se repetem na Tevê: no maneirismo dos apresentadores, nos tiques das celebridades das novelas, uma coisa só.  
                Bem, o que ainda se fala por aqui estará na reedição de O ABC bem humorado de São Luís, ainda  uma vez explorando sua provável origem risível.

                BICA. Torneira.
                O maranhense chama torneira de bica porque num estado com tanta abundância de água de chuva, o fato de as torneiras viverem secas só tem uma explicação. Para muita gente, o negócio de água virou bico.

                PEGADOR. Brincadeira de esconde-esconde. Originalmente, de crianças.
                A brincadeira adquiriu esse nome por aqui porque o garoto, futuro ‘pegador’, começa sua futura vocação de Don Juan se escondendo com as meninas, sabe-se lá onde.

                JUÇARA. Açaí
                O maranhense chama açaí de juçara porque lembra uma crioula com esse nome, suculenta, gostosa e que vai lhe dar muita força e algo mais.

                ATRACA. Diadema ou tiara.
                O que lá fora é chamado de diadema ou tiara ganhou por aqui o nome de atraca, porque, antigamente,  os marinheiros quando aportavam no Desterro  doavam tiaras para as meninas da Rua 28, (zona do baixo meretrício) com o objetivo, pré-anunciado, de atracá-las.

                RI-RI. Fecho éclair, zíper.
                O maranhense chama zíper de ri-ri porque, via de  regra, quando ele abre o de sua parceira e ri de felicidade. Depois é a vez de ela rir, quando abre, por sua vez,  o dele.

                                         




                BANHAR. Tomar banho.
                O maranhense diz banhar ao invés de tomar banho porque, ao contrário dos que aqui chegaram tentando impor a fala “tomar banho”, não está tomando o banho de ninguém, aqui chove o suficiente, não há razão para isso.

                BALDIAR. Vomitar
                O maranhense diz baldiar ao invés de vomitar porque no carnaval de antigamente ( quando o daqui era o terceiro do Brasil) ao chegar na quarta-feira de cinzas estava tão bêbado que na hora de vomitar confundia o penico com um balde. 
               
                PEGAR CORDA. Ficar zangado.
                O maranhense , quando está zangado diz até hoje que está pegando corda porque na época da escravidão quando o feitor se zangava , bastava ameaçar os escravos: “Já tô pegando a corda!”

                DIZENDO. Algo está ‘Dizendo’, quando dá uma impressão muito positiva.         
                O maranhense julga que uma coisa espetacular está dizendo por que certas bocas gostosas  (mudas e não oficiais, de sua parceira ) no seu entender, só faltam falar, e dizem mais que se pudessem.  

                CINTURÃO. Cinto grande.
                O maranhense chama cinto de cinturão porque quando as crianças apanhavam de cinto,  a dor era tanta que viam tudo no aumentativo. Não parecia cinto, mas um cinturão.

                HEIN-HEIN. Concordância, negação. Fala-se com a voz anasalada.
                Essa expressão típica maranhense tanto pode significar sim como não. Até hoje, as grandes decisões administrativas maranhenses são tomadas desse jeito. Daí...  nosso  caos organizacional .  Antigamente, durante o casamento,  tanto o noivo como a futura esposa diziam Hein Hein, ao invés de sim ou não, quando o padre perguntava. Acontece que ao sair logo depois, atrás da virgindade da esposa,  o marido, atônito perguntava “Hein? Onde?” Ela respondia Hein, Hein, confirmando que havia acabado de surgir um corno novo na praça .

                                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

domingo, 2 de outubro de 2016

A FRASE MAIS FEIA DO MUNDO




artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão

http://www.blogsoestado.com/ewertonneto/

Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas

            De vez em quando, alguém que pretende se colocar num patamar superior,  de onde possa contemplar abaixo pessoas, a seu ver, carentes de atributos físicos, comenta: “Que me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental”.
            E para isso se socorre dessa  frase,  do poeta Vinícius de Moraes que, de tão repetida, virou clichê, sem se dar conta de que, ao pronunciá-la, se torna tristemente feio (dessa feiura que se apropria daquele  que  não sabe o que diz), fazendo  com que outro alguém, atentando à sua figura , constate  estar diante de um paradoxo: “Como um sujeito feio desses tem a coragem de criticar as mulheres feias?”.



                                            



            Neste ponto cessa a incoerência para imporem-se a pretensão e o oportunismo. O repetidor  ‘aluga’  o talento de Vinícius de Moraes para doar-se a aura de sapiência e infalibilidade, justificando-se, nas entrelinhas : “Não sou eu quem estou achincalhando uma grande parte das mulheres, mas o poeta. As feias que me perdoem”.
            Como se um grande artista, como Vinícius de Moraes,  não pudesse ter criado uma frase, no caso um verso,  indigno de si.  No plano  sentimental a expressão não faz jus, sequer,  à sua fama de mulherengo e apreciador de mulheres . Isto porque um grande amante e conquistador (leiam livros que esclareçam  a psique do Don Juan, especialmente o romance Casanova de Andrew Miller) ama todas as mulheres e não apenas uma. A mulher que um homem galante privilegia  tem na beleza física apenas um detalhe,  porque ela é a representação de todo o  gênero feminino em uma só. Esse é o seu dom. Não há na boca do verdadeiro conquistador  palavras de desprezo a  um determinado contingente das mulheres, só elogios.
            Se no plano sentimental é frase é infeliz, no plano poético é mais ainda, porque “O que é mesmo a beleza?” A interpretação corrente é a de que o poeta, mesmo se referindo à beleza de forma abrangente ao direcioná-la ao universo feminino usou-a de forma limitadora e intencional.
            E, depois, o que o credenciava a falar das mulheres com tal autoridade? Em que medida as mulheres do mundo, supostamente desprovidas de encanto,  foram atingidas por seu insulto a ponto de ser necessário pedir perdão ? Não sendo isso suficiente, há de se acrescentar ao ato falho  mais um ingrediente : a arrogância, já que no conteúdo da frase há um desprezo machista à todas mulheres, não somente às feias (que só as muito ingênuas não conseguem alcançar). 

                                       




  
            Justamente porque a beleza é esse dom praticamente indefinível que não está ao alcance da interpretação de qualquer um. Que existe de mais belo do que as  mulheres de rostos ovalados e com os olhos vazados do pintor  Modigliani? E, no entanto, para o entendimento de muita gente são expressões de feiura  e não de beleza. Evidente que Vinícius de Moraes, um grande poeta,  devia saber disso. Presumir o contrário seria desqualifica-lo como homem sensível e como um apreciador do sexo feminino.
             Falha pior que a do  poeta,  no entanto, cometem aqueles que,  sequer tendo a preocupação de serem originais,  repetem a frase  à exaustão, tornando-se cada vez mais parecidos com o que vivem repetindo: uma grande besteira!

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com