artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
AS COISAS
BELAS DA JUVENTUDE
José Ewerton
Neto, autor de O oficio de matar suicidas
A liberdade é a maior de todas as
ilusões, dizia Herman Hesse. O narrador de um de meus contos finaliza sua
narrativa dizendo que a juventude é a
maior de todas as liberdades. Admitindo que ambos estejam certos, a juventude
seria a maior de todas as ilusões.
E, por ser justamente a juventude a expressão mais comovente dessa necessária
ilusão da liberdade, confesso que sempre me incomodei com a literatice imposta aos jovens , nas
escolas, através dos livros que lhes são intimados a ler. Acontece que, a meu ver, a propagação do
hábito da leitura não se promove através da obrigação, mas pelo prazer.
Considerando que cabe ao mestre orientar seus
alunos no rumo da melhor escolha, o
ideal seria que se concedessem
alternativas aos clássicos que estes considerarem chatos (e isso acontece até
para quem tem “estrada” intelectual). Vejo
como opções mesmo os best-sellers (por
que não?) quando são capazes de condensar o propósito maior da literatura que é
de oferecer prazer e reflexão através de uma boa escrita.
Como apreciador do bildungsroman (
romance de formação) vez por outra saio à cata, nos sebos, de alguma ‘pérola’. Se
não é possível, a qualquer hora,
descobrir um O Apanhador no Campo de
Centeio, consigo encontrar, porém, gratas surpresas:
1.Gosto de você assim. Romance de Francesco Gungui, autor italiano, tornou-se best-seller
internacional. Para introdução ao seu
conteúdo bastam algumas falas de sua
personagem central, Alice: “As conversas de sempre, as palavras de sempre. O
seu futuro antes de tudo, você tem que fazer, você tem que entender...Mas por
quê? Por que tenho que encontrar um futuro ? Por que tenho que ler livros de
que eu não gosto?” .
Este resumo das inquietações e
perplexidades de uma jovem reprovada na escola dizem mais do que qualquer
crítica literária, inclusive tangenciando o assunto do início desta crônica.
Uma leitura insinuante e agradável que traz uma curiosidade: um poema da
escritora gaúcha Martha Medeiros, introduzido por um dos personagens.
2.Simon vs. A agenda homo sapiens. Romance cujo título pouco convencional desperta a atenção para uma
jornada que faz jus ao título. A troca de e.mails entre dois jovens que se
desconhecem substitui a tradição literária dos romances epistolares para uma
linguagem adaptada às novas gerações, explorando uma linguagem idem, inserida
numa simbologia que traduz as ansiedades típicas de uma geração.
Dessa forma a autora contorna a
densidade de um tema tradicionalmente opressivo como a homossexualidade para
inseri-lo no contexto da naturalidade e ironia com que os jovens o
observam. Por assim dizer a autora
higieniza o tema, mas não o desqualifica ou o sublima mantendo o fio condutor
da trama em torno do mistério trazido pela identificação dos personagens
envolvidos.
3. O Limão. Romance que talvez seja o mais literariamente valioso dos
três. Deparando-me, agora, com a exiguidade
deste espaço, direi, resumindo, que o encontrei no sebo do Poeme- se e que minha
curiosidade foi despertada, também, quando vi o nome do tradutor, o político e
jornalista Carlos Lacerda. Resgatado pelo escritor Paul Bowles de um contador
de histórias árabe, o texto já
instigante pelo ambiente exótico e bizarro, torna-se sobremaneira envolvente
quando os diálogos reproduzem, no mesmo diapasão, igual atmosfera mágica.
José Ewerton Neto é autor de o oficio de matar suicidas
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