artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Tempos atrás
nas rodas de estudantes, quando se tornava difícil elucidar uma confusão a respeito de
determinado tema, alguém dizia ironicamente: “Não confunda a obra de arte do
mestre Picasso com a p... de aço do mestre obra”, ou então “ O buraco do lavrador Chico do Funrural com o
Funeral do lavrador de Chico Buarque. E encerrava-se a questão.
Que não se confunda também (nestes
tempos de confusão) Contracultura com
Contra a Cultura. Contracultura é
um movimento que teve seu auge na década de 1960, quando teve lugar um estilo
de mobilização e contestação cultural, através do qual os jovens tangenciavam o antissocial aos olhos das famílias mais
conservadoras . Contra a
Cultura, por seu lado, é algo muito mais danoso, pernicioso e chega a ser perverso se praticado por
autoridades que não possuem, sequer para justifica-los, o arroubo demolidor dos jovens. Como, por exemplo, entre outras coisas, desconsiderar
o papel cultural desempenhado por bancas de revistas e livros.
Bancas de revista , como todo mundo
sabe, são aquelas mini lojas que parecem ter vida própria e que se disponibilizam
nas avenidas e centros das aglomerações urbanas para dar uma mãozinha ao
cidadão quando este menos espera, afogueado
sob a tensão do trânsito. Uma revista aqui, outra ali, um livro, mapa, crédito
para celular, ou, simplesmente para prestar uma informação adicional. Enfim, um
braço amigo na selva de pedra da cidade grande.
Dá para acreditar que exista
quem se insurja contra elas, as bancas?
Difícil, mas um amigo meu, dono de
uma banca de revista na Praça Deodoro,
sugere que sim. Que incrustados na tecnocracia administrativa desta cidade devem
existir pessoas que expressam esse ponto de vista, justamente entre os que comandam as obras que visam o bem-estar
da população. Segundo ele, à vista de uma reforma (que todos julgamos necessária)
a ser iniciada nessa bela praça, há o planejamento de retirar as bancas de
revistas do logradouro, negando aos seus proprietários a expectativa do devido – e necessário - retorno. E, por uma razão que espanta: as bancas seriam incompatíveis com o layout e o ambiente
desejado para a praça por serem estruturas
anacrônicas, incoerentes com o design moderno das metrópoles.
Ora, como tal argumento não se sustenta
diante da realidade, facilmente constatável, que se vê em outros países e outras
grandes capitais do país, como na Avenida Paulista em SP ( onde o que não falta
é banca de revista), subtende-se razões de
idiossincrasia pessoal: enfim de “contra a cultura” caso essa ideia venha a prevalecer por aqui.
Jorge Luís Borges, o escritor
argentino dizia que certas ideias, de tão absurdas eram “ como aceitar a presença de um estranho
na cabeceira da minha mente.” Pegando carona na sua frase, todas as ideias que se insurgem contra a cultura , sua disseminação e
propagação, também assim se parecem: com
um assaltante, um invasor, ou um sequestrador a se instalar na cabeceira
de nossa mente. No caso, alguém com a intenção de violentar um bem precioso que esta cidade possui e que através
da comercialização e divulgação do trabalho impresso, tornou-se mais uma das
sentinelas do áureo passado de feitos conquistados pela literatura local.
Que esses vultos sombrios sejam definitivamente
afastados das mentes das autoridades que nos comandam.
José Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de lendas
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