domingo, 4 de junho de 2017

INTRODUÇÃO À TEORIA DO NADA SEI





artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, quinta-feira

Tudo indica que o Não sei começou milionésimos de segundos após Deus ter criado o Universo. Inquirido por si mesmo (Deus é pai e filho ao mesmo tempo)  sobre qual a  razão  de ter feito isso ele, sentindo-se culpado e já com remorso,  respondeu: “Não sei”.



                                  





            E foi assim que o “Não sei” começou sua grande trajetória. Toda a matéria em expansão a partir do big-bang (átomos se chocando entre si sem saber por que) reproduzia,  em pensamento, claro, as primeiras palavras sentenciadas pelo Todo Poderoso. Os átomos em revolução, nem precisavam falar  para deixar a entender que estavam movidos de agora em diante pela Lei do Não sei. Por que vocês estão se expandindo? “Não sei”. Onde e quando isso vai parar? “Não sei”.
            E assim o Não sei passou a conduzir todas as ações do Universo através do tempo. A dúvida, não a certeza, comandava as realizações, se é que podemos chamar assim. Quando 12 bilhões e muitos  milhões de anos  depois, os ancestrais dos homens começaram a se formar (parecidos a chimpanzés, num planeta minúsculo de uma galáxia desprezível)  algo, ou alguém, quis saber de Deus porque ele havia cometido o desperdício de deixar nascer esses seres insignificantes, dando-lhes  a capacidade de pensar. Deus teria respondido: “Para ter alguém que  pense e fale Não sei, como eu naquele dia. Por vingança, talvez”  Enfim, Deus precisava de alguém para dividir sua culpa original.
            E assim de Não sei em Não sei,  os homens e o Universo chegaram  até hoje. Cerca de 2500 anos atrás, Confúcio, um humano que pensava um pouquinho mais  que os outros, resumiu em poucas palavras a arquitetura desse dilema divino, que se tornou humano : “Quanto mais sei , mais sei que nada sei.”
            Dizem que Deus teria ficado muito satisfeito com o resumo de Confúcio.  

            2. Ninguém poderia imaginar, porém, que, algum tempo depois,  neste século de 2000 d.c.  o Não sei viesse a se alastrar como epidemia num país chamado Brasil, o país do lava-jato, a ponto de ser a expressão mais repetida pelas autoridades  que o dirigem. É Não Sei pra cá, Não sei pra lá, a cada pergunta da Justiça, parecendo que os políticos, só sabem  conjugar o verbo saber da seguinte maneira: Eu não sei, tu sabes , ele sabe, nós sabemos, vós sabeis eles sabem. Ou seja, todo mundo sabe que eles sabem, só eles não. Ora, que impacto tem isso para a teoria?




                                  





            Tudo indica  que o Não sei da dúvida,  que se iniciou divina e universal aos poucos se tornou  existencial e humana, evoluiu,  e se transformou no  Não Sei do cinismo e da desfaçatez . Só assim se  explica que alguém que receba um meliante em sua casa (ou palácio) dez horas da noite, ou então se aposse de uma mala de dinheiro, ou então se apodere de um sítio,  com gravações, vídeos, e testemunhas comprovando o crime, tenha o desplante de dizer,  com a maior cara de pau,  que não sabe e não viu o que aconteceu.
            Pobre Confúcio, pobre Deus! Os  brasileiros, sem conseguir corromper a realidade, corromperam o Não sei original a ponto de transformarem a sábia frase de Confúcio “Quanto mais sei, mais sei que nada sei” em: “ Quanto mais eu sei que sei, mais minto que nada sei ”  

            Deus não deve estar nada satisfeito.   

José Ewerton Neto é autor de O oficio de matar suicidas

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