domingo, 29 de dezembro de 2019

OS MELHORES PAPAIS NOÉIS DESTE ANO




Amigos visíveis e invisíveis apareceram em tudo quanto foi  lado, nestes tempos. E os presentes, depois se soube, especialmente das celebridades,  foram os mais inesperados possíveis.

GABIGOL. Uma camisa do Liverpool. Presente do amigo Roberto Firmino, do Liverpool.
O presente veio acompanhado de um conselho. “Gabi, vai por mim. Segura o mais depressa que você puder a irmã do Neymar pra te garantir.  E quer um conselho de amigo? É melhor ficar por aí mesmo. Futebol europeu o buraco é mais em baixo. Não dá pra ti.”

LULA. Uma algema. Presente de sua namorada Janja. Ao lado, a mensagem:
“Lulinha, meu amor, preferi algema a uma aliança de casamento. Dá no mesmo, é mais seguro para ambos, mais barata e, depois, você não vai estranhar porque já está acostumado. Pensei também em uma tornozeleira, mas vi que iria atrapalhar na hora do fuc fuc que já sai com tanta dificuldade de tua parte. Ok, meu bem? Tua Janja.”

FLÁVIO BOLSONARO. Um sanduiche. Presente de Joyce Hasselman.
“Flávio, já fomos amigos, tomei esta liberdade para  voltarmos às boas. O sanduiche, como você sabe, é para que você nunca desista de ser embaixador nos USA, graças ao seu enorme talento de sanduicheiro. E, depois, você e seu pai estão sem Partido. Ora, nada como um sanduíche, que como todo mundo sabe é bi-Partido .”
NEYMAR. Uma Garota de Programa. Presente do pai, seu Neymar.
“Esta é pra você,  Ney. Dá uma olhada no vídeo. Do jeito que você gosta, parece até com aquela descarada da Nágila, porém, mais nova. Não posso garantir que seja zero km, mas nessa pode dar tapa à vontade, sem risco algum. Ela não vai reclamar, tá no contrato. Pra mim, é mais bonita que a outra e mais gostosa, mas, como já disse, não testei. O frete do avião a jato já está pago. Quer dizer, naquele cartão que você disse que eu podia usar quando quisesse. “

BOLSONARO. Um fuzil de caça, fabricação venezuelana. Presente de Nicolás Maduro
“Caro Bolsoña. Esse é para apagar de vez com nossas brigas que não levam a lugar algum. Sinto que já está passando da hora de parar de fingir que não estamos no mesmo barco. Seja de esquerda, seja de direita o que nós dois gostamos é de uma ditadurazinha, certo?  Rerere
Pode confiar na máquina que a  bicha é boa, mata mesmo. Você vai gostar de caçar passarinho e tocar fogo na mata com ela.  Obs. Serve também para se matar quando as coisas não dão certo, mas claro, que isso não vai acontecer com a gente, não é mesmo? Fidel, não deixa! Ops,  Deus! Abração, camarada!”

DIAS TOFFOLI. Uma seção de exorcismo no STF. Doador anônimo
“Prezado Ministro. Não precisa saber quem lhe presenteia. Trata-se de uma seção de exorcismo feita pelo padre Rubens Miraglia que, segundo a  Veja, é grande craque nisso. Acredite, espantará todos os demônios que estão infernizando as decisões do STF que, como você sabe, a Nação já não aguenta. Basta de soltar bandido, basta de desrespeito ao homem de bem.
Obs. Os serviços já começaram. Não precisa abrir verba suplementar que o trabalho já está pago. Só não podemos garantir é a limpeza completa dos demônios da mente de Gilmar Mendes. Aí é bem mais difícil, o buraco é mais em baixo. No caso dele, talvez não seja tarefa para padre, nem mesmo para  Deus.”

Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luís 



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA ASPIRINA





Talvez o melhor título para este texto fosse A verdadeira história da Aspirina.  Ainda assim não está de todo impróprio visto que uma tem tudo a ver com a outra.

A DOR

O Universo, começou  há 13, 5 bilhões de anos, mas nada consta que a dor tenha tido uma vida tão longeva. Aliás,  a pobre da dor não teria a mínima chance naquela explosão descomunal pós Big-Bang. Mesmo admitindo que a matéria possa ter alma, esta não teria tempo de pensar o suficiente para  sentir dor.
Outra coisa certa é que Deus, que criou tudo isso, jamais sentiu dor e, talvez por isso, tenha permitido ao seu filho, Jesus Cristo,  tanto sofrimento depois por uma causa tão inútil quanto salvar a humanidade. A humanidade nunca fez questão de salvar-se  a si mesma e, muito menos, de seus pecados.  
A consciência da dor e o ser humano sempre foram indissociáveis e surgiram quase ao mesmo tempo (a dor, certamente um pouquinho antes, pelo sofrimento antecipado de saber que teria tão má companhia).  Da para imaginar o quanto nossos ancestrais devem ter sofrido, já que não havia remédio e muito menos reza.  
Essa convivência histórica teve alguns capítulos marcantes. Para se ter uma ideia, por volta de 7 mil  anos atrás um dos artifícios usados para aliviar  dor de cabeça era a chamada trepanação, um procedimento que consiste em perfurar o crânio pra libertar a alma dos maus espíritos causadores do desconforto. Na China havia um método mais light: agulhas feitas de pedra eram fincadas em pontos do corpo para equilibrar a energia, vindo dar na acupuntura, milhões de vezes mais light, dos tempos atuais.  

A ASPIRINA

Pouco antes da civilização egípcia um arremedo de alívio começou a vir na forma na forma de folhas e pedaços de casca vindos da folha do salgueiro, com a planta passando pelas mãos de grandes nomes da medicina como o famoso Hipócrates 460 a.c que recomendava mascar as folhas, e o romano Celsus (50 a.c)  que usava um extrato das folhas para combater diversos tipos de inflamação.
Vários séculos se passaram até que em 1867 um americano chamado Edwin Smith transformou para sempre essa relação de amor e ódio. Numa viagem ao Egito adquiriu dois textos considerados fundadores da literatura medicinal, o Eber Papyrus , que acabou por revolucionar o tratamento da dor, sendo uma verdadeira enciclopédia compilada em 1534 a.c com a finalidade de combater variados males, de úlceras a dores no coração.
Em 1897  um jovem farmacêutico, Felix Hoffman, da Bayer ,apresentou a fórmula de uma droga capaz de aliviar a dor sem muitos efeitos colaterais. derivado da salicina, ou simplesmente o extrato das folhas e da casca do salgueiro. Surgiu a Aspirina.
De lá para cá só aumentou a paixão pelo comprimidinho sendo que de todas as drogas vendidas, legalmente e sem receita,  ela responde por 37,5% das vendas o que faz dela uma espécie de Coca-Cola das farmácias . Objeto de mais de 160 artigos científicos a Aspirina enfrenta garbosamente a dor de cabeça, de dente, de ingestão alcóolica, nevralgia, artrite, amidalite etc., incluindo as dores causadas por outros analgésicos.
Enfim, a aspirina é boa para todas as dores, até para amor verdadeiro. A única coisa que a Aspirina ainda não conseguiu resolver  - mas aí seria querer demais -  seria a de aliviar a dor, tão brasileira,  de ter de aguentar as consequências de se votar em sujeitos como Lula ou Bolsonaro.

José Ewerton Neto é autor de Pequeno Dicionário de Paixões Cruzadas




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sábado, 7 de dezembro de 2019

LOUCURAS DO BLACK FRIDAY



artigo publicado no jornal O estado do Maranhão



Se você pretende globalizar um costume basta associá-lo ao consumo. Foi assim com o Halloween, agora é a vez do Black Friday, invenções norte-americanas que  se instalaram universalmente em pouco tempo. O que pouca gente soube foi dos casos bizarros  e  surpreendentes  que rolaram nas encruzilhadas das ofertas e das procuras nesta última edição.

1.Cemitérios.
As promoções valeram até para a hora da morte. Belo Horizonte e Contagem ofereceram descontos de 50 %. No Rio de Janeiro   o  cemitério e crematório da Penitência ofereceu jazigos com descontos até sexta-feira. Portanto, para o ano que vem,  leitor, se você cair doente ou quiser se suicidar,  faça tudo para não morrer um dia antes do Black Friday. Vai ter gente suplicando que você segure, pelo menos, mais um dia. 

1.Corruptos.
Logo depois da operação lava-jato houve imediata desvalorização do preço de um corrupto. Após o episódio da segunda instância, porém, os corruptos voltaram à alta, por obra e graça do Sr.  Dias Toffoli. Bastou, no entanto, uma Pec Caça-Corrupto aparecer nos corredores da Câmara dos Deputados  para os corruptos se ressabiarem novamente.
Coincidindo a data do BF (Black Friday) com essa indefinição, era natural que o preço de um corrupto despencasse de novo. Assim, nas  primeiras horas do dia havia político corrupto se vendendo por um Prisma zero. Notícias dão conta, porém, de que nas primeiras horas da madrugada prefeitos corruptos do interior estariam se oferecendo até por uma moto de segunda mão.

2.Prostituição .
Além de mais de 100 motéis cinco estrelas, a preços especiais, em todo o Brasil, serviços de prostituição foram oferecidos a 3 x 4 nas redes sociais, desta vez com enorme concorrência de sexos intermediários, em diversas modalidades. Por exemplo, compradores interessados em sexo virtual encontraram travestis asiáticos a preço duas vezes menor que no ano passado.
O motivo da baixa pode estar relacionado à proliferação de robôs sexuais a preço de banana (prata, que é a mais barata). Este ano foi possível ao consumidor remediado adquirir até serviços anteriormente destinados ao público considerado VIP. Ex-BBBs quarentonas e com grife  (haver posado na Playboy )  atingiram o menor patamar da história ao fim da noite.
O grande empecilho para essa operação era o frete, mas dava para o comprador se virar viajando de ônibus, já que nesta modalidade de compra o comprador pode viajar,  ao invés da mercadoria. Como se sabe não é qualquer um que pode pagar o frete aéreo para a encomenda, como fez Neymar.

3. Técnicos de futebol.
Fontes dão conta de que Felipão, Abel e Mano Menezes que um ano atrás não eram contratados por menos de 400 mil reais foram oferecidos, por seus empresários, por um valor 4 vezes menor. Claro, o anúncio não podia ser explícito e o serviço desses profissionais consagrados era oferecido disfarçadamente como “Instrutores  de Políticas de Campo”, por exemplo. Como para bom entendedor meia palavra basta esse títulos visavam, sobretudo, atrair o mercado chinês, mas, na prática, significa dizer que se qualquer clube da série B, por exemplo, chegasse com um contrato de 50 mil, levava.

domingo, 1 de dezembro de 2019

SER HUMANO = IRRACIONAL







A primeira coisa que aprendemos nos bancos da escola  é que o mundo animal é dividido em racionais, os humanos, e irracionais, o restante. Isso prova que já começam nos enganando, o que não é coisa de racionais.
É o que tenta provar o autor israelense Dan Aryele, psicólogo, economista e professor, autor do livro Previsivelmente Irracional da editora  Campus. Mas, precisava livro pra isso? Basta pensar no que somos capazes de pensar, após milhões de anos sobre a Terra,   para constatar o quanto estamos longe,  muito longe de racionais. Se ainda perdurasse alguma dúvida bastava recordar de alguns pequenos exemplos:

1.Todo ser humano pensa que não morrerá nunca. E age como tal.

2.Todo ser humano pensa ao elogiar um defunto que está fazendo algo pelo qual o morto lucra alguma coisa.

3.Todo estudante jovem pensa, ao agir em grupo,  em locais públicos, que precisa fazer isso da forma mais irreverente possível e que essa atitude soa simpática aos que os rodeiam , esquecidos de que a juventude brilha não quando é ostentada grosseiramente na tenra idade , mas quando é suavemente exibida para todo sempre. Enfim que é preciso tempo para ser jovem, como dizia Picasso.

4.Todo sujeito (autoridade, formador de opinião, intelectual etc.) que vai para a imprensa demonstrar piedade de assassinos cruéis quando estes são menores de 18 anos, pensa que com isso demonstra generosidade e amor ao próximo, e não que está sendo um portentoso hipócrita, primeiro por tentar auferir louvores para si e, segundo por atingir, com isso, o ápice da covardia,  que é a de doar esmolas às custas do sentimento alheio.

5. Todo ser humano, que enfrenta uma imensa fila de Loteria, pensa que apesar de suas  infinitamente miseráveis chances de ganhar , um dia a sorte lhe sorrirá. Pensa também que está participando de um jogo limpo e não que está servindo de idiota para concorrentes mais espertos e ricos ( entre os quais se inclui o próprio Governo) que se aproveitam de sua boa fé e sua pobre ilusão para enriquecerem às suas custas. 

6.Todo Luan Santana pensa que é cantor. Todo Gabi Gol pensa que é Neymar. Todo Neymar pensa que é Cristiano Ronaldo e todo Cristiano Ronaldo pensa que é Messi. Toda Anitta pensa que é Ivete Sangalo e toda Ivete Sangalo pensa que é Ivete Sangalo.

7.Todo jornalista e comentarista de futebol pensa ao comentar o andamento de uma partida que está falando algo de enorme importância para a humanidade. Pensa que os outros pensam que o futebol é uma ciência complicadíssima  e tenta agir como se não soubesse que até para o mais burro dos torcedores , tudo o que sai de suas bocas não passa da mais desatinada tolice. 

8.Todo ser humano pensa , ao discutir sobre política e políticos de esquerda e direita em qualquer lugar do mundo  que de fato está fazendo uma opção quando vota em um deles, que existe diferença entre uns  e outros e não que as supostas ideologias são apenas disfarces para que os mesmos farsantes de sempre exerçam o poder para proveito próprio e de seus parentes e acólitos. 

josé Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis 




segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O CANTO DE UM CAVALO CANTOR





Em o Cavalo Cantor, recente livro da romancista, compositora musical e poeta Denise Emmer lançado pela editora  Espelho d’Alma (antiga Escrituras) estamos diante de uma autora “que escreve em letras destacadas, como a poesia que permitiu em sua vida” , como ela mesma diz na abertura do livro.







Quantos de nós permitimos a poesia em nossas vidas? Parece simples, mas não é, pelo contrário, é muito raro e especial! O escritor francês Vítor Hugo já determinava: “As palavras como se sabe, são seres vivos”. É fácil imaginar, então,  a poesia escrita, esse ser ainda mais vivo que as palavras, porque é composta delas, nos acercando, nos envolvendo, pedindo passagem, sem que nós estabeleçamos, na maioria das vezes, a ponte para recebê-la , porque nos falta sensibilidade, talento ou mais alguma coisa, ocupados que estamos com o cotidiano de nossas sensaborias, mesquinhas e passageiras.
Este Cavalo Cantor, de Denise Emmer é testemunho disso. Uma enxurrada de poesia em prosa poética que nos salva da indiferença, que nos resgata trazendo-nos de volta, da realidade para nós mesmos, para esse ser anterior à cegueira cotidiana à qual aderimos para não ver, para não sentir e testemunhar o quanto nos afastamos da beleza e da epifania das palavras e da natureza das coisas.
O que há de novo neste livro Cavalo Cantor de Denise Emmer, como há muito tempo não víamos é, justamente, a conjugação da narrativa típica da construção do conto com as metáforas características da arte poética, num todo uníssono e indissociável. Não se trata de poesia em prosa, mas sim de uma narrativa poética, não por intenção ou malabarismo, mas por ter nascido assim, por imposição do destino, como nascem os gêmeos univitelinos. A intensidade poética, como se verá, é destacada na introdução, intitulada Prosa e Poesia de Álvaro Alves de Faria, poeta e artista plástico, quando a poetisa e escritora esclarece que nos contos de agora (deste livro) “ A poesia  e o enredo se encontram num ponto comum da forma mais madura”.    
Dito isso, recomenda-se cuidado ao leitor para que este não se perca na aparente complexidade que isso pode trazer. A narrativa não é linear, foge aos estereótipos do gênero, há apenas um breve intervalo de alguns segundos, na realidade sugerida, antes de se imergir e tomar fôlego na poesia que se apresenta dessa forma para cedo nos fazer perceber que não há salvação da leitura fora do domínio poético. Como no conto Escadaria de Pedra em que o narrador diz: “quando ela se cansava ou sentia os calos dos verões, puxava a lua para baixo e abria um guarda-chuva para a noite”.
Num de seus contos mais pungentes e tristes Sem começo, meio e fim o sem rumo dos desvalidos e solitários expõe a radiografia de suas almas em palavras como estas: “Ao perceber-se  vivo , vira para o outro lado e morre. Tanto faz.”  São Imagens de metáforas arrebatadoras que somente poderiam jorrar de alguém que se permitiu destacar a poesia em sua vida. Assim como essa imagem, tantas outras se sucedem, mas o leitor quase não as percebe,  apenas se extasia,  porque já está devidamente montado na sela do cavalo-cantor, a relinchar, vitorioso, a sua melodia sedutora.

José Ewerton Neto é membro da Academia Maranhense de Letras e autor de O ofício de matar suicidas



domingo, 10 de novembro de 2019

CANETAAZULAZULCANETAAZULCANETAAZULCANETA



artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


Todos a conhecem, a ouviram e, mesmo sem querer, já a cantaram. Isso porque a ingênua música (se é que podemos chamar assim) do maranhense Manoel Gomes  ‘bombou’ na Internet  e o transformou numa celebridade repentina.
Trata-se de mais um fenômeno de earworm (minhoca de ouvido) como se definem aquelas músicas cujo refrão faz com que, inconscientemente, as fiquemos repetindo mentalmente. Até aí nada demais, a não ser a aporrinhação, que não deveria ser tão cruciante assim para quem, por  exemplo,  tem às mãos um livro para ler. A verdade é que o tal som chateia, mas  ‘não mata’. O curioso, porém,  é que, à reboque de sua divulgação massiva, começaram a se propagar na net, com maior velocidade ainda, as piadas e as reclamações.
Certo, a música é ‘podre’ de tão chata, mas será que precisa ficar repetindo isso? Ou por outra, tem o direito de achar essa música tão execrável assim quem tem paciência para permanecer por mais de duas horas em um show, escutando sons de duplas sertanejas, que são mais abomináveis do que essa? Ora, como diz a anedota: “comprem  um bode!”.
 O pior é que esse tipo de competição acaba soando  favorável ao humilde compositor maranhense. 







 Na bizarria do seu sucesso não houve premeditação, estruturas pagas de publicidade, nem esquemas mercadológicos que jamais estariam ao alcance de seu bolso, como estão da conta bancária de fajutos cantores sertanejos. Sem contar que deve ter aflorado, na excitação coletiva pela música, a simpatia espontânea da população dirigida a um confiável e singelo objeto que faz parte do nosso cotidiano, e a quem nunca se deu o devido valor, ou seja, a uma humilde caneta, que pouco exige em troca  pelo fato de nos fazer tão felizes .
Essa gente, que se doa ares de apurado gosto musical quando reclama do non sense da simplória letra dessa música, se esquece de que esta falta de senso é useira e vezeira em cantores consagrados de sua predileção, no entanto, nem por isso se põem a achincalhá-los. Alguns exemplos:

1. Açaí, guardiã/Zum de besouro um imã/Branca é a tez da manhã. De Djavan. Pode até soar bonito, graças à melodia, mas as palavras parecem estar convalescendo em algum hospício. Se a tez da manhã é branca, tudo bem, mas o que o açaí estava fazendo lá? Haja besouro que justifique!

2. Minha pedra é ametista Minha cor, o amarelo/Mas sou sincero/Necessito ir urgente ao dentista. Esta é de João Bosco e sua sinceridade não se esclarece, nem com muita dor de dente.

3. Abacateiro, acataremos teu ato/Nós também somos do mato como o pato e o leão/Aguardaremos brincaremos no regato/Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração. De Gilberto Gil. Parece que Gil estava tão sem inspiração, que para facilitar a rima  resolveu sequestrar o abacateiro. Coitado do abacate!

4. Que não é o que não pode ser que/Não é o que não pode/Ser que não é/O que não pode ser que não/É o que não/Pode ser/Que não/É. Esta é dos Titãs. Quem sabe, são ecos do dilema Shakespeariano do ser ou não ser,  pouco antes de um  dilúvio mental.

E, assim por diante...
Que esta crônica seja encarada como um singelo desagravo ao tão vilipendiado, quanto humilde, Manoel Gomes em busca de seus quinze segundos de fama. Que pode até ser pra lá de chato, mas, por aí existem piores! E como!

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luís, em terceira edição revista e ampliada, ainda este ano, 





sábado, 2 de novembro de 2019

UMA HISTÓRIA, BIZARRA, SURREAL E MARANHENSE





Esta foi do tempo em que alguém do povo podia enganar os poderosos, ao contrário de hoje quando estes não permitem ao popular a menor chance.

Nossa  história começou em 1792 quando Nicolau,  preto e escravo do tenente- coronel João Paulo Carneiro,  fugiu para o mato de onde retornou trazendo uma ideia. (Dizia Pablo Neruda  que para escrever um romance bastava por na frente uma letra maiúscula e termina-la com um ponto final ...desde que no meio se colocasse uma ideia). Nicolau, que não sabia escrever nem ler e, tampouco, romancear, sabia, no entanto,  colocar uma ideia no meio  para sobreviver. Decidiu  levar sua ideia em forma de romance ( ou mentira, tanto faz)  para o os ouvidos do governador da província, Fernando de Noronha. Se o governador achou sua narrativa parecida com a de um romance, não se sabe, o certo é que aceitou que  era pura realidade.

            Corria por esses tempos a notícia de que  pros lados da Lagarteira havia um quilombo, que já formaria uma  cidade denominada  Axuí. Pois Nicolau disse ao governador que, em suas andanças pelos matos, a descobrira,  e que esta era habitada por negros tão ricos que tinham uma grande imagem de ouro de Nossa Senhora da Conceição; e que bebiam em cuias também de ouro.  Mesmo com fama de embusteiro, sua história mirabolante alimentou  os sonhos de cobiça do governador que, nesse mesmo dia, dia fez questão de rezar para Nossa Senhora da Conceição para que ela permitisse a Nicolau trazer-lhe a sua Nossa Senhora da Conceição particular. De ouro, claro.   

            Deu a Nicolau a patente de capitão de milícias e carta branca para agir como fosse preciso. Empoderado até a alma  Nicolau se soltou, dando asas, agora, não somente à imaginação. Passou a frequentar banquetes e a comer do bom e do melhor. Quando alguém duvidava de sua prosopopeia Nicolau arranjava, ‘na marra’, falsos testemunhos. Foi o que aconteceu com Antonio Tatu. Tendo este se negado Nicolau mandou prendê-lo, descobrindo o que era preciso para fazer um tatu andar depressa. Faltava agora somente arregimentar  equipamentos, material bélico e desvairados de toda ordem.

            Aprontou-se então um ‘exército de Brancaleone’ versão maranhense com  2000 pessoas, tendo Nicolau como guia e mais  soldados de linha, índios, e simplesmente pedestres, dispostos em hierarquia de comando de guerra.








            Em 3 de agosto de 1794, saiu a tropa por mar dividida em dois grupos , o principal rumo ao Munim, desembarcando em Santa Helena, sob a guia de Nicolau , o outro sob a guia de Tatu, desembarcando em Alegre e marchando para Lençóis Grandes e daí para o mato . Depois de muita fome e sacrifício, gatinhando morros e atravessando riachos e muritizais,  depois de 18 dias chegaram ao ‘Eldorado’ anunciado. Só que agora faltava o ouro, a prata, e, evidentemente,  Nicolau,  que havia fugido.

            Resumo  da missa. Tiveram de retornar na calada de noite a São Luís, ocultos para não passarem vergonha. Nicolau foi preso e, sem ter a recorrer (jamais houve ou haverá STF para pobre neste país) , foi condenado à prisão perpétua.

Enquanto isso o governador não foi sequer admoestado. Tampouco havia Ministério Público essa época, para dar a Nicolau, pelo menos,  um prêmio de consolação pela sua rica imaginação que, até hoje, nos faz sorrir.  

José Ewerton neto é autor de O ABC bem humorado de São Luís que, em sua terceira edição revista e ampliada , constará desta e outras histórias 




quarta-feira, 16 de outubro de 2019

NÃO PODE SER ESTAGIÁRIO






CIRO GOMES DIZ QUE CHEGA DE ESTAGIÁRIOS NA PRESIDÊNCIA
REFERINDO-SE A LUCIANO HULCK


COMENTÁRIO DE JUCA POLINCÓ



o filósofo politicamente incorreto da Periferia 


ESTAGIÁRIO CLARO QUE NÃO PODE. SE É PARA ROUBAR TEM QUE SER PROFISSIONAL. ( COMO ELE?)








domingo, 13 de outubro de 2019

CANHOTEIRO , UM PONTA ASSOMBROSO!




Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


Terminei por esses dias a leitura do livro Canhoteiro, o homem que driblou a glória, de Roberto Pompeu. Minha admiração por esse jogador de futebol começou ainda criança quando eu, fanático por esse esporte, colecionava a antiga Revista do Esporte.  
Essa admiração  começou mais precisamente quando li,  na seção bate-bola com o craque,  uma resposta do legendário Djalma Santos , lateral da seleção brasileira ganhadora da Copa do Mundo de 1958 ( Djalma, que jogava no Palmeiras, foi considerado o melhor lateral daquela Copa  mesmo tendo jogado uma única partida, a última, em que o Brasil derrotou a Suécia por 5 a 2). Ao ser perguntado sobre qual o atacante mais difícil de ser marcado, Djalma respondeu sem pestanejar.





- CANHOTEIRO. O maranhense é bom de bola mesmo!
Essa resposta me encheu de orgulho como maranhense por ter sido destacado um conterrâneo, que eu desconhecia completamente.   
A partir daí, sem nunca tê-lo visto jogar, tornei-me seu fã mesmo que ele não fosse conhecido  muito bem, sequer pelos maranhenses da época. Tal razão acontecia porque  o noticiário dominante em todo o Nordeste vinha da imprensa carioca , a ponto de todo torcedor nordestino ter seu time preferido no Rio, mas não necessariamente em São Paulo. Canhoteiro, que se chamava José Ribamar de Oliveira e nasceu em Coroatá,  pouco atuou nos times maranhenses. Em São Luís jogou pelo Paissandu ( não confundir com o do Pará) , depois transferiu-se para o América do Ceará  e daí para o São Paulo F.C
 O Mago (como era chamado pelo sortilégio de suas jogadas)  reinou em São Paulo enquanto durou sua curta trajetória. Infelizmente,  perdeu o bonde consagrador da gloriosa viagem da seleção brasileira campeã de 1958 por uma razão singela e peculiar: não tinha ‘saco’ para a seleção. 




Canhoteiro, na ponta esquerda da seleção, num ataque que contava ainda com Julinho, Pelé e Didi




Fugia,  como Garrincha ( com quem se parecia nos dribles fenomenais e em muitos pontos da personalidade inamoldável ) , da disciplina dos treinos e sumia da concentração. Assim, foi preterido na seleção de 58 no auge de sua forma técnica embora fosse sabidamente mais craque do que Pepe, o canhão da vila, e vinte vezes melhor que Zagallo, apenas um esforçado cumpridor de ordens táticas.
Uma frase do Jornal A Tarde de São Paulo, publicada no dia de sua morte precoce aos 42 anos sedimenta, para qualquer apreciador da epifania que ronda a arte futebolística,  a dimensão da categoria na qual se inscrevia:  “Na verdade era um desses raros jogadores acima de qualquer resultado, por ter sido mais importante que o próprio gol.”
Ora, que pode ser mais importante que o gol num esporte que tem essa finalidade? Nenhum epitáfio pode ser mais  consagrador que esse para um craque .  De Zizinho a Juca Kfoury,  de Chico Buarque a Gonzaga Belluzo, que o viram como o melhor ponta esquerda de todos os tempos, todos o admiravam porque era rotina dos moradores de São Paulo irem para o estádio não para ver seus times ganharem, mas para se deliciarem  com  o show do Latifundiário, outro de seus apelidos,  justamente porque , para ele, 10 cm de campo era todo um latifúndio para fazer a bola rolar.
A leitura deste livro consolida a ideia de que Canhoteiro foi o mais genial dos atletas maranhenses. Portanto é necessário falar do mesmo, homenageá-lo (como a outros notáveis maranhenses ) sem a parcimônia atual , para evitar que o trem do tempo passe em sua viagem sem regresso, solapando a memória de seus feitos e realizações.


José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis







                                                                       ewerton.neto@hotmail.com

sábado, 5 de outubro de 2019

AS LISTAS DE NOSSAS VIDAS





Fui presenteado recentemente pela amiga, poetisa e confreira Laura Amélia Damous  com uma dádiva especial: o livro Listas Extraordinárias, em tudo e por tudo um livro extraordinário.
A inspiração para esse presente surgiu-lhe de uma crônica que escrevi neste mesmo jornal em que o assunto foi justamente minha sedução por listas. A ponto de ter sido cognominado de ‘listador’ pelo também confrade Joaquim Haickel no prefácio que gentilmente escreveu para o meu próximo livro de contos, prestes a ser publicado,  cujo título inspirado em um dos contos se chama Pequeno Dicionário de Paixões Cruzadas, um conto policial narrado em formato de listas, eis que um dicionário, ao fim , não passa de uma lista de palavras.
Este, por sua vez difere em essência de O Livro das Listas de Irving Wallace citado na crônica anterior,  onde as listas são  provocadas ou  imaginadas a partir da opinião de especialistas sobre vários assuntos, sendo, portanto, em grande parte fictícias. No presente livro, não. Um cuidadoso trabalho de pesquisa disponibilizou listas reais (todas fotografadas) fazendo realçar aspectos da personalidade de seus autores e do ambiente em que viviam num valioso trabalho biográfico e histórico.  São sequências por vezes triviais, mas sempre curiosas e até mesmo espetaculares pela informação trazida. Desde a lista de exigências de Einstein para sua esposa até os motivos de internação  em um hospital da Virgínia Ocidental de 1864 a 89 há listas para qualquer gosto podendo ser:

Tragicômicas. A lista dos conselhos  do famoso ensaísta e clérigo Sidney Smith para sua grande amiga com depressão guarda ‘pérolas’ como estas: 1) Viva o melhor que puder... até 2)Por fim, acredite em mim, querida Georgiana.

Imperiosas. Os onze mandamentos de Henry Miller para ele mesmo evidenciam o esforço que ele demandava para se autodisciplinar, ao se ordenar: “Não comece a escrever outros livros, não acrescente mais nada a Primavera Negra”... até findar em: “ Escreva primeiro e sempre. Leitura, música e amigos, deixe tudo isso para depois “
Patéticas. As listas de esforços de Sylvia Plath e Marilyn Monroe guardam extraordinária semelhança (as duas se suicidaram) na tentativa de serem felizes. A de Sylvia começava dizendo: “Mantenha constantemente um ar de alegria”. 
Engraçadas. A lista de símiles de Raymond Chandler que as acumulava para sua narrativa policial irônica e noir é de morrer de rir: “ sexy como uma tartaruga, frio como um calção de uma freira, raro como um carteiro gordo, bonita como uma tina de lavar roupa...” etc. etc.

domingo, 22 de setembro de 2019

MONARQUIA. PARA SALVAR O BRASIL



Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


No começo era a Monarquia, sob a qual vivemos muitos anos, embora nem mesmo se conhecesse o rei, de tão longe que este ficava. A vida era difícil,  mas dava pra levar numa boa até mesmo porque, nessa época, não havia Faustão, rede social e nem dupla de música  sertaneja.
Tudo começou a melhorar depois que o imperador nasceu aqui. Era um sujeito culto e generoso que queria o bem do país, mas, assim como Cristo, não conseguiu agradar todo mundo. Escorraçaram o velhinho e implantaram a República e, com ela,  a Democracia.  Tinha tudo para dar certo, mas, aos poucos,  o inconformismo tomou conta do país. Resultado: Ditadura neles!
O ditador era um baixinho gaúcho, gorducho e patriota que tinha,  no entanto,  um pequeno problema: era chegado a um suicídio. Isso causou uma enorme confusão e a solução foi apelar de novo para a velha e manjada solução: democracia, com presidencialismo a reboque. Tentou-se de tudo desta vez , até  um bruxo apareceu como uma vassoura, mas o povo continuava insatisfeito.  Ora, diante do caos nada como uma ditadura para salvar a pátria. Apelou-se  então para uma ao  estilo militar para não haver suicídio à vista ( militares, como se sabe,  mão se suicidam, só suicidam os outros, mandando-os para a guerra) .
A pau e pedra  a coisa permaneceu algum tempo, enquanto durou a alegria no futebol. O Brasil ganhou a terceira Copa do mundo, foi o tempo do país que ia dar um passo à frente.  Tão logo  o Brasil voltou a apanhar no futebol o país deu um passo à frente , caiu no abismo e foi a vez do velho e surrado presidencialismo dar as suas caras de novo desta vez com um presidente com cara de novo: Fernando Collor, que tinha cara de novo mas era um velho ladrão. Solução: impeachment nele.
 A coisa capengou até se chegar a Dilma Roussef que também foi impichada mostrando que o Brasil havia deixado de ser campeão mundial de futebol para ser campeão mundial de impeachment.  Depois de um ex-presidente ir parar na cadeia por roubo  e ter assumido um vice ,    suspeito de roubo, já estão querendo impichar um terceiro, em vias de implantar o Bolsonarismo que é um regime que funciona mais ou  assim:  o presidente manda pra cá para defender o filho acusado de roubo, os deputados mandam prá lá para se defenderem da acusação de roubo, os judiciário tira os corruptos da cadeia e, em volta, o roubo impera.  
Ora, se o roubo continua, está mais do que na hora da volta  do regime monárquico onde o roubo é institucionalizado, mas  para poucos.  Além do mais...






            1.O Brasil sempre foi  cheio de reis . Rei do futebol (Pelé), rainha dos baixinhos, rei da Voz, rei dos apelidos na Lava-Jato  etc.
            2.A forma de governo não é  monarquia mas dá no mesmo porque os governantes não são reis mas agem como se tivessem um na barriga.
            3.Coroa tem aos montes, em todas as capitais deste imenso país. É só procurar nas fotos das colunas sociais dos jornais. A variedade é imensa, embora enferrujadas.
            5.Os nobres e poderosos do Brasil podem até não ter sangue azul, mas, com certeza, este não é vermelho porque,  depois de tantas falcatruas jamais se viu um deles corar de vergonha.
            6.Bobo da Corte também é o que não falta neste país. Desde Galvão Bueno gritando gol do Flamengo no limite de perder a fala, até os que fazem cócegas nos egos dos poderosos da Corte, como Gilmar Mendes, para que estes caçoem de suas misérias. Quem duvida de que o eterno bobo da corte desse país sempre foi o povo ? 

domingo, 15 de setembro de 2019

SEXO, SEXO, SEXO. O REMÉDIO PERFEITO!









Descobri, em reportagem recente deste jornal, que 6 de Setembro  é o dia internacional do sexo, data assim escolhida como  uma alusão à prática  do  69. Complementando,  a reportagem informava o que tudo mundo, mais ou menos, sabia:  SEXO é o melhor remédio.
            As razões, explicadas cientificamente, aqui não carecem ser esmiuçadas. Enumeram-se as doenças e dores para as quais funciona que é uma maravilha:   1) Para enxaqueca, 2) Para fortalecimento dos ossos 3) Para combater a incontinência urinária 4) Para aliviar as cólicas de TPM. 5) Para melhorar o aspecto da pele 6) Para melhorar o sono 7) Para aliviar o estresse 8) Para queimar calorias 9) Para aumentar a imunidade contra infecções , gripes e resfriados 10) Para envelhecer melhor e... Enfim, trata-se de um remédio tão eficiente que não é exagero se conjecturar que o sexo seja bom também para morrer melhor.
            Com tantos atributos o que se lamenta é que ainda não seja reconhecido como tal pela ANVISA, o que só pode ter origem preconceituosa a partir do que se admite como politicamente correto. Uma primeira providência para desconstruir o ‘pecaminoso’ que ronda a atividade sexual seria passar a reconhecer melhor seus propagadores e agentes. Urge, por exemplo,  que os motéis deixem de ser instalados apenas em avenidas e locais obscuros e passem a existir em locais de grande visitação vindo a denominar-se , ao invés de motéis, clínicas de saúde. O mesmo vale para prostitutas que passariam a ser reconhecidas como profissionais da saúde pública com direito a aposentadoria por tempo de serviço e direitos equivalentes aos que lidam com a saúde como médicos, enfermeiros e farmacêuticos.
            Restaria ao Ministério de Saúde distribuir bulas explicativas à população mais ou menos da forma que segue:    

            Composição: Trata-se de um remédio natural  cujos principais componentes químicos e físicos são trilhões de células desenvolvidas a partir de um código de crescimento chamado DNA até se constituírem   seres humanos. A otimização  dos efeitos de SEXO como remédio exige que haja conjunção de dois indivíduos para tanto, preferencialmente.  

            Posologia: Embora aplicado e ingerido comumente em horários noturnos, SEXO não tem restrição de horário, podendo ser consumido a qualquer hora do dia. Quanto ao local dá-se preferência para locais pouco movimentados e com baixa visibilidade. Essa restrição tem a ver com certo grau de paroxismo e excitação que, surgindo logo em seguida a aplicação do remédio, pode fazer com que seja confundida sua forma de utilização com a de alguém sob o impacto de alguma possessão ou loucura.    

            Precauções: Embora liberado sem a obrigatoriedade de receita médica,  recomenda-se não exagerar na dose o que pode viciar os pacientes tornando-os obsessivos. (Obs. Um exemplo disso foi a cantora Anitta, presentemente sob  cuidados médicos).  

            Efeitos Colaterais: O principal efeito colateral acontece depois de 9 meses e tem a ver com o surgimento na barriga da receptora  daquilo  que convencionou-se chamar de filho, nem sempre bem-vindo, infelizmente. Neste caso, para evitar, deve-se socorrer de uma camisinha enquanto se estiver tomando o remédio.   Os demais efeitos colaterais são considerados contornáveis sem uso de outro remédio: paixão, obsessão, perda temporária de raciocínio  e outras manias.             
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com  

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis