segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

VOCE TEM QUE SER FELIZ

VOCÊ TEM QUE SER FELIZ!


“Mais importante que a felicidade é a alegria de estar aqui na terra para esta aventura efêmera.” Pascal Bruckner


Jose Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




1. Agora é obrigatório: você, cidadão brasileiro vai ter que ser feliz, quer queira quer não, possa ou não possa.
A intimação, digamos assim, partiu do senador Cristovam Buarque. Ele é o autor do projeto de transformar em decreto-lei a obrigatoriedade de todo indivíduo que mora no Brasil ser feliz. O que vão fazer para que isso aconteça não explicou direito mas, como sempre acontece diante uma nova lei por eles inventada, o mais seguro é se proteger de “tanta felicidade” que virá por aí com a garantia do governo. Em outras palavras: ou você arreganha os dentes, ou está condenado a receber nos costados uma bolsa-felicidade.

2. Podemos imaginar, baseado no que acontece no trânsito, e no oportunismo com que os caixas dos governos usufruem das punições aos infratores, o que poderá lhe acontecer se continuar “infeliz”, triste cidadão. Será multado? Ficará proibido de torcer pelos times da segundona ( sintoma universal de infelicidade nacional), irá para a cadeia? O certo é que, depois de lhe doar uma “felicidade obrigatória”, pelo andar da carruagem o governo não deixará de lhe extorquir mais algumas metades de salários-mínimos, sob a presunção de que se você não vive feliz com tudo o que o governo lhe oferece é porque você não passa de um sujeito nocivo à sociedade.
Quem sabe inventem, como inventaram no trânsito, uma “barreira eletrônica” dos sentimentos, ou seja, alguma forma de medir o seu grau de felicidade. Para tanto poderiam pedir socorro ao governo da Inglaterra, onde, por lá, conseguiram chegar a uma fórmula bem britânica de aferir a felicidade, onde entram coisas como a satisfação com os impostos, a qualidade do ar que se respira, a vontade de distribuir porrada depois dos jogos de futebol quando o time perde, ou escutar os Beatles, dando graças à rainha. .
No Brasil poderiam tirar uma média de felicidade baseada nos milhares de cedês de forró escutados durante o mês ( quer você queira quer não) , as vezes, por dia, em que não se morreu de bala perdida , as ocasiões em que o juiz de futebol roubou para os nossos Flamengo e Coríntians, e a largura do sorriso de idiota diante de uma foto da bunda da Mulher Melancia.
Felicidade Padrão Brasileira definida ( Mangabeira Unger e Chico Buarque poderiam ajudar nisso) se estaria a meio caminho andado para instituir mais uma informação obrigatória na carteira de identidade: grau de felicidade. As gradações feliz, meio infeliz, ou quase infeliz ficariam por conta das oportunidades em que não se foi extorquido por um radar, uma barreira eletrônica ou um guardador de carro, ficando definitivamente claro que um sujeito jamais poderia andar com um “infeliz” na carteira de identidade sob pena de ser imediatamente preso como marginal.

3. O que nos leva a especular que, depois da lei da felicidade, não estará longe o dia em que essa gente que nos comanda, sempre inspirada, descobrirá mais leis, digamos assim, de imensa utilidade pública do tipo: direito ao infinito debaixo do braço; direito ao paraíso no sovaco do vizinho do ônibus; direito ao sonho de participar de um reality show; direito ao deslumbramento com o final de uma novela, direito ao céu e - por que não? - direito ao sentido da vida.
E o direito à paz? Alguém perguntará? Por que não tornar obrigatória mais essa?
Ora, instituir esse direito seria muito difícil, até mesmo impossível justamente porque, aqui no Brasil, os legisladores só são especialistas em criarem leis inexeqüíveis.
Para que um honesto cidadão tivesse o direito a um pouquinho de paz nesta terra, todo mundo sabe que seria suficiente punir os estúpidos, que com seus trios elétricos disfarçados de carro, se põem a torturar os pobres ouvidos dos vizinhos com músicas horríveis. Mas executar uma lei simples como essa por aqui é impossível porque as leis brasileiras não servem para a realidade, mas para a ilusão. Neste país, como se sabe, sempre foi muito mais fácil punir a tranqüilidade.