segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

VOCE TEM QUE SER FELIZ

VOCÊ TEM QUE SER FELIZ!


“Mais importante que a felicidade é a alegria de estar aqui na terra para esta aventura efêmera.” Pascal Bruckner


Jose Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




1. Agora é obrigatório: você, cidadão brasileiro vai ter que ser feliz, quer queira quer não, possa ou não possa.
A intimação, digamos assim, partiu do senador Cristovam Buarque. Ele é o autor do projeto de transformar em decreto-lei a obrigatoriedade de todo indivíduo que mora no Brasil ser feliz. O que vão fazer para que isso aconteça não explicou direito mas, como sempre acontece diante uma nova lei por eles inventada, o mais seguro é se proteger de “tanta felicidade” que virá por aí com a garantia do governo. Em outras palavras: ou você arreganha os dentes, ou está condenado a receber nos costados uma bolsa-felicidade.

2. Podemos imaginar, baseado no que acontece no trânsito, e no oportunismo com que os caixas dos governos usufruem das punições aos infratores, o que poderá lhe acontecer se continuar “infeliz”, triste cidadão. Será multado? Ficará proibido de torcer pelos times da segundona ( sintoma universal de infelicidade nacional), irá para a cadeia? O certo é que, depois de lhe doar uma “felicidade obrigatória”, pelo andar da carruagem o governo não deixará de lhe extorquir mais algumas metades de salários-mínimos, sob a presunção de que se você não vive feliz com tudo o que o governo lhe oferece é porque você não passa de um sujeito nocivo à sociedade.
Quem sabe inventem, como inventaram no trânsito, uma “barreira eletrônica” dos sentimentos, ou seja, alguma forma de medir o seu grau de felicidade. Para tanto poderiam pedir socorro ao governo da Inglaterra, onde, por lá, conseguiram chegar a uma fórmula bem britânica de aferir a felicidade, onde entram coisas como a satisfação com os impostos, a qualidade do ar que se respira, a vontade de distribuir porrada depois dos jogos de futebol quando o time perde, ou escutar os Beatles, dando graças à rainha. .
No Brasil poderiam tirar uma média de felicidade baseada nos milhares de cedês de forró escutados durante o mês ( quer você queira quer não) , as vezes, por dia, em que não se morreu de bala perdida , as ocasiões em que o juiz de futebol roubou para os nossos Flamengo e Coríntians, e a largura do sorriso de idiota diante de uma foto da bunda da Mulher Melancia.
Felicidade Padrão Brasileira definida ( Mangabeira Unger e Chico Buarque poderiam ajudar nisso) se estaria a meio caminho andado para instituir mais uma informação obrigatória na carteira de identidade: grau de felicidade. As gradações feliz, meio infeliz, ou quase infeliz ficariam por conta das oportunidades em que não se foi extorquido por um radar, uma barreira eletrônica ou um guardador de carro, ficando definitivamente claro que um sujeito jamais poderia andar com um “infeliz” na carteira de identidade sob pena de ser imediatamente preso como marginal.

3. O que nos leva a especular que, depois da lei da felicidade, não estará longe o dia em que essa gente que nos comanda, sempre inspirada, descobrirá mais leis, digamos assim, de imensa utilidade pública do tipo: direito ao infinito debaixo do braço; direito ao paraíso no sovaco do vizinho do ônibus; direito ao sonho de participar de um reality show; direito ao deslumbramento com o final de uma novela, direito ao céu e - por que não? - direito ao sentido da vida.
E o direito à paz? Alguém perguntará? Por que não tornar obrigatória mais essa?
Ora, instituir esse direito seria muito difícil, até mesmo impossível justamente porque, aqui no Brasil, os legisladores só são especialistas em criarem leis inexeqüíveis.
Para que um honesto cidadão tivesse o direito a um pouquinho de paz nesta terra, todo mundo sabe que seria suficiente punir os estúpidos, que com seus trios elétricos disfarçados de carro, se põem a torturar os pobres ouvidos dos vizinhos com músicas horríveis. Mas executar uma lei simples como essa por aqui é impossível porque as leis brasileiras não servem para a realidade, mas para a ilusão. Neste país, como se sabe, sempre foi muito mais fácil punir a tranqüilidade.

sábado, 27 de novembro de 2010

O PRIMEIRO HERÓI NACIONAL

O PRIMEIRO HERÓI NACIONAL


ewerton.neto@hotmail.com



Duas semanas atrás a revista Veja anunciou o capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, como o primeiro herói nacional. Ora, isso é uma grande mentira! Vai ver que nem se deram ao trabalho de pesquisar, nos livros de História, os heróis desconhecidos de todo o Brasil e que são mais de dois por estado. E esqueceram, sobretudo, de que antes do Capitão Nascimento já havia:


1. O Fenômeno-Man: Típico herói nacional, Fenômeno-Man gosta mesmo é de sombra e água fresca. E muita grana. Se tiver isso ganha todas e sai pro abraço. Sua arma é o gol. Faz gol de tudo quanto é jeito, tanto que foi o maior artilheiro de todas as copas. (Verdade que sempre contou com um craque muito melhor que ele, do lado, para facilitar sua vida: Rivaldo na seleção, Zidane no Real Madrid etc. ). Hoje, como o físico já não ajuda, basta cair estabanado no chão – como no ultimo jogo contra o Cruzeiro - que o socorro vem. Desta vez, do juiz. Esse sempre rouba a seu favor, o que, não lhe diminui, em absoluto, a aura de herói. Afinal de contas, herói também precisa de sorte, e a sua foi terminar seu currículo jogando no Coríntians, time para quem todo mundo gosta de dar uma forcinha, não é mesmo presidente Lula?
Fenômeno-Man tem todas as qualidades para ser herói neste país e mais uma: não é nordestino. Se fosse ia acabar como Rivaldo, o pernambucano, o melhor jogador da Copa 2002 e de quem todo mundo já esqueceu.

2. Perua-Maravilha. Oito entre dez mulheres brasileiras com mais de trinta têm como protótipo a indescritível, a fantástica e globalizada: Perua-Maravilha. Sim porque só ela encarna, à perfeição, o mito da mulher brasileira ideal para os padrões nacionais: pudor nenhum, chatice global e gigolô debaixo do braço. Haja gigolô! Perua-Maravilha gosta tanto de um gigolô que se tivesse de escolher entre aparecer nas colunas sociais rodeada dos habituais ricaços buxudos ou ao lado do seu gigolô, comendo cachorro-quente na carrocinha do Lopes, ela preferiria o gigolô. As armas que a tornaram invencível são: inteligência mínima e futilidade infinita. O que, convenhamos, não é tão fácil assim. Perua-Maravilha é tão heróica em seu desprendimento que não tem vergonha de dizer, com muita humildade, que para trilhar o caminho da vitória teve de aprender com heroínas muito mais frágeis que ela, do naipe de Suzana Vieira, Luciana Gimenez, Ana Maria Braga e etc. Bote heroísmo nisso!

3. Super-Chico. Super-Chico, o mais querido herói nacional, tem todas as qualidades de um super-herói e mais uma: é, também, super-intelectual A sua qualidade mágica é a perfeição. Chico nasceu perfeito, dessa perfeição que só dá mesmo no Brasil. É considerado o melhor compositor de música popular do país (desbancou até Noel Rosa ), é o melhor escritor (já ganhou três prêmios nacionais de literatura ) e só não é o melhor em livro- que- se- compra- para- enfeitar- a- estante- com- o- nome- do- autor porque ainda não inventaram essa modalidade. Tanto é assim que no ultimo premio Jabuti, Chico ganhou o de melhor livro, mesmo sendo apenas segundo colocado. Pode? No Brasil pode, ou melhor, Chico pode. Ele pode tudo. O dia em que entrar na dança dos famosos vai ganhar também. Que qualidades possui, além do talento? Aí a coisa complica, mas sei não: talvez a de ter nascido em berço de ouro, a de ter sido “vítima” da ditadura com um copo de uísque importado na mão, a de nunca ter levado um tapa do exército, como Geraldo Vandré, etc. etc... Chico é o único super-herói nacional que consegue ser da esquerda e da direita ao mesmo tempo e isso foi facilmente explicado por Tim Maia quando disse que o Brasil é o único país do mundo em que puta goza, gigolô tem ciúme e comunista é de direita. E Super-Chico é o maior escritor.

4. Capitão-Corrupto. Ninguém pode, neste Brasil, com Capitão-Corrupto. Nem os honestos, nem os marginais, nem os muito vivos, nem os mortos, sequer os espíritos. Capitão-Corrupto é o herói nacional por excelência porque enfrenta a tudo e a todos e sempre sai vitorioso. Não adianta enfrentamento de CPI, polícia, leis, promotores, cadeia e grades. Capitão-Corrupto é tão naturalmente dotado de uma carapaça de cinismo que fica imune a qualquer ataque, físico ou moral. Como consegue tanta resistência? Capitão-Corrupto possui duas armas mortíferas: canalhice e grana. Com a primeira consegue grana, com a segunda consegue o resto. Isso, no Brasil, é mais do que suficiente. Adorado pelos ricos, admirado pelos pobres e desprezado por uma minoria Capitão-Corrupto, não está nem aí para o achincalhe dos honestos. Não voa como Super-Homem, mas tem mais de um avião particular, não é mágico como Mandrake, mas desaparece a hora que quer. Só não dispensa o próprio grito de guerra: Grana!Grana! Quero mais grana!
Como é indestrutível o nosso Capitão-Corrupto!


domingo, 21 de novembro de 2010

PREFERINDO FUMAÇA A LIVRO

artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Alternativo, jornal O estado do Maranhão, sábado


PREFERINDO FUMAÇA A LIVRO

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com

1. Segunda, dia 15, tarde de sol, feriado em todo o Brasil. Quarto dia da Feira do Livro. Lá, bons livros à disposição, alguns muito baratos se você tiver paciência para pesquisar: cheguei a comprar um livro de John Gray, “Falso amanhecer – os equívocos do capitalismo global”, novo, por dez reais. Telefono para Sonia Almeida, professora e poeta, para tratarmos do nosso café literário de terça. Entre outras coisas ela diz estar esperando por um parente, preso num engarrafamento na litorânea. De carona na sua incredulidade penso: “ Parada gay, não pode ser , Marafolia também não , carnaval ainda está muito cedo.” Então insinuo: “ Já sei, esse povo está fugindo da feira. Deve ter medo de livro!”

Dito e feito. Ou quase. Eis que no dia seguinte soube que nessa tarde, a Esquadrilha da Fumaça se exibia na Litorânea. Para lá se dirigiram pais, mães, filhos, agregados, cachorros e papagaios em seus carros, a ponto de congestionarem todas as vias de acesso à praias. Talvez estivessem cobertos de razão: nunca gostaram de ler, é difícil, para eles, conceber que a leitura de um livro possa trazer, um dia, um prazer mil vezes maior que isso, a um filho. A saírem atrás de livros, para eles, é preferível ficar preso num engarrafamento, olhando para o céu e vibrando com acrobacia e fumaça.

2. Penso que o sucesso de uma feira não deve ser medido pelo volume de pessoas circulando, mas pelas vendas dos livros e pelo público interessado nas palestras literárias e nos cafés de troca de idéias sobre a literatura. Quanto a isso ela não diferiu das vezes anteriores onde, mais uma vez, faltou divulgação adequada e a busca da cooperação das unidades estudantis de diferentes graus, para maior interesse desse público. De qualquer forma, a própria realização da feira, mesmo combalida, e com os percalços estruturais que se repetem será sempre um louvável ato de resistência numa Atenas Brasileira cuja população não se reconhece na demonstração de amor á leitura.

Apesar da opinião de alguns intelectuais amigos, favoráveis a que a realização da Feira se faça a cada dois anos como forma de se concentrar recurso e talento, prefiro vê-la todos os anos, como marca inconteste de que se está tentando fazer algo pela divulgação da leitura, incorporada definitivamente à rotina da cidade, tal uma estação do ano ansiosamente esperada,

3. Pensei que era o único a ter ficado impressionado favoravelmente com a originalidade da exibição dos painéis no alto da Praça Gonçalves Dias e arredores, cujas gravuras, em formado de uma imensa biblioteca, saudava, aqui e ali, os homenageados da feira como se estes estivessem saindo dos livros, dando a impressão de uma biblioteca suspensa, com a Praça Gonçalves Dias, no alto, ao fundo. As vozes abalizadas dos artistas escritores Alex Brasil e Wilson Marques, respectivamente também, publicitário e fotógrafo, confirmaram o quão talentosa foi a “sacada”.

4. Em uma das sempre debatidas sessões do “Café Literário” estive na platéia da oportuna palestra do professor Sofiani Labidi sobre e-book. Depois dela, a substituição do livro impresso pelo digital nunca me pareceu tão irremediável. O palestrante, por sinal, defendeu a imediata substituição do livro didático impresso por questões de custo e praticidade, no que parece ter razão.

Comentando, depois, sobre a conseqüência de tudo isso com amigos escritores alguém lembrou: “ E a noite de autógrafos, como será?” “Desta vez é definitivo, a noite de autógrafos acabará bem antes de se acabarem os escritores”.

Demos tratos à bola para imaginar como a cerimônia poderia ser adaptada. Em uma das possibilidades o sujeito anuncia pelo e-mail, do celular, que haverá uma noite de autógrafos e comunica o valor a ser depositado em sua conta.

- E o local dessa “noite de autógrafos virtual” onde seria? – perguntou alguém.

- Ora, onde você quiser, na praia, e até de dia, por exemplo, pois agora tanto faz.

Para os habitantes de São Luis, ou melhor, da Atenas Brasileira, quem sabe na praia, assistindo a mais uma exibição da esquadrilha da fumaça.

domingo, 14 de novembro de 2010

ALÉM DE PALAVRAS E NÚMEROS

Texto publicado na seção Hoje é dia de...

O Estado do Maranhão

ALÉM DE PALAVRAS E NÚMEROS

José Ewerton Neto

ewerton.neto@hotmail.com




1. Recente reportagem da revista Galileu mostra que é mais fácil convencer alguém quando se recorre a números. Um aforismo antigo dizia que todo ser humano é indefeso diante de um elogio. Agora, sabe-se que isso se dá, também, diante dos números.
O autor do livro Proofiness, um matemático e jornalista norte-americano mostra nas suas páginas que políticos, publicitários e vendedores usam e abusam da arte de provar ao interlocutor algo que este sabe que é verdadeiro , mesmo quando não é. Por que se desconfia tanto das palavras e menos dos números?
Evito acreditar que isso se dê apenas por conta de uma suposta exatidão de ciências como matemática e física, aos quais os números são frequentemente associados. Isso degenera, a meu ver, uma falha de interpretação imperdoável. Lembro, neste instante, de uma das fórmulas consideradas mais belas pelos cientistas, a equação geral de Einstein para a Relatividade Geral, cuja interpretação, para o leigo, fornecida pelos estudiosos é “ A matéria ensina o espaço-tempo como se curvar e o espaço-tempo ensina a matéria como se mover.” Quer mais poesia que essa, por trás de uma igualdade numérica?

2. Proponho outra explicação: as pessoas desconfiam tanto das palavras porque as falam demais. Seu uso é, quase sempre, desenfreado e desnecessário. Lembro de que, nos primórdios, para sobreviver, os seres humanos tinham de ser econômicos nos ruídos (palavras) que emitiam porque se fizessem barulho se tornariam presas fáceis para os predadores.
De palavra em palavra, estas foram perdendo a credibilidade. Se isso já acontecia há séculos, imagine agora quando a população aumentou quatro a cinco vezes mais. É palavra para tudo quanto é lado e ainda sobra para um milhão de chineses falarem. Ora, se um único ser humano fala milhões de palavras a esmo, imagine um bilhão.
O que nos faz pensar que não vai estar longe o dia em que o curso mais disputado na Terra vai ser o curso de economia de palavras (concisão). O twitter, talvez não passe da primeira manifestação dessa necessidade, embora tenha se revelado frustrante: ao se tentar diminuir o número de palavras na comunicação, aumentou-se a quantidade de besteiras.


3. Na verdade, pouquíssimas palavras resistiram ao tempo, com a sua simbologia não corrompida pelo tempo. Um exemplo é a palavra mãe, embora muita gente insista em lhe adicionar significados que não tem e dos quais não precisa. Mãe é mãe e pronto. Ao redor de sua sina - de doação ao filho - muitas outras palavras foram criadas ao longo do tempo e hoje fazem festa que na boca dos apresentadores de televisão e nos livros de auto-ajuda, sem que seus autores saibam ao certo o que significam. Chega a causar asco a forma como apresentadores e celebridades globais como Suzana Vieira e Luciana Gimenez extravasam, por exemplo, suas supostas “felicidades” como se estivessem exibindo um adorno, capaz de ser medido com uma escala.
Dei-me ao trabalho de enumerar dez dessas palavras e, aleatoriamente atribuí um numero de 1 a 10 a cada uma delas. 1, amor; 2, felicidade; 3, paixão; 4, vida; 5, eternidade; 6, humanidade; 7, ilusão; 8, infinito; 9, nada; 10, tudo. Atrevi-me, depois a calcular o resultado de suas combinações como se, de fato, estivessem sujeitas a uma operação matemática. Surpreso, verifiquei que o resultado, a maioria das vezes, é razoavelmente convincente. Alguns exemplos rápidos: Paixão(3) + vida(4) = ilusão; amor(1) + felicidade(2) = paixão; felicidade(2) + paixão(3) = eternidade; infinito(8) – ilusão(7) = amor; tudo(10) – nada(9) = amor; vida(4) + humanidade(6) = tudo, etc. etc. etc. É fácil perceber que as soluções são conceitualmente apreensíveis pela mera razão de que por serem palavras de conceito abstrato e indefinido poderão sugerir a verdade que se quiser, à mercê do impostor que delas se aproprie.

4. Portanto, se as palavras são falsas, os números também ( como o exercício também prova) o que deixa a impressão de que em breve os números também perderão a credibilidade, e que talvez precisemos inventar novos símbolos para suportar o que restar ainda de verdadeiro nas relações entre os homens . Mas, o que é a verdade? Quando Poncio Pilatos perguntou a Jesus Cristo ele se calou, possivelmente querendo induzir-nos a que descobríssemos isso por conta própria.
“A vida é absurda”, dizia Clarice Lispector e se a vida é absurda assim também são os símbolos criados para sua representação, sejam palavras ou números. São tão absurdos (ou mentirosos, como queiram) que a grande arte dos mesmos talvez seja a de nos fazer acreditar que palavras sejam apenas palavras e números apenas números.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

3 ou 4 hipocrisisas básicas

Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
sábado passado


3 OU 4 HIPOCRISIAS BÁSICAS


Jose Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com



1. Para Millor Fernandes uma das coisas que distingue o ser humano dos outros animais é o fato de ser o único animal que tem raiva do próprio cheiro. Mas há algo que o distingue ainda mais: a monumental hipocrisia. A própria aventura humana, ao fim, não passa de um contínuo exercício de hipocrisia que culmina em só se celebrar dignamente as qualidades de uma pessoa depois que ela morre, quando já não tem como usufruir disso.
Mas, já nem estou falando da hipocrisia por “dever de ofício” - aquela que se convencionou aceitar porque não há outra saída, como a descaracterização da personalidade dos indivíduos quando à caça de votos. Quem viu o grotesco da foto de José Serra e Geraldo Alckmin nos principais jornais do país arremedando uma dança funk para tornarem-se simpáticos ao povo que os assistia sabe do que estou falando. Menos aviltante, porém, talvez seja tratar das hipocrisias que se institucionalizaram, viraram leis e se associaram ao cotidiano humano como se fossem coisas imprescindíveis e até mesmo louváveis.

2. Jamais entendi a razão da “lei seca” em dia de eleição. O motivo aparente, segundo consta, seria o de evitar que algumas doses a mais de álcool façam extrapolar impulsos causados por uma acirrada disputa eleitoral. Dá para acreditar nisso? Que um cidadão, à custa de duas doses de cachaça vá se transformar num terrorista, motivado pela paixão por um político, ou sua pseudo-ideologia? No fundo, o que a lei não consegue disfarçar é que tenta, á custa do direito elementar de um cidadão fazer o que quer em seu dia de folga, revestir de pureza e dignificar um ato (de votar) que há muito tempo deixou de ser patriótico para os brasileiros.
Igualmente, o que vem a significar “luto oficial”? Claro, todos sabem que deve tratar-se de uma homenagem, prestada pela nação através de seu presidente a alguém que teria honrado a pátria. Mas é isso mesmo o que, de fato, acontece? Existe critério para tanto, ou basta, para merecer tal honra, o fato de ter sido famoso?
Como nosso presidente já disse que o Brasil seria muito melhor se todo brasileiro tivesse nascido um Faustão, é de se esperar que quando o apresentador morra, a bandeira do Brasil seja hasteada para homenageá-lo em luto oficial. Mas, de quantos dias mesmo? Uma semana, trinta ou sessenta dias? Eis aí outra dúvida que só escancara o tom de farsa. Por que uns têm direito a um dia e outros a uma semana? Ainda bem que minha alma nunca vai ser homenageada com o luto oficial da nação, senão ela gostaria de saber por que só teria direito a alguns segundos enquanto outras terão direito a uma semana ou um mês.


3. Em termos de futebol, rapidamente chegamos ao “minuto de silêncio”, homenagem que se supõe ser prestada a alguém. Alguém? Possivelmente, um ser humano e não a bandeirinha de córner ou o placar eletrônico. Lá estão 22 jogadores que nada sabem do “homenageado”, uma multidão de torcedores que sabe menos ainda e, finalmente, um locutor de futebol, que, transmitindo a cerimônia, mal consegue esconder sua indiferença em relação ao que se passa. O que, aliás, é bastante compreensível pela completa inutilidade. De que vale um minuto de silêncio para quem tem a eternidade pela frente?
Como se já não bastasse essa, inventaram mais uma: a execução do hino nacional em tudo que é jogo de futebol. Qual teria sido a intenção do autor da lei: desprestigiar o hino nacional, vulgarizando-o, ou dignificar a corriqueira cena de uma insossa partida de futebol? Não precisa ser especialista nos meandros da alma humana para deduzir que a motivação foi a de sempre: granjear reconhecimento usando a veste fácil do patriotismo. Tudo muito coerente com a frase de Ambrose Bierce: “O patriotismo é o primeiro refúgio dos canalhas.”

4. A homenagem ao túmulo do soldado desconhecido, também, nunca deixou de ser uma cerimônia exaltada e pomposa onde se desperdiçam flores, dinheiro, smokings e, principalmente... Intenção. Ora, para que serve homenagear um indivíduo a quem, de saída, sequer se reconhece? Por que ao invés dos milhares de dólares gastos na “suposta” homenagem não se gasta equivalente grana para garantir a sobrevivência de seus parentes? A seqüência da empulhação é de tremer de revolta a alma de um pobre soldado: ordena-se que ele vá para a guerra, assassina-se o coitado, dá-se a ele o tratamento de fantasma coletivo (destratando a única coisa que porventura tinha, que era seu nome) e, depois, tem-se o desplante de homenageá-lo. É de dar vontade de voltar na forma de um Frankestein para estrangular o pescoço de quem inventou tal história!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

SOBRE LÍNGUAS

Texto publicado no jornal O Estado do Maranhão,
ultimo sábado


SOBRE LÍNGUAS


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com

A palavra, esse animal vivo, como disse Adélia Prado, não é um bicho assim tão fácil de controlar. E seu universo, o dos idiomas, não poderia deixar de carregar algumas de suas complexidades e estranhezas. Como estas:

1. Atualmente no mundo são falados aproximadamente 3 mil idiomas. Mas já se falaram cerca de 10 mil.
Isso porque não estão computados O Lulês, o Galvão Buenês, e o politiquês corruptelas da língua portuguesa, muito usadas no Brasil atual. Dessas, o politiquês é um pouco mais fácil de entender: promete-se tudo, esquece-se depois, com velocidade ainda maior.

2. Os antropólogos dizem que o homem de Neanderthal tinha uma faringe muito curta para produzir os sons da fala humana
Vai ver os atuais cantores brasileiros de forró e funk, vítimas de um retrocesso evolutivo, ainda estão na fase de Neanderthal. Isso explica porque a gente nunca entende o que eles falam (cantam?). Além de mente curta - o que já se desconfiava –, devem ter a faringe curta também.

3. O ex-governador britânico de Hong Konk Sir John Browring era capaz de falar cem línguas diferentes.
Só não conseguiu aprender a língua de sua esposa. E acabou corno, em todas as línguas do mundo, inclusive na do Ricardão.

4. A palavra amor é masculina nas línguas latinas e feminina em alemão , hebraico e russo. Em todas têm um som agradável, exceto no chinês (ai) que nas línguas latinas expressa dor.
Isso vem explicar porque a população da China é tão grande. O homem nunca sabe se a parceira está gritando de dor ou dizendo “amor”, prazerosamente.

5. Um dos maiores insultos em chinês é chamar alguém de tartaruga – tao-ze- animal associado a todo tipo de desvios sexuais.
E nós, que nunca imaginamos uma tartaruga como uma ninfomaníaca ou um pedófilo(a)! Ainda bem que elas são lentas, já pensou se fossem um pouco mais aceleradas?

6. Geralmente as pessoas da raça branca consideram a zebra um animal branco de listras negras enquanto os nativos africanos consideram-no um a animal negro com listras brancas.
Tá explicado porque o Botafogo ( um time de camisa branca com listas pretas, ou preta com listras brancas ) é sempre uma zebra ao gosto do freguês. Tem coisas que só acontecem com o Botafogo!

7. A palavra mais falada no mundo é hello ( Alô)
A batalha pelo primeiro lugar foi pau a pau com a brasileira “Porra”, com suas múltiplas utilidades. A inglesa só ganhou porque nem sempre quando alguém telefona para aporrinhar um brasileiro, este responde com uma sonora “Porra!”

8. No século XVII René Descartes criou uma língua formada de números para representar palavras e idéias.
Já pensou, se a idéia tivesse vingado, a economia de palavras que isso representaria? Quanta asneira teria sido evitada! Por exemplo: tudo o que se diz e faz num reality show, seria resumido a um zero apenas.

9. O órgão sexual da mulher pertence ao feminino em todas as línguas latinas, exceto no francês, que é masculino: “Le vagin”
É por essas e outras que o francês tem fama de ser a língua mais efeminada do mundo. E “La Marseillaise”, o heróico hino francês, fica muito mais bonito quando cantado por vozes femininas.

10. Jesus Cristo falava o aramaico, língua predominante no oriente Médio, antigamente. Hoje, praticamente desapareceu. Existe, através dele uma relação entre o árabe e o hebraico. Como exemplo: salaam e shalom, que significam paz.

“Shalom”, então, para todos!

domingo, 24 de outubro de 2010

POR QUE ESCREVO?

Texto publicado no caderno Alternativo, seção
Hoje é dia de...o Estado do Maranhão, sábado



Jose Ewerton Neto

Membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com



1. Frequentemente, nos cafés literários, ou palestras, dos quais participo, surge a pergunta: por que vocês escrevem, como surgiu essa vocação de escritor?
Confesso que ainda não tenho (tampouco escutei) uma resposta convincente a essa questão aparentemente simples, que, embora, deixa sempre a sensação de que subtende uma certa incredulidade, misto de admiração, curiosidade e estupefação, quase sempre.
O fato é que ninguém pergunta, por exemplo, a um médico porque ele medica, a um comerciante porque ele negocia, a um consultor porque ele não faz absolutamente nada, a um ator de filme pornô porque ele transa profissionalmente ou a um político porque ele faz politicagem. Talvez porque as respostas sejam demasiado óbvias (no caso do político, quando a resposta não está na cara, na maioria das vezes, está no bolso). O que, no caso de um escritor, está a léguas de acontecer,

2. Sim, porque, neste caso, a resposta jamais estará do lado do senso comum, já que, por dinheiro ou por subsistência, com certeza, não é. Como todos sabem escritor não ganha dinheiro com venda de livros. Por que então, meu Deus? E a pergunta, começa a fazer sentido em sua repetição, afinal de contas, as pessoas sempre estão atrás de sanar algum mistério. Lembro, a propósito, da frase de um escritor norte-americano que dizia que “a única vantagem de um sujeito ser escritor é que ninguém o chama de burro por ganhar tão pouco.” Essa, talvez seja uma vantagem. Mas consegui descobrir outra:
A de permanecer sozinho, num bar, por exemplo - e sentir prazer com isso. Sei que muita gente vai pensar que isso não traz prazer algum, mas se pensarem bem hão de concordar que é uma vantagem e tanto, pela “economia de felicidade”: não só de entrar sozinho, como a de sair sozinho, sem esperar alguém e sem desejar coisa melhor na vida. Um escritor deve ser o único tipo no mundo que encontra prazer em ficar sozinho em algum lugar, público ou não, por mais de duas horas com seus livros, jornais e suas anotações. O que lembra a frase do escritor Fernando Sabino, uma pérola de definição do que seja um chato: “Chato é aquele que te rouba a solidão sem te fazer companhia.” Em suma, numa época em que a chatice não tem limites ( carreatas de políticos, gente que fala merda, gente que escuta merda, ) não deixa de ser salutar possuir as características de alguém que usa como remédio contra a chatice da vida afora, a própria solidão.

3. Na dificuldade de responder a tão inquietante questão meti-me a analisar as respostas do livro “ Por que escrevo” que adquiri coisa de dois anos atrás, e do qual já havia olvidado.
Eis algumas:
João Ubaldo; “A essas alturas, eu escrevo porque não tem outro jeito”
Alain Robe Grillet: “Eu escrevo romances há 35 anos e nunca soube por quê.”
Roa Bastos: Por que escrevo? Escrevo por atavismo. Sei que não é uma boa resposta, mas há uma resposta para um sujeito tão impreciso?”
Autran Dourado: “A gente começa porque tem jeito para escrever e depois não termina, porque não tem jeito de parar.”
Blaise Cendrars: “ Porque”
Pouco, estimulantes para uma solução, certo?

4. Quanto a mim, essa dificuldade talvez esteja em que eu não seja, de fato, um escritor (sou engenheiro de formação), certamente a anos-luz do talento dos acima citados. Sou apenas um escrevinhador que adquiriu esse hábito por gostar muito de ler, desde a primeira vez , na infância, quando surrupiei da estante da minha tia o livro A Marca do Zorro. Escritores com bem mais condições de resolver a essa questão devem ser o mago Paulo Coelho ou o cantor Chico Buarque (que ganha prêmios literários quase todo mês) e que recentemente disse que escrever é uma chatice, descobrindo talvez, num rasgo de genialidade, a incógnita dessa equação tão complicada. Vá lá: todo escritor deve escrever para que um dia se torne tão chato quanto ele.
Já ia encerrando esta crônica, com a preciosa ajuda de Chico, quando li por acaso, na Internet, que pouco tempo atrás se celebrou os quarenta anos da morte de Guimarães Rosa . Eis então que uma nova idéia, um tanto subversiva, me ocorreu: como um escritor é um sujeito que não celebra aniversários e festas em vida ( não tem dinheiro para tanto) escreve para que um dia se celebrem seus aniversários de morte.
Nesse caso, suas esperanças, (independente de que tenha sucesso ou não) têm o dom de sobre passar a vida e ele, consciente mais que qualquer outro, de que esse negócio de imortalidade não existe, escreve para que suas esperanças, pelo menos elas, sejam imortais, não é mesmo?

domingo, 17 de outubro de 2010

UMA GRANDE IMITAÇÃO

UMA GRANDE IMITAÇÃO

Artigo publicado na seção Hoje é dia de...

Caderno Alternativo, jornal O estado do Maranhão

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com

1. Todo mundo, desde o princípio, imita todo mundo. A própria vida de todo mundo não passa de uma grande imitação, o que faz desconfiar de que o nosso universo começou tentando imitar outro (um desses universos paralelos que proliferam por aí ) , não foi muito feliz em sua tentativa e deu no que deu.

Daí a infinita paciência de Deus com todos os pretensiosos que querem imita-lo. De FHC a Lula, passando por Hitler, Osama Bin-Laden e Pelé, todo sujeito que se sente um pouquinho mais poderoso logo se põe a imitar Deus, sem que ele reaja à absurda pretensão. Deve pensar assim: “Deixe que brinquem de me imitar, eu sequer tive essa chance.”

2. Certo que a evolução só foi possível graças a esse dom de imitar que o ser humano possui. O macaco mais burro começou a imitar o mais inteligente, de geração em geração até chegarmos ao atual, num processo que poderíamos chamar de imitação para melhor. Caso não tivesse havido uma mudança de rumo, lá pelas bandas dos anos noventa, é gostoso pensar que poderíamos chegar a uma raça quase perfeita dentro de três quartos de século. Lembremos que pouco antes disso – nos anos setenta - os rapazes imitavam os Beatles e os coroas Marlon Brando, enquanto as moças imitavam Marylin Monroe e as coroas também, o que não denunciava ainda a tragédia que se anuncia hoje quando, no Brasil, os jovens querem imitar Fiuk e os coroas Roberto Justus, ao passo que as meninas imitam Ivete Sangalo e as coroas Suzana Vieira.

Sem que a ciência se disponha a dar uma resposta definitiva sobre a causa dessa interrupção na curva ascendente da imitação positiva, uma coisa parece certa: já chegamos quase ao ponto de empate técnico entre o macaco evolutivo e o humano regredindo, cuja maior prova é o programa Big-Brother. Ao mesmo tempo em que cientistas dedicam-se a estudar macacos num zoológico, hordas de “macacóides”, sentam-se diariamente diante da televisão para assistir a esse tipo de programa, onde humanos se digladiam – e se degradam - num zoológico de luxo. Enfim, imitar não é ruim, ruim é imitar o que não presta.

3. Tanto livro de auto-ajuda, tanta seção de análise, tanta gente à procura do seu eu interior e isso de que adiantou? A revista Veja, em sua reportagem semanal conclui que todas as mulheres do mundo dariam a vida ( incluindo os nove meses antes do parto) para serem cópias de Angelina Jolie, a bela atriz norte-americana cujo marido é Brad-Pitt. Elas querem imitar Angelina por causa dos seus olhos verdes, do seu charme e elegância, dos seus lábios invejados. E haja fazer plásticas a torto e a direito, inclusive atrizes famosas, para ficarem com um naco da “formosura”, de Angelina, Coitadas, deveriam ter um pouco mais orgulho de si próprias ou se lembrarem da frase definitiva de Kraus a respeito da beleza; “Falta-lhe um pequeno defeito, para ser perfeita!” Como Sofia Loren, talvez, quando jovem, com seus lábios - esses sim - inimitáveis . Quem sabe, assim, se justificasse...

4. Nessa onda irrefreável de imitação o guardador de carro tenta imitar o guarda de trânsito, Arnaldo Jabor tenta imitar Paulo Francis, Lula tenta imitar ele mesmo, os políticos jovens tentam imitar seus pais, e a opinião pública, sem ter a quem imitar, imita aquele que lhe faz rir e gozar de tanta imitação grotesca para todo lado: no caso, palhaços como Tiririca.

Mas o que é mesmo a Opinião Pública? Um dia foi a voz de Deus, a julgar pela frase latina “vox populi, vox dei”. Sabedor mais que ninguém, de que ao invés de ter feito o homem à sua imagem e semelhança, os homens é que tentaram faze-lo à imagem e semelhança deles, Deus há muito se saiu dessa, e a opinião pública, no Brasil, não passa hoje de uma tosca tentativa de reproduzir a opinião de gente como Faustão, Pedro Bial, Luciano Hulk, Sílvio Santos...

Que grande imitação!

sábado, 9 de outubro de 2010

A PRIMEIRA VEZ

Artigo publicado na seção Hoje é dia de...

Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão, sábado

A PRIMEIRA VEZ

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com



Calma, não é isso o que você está pensando. Estamos falando de outras coisas: realizações, feitos, descobertas. Se você aprecia tudo o que se refere a primeiro, eis, de primeira, algumas curiosidades:

1. A primeira peripécia de Charles Chaplin, o palhaço mais brilhante que já houve, aconteceu sem querer: sua mãe, uma cantora de teatro, teve problema com a voz e Chaplin a substituiu. O público gostou tanto que jogou moedas no placo. De repente, Charles parou de cantar dizendo que ia pegar o dinheiro para depois continuar. O público riu.

2. A primeira grande peripécia de Tiririca, um palhaço bem menos brilhante que Chaplin, foi ter sido objeto da maior votação que um palhaço profissional já conseguiu em qualquer lugar do mundo. Provavelmente, vai ser também o primeiro palhaço eleito a não tomar posse. Isso só acontecerá porque, no Brasil, as leis permitem que alguns deputados tratem seus eleitores como palhaços, mas não permitem que o eleitor os trate da mesma forma.

3. Sexualmente Isaac Newton nunca teve sua primeira vez.
Embora esse fato não seja tão incomum assim na espécie humana, torna-se relevante, no seu caso, por ter sido um gênio. Explica-se, portanto, como Newton, cuja inteligência descobriu a Lei da Gravidade, preferiu ficar longe da Lei da Gravidez.

4. A primeira máquina construída para facilitar o trabalho das mulheres foi a máquina de costura.
Os machistas diriam que a primeira máquina construída para facilitar o trabalho dos homens foi a mulher, o que vem comprovar que os homens são uns ingratos, porque passaram séculos e séculos até recompensarem-nas, pela primeira vez, pelos seus trabalhos.

5. O primeiro método para evitar uma gravidez funcionava, já que afugentava os homens. As egípcias colocavam pedrinhas no útero, que funcionavam como um verdadeiro DIU.
Portanto, se houve a idade da pedra e da pedra lascada, houve também a idade da pedrinha. A época atual bem que poderia ser chamada de idade da pedra preciosa, já que, com elas, as amantes das celebridades garantem a sua não-gravidez. Cobrando-as.

6. A primeira prefeita do Brasil foi Alzira Soriano, eleita em 1929, na cidade de Lages-RS.
Como se vê, as mulheres tiveram que percorrer um caminho muito árduo para chegar até o dia em que duas mulheres disputaram a presidência e, provavelmente, uma vai ser eleita. Para quem já galgou montanhas será fácil subir a serra. Ou o Serra, não é mesmo Dilma?

7. O primeiro time de futebol a aceitar negros em seu plantel foi o Clube de Regatas Vasco da Gama.
O primeiro time de futebol que teve um de seus jogadores preso, depois de haver assassinado uma mulher foi o mais querido do Brasil, o Flamengo. Foi também o primeiro que mandou embora seu maior ídolo de todos os tempos, Zico, com menos de seis meses.
Na foi, porém, o primeiro que contratou o vaidoso Vanderlei Luxemburgo, como Salvador da Pátria. Antes dele já houve o Atlético Mineiro e uma penca.

8. O primeiro carro a vapor que circulou no Brasil colidiu com uma árvore. Seu motorista era o poeta Olavo Bilac. Foi o primeiro acidente automobilístico do país.
Como são as coisas! Nesse tempo poeta tinha prestígio – e dinheiro – suficiente para inaugurar marcas de carro. Só podia dar no que deu. Do prestígio dos poetas só sobraram os versos de depois do acidente: “Ora direis, ouvir estrelas!”, sem dúvida uma metáfora muito apropriada para quem viu estrelas.

9. A primeira bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima no dia 6 de Agosto de 1945. O avião era um B29 chamado Enola Gay, apelidado de “Fat Boy”
Para você ver o quanto os gays já eram discriminados essa época. Até quando eram aviões tinham de se esconder por trás de apelidos!

10. A primeira novela da televisão foi “Sua vida me pertence”, iniciada em 21 de Dezembro de 1951.
O título, muito sugestivo, transformou-se logo em realidade, já que, desde então, os melhores momentos das vidas dos brasileiros passaram a pertencer às novelas.

11. O primeiro pedido de Hitler ao Congresso, depois de nomeado chanceler, foi poderes para organizar o estado sem prestar quaisquer espécie de contas.
A primeira vez que um político pediu votos no Brasil ninguém sabe exatamente quando foi. O que se sabe é que nenhum político, até hoje, pediu licença ou prestou contas aos cidadãos por emporcalharem suas ruas e atazanarem seus ouvidos, quando querem pedir votos. Se agem assim quando estão pedindo, imagina o que fazem quando estão ordenando!



sábado, 2 de outubro de 2010

O PRESIDENTE VIAGRA

Texto publicado na seção Hoje é dia de...

Caderno Alternativo, O estado do Maranhão

O PRESIDENTE VIAGRA

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com

Começou a perseguição. Bastou o palhaço Tiririca obter a maior intenção de votos no estado mais populoso do país para que a justiça eleitoral tentasse enquadrá-lo como analfabeto. Caso isso fique comprovado cancelarão a sua candidatura e, além disso, correrá o risco de ser preso criminalmente por documento falso.

Responda depressa, caro leitor. Que alternativa existe para alguém costumeiramente tratado como palhaço, a não ser votar num palhaço? Pois é assim, como se estivesse tratando com um palhaço, que a maioria dos políticos tratam o eleitor com suas propagandas eleitorais. Existe “palhaçada” maior do que a perpetrada por um candidato cujo carro de propaganda passa várias vezes ao dia, em frente a um cidadão, martelando-lhe um número na cabeça, com um som tonitruante? (Talvez pense estar diante de um retardado mental, capaz de dar-lhe seu voto, apenas porque lhe repetem um nome e um número.) Onde ficam as idéias, as soluções ou as propostas de melhoria? Lembro, neste momento, da cantilena de um candidato, cujo número, - que prefiro esquecer - vem me perseguindo há vários dias, onde quer que eu esteja. Será que passa pela sua cabeça que eu vá votar nele, em troca de azucrinar meus ouvidos?

É por essas e outras que devemos saudar as candidaturas “estrambóticas”, como denominou, em sua crônica, o jornalista Daniel Piza. Pelo menos, se um dia rirem da gente, em compensação, já nos fizeram rir. Dentro desse espírito, nada como conhecer mais um estrambótico: Viagra, o mais recente postulante ao posto de presidente da república:

1. Quem ganha desta vez, Sr. Viagra, o palhaço ou a palhaçada?

Tire-me dessa. Entre o palhaço e a palhaçada prefira quem nunca gostou

de fazer os outros de palhaços.

2. O que o capacita, além disso, para ser presidente após relativamente poucos anos de vida pública?

Tantas vitórias, tantos serviços prestados à população, especialmente para os idosos. Tenho consciência de que levantei cadáveres e de que trouxe felicidade e prazer para ambos os sexos. Não vejo páreo para mim, nem mesmo a Marisa, que é a única que nunca teve o rabo preso (talvez porque, de tão magrinha, nem o tenha). Embora eu tenha sido concebido para ajudar qualquer homem a chegar ao segundo, ao terceiro e até ao quarto turno (sexual), tenho plena convicção de que, para ganhar as eleições, só precisarei do primeiro.

3. Muita gente diz por aí que o Viagra vicia.

Provavelmente, mas o que é melhor para o povo: ser viciado em sexo ou embolsa-família? Existe vício pior do que a caridade alheia? Todos sabem que a profissão que mais cresce hoje no Brasil é a de guardador de carro, que faz pessoas sadias se acostumarem ao vício da esmola. Eu não cometo crime eleitoral , dou apenas uma ajudazinha para levantar a moral. E pode contar que minha ajuda vai até na hora da morte, ao contrário das que são costumeiramente prometidas.

5. Como o senhor chegou tão longe, em aceitação popular? Que fez para conseguir um Ibope tão avassalador?

Todos sabem como funciono, dilatação de vasos é comigo mesmo. Embora pareça apenas um detalhe isso significa que se dilato as veias de milhões para que o sangue possa passar à vontade, jamais poderia ser um sanguessuga. Se a corrupção brasileira, como dizem, está no sangue, o melhor remédio para acabar com ela é um político que, ao invés de sugar, empurra o sangue na direção certa.

5. E quanto à concorrência?

Não temo a disputa. Tenho consciência de que meus concorrentes precisaram, precisam ou vão precisar de mim. E eu jamais precisarei deles.

6. Como?

Isso que mesmo você entendeu. Seja Serra, Dilma ou Marina, sempre vai falta-lhes uma dose de...

7. Ah, sim, agora entendi.

Podem inventar mil fórmulas que a referência será sempre o velho e bom viagra. Sou o milagre dos milagres, tenho a mágica que faz levantar a própria varinha de condão que faz a mágica. Sou a única auto-ajuda de verdade. Tem muito otimista de ocasião que anda com um livro de auto-ajuda debaixo do braço, mas seu otimismo acaba quando minha caixinha some do seu bolso.

8. Qual a sua plataforma política, enfim?

Não preciso de plataforma, de ponte, muito menos viaduto. Meu nomejá diz tudo: saúde e potência. Basta isso que o resto vem de quebra. E adianto logo meu projeto imediato : alterar a letra do hino nacional . Ao invés de Deitado eternamente em berço esplêndido os brasileiros passarão a cantar Avante, irmãos, levantemos as cabeças. Seja ela qual for.

domingo, 26 de setembro de 2010

MINHA TRILHA

texto publicado no jornal O estado do Maranhão, seção
Hoje é dia de...sábado passado


MINHA TRILHA MUSICAL


Jose Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com



Aos sábados, o jornal o Estado de São Paulo no seu caderno de arte, reproduz seleções musicais de profissionais de diferentes expressões artísticas. É fácil perceber que elas não se referem a um juízo pessoal de valor musical, mas sim a como uma determinada canção veio a tocar a sensibilidade de cada um, por diferentes motivos. Meio por diletantismo comecei a fazer a minha lista, que acabou dando na que segue. Se não gostarem, perdoem-me. É que, depois de pronta fiquei com dó de deixa-la na gaveta.

1. Gracias a la vida. Estava nas ruas de Belo Horizonte nos idos dos anos oitenta quando chamou-me a atenção, um elepê de música chilena tendo na capa uma mulher pouco graciosa, mas de rosto e expressão marcantes. Até hoje dou “Gracias a Dios por Gracias a la vida ter entrado em minha vida”. Prefiro-a não nas interpretações mais executadas de Mercedez Soza, ou de Joan Baez, mas dela, Violeta Parra, - a autora da música, cuja fotografia emoldurava a capa do disco. Lendo depois sobre sua vida soube que ela se suicidou. Na sua interpretação, esse pungente hino à vida, ressoa, por vezes irônico, triste e eternamente belo.

2. Besame Mucho. Acho que todo mundo já escutou mais de trinta interpretações desta música sem nunca ter enjoado. Lembro, em especial, de uma com os Beatles, não a melhor, mais uma das mais memoráveis (do filme Let it be). Li em algum lugar e há algum tempo atrás, que essa música ( junto com Yesterday , dos Beatles) era a canção mais executada de todos os tempos. Como Yesterday hoje pouco se escuta, deve reinar sozinha, o que é muito justo.

3. The fool on the Hill – Beatles. É a que mais gosto dessa “melhor banda musical de todos os tempos” que dispõe de um caminhão de músicas para fazer parte de qualquer lista de bom gosto musical. Acho-a mais bonita até do que A day on the life que todo crítico musical cita. O motivo porque a aprecio tanto não sei explicar, mas com certeza não é pela letra, bastante boba. Já escutei várias versões dessa música, inclusive com Sergio Mendes – que prefiro à dos próprios Beatles - e também com Zé Ramalho; muito, muito pior.

4. Oh, Carol! Com Neil Sedaka ou qualquer outro. Como se não bastasse ser a mais bela balada de rock da juventude-fugaz de todo mundo veio a ser também a da minha infância , porque a associo à minha mãe. Quando vinha de férias para São Luis, na infância, a música me recordava Guimarães, onde a música tocava indefectivelmente, à noitinha, num alto-falante, o que me dava saudades dela.

5. Ai Mouraria. Quase todo fado é bonito, mas esse é o mais bonito, o creme do creme. A primeira vez que o escutei foi na voz de Alcione, quando esta começava a carreira, em São Luis. Nessa época, portanto, ela também cantava lindamente fados e – acreditem! - era magra.

6. A noite do meu bem, Dolores Duran. Existem muitas formas de dizer meu bem, dentro da noite. Mas a única voz capaz de fazer isso oferecendo a própria noite foi a da magistral Dolores Duran, nessa sua música, impiedosamente terna. Para sorrir – ou chorar- suavemente, de tanta emoção. Poética, meiga, única!

7. Três Apitos, Noel Rosa. Só o talento de Noel Rosa para conseguir fazer um apito de fábrica soar bonito, como nesse samba-canção: “Quando o apito, da fábrica de tecidos vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você”. Onde se reúnem coisas que só Noel Rosa consegue reunir numa canção, às vezes, tão curta: poesia, paixão, ironia, o riso de si mesmo.

8. Camisa Listrada, Assis Valente. O samba mais verdadeiro do carnaval mais puro, ou o samba mais puro de um a época que o carnaval era verdadeiro, tanto faz. De um tempo em que um folião saía para brincar (eu disse para brincar ) dizendo “mamãe eu quero mamar. Mamãe eu quero mamar!”, gíria da época. E levava ainda um canivete no cinto e um pandeiro na mão... Mas aí eu já estaria contando a história.
Com Carmem Miranda cantando é covardia! Gente, essa obra-prima encontra-se meio esquecida, nem lembro de quando ouvi sua ultima regravação. Fiquem vivos, Zeca Baleiro e Marina de la Riva!

9. Fado Tropical, Chico Buarque. Do tempo em que o talento musical de Chico Buarque era tanto que sobrava para fados. Nessa época, ele não precisava suar para ser o escritor medíocre que hoje busca, obsessivamente, ser. .“Ai esta terra ainda vai tornar-se um imenso Portugal” “Ah, esse Chico um dia vai voltar a ser o Chico Buarque!”

10. Na asa do vento, João do Vale. “Deu meia noite, a lua faz o claro, eu assubo nos aro, vou voltar pro vento leste. A aranha tece puxando o fio da teia...” Precisa dizer mais quando a poesia nem precisava da música e vice-versa? Mas, aqui, elas se juntaram seduzidas pelo talento espontâneo deste João do Vale tão lapidar. Para mim uma das melhores músicas populares feitas por esses lados e nem estou falando do Maranhão, mas, (sem patriotada de maranhense) do Nordeste inteiro.

sábado, 18 de setembro de 2010

NOVOS MANÍACOS DO VOLANTE

Texto publicado em O Estado do Maranhão,
caderno Alternativo, seção Hoje é dia de...hoje, sábado


NOVOS MANÍACOS DO VOLANTE

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Coisa de 7 anos atrás, baseado numa seleção de um amigo psiquiatra, descrevi, numa crônica, os tipos de desajustados mais comuns que se viam – e ouviam – pelas ruas e avenidas das capitais brasileiras. Nessa ocasião foram listados alguns desses maníacos crônicos, ao qual se adicionou o título mais apropriado a cada patologia. Complexo de Ayrton Sena ( ao obsessivo por velocidade) ; Complexo de Imperador da Avenida ( ao viciado em obstruir avenidas) ; Complexo de Mike Tysson ( ao xingador do motorista vizinho) etc. etc.
Mas a insanidade, por incrível que pareça, evoluiu mais ainda nestes últimos anos e - pasmem! - novos maníacos surgiram. Vamos a eles:

1. Complexo de Raposa do Deserto.
Dias atrás, o cronista Ruy Castro lamentou , numa crônica, que as avenidas e ruas das cidades tenham deixado de ser vias de acesso para se transformarem em desfiles de tanques de guerra. É isso! De alguns anos para cá, uma horda de maníacos, quase sempre sozinhos, passaram a dirigir veículos que mais parecem tanques de guerra: enormes, incômodos, horríveis e pouco práticos, tornando o ato de locomoção automotora , agora sim, uma verdadeira batalha. Por que razão um ser humano, se prestaria a tanto constrangimento, num trânsito tão congestionado?
Para o amigo psiquiatra tais seres são desprovidos do mínimo senso de apreço ao bem-estar comunitário. Por um desvio de personalidade, carecem se impor a qualquer custo, acreditando piamente que dirigir um veículo imponente o tornará alguém digno de ser admirado. O título de Raposa do Deserto (como era cognominado Rommel, o general alemão) lhes é apropriado, ironicamente, primeiro porque assumem a pose de generais e, segundo, porque agem com seus “tanques de guerra” como se estivessem num deserto, ao invés de numa via pública.
Uma segunda razão, menos psicológica, é a da falta de dinheiro, mesmo. Só a penúria financeira explica que um sujeito se sacrifique com uma picape enorme pelas ruas estreitas da cidade quando o mais viável – se tivesse dinheiro – seria possuir, além desse, um carro menor e confortável, para melhor se locomover pelas ruas apertadas de sua cidade.

2. Complexo de Fantasma das Avenidas.
É o sujeito que acredita que basta tomar posse do volante do seu carro para se transformar num fantasma. Vidros totalmente obscurecidos, a meta principal desse novo tipo de maníaco é agir como se, a salvo de olhares, ninguém desse conta de sua presença. Estacionam nos locais mais improváveis e incômodos e param para conversar, desde com o carona do lado até com cachorro que late ao longe ou com a pulga que o está incomodando. Enquanto isso...
O pior desse tipo de mania é que ela tornou-se epidemia e, contagiados, os guardas de trânsito deram também para agir como se fossem fantasmas. Se um sinal enguiça, ou acontece um acidente, eles, viram fantasmas e nunca aparecem. Só deixam de serem visagens, na hora de bater papo ou de multar carros nos raros estacionamentos. É quando surgem, de cinco a seis, aos trambolhões.

3. Complexo de Motoqueiro Kamikaze.
Acredite ou não em espiritismo, tudo leva a crer que os trágicos japoneses, que se mataram na ultima grande guerra, estão reencarnando no Brasil, na forma de motoqueiros kamikases. Sobre suas motos eles se jogam de frente, de lado e de costas. Às vezes, tem-se a impressão de que eles querem atravessar a carcaça do automóvel, do ônibus ou do trem que se atravessar no caminho já que não existe, para eles, quebra-mola impossível, calçada intransponível, jardim a ser respeitado. Têm especial predileção por valas e crateras o que indica que já estariam enxergando, provavelmente, o próprio túmulo.
Com tanta vocação suicida à solta, o cuidado de todo motorista tem de ser redobrado para não tornar-se, ele também, o ator coadjuvante de mais um “haraquiri”, sem direito à segunda sessão. Como todos sabem, quando um suicida morre sempre sobra para um culpado vivo.


4. Complexo de Masturbador de Buzina
Trata-se do psicopata que não pode ver uma buzina de carro à sua frente que já começa a aperta-la freneticamente, como se estivesse querendo ter um orgasmo com a mesma. Tudo é motivo para esse tresloucado apertar a buzina do seu veículo: uma mosca no pára-brisa do carro, o sinal de uma barreira eletrônica, o berro de um cantor, no som do carro. Quando retido num sinal, por mais de dois segundos, o maníaco fica em polvorosa e, antes mesmo de o sinal abrir já está ele, apitando feito um desesperado como se o carro à sua frente, não estivesse submetido também à lei física da inércia, que o impede de sair voando como o maníaco gostaria.
Tanta obsessão da parte do Masturbador... pode provocar danos irreversíveis nas suas esposas ou namoradas que, por precaução, devem procurar manter o bico dos seus seios a salvo das mãos inquietas do psicopata. A solução psiquiátrica para essas pobres mulheres, segundo o meu amigo é simples: dar-lhe uma vuvuzela de presente, ou, melhor ainda, um chifre, para que ele pense duas vezes, antes de ser tão estúpido.

domingo, 12 de setembro de 2010

A ARTE FEMININA DE FAZER UNHAS

Artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo

A ARTE FEMININA DE FAZER UNHAS


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




O ser humano, se desenvolveu inteligência suficiente para criar invenções que facilitam sua vida, não as desenvolveu suficientemente a ponto de não deixa-las à mercê dos seus primitivos instintos de fera boçal, o que nos faz duvidar de que, afinal de contas, estas tenham lhe trazido tanto lucro assim.
Se inventou a televisão, inventou também o Faustão e o Big-Brother. Se inventou o carro, inventou também a barreira eletrônica e o maníaco do volante. Se inventou o avião, inventou a fila de espera da bagagem. Se inventou o som eletrônico, inventou também o som automotivo e o estúpido que o propaga. Enfim, será que valeu a pena?
De todas as invenções, contudo, uma existe que, de tão singular e rotineira, nem se sabe mesmo se foi invenção: a arte (se é que podemos chamar assim ) feminina de fazer unhas.
“Será arte, será arte?” pergunta-se o poeta Ferreira Gullar em um dos seus poemas. Não consigo responder precisamente, o que sei é que até agora não surgiu nenhum especialista para explicar a razão pela qual mulheres e mais mulheres se dedicam com tanto afinco, emoção, regozijo, fidelidade, paciência, perseverança etc a uma tarefa que para os homens não passaria – se a executassem com a mesma galhardia - de uma aporrinhação inútil e incompreensível.
E olha que, recentemente uma enxurrada de livros se dedicaram a explicar as diferenças, nem sempre contornáveis, entre o macho e a fêmea, desenvolvidas ao longo de milhares de anos de evolução. Através desses livros “Os homens são de Marte, As mulheres são de Vênus”, “Porque as mulheres fazem amor e os homens fazem Sexo”, etc. conseguimos descobrir que a imposição evolutiva explica porque as mulheres são interesseiras e os homens infiéis; porque as mulheres conseguem fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo e o homem apenas uma (no mais das vezes, nenhuma); porque as mães são mais apegadas aos filhos do que os pais e por aí vai.
Só não explica é porque a mulher desenvolveu com tanto carinho e dedicação a esquizofrênica (pelo menos, para nós) arte de fazer unhas. Calma, não estou dizendo que não possa haver por trás uma razão bastante compreensível, se observada pelo ângulo da higiene e da estética, mas, sobretudo – e aí é que se inaugura a dificuldade em entender – o que não se explica é o porquê da necessidade de fazer desse ato um ritual quase religioso, uma obrigação tão primordial e imprescindível.
Sim, porque para a maioria das mulheres fazer unha é mais importante do que ler um livro, ir ao cinema ou à missa e levar o filho ao colégio. Muitas mulheres deixam de comer para fazer unhas, sendo capazes até de perder um bom programa com o parceiro por causa disso. Pode-se dizer que fazer unha está para uma mulher como discutir futebol está para um homem com a diferença que, de uns cinco anos para cá, muitas mulheres se imbuíram da mesma fascinação que os homens têm pelo futebol ao passo que, nenhum homem, apesar da velocidade do processo evolutivo que os unifica cada vez mais (infelizmente, diga-se de passagem) , passou a se extasiar com o ato de fazer unhas.
Podemos até nos dar ao direito de especular, recorrendo à imaginação, a uma potencial visão familiar nos tempos ancestrais: os machos ao longe, no meio da mata, atrás de caça, enquanto as fêmeas, famintas e prenhas, os aguardavam numa caverna, cansadas, estressadas, aporrinhadas e sem ter o que fazer... E as unhas, enormes, ali, em frente, à disposição. Se elas fossem machos poderiam coçar o saco, talvez, para se distraírem, mas...elas não tem saco. Heureca! Como ninguém antes havia pensado nisso? Será que essa não seria a grande explicação? Será que não foi daí que tudo começou? Milhares e milhares de anos coçando as unhas, esperando nervosas por comida e sexo, escutando apenas a música dos ganidos estridentes dos macaquitos, até que...
A sensibilidade feminina teria feito o resto. Lentamente, elas teriam aprimorado a primitiva e instintiva coçação até chegar a... Pouco a pouco, passando a toldar suas unhas proeminentes, acariciando-as, confinando-as e moldando-as. Bote o tempo disponível de uma infinidade de anos, bote uma religiosidade latente, quase sagrada, um conformismo atávico, um poder de concentração especial e a compunção peculiar do sexo feminino pelas coisas menores bem feitas e... Pronto! Estaríamos diante da grande explicação. A falta de saco para coçar, talvez...
Talvez? Que me perdoem as mulheres por esta especulação ingênua e sem base científica. O paralelo disso seria admitir que caso os machos fossem tão sensíveis quanto suas fêmeas, hoje eles estariam se dedicando à arte de “fazer sacos”, dourando-os, enfeitando-os, mostrando-os uns para os outros e dizendo : “Cara, já viu que enfeite cor-de-rosa com formato de lua coloquei no saco?” E ficariam ofendidos caso suas esposas e namoradas nada percebessem. Haveria revistas e mais revistas intituladas “Fazer Saco” para os homens (assim como as centenas que se vendem dedicadas às unhas femininas - e que a maioria dos homens sequer imagina que existem) e estes passariam suas duas mais preciosas horas de folga semanais enfeitando sacos, ao invés de ficarem discutindo futebol.
Dá para aceitar isso? Tem lógica? Antes que seja tarde, façamos urgentemente de conta que não. Nada de nada. Não resta dúvida, o apressado cronista, como um inconseqüente, invadiu um terreno que não é de sua competência. Ele que vá fazer crônica sobre assuntos de sua alçada como futebol, que vá especular sobre o humor de Dunga ou de Felipão, que vá caçar problemas e que deixe a mulher e sua arte de fazer unhas em paz.
Melhor recorrer, para solucionar de vez essa questão em má hora levantada, mais uma vez ao bardo inglês Shakespeare, e tomando sua frase como alegoria, aceitar que existem mais mistérios entre o a mulher e o que fazem do que sonha a vã inteligência humana. Incompreensíveis ao coitado do Darwin! Ininteligíveis a Deus.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

EU NOSTRADAMUS?

Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo, ultimo sábado

EU NOSTRADAMUS ?


ewerton.neto@hotmail.com




Pois é, no dia 18 de Junho de 2006 este cronista deu uma de Nostradamus. Quem poderia supor, essa época, que um país, como o nosso, que não dá a mínima condição à sua população para gozar de boa saúde e se prevenir das costumeiras catástrofes invernais fosse se dar ao luxo de gastar dinheiro a rodo com estádios suntuosos e com acomodações para turistas durante uma Copa?
Mas a coisa aconteceu ano passado, todo mundo ficou feliz e este cronista, iluminado provavelmente por Nostradamus escreveu há quatro anos o que segue abaixo. Não é que quase tudo que foi previsto está acontecendo?
Na ocasião leu-se a crônica: Se a Copa do Mundo acontecesse no Brasil:

1. Muita polêmica acontecerá por conta da escolha das cidades-sede dos jogos da Copa. Até o prefeito de Quixeramobim, no Ceará , entrará na disputa, construindo em tempo recorde um estádio de futebol com capacidade para cinqüenta mil pessoas em pé, quinze sentadas ( a família do prefeito ) , e cinqüenta montadas em jegue. Depois de o prefeito entrar em greve de fome e do trágico episódio do suicídio de um vira-lata com a camisa da seleção, Lula concederá à cidade o direito de ver uma partida com os jogadores reservas do escrete canarinho, garantindo com sua presença, a inauguração do referido estádio, antes da Copa.
Como todos sabem as coisas já estão acontecendo nesse rumo. Com a desculpa da Copa, os governantes anunciaram a doação, esta semana ( com nosso dinheiro) de um estádio para o Coríntians sob a alegação de que a cidade de São Paulo não pode ficar de fora da Copa. Por quê será, hein? Quantos milhões morrerão se acontecer isso? Por que o resto do Brasil pode assistir à copa pela televisão e os paulistas não podem?
O mais interessante é que fazendo parte do plano “carne- e- unha” arquitetado por Andrés Sanches, (presidente do Coríntians) e Ricardo Teixeira, (presidente da CBF), o estádio do Morumbi, do São Paulo, com capacidade para oitenta mil torcedores e um dos melhores do Brasil foi preterido na história. Talvez consiga o “privilégio” de sediar os treinamentos da seleção.
Ao mesmo tempo a imprensa está anunciando que várias cidades descartadas como sede , estão se candidatando a sub-sedes da Copa. Preteridas no filé, se satisfarão em roer o osso. São as Quixeramobins da previsão.

2. O Maracanã será totalmente reformado, porém, suspeitas de evasão de dinheiro e superfaturamento das empreiteiras embargarão a obra. O escândalo, agora denominado, Copalão, inspirado no Mensalão, ganhará divulgação internacional e a FIFA pensará em transferir a Copa para outro país. Hugo Chávez, fiel a Lula, o socorrerá com Petrodólares, em troca, exigindo que uma miss venezuelana ( tradicional vencedora desse tipo de competição) seja escolhida a musa da Copa.
Ainda não se chegou lá, mas sussurros e insinuações na grande imprensa já ocorrem aqui e ali. Os orçamentos são extraordinariamente disparatados de lugar para lugar, sem explicação técnica. Empreiteiras com mínima experiência estão sendo escolhidas, como já denunciado, no caso do Ceará.
O que leva a crer que, desta vez, uma venezuelana ficará com o lugar da paraguaia Larissa Riquelme.

3. Acordo de cooperação será feito entre os governos do Rio, São Paulo e o comando da bandidagem para garantia da segurança durante a realização do evento. Marcola, o chefe dos marginais, acabará aceitando como contrapartida do seu apoio uma exibição da seleção nos pátios das penitenciárias de segurança máxima. O acordo será lido por Galvão Bueno, com a presença de Marcola e de Lula em rede nacional.
Dito e feito. Ou será que alguém tem dúvidas de que somente uma forte motivação faria Galvão Bueno anunciar sua despedida para logo depois da copa 2014? Será que já não é de vergonha? E, por outro lado - que coincidência! - o goleiro Bruno, do Flamengo, a caminho da penitenciária, não é o elo que faltava do referido acordo?

4. As forças armadas farão reuniões secretas para elaborar um plano de emergência relativo à possibilidade de a Argentina ganhar a Copa. Serão consideradas duas hipóteses:
Caso a Argentina derrote o Brasil numa partida normal, os sem-terra estarão de prontidão para invadir o estádio, invalidar a partida, ganhando o direito de ali se instalarem para sempre. Caso a Argentina ganhe a Copa os soldados farão vista-grossa para que a torcida organizada do Coríntians possa entrar em campo e baixar o “sarrafo” nos portenhos
.
Só um ingênuo não percebe que a doação recente de um estádio, de graça, para o Coríntians, faz parte da compensação prevista no plano. Por outro lado, quem tem dúvida de que, toda a arruaça da mesma torcida, esta semana no centenário do clube, inclusive matando uma torcedora, sob a vista grossa de imprensa, torcedores, jogadores e opinião pública, não faça parte apenas de um treinamento para a Copa, sob a coordenação de “forças ocultas”?

Obs. Houve, porém, uma pequena falha na premonição. Onde se lia Lula, favor substituir por Dilma Roussef.

sábado, 28 de agosto de 2010

AFORISMOS ÀS AVESSAS

artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo de O Estado do Maranhão



AFORISMOS ÀS AVESSAS

José Ewerton Neto

ewerton.neto@hotmail.com


Reportagem desta semana da revista Veja ao exaltar a arte do aforismo, indica para compra uma coletânea do austríaco Karl Kraus. E solta algumas de suas pérolas: “O mundo é uma prisão em que é preferível a solitária”, “O segredo do agitador consiste em parecer tão idiota quanto seus ouvintes de modo que eles acreditem ser tão inteligentes quanto ele.” Ou seja: “um mínimo de som para o máximo de sentido”, na definição precisa do que é um aforismo do escritor norte-americano Mark Twain.
Ao mesmo tempo que revela que cunhar frases definitivas já foi um passatempo aristocrático na França dos séculos XVII e XVIII, a mesma revista, ao nos apresentar, na mesma edição, o que saiu esta semana da boca das celebridades atuais, faz-nos ter saudades desse bons tempos.
Vamos, pois, ao que existiu de melhor:


De gordo para gordo: não entre em um spa, porque spa é difícil. Não é que você seja gordo. Você está engordado.” Jô Soares para Ronaldo, o fenômeno.
E assim, Jô Soares finalmente descobriu que o sujeito quando recebe muita grana fácil para iludir uma torcida boba como a do Coríntians, sem trabalhar e sem suar, não fica gordo, fica engordado.

O meu filho mais velho me acha uma idiota porque não entendo de computadores” Angelina Jolie
Um dia o menino vai descobrir que o idiota é ele, por ainda não ter descoberto quanta coisa você entende entre quatro paredes, não é mesmo Angelina?

A mulher que fica em cima sufoca. Homem precisa de válvula de escape para respirar”, Gabriela Duarte, atriz.
Depende da posição e do jeito né Gabriela? Sua mãe Regina Duarte, a namoradinha do Brasil, não lhe ensinou isso? O que será que ela andava fazendo: namorando o Brasil?

Ganho mais do que preciso e menos do que mereço” Galvão Bueno, quando questionado sobre o salário que recebe da Globo.
É isso aí! Galvão mais uma vez surpreende com a sua incomensurável modéstia. Todo mundo sabe que para gritar gol do Brasil, histericamente como ele grita, berrando o nome do jogador como se estivesse sendo sodomizado por este, tem que ser pago com muito, muito dinheiro.

Não gosto de visual fora de ordem. Tenho uma vaidade normal: estou sempre barbeado, faço pés e mãos toda as semanas e limpeza de pele uma vez por mês” Roberto Justus, apresentador de porcarias.
E como ficamos nós, que temos uma vaidade anormal? E que pensávamos que parecer um eterno idiota enfatuado não desse tanto trabalho assim?

Eu depilo o corpo inteiro, menos as pernas”, Paulo Henrique Ganso, craque do Santos.
Seja direto, rapaz! Vai fundo que você merece. As meninas estão querendo saber é como o ganso fica nessa história. (o outro)

Queria ser entrevistada no Jornal nacional, então resolvi colecionar algo que ninguém colecionava”. Luiza Possi, cantora, falando sobre a coleção de chicletes mastigados que tinha quando criança.
Para se ver o quanto você já era precoce, Luiza! Celebridades são assim mesmo, excêntricas até nas coleções. Suzana Vieira, por exemplo: até hoje adora colecionar gigolôs.

Vermelho é a cor do satanás. No governo deles pode matar, estuprar, roubar; com a bandeira azul, não.” Joaquim Roriz, candidatao ao governo federal pelo PSC, que usa a cor azul , demonizando o PT, que é vermelho.
Acho que entendemos o que você disse, Roriz. Político, no Brasil, não se satisfaz apenas em matar, estuprar e roubar pessoas e sociedade...Quando são ótimos como você, estupram até as cores.

O mundo está com um motor só, a China.” Led Abruzzese, diretor da Economist Intelligence Unit, para quem o mundo pode parar, se o motor falhar.
Desgraça pouca é bobagem, não é mesmo Led? E você nem disse que o motor é pirata. E foi comprado no Paraguai.




sábado, 14 de agosto de 2010

AO MENOS UM DIREITO

Artigo publicado no Jornal O Estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de..., caderno Alternativo

AO MENOS UM DIREITO


Jose Ewerton Neto

ewerton.neto@hotmail.com




Fazia tempo que ninguém falava nesse negócio de direitos humanos quando, esta semana, uma música resolveu entrar na história.
Música? Bem, não era exatamente uma música, mas vá lá. E havia ainda uma camionete, um som estridente e provavelmente um cantor, se é que pode se considerar cantor alguém que se sujeitava a cantar uma sensaboria daquelas. Começaram cedo, por volta das oito e repetiam a coisa há cada meia hora. Eu estava apenas tentando escrever e, num ato espontâneo de solidariedade, comecei a me preocupar com quem estivesse na mesma rua tentando estudar, trabalhar ou simplesmente - se doente - permanecer em paz.
Foi aí então que me lembrei dos tais Direitos Humanos. Puxa vida, de que adianta uma DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS se um direito básico como o de permanecer em paz em sua residência, ou em seu local de trabalho, é vilipendiado justamente por aqueles que desejam seu voto? Afinal, o que será que eles pensam que o eleitor seja, ao lhe impor a insistência metódica ( não falei melódica) de uma música idiota, num som infernal, como uma tortura? E foi então que resolvi, para não perder a viagem, reler a Tal Declaração dos Direitos Humanos para saber a quantas anda o respeito a cada um dos seus itens.

Artigo 1. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Isso não deixa de ser verdade, em termos de nascimento, pelo menos até o bebê levar a primeira palmadinha. Se raciocinarmos bem, porém, logo se chega à conclusão de que mesmo isso é uma mentira. Uns nascem em hospitais de luxo, outros debaixo da ponte, uns tem canções para lhe embalar, outros tem muriçocas. Uns tem a mamadeira cheia de farinha dágua para lhes alimentar por dois meses, até incharem ou morrerem, outros têm Gisele Bundchen para lhes amamentar durante seis meses e para criticar – no seu blog - as mães pobres que não podem fazer isso. Ou seja, uns nascem para a vida, outros para seja lá o que for; umas nascem para serem mães, outras para serem Giseles.

. Artigo 5. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Será? Quando a rede Globo coloca quase um país inteiro para assistir Faustão ou Big-Brother, alguém pode achar que isso está longe de ser tortura, crueldade, ou desumanidade. Mas, e quanto a ser degradante? Se a exposição pública de machos e fêmeas, exibindo seus instintos mais vis, a troco de alguns pacotes de dinheiro não é degradante o que mais pode existir de degradante no mundo? O texto da lei, para ser atual, deveria, no mínimo, eliminar o termo degradante. Não resolve, mas fica mais fácil, não é mesmo Pedro Bial?

Artigo 6. Todos têm direito a repouso e lazer.
Pode ser. Desde que se considere que assistir show de forró não é tortura, mas lazer, todos tem, realmente, esse direito. Como todos têm também direito à música sertaneja, a assistir dança de famosos, a buraco de rua, barreira eletrônica, guardador de carro, imposto de renda, e obrigatoriedade de votar. Existe lazer maior do que, em pleno domingo ou feriado se dirigir para uma fila, maior que a de banco em dia de pagamento de PIS, para votar num sujeito em quem você não deposita a menor confiança? Melhor do que isso só receber o vale bolsa-cultura do governo Lula para ter direito a todas essas coisas e, de quebra, um lugar no cemitério – se houver - para o repouso e o lazer definitivo.

Artigo 26. Todos têm direito a participar livremente da vida cultural da comunidade, de usufruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
Parece que sim e, melhor ainda, na cidade intitulada Atenas Brasileira, todos têm direito até de participar de seus concursos literários. Só não têm direito aos prêmios que lhe foram prometidos, mas, em compensação, têm o direito a colocar o órgão oficial patrocinador do concurso na justiça, com a esperança de um dia vir a recebe-los. Como também, depois de contratar um advogado, têm ainda o direito a esperar, esperar, esperar...
Esperança! Quer maior lazer e participação cultural que essa?

É por essas e outras que qualquer cidadão com um mínimo de senso trocaria toda essa penca de direitos que lhe dizem possuir por pelo menos um: que não lhes ferissem os ouvidos, pelo menos na sua própria casa.

sábado, 7 de agosto de 2010

OS VÁRIOS TIPOS DE PAI E O PAI

texto publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão

OS VÁRIOS TIPOS DE PAI E O PAI


Jose Ewerton Neto
ewerton.neto@hotmail.com




.Houve época em que os pais eram diferentes - e os dias dos pais também. Nesse tempo, o pai não precisava fazer tipo. Por isso, próximo a mais uma homenagem que cada vez significa menos ( descobri dia 31 de Julho que agora existe dia para tudo, até para orgasmo) torna-se importante que se defina o estilo de cada pai, para que se possa, pelo menos, ofertar-lhe um presente adequado. A escolha é sua, prezado leitor e filho.

1. Pai Alternativo: Veste-se de forma despojada (preferiria nem se vestir ) e trabalha em profissões flexíveis – de guardador de carro a consultor de empresa. Adora um bate-papo ou um churrasco entre amigos e familiares, desde que esses amigos e familiares não sejam seus. Diz-se cult, aprecia artes em geral, inclusive pichação e clonagem de Michael Jackson, e se declara fã de literatura de auto-ajuda. Está sempre por dentro das produções fora do circuito comercial, como vídeos pornôs de amantes de jogadores de futebol. Enfim, é um pai tão alternativo que seu filho nem precisa se preocupar se ele é mesmo seu pai, de verdade.
Presente adequado: Um livro de Saramago - para exibir, e uma revista Caras – para ler .

2. Pai executivo: Orgulhoso do cargo que ocupa, vive dizendo que trabalha muito, sendo que uma de suas principais ocupações é justamente essa: fingir que trabalha muito, principalmente para sua mulher e filhos ( seus subordinados não se iludem com isso). Vive coordenando reuniões, até mesmo dentro de casa: quando vai ao sanitário ou quando isola-se para praticar sexo. Masturbador inveterado – por falta de tempo, como diz - gaba-se de quebrar paradigmas, por isso, pratica com a esquerda, liberando a direita para segurar o celular, sempre à disposição da empresa. Sua esposa, que há muito tempo já desistiu de seduzi-lo, desistiu também de compreender o workaholic em que o marido se transformou, queixando-se para as amigas que ele sente mais prazer ao ingerir o viagra do que com o que vem depois. Funcionário padrão, gosta de freqüentar todos os eventos e festas promovidos pela empresa que trabalha, desde os churrascos no condomínio até a inauguração da coleira do cachorrinho do diretor.
Presente adequado: Manual do Aprendiz do Político ( como todo executivo, ele sempre demonstrou muito talento para não fazer nada e acha que pode ganhar muito mais dinheiro com isso)

3. Pai Esportivo: Pratica qualquer tipo de esporte, sem preconceito, desde cuspo à distância, até matança de mosca . Curte toda atividade ao ar livre, sendo a que mais aprecia é a de ficar de papo pro ar, na praia, a tarde inteira esperando a turma trazer a bola para o jogo de futebol, das seis às seis e meia. Por gostar de muita adrelina tornou-se um especialista em praticar “pega” de walk-machine com o filhinho da vizinha. De madrugada – e sem que ninguém saiba - só consegue relaxar de tanto esforço dando susto nos travestis que fazem ponto nas avenidas.
Presente mais adequado: o telefone do namorado da filha.

4. Pai jovem: Independentemente da idade e fiel à frase que diz que “cada idade tem sua juventude” seu tipo cai melhor nos que beiram os oitenta anos. Mantêm um estilo jovem, que fica entre o de bebê precoce ou adolescente aloprado . Curte muito acompanhar os filhos em suas brincadeiras e hobbies sendo visto com freqüência carregando a bola, a chuteira e o uniforme de futebol das crianças. Durante o jogo, serve de gandula. Aprecia também brincar de pula-pula nas festas de aniversário de criança. Precavido, anda de mãos dadas com os filhos nas avenidas para que estes o protejam das gangues. Muito bem informado sobre as gírias e modismos da galera, diz que adora tanto Lady Gaga que ficou parecido com ela, tanto é assim que , de tanto cantar suas músicas, acabou ficando gago.
Presente adequado: A coleção Eclipse, de filmes e livros, tendo como brinde uma máscara de vampiro.

5. Pai High-Tech. Adora novidade tecnológica, julga-se sempre “antenado” com os mais recentes lançamentos de informática, música, telefonia e astronomia, mas dá-se ao direito de confundir buraco negro com o buraco mais íntimo de cada um. Usa a tecnologia para tudo: agendar compromissos, checar informações e fazer pesquisas ( qual o motel preferido do amante de sua mulher, por exemplo ). Versátil, possui vários versões, do “kit do idiota”: celular, lap-top e tevê no carro. Nem precisa dizer que anda sempre com o som do seu veículo turbinado e seu sonho é adquirir uma Hilux para que possa ficar ilhado para sempre num engarrafamento do centro da cidade, som nas alturas, sem estar nem aí para o apito dos guardas e as reclamações dos motoristas.
Presente mais adequado: Um cede de forró a ser colocado no som do futuro carrão para que possa se desestressar, finalmente, dessa rotina de ser pai.

7. O pai pai: Esse anda cada vez mais raro. É aquele que é simplesmente pai, e isso lhe é mais que suficiente. Pouco visto em shoppings, baladas e almoços de confraternizações em churrascarias , preocupou-se a vida inteira em batalhar para o futuro da família. Hoje, já com a memória um tanto abalada por essa luta, esquece até que existe Dia dos Pais.
Presente mais adequado: basta-lhe o filho.