artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
O que dizer
de alguém que, de si mesma, diz que tem
um talento absurdo? ( Suzana Vieira, atriz, durante o Carnaval referindo-se à
Ivete Sangalo e a si própria: “ Entra ano sai ano e Ivete continua com aquela
voz incrível e eu com meu talento absurdo”). Tanta pretensão torna difícil encontrar
uma palavra que expresse o exagero do que foi dito em relação à cantora baiana e
o “absurdíssimo” em relação a si mesma.
Qual a palavra mais apropriada, então, para esse tipo de fala/atitude: Arrogante, Iludida, Tola ou...?
Óbvio que não há termo adequado - o buraco é mais
embaixo -, mas alguém poderia tentar explicar tanto descalabro argumentando que
as pessoas perderam o senso e, na ânsia
de promoverem o ego em polvorosa, elogiam-se
antes que outros o façam, mas isso não
vem ao caso. O que acontece é que, se pensarmos bem, de repente, faltaram as
palavras. Ou, por outra, as palavras existem,
mas já não são suficientes, como se estivessem cansadas das pessoas, que se
tornaram cada vez mais risíveis, grotescas e distantes da semântica original que introduziram nos símbolos para
classificarem a si próprios. Teriam as palavras se enfraquecido a ponto de
perder o significado diante da hipocrisia com que os seres humanos investem em si mesmos?
Isso fica evidente quando se tenta
encontrar um termo que classifique os políticos que, diante de uma acusação
comprovada (na lava-jato, por exemplo) negam a acusação apesar das provas
cabais. Dizem “Não sei” com a mesma facilidade com que disseram sim à ambição
desmedida, chegando ao cúmulo de, no caso de Henrique Eduardo Alves, insistir em
falar que não sabe de onde surgiram 800
mil dólares depositados em sua conta. E, como fingem não se dar conta da
realidade, fingem também não ter consciência
do crime que praticaram ( que é da mesma envergadura que a de assassinos cruéis
porque, metendo a mão no dinheiro que seria usado para salvar vidas (saúde) ou
solucionar futuros (educação), igualam-se
a eles). Diante de tanta negação alguém exclamaria: É muita cara de pau!
Mas, cara de pau, apenas? A
expressão, agora débil em sua representação, surge inesperadamente vã diante do
cinismo da atitude. Como encontrar um termo capaz de dimensionar um tipo que
age assim? Insensível! Torpe! Corrupto? Qualquer um, vá lá!. Por insuficiência um deles poderia até
quase se encaixar, mas uma coisa é certa: a palavra CORRUPTO!, essa eles tiram de letra!.
A julgar pela reação de alguns dos acusados da
lava-jato, poucos se constrangem com isso, pelo contrário, para eles tanto faz serem
acusados de Corruptos como ganharem apelidos degradantes e pouco sutis da Odebrecht.
No submundo de seus desejos inconfessáveis vai ver que Corrupto lhes soa até bem,
como um cognome afetuoso. Talvez se cumprimentem assim, convivam assim, quem
sabe de noite na cama suas mulheres os tratem por COCÓ (abreviação carinhosa de
corrupto) e, em meio ao êxtase por haverem chegado a esse ponto, do alto de suas canalhices deem até gargalhadas de desprezo aos que querem
prendê-los, como Sérgio Moro.
Suas o quê? Canalhices?! Ora, canalhice
também soa amena e insuficiente. Pobres das palavras! Perderam para a desfaçatez
humana.
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