sábado, 27 de outubro de 2012

A BOLÍVIA QUERIDA NO A-B-C BEM HUMORADO DE SÃO LUIS (4)


Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo, jornal
O Estado do Maranhão, hoje, sábado


Em sua quarta edição , segue o A-B-C  bem humorado de São Luis, um passeio com livre interpretação sobre as expressões idiomáticas, ditos e coisas típicas de nossa cidade. ( Mais uma vez  na carona dos imperdíveis livros de  J.R. Martins e José Neres sobre expressões populares maranhenses)
1. “A Valença é que”...A sorte é que. O sanluizense, esperto,  prefere  falar de valença do que de sorte acreditando, com razão, que falar de sorte pode dar azar.  
2. “Acender o morrão”. Iniciar a bebedeira. Embora seja usado por homens e mulheres  teria sido originado do dito universalmente conhecido: água de morro abaixo, fogo de morro acima e mulher quando quer dar ninguém segura. Daí o ‘acender o morrão’,  já que, ao iniciarem a bebedeira elas já estão acesas há muito tempo.
2. “Baixar a matraca” – Surrar, bater. Como ultimamente vem fazendo a Bolívia querida ( abaixo).
3. Bolívia Querida” Diz-se do time de futebol mais querido da cidade, o Sampaio Correia F.C. , o único, em todo o Brasil  a possuir, depois de domingo passado,  três títulos de campeão nacional : da segunda, terceira e quarta divisões, o que leva a concluir que o próximo será o da série A, não pela seqüência no tempo ( primeiro foi a segunda, depois a terceira e a quarta) mas porque não há mais divisões.  O Sampaio Correia é possuidor de algumas características que o diferenciam e  o tornam simpático até para os torcedores mais distantes . O nome não é uma homenagem a um grande personagem histórico como, por exemplo, o  Vasco da Gama, mas a um intrépido aviador quase desconhecido que pousou pela primeira vez em São Luis num avião vindo de outro país, no caso, a Bolívia. Daí as cores do time inspiradas na bandeira dessa nação. Aliás, muito impressiona que,  até hoje,  os mandatários bolivianos não tenham reconhecido esse imenso serviço prestado às cores de seu país pelo time maranhense e não tenham convidado a Bolívia Querida para jogar contra a sua seleção. Vai ver que devem ter medo do resultado, pois o Sampaio, a julgar pelo que vem mostrando, ganharia de goleada. 
Na última partida, aliás, que fui assistir no renovado Castelão lotado – está uma maravilha! - o segundo gol  boliviano foi uma obra-prima com impressionante semelhança com a marca de Diego Maradona ( que tive o privilégio de assistir no Maracanã, a primeira vez em que esteve no Brasil quando, jovem ainda,  era apenas uma promessa  genial) : o lançamento, preciso,  no espaço futuro que nos deixa atônitos por alguns segundos  até que aparece um companheiro livre diante do goleiro para concluir. Coisas de Arlindo Maracanã,  em seu dia de Maradona.
Quanto à simpatia que exerce na torcida - que o leva a ter preferência local até de torcedores flamenguistas, portanto rubro-negros, o que, a princípio, deveria ser uma incoerência porque seu rival Moto-Clube tem essas cores - deve estar nestas pequenas singularidades atraentes: a humildade de ter escolhido o nome de um modesto aviador e, como símbolo, as cores, também,  de um modesto  país: verde, vermelho e amarelo na camisa e calção cáqui.  ( Cadê o calção cáqui ? O calção verde que vi no domingo, a meu ver  tira a originalidade  do uniforme) . A Bolívia querida deve ter  a preferência e admiração de uns oitenta por cento dos torcedores desta ilha o que faz com que São Luis, além de Atenas Brasileira e Jamaica Brasileira seja também a Bolívia Brasileira.
4. “... e ele nem seu Souza”. E ele nem aí; não dar atenção a alguém ou coisa. Teria se originado quando um  comerciante chamado Sousa abriu um restaurante no centro de São Luis e, à semelhança do turco Nacib de Gabriela, não via – ou fingia não ver - o batalhão de marmanjos que davam em cima de sua  esposa que tomava conta do restaurante. Quando perguntada por que não tinha filhos ela respondia: “Nem eu nem Sousa gostamos de crianças”, embora, vez por outra, no cair da tarde fosse surpreendida  no colo de algum rapazote na mesa mais oculta do restaurante. Grande Sousa!
5.  “Paidegual”. Superlativo de pai d`´egua ; avantajado; muito grande. Ou seja, trata-se do aumentativo de um aumentativo já que o maranhense chama pai dégua algo avantajado ou monstruoso. Ex prático: “Nada existe de mais paidegual do que as mentiras que os políticos contam aos seus eleitores quando pedem voto. Donde se conclui que paideguinhas, no mínimo, é como os políticos tratam, em suas intimidades,  os mesmos eleitores depois de eleitos”.
                                                                              ewerton.neto@hotmail.com