quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A FILA ANDA





Artigo publicado hoje, quinta, no jornal
o Estado do Maranhão


Tudo começou quando o pequeno Abel, o filho de Adão e Eva, aproximou-se dos pais para ver aquilo que os dois estavam fazendo. Claro, os dois estavam tão concentrados (ou enlevados, ou seduzidos, ou distraídos) que não atentaram para a curiosidade do menino e, pronto, estava formada a primeira fila humana da qual se tem notícia.




                                              





            De lá para cá as filas tomaram conta de tudo – e de todos. Uma revista científica, este mês, lamenta que em pleno século XXI os homens não tenham inventado para organizarem-se algo melhor do que filas, o que não é de estranhar. Até hoje os humanos ainda não inventaram um equipamento de proteção contra a chuva melhor do que o guarda-chuva ou algo para puxar saco de alguém melhor do que reuniões que, no final das contas, não passam de filas de babacas,  em torno de uma mesa e  um chefe. O certo é que, por costume ou sei lá o quê, de tanto conviverem com as filas, os homens adotaram cada vez mais as mesmas. Brasileiros, em especial.

            Brasileiro adora uma fila! Vive  reclamando , mas adora. Senão, como explicar que se sujeitem a permanecer horas e horas numa fila de loteria, sabendo de antemão que suas chances de ganhar são tão intensamente miseráveis quanto grandiosas são suas chances de estar fazendo papel de idiota para um Governo que lhe explora? Brasileiro gosta tanto de fila, que de algum tempo para cá passou a responder a quem lhe pergunta como vai usando a expressão “A fila anda!”, querendo dar a entender que as coisas estão mudando para melhor.

            Vai gostar de fila assim, na fila do inferno!, 




                                                    






disse-me  um dia  um matemático amigo meu , que , a essas alturas , deve estar enfileirado numa fila de psicopatas. Foi ele que, outro dia, para confirmar a sua teoria da predileção do brasileiro por filas, postou-se em pleno sol de meio dia, no meio da praça Deodoro, olhando fixamente para o sol, com os óculos escuros. Imediatamente, acercou-se alguém para perguntar o que ele estava observando. “Uma fila de sombras querendo entrar no sol”, respondeu, adiantando que aquele seu lugar era o único propício para observar isso.  Quando seus olhos se cansaram, afinal, olhando desta vez para trás, o que viu lhe confirmou a pesquisa: havia mais de cem pessoas querendo desfrutar da mesma informação. Quando se afastou, desnecessário dizer da expressão de agradecimento e vitória daquele que ocupou o seu lugar.

            “O brasileiro só se sente bem se estiver numa fila”, completa. E estas bem que proliferam ao gosto do freguês: fila para deixar criança em colégio; fila de guardador de carro para guardar seu carro; fila de jogo de futebol, fila de bolsa família e fila do ENEM. Evoluíram, aprimoraram-se e tornaram-se pós-modernas. Entre as mais recentes; de filas  de motos nos estacionamentos a filas de motoqueiros estendidos no asfalto;  De filas de bois despachados do Porto do Itaqui a filas de chifrudos que permaneceram na ilha, etc. etc

            Finalizando a sua robusta pesquisa o estudioso amigo meu conseguiu destacar as 3 leis fundamentais da ‘sua’ Teoria das Filas:

            1.A única fila em que pobre chega na frente é de espermatozoide. (Mas ao chegar, já entra na fila dos arrependidos.)




                                                 





            2.O direito das filas geralmente obedece a lei domais forte. Ou do mais rico, ou da mais boazuda.

            3.Nenhum ser humano se livrará da fila. Nem que seja a do seu enterro.
            Até mesmo porque, aí mesmo é que  a fila anda.




                                                





                                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

QUE SERÁ DO BRASIL, SEM A PLAYBOY?





Desta vez é definitivo: A  Playboy brasileira deixará de circular. Preocupada com mais essa má notícia Dilma Roussef chamou seus ministros para enfileirar lhes a seguinte lista de preocupações:

            1.Como ficará a situação das milhares de EX_BBBs do sexo feminino que ficarão desempregados?




                                               





            2.Como ficarão os fornecedores de botox, demais preenchimentos, peelings, tratamentos estéticos, etc. etc. agora que as peruas encarquilhadas da Globo ( tipo Maitê Proença, Claudia Raia, Suzana Vieira etc. não mais precisarão desses produtos para posar para a Play?




                                                





            3.Como serão evacuados agora os mananciais de esperma de coroas e criancinhas, masculinas que através de punhetas davam vazão às suas fantasias e tinham por onde jorrar? Que acontecerá agora?
( Teme-se por um potencial  aumento de casos de estupro em todo o país).


4. Quando poderá ser vista, afinal, Sandy nua como um dia pudemos ver Lidia Brondi? Não
só de bolsa-família vive a ilusão do homem - e da mulher - brasileira.


                                          


                                    
                       



            A presidenta exigiu providências para salvar o Brasil. Caso não seja atendida, ameaça posar nua em qualquer edição pirata da revista Playboy, mesmo de origem paraguaia.

            Diante de sua disposição Eduardo Cunha já está pensando em iniciar imediatamente  o processo de impeachment da presidenta, mesmo correndo o risco de perder o mandato. 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A BELEZA DAS PALAVRAS





Artigo publicado hoje, quinta-feira, no jornal
o Estado do Maranhão


A “Palavra do ano” de 2015 não foi uma palavra, mas um emoji ( uma imagem pictográfica que simboliza um rosto chorando de alegria). 


                                                 



O que sugere que chegamos a uma época em que a beleza de uma palavra não esteja mais no seu significado, ou sonoridade, mas na sua imagem.
            E qual seria a palavra mais bela da língua portuguesa? Provavelmente não foi escolhida ainda, mas da língua inglesa sim, e isso aconteceu há uns oito anos atrás. 42000 pessoas de diferentes países escolheram a palavra mother (mãe), como a mais bela. Mas será que é definitiva a escolha? Seria realmente mother a palavra mais bela?
            Refletindo sobre as palavras que a secundaram em termos de preferência estas foram, pela ordem: Pasion (paixão); Smile ( sorriso); Love ( amor); Eternity (eternidade); Fantastic ( fantástico); Freedom ( liberdade)...etc. Dá para perceber que seus equivalentes em português seriam apreciados igualmente e que muitas dessas palavras estariam também entre as escolhidas se o objeto fosse nossa língua. Particularmente, lembro que fui possuído de singular empatia – que dura até hoje – pela palavra freedom  quando a vi, pela primeira vez, na adolescência, num poema de Shelley e nem sabia o que significava. (É possível que visse na sonoridade da palavra récem-descoberta a capacidade de traduzir melhor a dimensão de um sentimento tanto mais amplo quanto mais capaz de renovar-se...)                                            



Mas aí é que  está, uma palavra deve ser considerada bela a partir de sua sonoridade ou pelo que representa? Considere-se que certas palavras, em qualquer idioma, têm uma sonoridade poética e musical que independem do seu significado, como, por  exemplo butterfly , do inglês. Não precisa ser artista para intuir que seu equivalente em português, borboleta, não soa com o mesmo poder de fogo. Daí que poderíamos chegar a uma fórmula pretensiosa e definitiva quanto a isso. Palavra bela = seu significado + sua sonoridade.

            Empunhando esse conceito ficaria mais fácil encontrar a tal palavra. Pelo significado, por certo, chegaríamos às palavras óbvias, acima citadas: Amor, Paixão,  Infinito.  Já, pela sonoridade, Vendaval, Melancolia, Delírio etc. não tão óbvias assim, porque exigem para ser apreciadas que nos dissociemos daquilo que representam.  Existe palavra mais bonita e contraditória que Lúcifer, com sua sonoridade poética e sedutora e, no entanto, significando o domínio do mal, ou o próprio diabo? Fosse Lúcifer o nome de um anjo do bem, muitas das namoradinhas brasileiras suspirariam por galãs de novelas com esse nome.
            Escutei em algum lugar, mais de uma vez, que a palavra saudade seria a palavra mais bela da língua portuguesa. Nenhum outro idioma a possui num único termo, com a mesma carga de sentimento, intraduzível. De fato, a palavra saudade certamente satisfaria a fórmula acima, tanto em significado como em sonoridade, porém, ainda assim, hesitaria em especular que  seja a mais bela. A palavra mais bela talvez devesse ser aquela que, potencializada pelos sentimentos intraduzíveis da esperança e da crença na superação humana, individual e coletiva,  fosse incapaz de ser contida num símbolo – poderia ser até mesmo uma palavra não dita, ou ainda, aquela que reverbere melhor pelo não-dito que pelo dito.



                                                      





            Quem duvida de que, nestes dias trágicos de tentativas de sufocação da beleza e da vida pelo horror, em Paris,  uma das palavras mais belas do idioma francês, FRATERNITÉ ( fraternidade) ressoe ainda mais bela?

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com                                                    http://www.joseewertonneto.blogspot.com


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

CADÊ O SUICÍDIO?





artigo publicado hoje no jornal O estado do Maranhão








CADÊ O SUICÍDIO?


Jose Ewerton Neto, autor de O ABC bem humorado de São Luis


                                                           


 


            Quando alguém comete suicídio, pode-se dizer que essa pessoa deliberou consigo mesma para chegar a essa decisão e que houve alguma contraposição  dentro de sua mente, certo? Sim, porque a decisão de chegar ao ato final passou por debates, postergações, conluios,  entendimentos...etc. tudo a que têm direito dois Eus  -ou mais - em vias de tomar uma importante decisão ( e bote importante nisso!) a respeito de uma vida comum.


            Neste mundo atual, em que proliferam os Eus numa única persona (devidamente liberados pelos psicanalistas) não seria lícito supor que em qualquer decisão de alguém a respeito de si, como essa, tomem  parte pelos menos dois Eus significativos, um a favor e um contra, e que o mais forte acabe assassinando o mais fraco, ou vice-versa?


            Esta visão de dois Eus se engalfinhando até o limite fica muito clara quando se pensa no tipo de suicídio em que esteja envolvido o sentimento de culpa. É aquele decorrente da vergonha, da ignomínia e da mácula, quando evidentemente um Eu foi pego em ato ilícito cuja desonra não foi aceita pelo outro (ao qual poderíamos chamar de consciência). Ainda que os dois hajam cometido o opróbio de comum acordo, um deles, o Eu que tem o orgulho de sua dignidade, despertou tardiamente para o mal feito e cobriu-se de vergonha, preferindo morrer.  Assim é que, em última análise dá-se,  também no suicídio, o assassinato, a morte de alguém perpetrada por um Eu que, opondo-se ao outro, não admite vida se não puder exibi-la com honra.


            Esse tipo de suicídio, como se sabe,  é comum acontecer nos países de tradições morais rígidas, com valores éticos prezados por todos.  Com alguma frequência, no Japão, na Suécia, na Inglaterra ou Dinamarca, somos surpreendidos com a notícia de algum político que, tendo enriquecido ilicitamente, não suportou a vergonha de encarar a face acusadora da sociedade ou de sua própria consciência e preferiu penalizar-se, recorrendo à morte para limpar-se da indignidade cometida. Isso acontece em muitos países, dizíamos...


            Porém, nunca no Brasil.


            Ora,  por que é tão raro que isso aconteça por cá? Qual a explicação para isso?


            Conversávamos entre amigos, outro dia, sobre os recentes casos de corrupção, tão propalados, quando estranhamos  o fato de que, mesmo diante das evidências, a única demanda da consciência desses cidadãos envolvidos é no sentido da fuga à responsabilidade. Chega a ser tragicômico! Os elementos envolvidos compactuam com o ilícito com a mesma naturalidade com que comem, dormem e respiram. Continuar no poder é o único objetivo deles, jamais têm a coragem de confessar seus crimes e pedir perdão à sociedade pelo que fizeram.


            Capistrano de Abreu dizia a respeito da falta de vergonha que grassava  entre os brasileiros públicos, de sua época, que esta nação só carecia que houvesse - e se cumprissem -   duas leis primordiais:  1) Todo cidadão brasileiro é obrigado a ter vergonha 2) Revogam-se todas as disposições em contrário.


            Em face do que se vê nos tristes episódios do lava-jato, petrolão, etc. nos quais autoridades agarram-se  a seus cargos com unhas e dentes, mesmo confrontados a seus próprios desvios de conduta, surge mais uma interpretação para essa atrofia tão brasileira de caráter. Esses  indivíduos jamais recorrerão ao suicídio como os arrependidos de lá fora e,   tampouco, pedirão um dia perdão pelos seus pecados justamente porque todos os seus vários Eus, e não apenas um, são corruptos. Nasceram desprovidos de consciência e, consequentemente, de vergonha.


                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com


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