quinta-feira, 25 de agosto de 2016

OLIMPÍADAS NA ATENAS BRASILEIRA




artigo publicado hoje no jornal
O estado do Maranhão.
http://www.blogsoestado.com/ewertonneto

Você sabia,  caro leitor, que entre 1912 a 1948 foram sete as competições artísticas, dentro das Olimpíadas? E que esse tipo de competição foi inspirada no modelo da  Grécia Antiga? E que as modalidades artísticas eram: literatura, música, pintura, arquitetura  e escultura? E que as obras eram enviadas para um comitê avaliador e deviam ter temática esportiva? E que...

            Paremos por aqui por falta de espaço, mas, sim, senhores, nada impediria que esse tipo de competição fosse renovado, a bem dessa  interação que deve sempre existir entre arte e esporte. Afinal de contas “mens sana in corpore sano”. Ainda mais que o motivo de essas modalidades terem sido banidas da competição, deveu-se ao fato de serem, então,  os artistas concorrentes profissionais da arte, e prevalecia o critério de que os concorrentes tinham de ser todos amadores para não “ferir” o espírito olímpico. Ora, hoje em dia os atletas que disputam são todos “profissionalíssimos” a julgar pelos rios de dinheiro que faturam, e essa razão não constituiria mais um empecilho.

            Mas, quem sou eu, um cronista de província a pleitear uma mudança de tal envergadura numa decisão que afeta o mundo todo, e não só esportivo. No entanto, guardadas as devidas proporções lembro que aqui mesmo, em nossa ilha, os jogos olímpicos artísticos,  vamos dizer assim, mantêm, mesmo aos trancos e barrancos (talvez mais trancos que barrancos) a chama olímpica acesa.



                                                 

                                                 



            Refiro-me ao Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís que todos os  anos premia, edita e revela talentos novos e antigos de nosso estado: são os nossos ‘atletas da mente’, forjados na leitura e no apego aos livros, esforçados, lutadores , incansáveis, dedicados e sonhadores que, nessa ocasião, retiram das gavetas e do ostracismo cruel a que são relegados, seus originais  para vislumbrarem  uma luz no fim do túnel a partir de uma eventual premiação para, a partir daí,  espalharem a chama do talento artístico que possuem para  divulgar o que ainda resta de Atenas Brasileira por aqui , às gerações atuais e vindouras.
            Não parece se mirar, porém, no espírito olímpico individual ou coletivo de alguns abnegados as decisões governamentais. Assim é  que, mesmo tornado Lei, o Concurso Literário e artístico da Cidade padece de continuidade e consolidação, tantos anos após ter sido implementado. Ao invés de se fixar como celebração ao talento, definitivamente efetivado, sofre o Concurso, assim como a Feira do Livro,  dos humores de nossos administradores e da depreciação do seu conteúdo,  sendo tratados costumeiramente como meros adendos de outras realizações espúrias que absorvem mais das finanças públicas. Com isso,  quando se premia um vencedor, não se edita, ou quando se edita não se premia.                                            
            Vieram as novas administrações e com elas, a perspectiva e a esperança de que o tratamento dado à vocação olímpica de uma cidade, tendo como meta a glória ateniense 
cultural, artística e esportiva, não seria daqui por diante,  obstaculizada.  Porém, o ano de 2016 caminha para o seu final,  as resoluções são adiadas e paira sobre o Concurso e a Feira  o fantasma da dissolução, da dúvida  e do desconhecido.
            Que os ventos da racionalidade sobrevoem a Ilha, e inspirem as decisões  administrativas para que o Concurso não se transforme numa triste olimpíada em que seus vencedores não recebem as medalhas a que fizeram jus.
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
                                                                                             


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

JOMAR MORAES E O "EXISTIRMOS"



artigo publicado hoje, quinta-feira, no jornal
o Estado doMaranhão

EXISTIRMOS: a que será que se destina? Se pensarmos na existência da humanidade, como um todo, não se encontrará resposta fácil para essa questão na ciência, sendo necessário que nos socorramos da religião e da fé como solução para essa indagação tão vital, mas tão secundarizada no dia a dia dos homens. “Não se preocupe em entender, a vida é absurda!”, já sentenciava Clarice Lispector.
            Diante das falas emocionadas das últimas homenagens prestadas a Jomar Moraes (não cabe aqui  a descrição de sua rica biografia tão conhecida de todos)  por representantes da AML, da sociedade, amigos e parentes, ficou-me a convicção  de que o “existirmos” de Jomar Moraes se destinou, por vontade própria, à cultura e aos livros, usando como veículo para a consumação dessa sina,  por ele escolhida, a AML, instituição à qual dedicou quase uma vida inteira.
            Ao enfatizarem essa simbiose, os confrades Benedito Buzar, presidente da AML e Lourival Serejo, em ocasiões distintas,  sugeriram que Jomar Moraes tantas vezes foi a própria AML, enquanto teve vida para incorporá-la, no exercício dessa capacidade de encontrar essa destinação, tão rara em muita gente, que motiva a própria existência. “O segredo da  existência humana consiste não apenas em viver mas em encontrar um motivo para viver”. O resto ( e como foi grande esse resto!) foi, entre outros dons, a sua generosidade tão decantada e exaltada pelos parentes e amigos.
            No meu caso, essa generosidade se manifestou através de uma amizade de raízes antigas e familiares (meu pai Juvenil Ewerton aprendeu a tocar saxofone com o seu, Alípio de Moraes, que era músico e compositor) e facilitou-me a posterior inclusão na vida literária maranhense, primeiro ao possibilitar a publicação, pelo extinto Sioge que dirigiu, do meu primeiro livro de poesias  chamado Estátua da Noite quando, vindo da adolescência, eu não sabia que podia vir a ser poeta e, depois,  ao enviar para o escritor e cineasta José Louzeiro, sem que eu soubesse, os originais da novela  O prazer de matar   que, depois de uma resposta encorajadora e entusiasmada do consagrado escritor maranhense,  mostrou-me  que eu podia vir a ser escritor.  
            “Pois quando tu me deste a rosa pequenina ” é o verso seguinte de Caetano Veloso, que sucede  ao verso-indagação do início desta crônica e que pertence à, talvez , sua mais bela composição, o xote Cajuína, que foi escrita em homenagem ao poeta e compositor piauiense Torquato Neto, precocemente morto. Esse verso, que não é uma rima e, muito menos, uma solução, como diria Drummond,  sugere que o “Existirmos” de determinadas pessoas, quando especiais ( por terem encontrado a sua destinação), complementam e ajudam o Existirmos de tantas outras. O que  também foi evocado pelo poeta Chico Poeta em sua homenagem póstuma a Jomar Moraes quando exaltou jamais haver se constrangido,  pelo contrário sempre se orgulhou, de ter usufruído e tirado proveito dessa generosidade intelectual de Jomar Moraes , uma Biblioteca Ambulante a serviço da comunidade, como eu também me referi , em entrevista no mesmo dia de sua morte , reproduzida nas páginas deste jornal.
            Pois foi essa rosa cristalina da esperança na cultura e nos livros,  que densamente povoou o seu EXISTIRMOS  e que ele espalhava  para iluminar a destinação de tantos outros, como eu, no rumo da vocação literária ou artística , a que repousava,  entre  outras rosas que lhe foram presenteadas em seu ato final;  oferendas recíprocas que levou  em sua viagem, no rumo de sua , agora sim, imortalidade.

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O QUE ELES VÃO DIZER AO DIABO




artigo publicado no jornal o estado do Maranhão

Uma indagação recorrente em entrevistas do jornal literário Rascunho  aos escritores é sobre o que eles acham da eternidade. Anos atrás, na revista Época, perguntava-se, ao fim de determinadas  entrevistas, o que as celebridades diriam quando encontrassem Deus. Ambas as questões parecem fazer parte dessa obsessão por transcendência, tão característica do gênero humano.
            Ora, perguntas desse tipo sugerem dois engodos: primeiro o de se admitir que alguém, só porque seja famoso ou tenha virado celebridade,  possa ser eterno ou chegar ao céu. Segundo,  o  de que Deus vai ter paciência com alguém que já chegue mentindo.
            Como “o justo peca noventa e nove vezes ao dia” (como disse o próprio Jesus Cristo) eles só  esquecem de perguntar o que dirão as pessoas quando chegarem ao inferno e encontrarem, à sua frente, o diabo. Basta imaginar:

            1.LULA. “Companheiro, estou me sentindo em  casa. O ambiente é vermelho, tem foice pra todo lado  tá cheio de gente do PT e ainda cima posso tomar minha 51 sem repórter nenhum pra me aporrinhar. Bem, só falta agora gelar um pouquinho a marvada... Com esse calor não dá, né companheiro?”

            2.XUXA. “Juro que não sei a razão de ter vindo parar aqui. Será por que fiz filmes pornôs seduzindo garotinhos, ou será que foi por ter enganado os baixinhos a vida inteira? Ou ainda por ter transado com Pelé, por dinheiro? Ora, se foi por causa desta última exijo um advogado. Preconceito racial até no inferno, não dá.” 


                                             

       
          
            3.PAULO COELHO. ”Nunca pensei que mentir,  ou escrever mal,  fosse motivo pra vir parar por aqui. Juro que se me mandarem de volta mudarei o título do meu best-seller de O Alquimista para O Diabólico. Faria mais sentido, aliás. Que tal?”

            4.SUZANA VIEIRA. “Estou  revoltadíssima! Desde quando caçar gigolôs é pecado? Exijo que me mandem de volta para a Terra ou me enviem para o purgatório. Bem, se não der, pelo menos me arranjem um diabo jovem pra matar esse calor abrasante que tô sentindo no corpo inteiro. Não o daqui, mas o meu.”

           
            5.FELIPÃO. “Se me trouxeram para cá porque sou grosso e arrogante aviso-lhes  que vocês estão correndo sério risco, porque, além disso, ainda sobra mau caráter. Já se me trouxeram por causa do 7 a 1 , desconfio de que não avaliaram bem a tragédia. Já pensou quando o Fred e o David Luís chegarem por aqui e eu for convidado para treinar o time do Inferno?”


                                       



  6.EDUARDO CUNHA. “Bom dia ou boa noite,  tanto faz, mas aqui tá um apertacunha danado! Ainda bem que lá embaixo já estava me acostumando com o Aperta Cunha.”

 7.ZÉ DIRCEU, representando a imensa fila de corruptos. “Não estou entendendo. Quando vendemos a alma ao diabo imaginamos que o povo mais uma vez é que fosse pagar, como costuma acontecer em nosso país. Imagino que a alma de Sergio Moro deve estar infiltrada entre vocês. Tratem de dar um jeito antes que seja tarde. Pra vocês e para nós.”

            8.JOÃO SANTANA, marqueteiro de Dilma. “Sejamos objetivos e tratemos de  negociar. Você me arranja um jeito de eu transferir trinta trilhões de dólares para o paraíso ( o fiscal, claro) e eu faço com que você ganhe as próximas eleições para rei do Universo. Acredite, para quem fez Dilma Roussef ganhar duas eleições no Brasil, eleição no céu é uma barbada.”

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com