sábado, 26 de outubro de 2013

O ARROCHANEJO E OUTROS REINADOS



artigo publicado hoje na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal O estado do Maranhão, hoje, sábado



Quando se pensava que não podia haver coisa pior para se ouvir do que música sertaneja eis que apareceu sua evolução: o Sertanejo Universitário.  Quando se pensou que se chegara ao limite da catástrofe, não é que inventaram o Arrocha?

                                             

Esta semana, circulava em uma de nossas avenidas principais, quando deparei com a Lei de Murphy (só podia ser ela) à minha frente, num bizarro Back Door. O cartaz na traseira do ônibus anunciava: O rei do Arrochanejo se apresenta em São Luis. Um amigo, a  meu lado, perguntou: ARROCHANEJO, que diabo será isso? Eu lhe respondi, depois de trinta segundos de profunda reflexão “Não se preocupe: deve ser  a Lei de  Murphy ( aquela do porque tudo dá errado) aplicada à atual música brasileira. Anuncia-se assim : Por pior que seja um ritmo musical  logo estarão descobrindo outro pior”.
Ou seja, em matéria de criatividade negativa por aqui a turma se esmera  e um dos recursos mais utilizados é, justamente,  este: se não há como piorar duas coisas, por si já bastante ruinzinhas,  basta misturar as duas: o caldo que sair é para dar, vender,  comprar e se extasiar. Um exemplo sintomático dessa ‘inventividade’ acontece com os partidos políticos. São tantos e com tantas siglas, que às vezes dá pena do alfabeto, já que  as letras nunca parecem em número suficiente  para representá-los em suas totais inexpressividades. Mesmo assim, ainda conseguem fazer alianças entre si. Dá para acreditar?  É como se o nada se juntasse ao nada para gerar o abaixo de zero - se a matemática permitisse.
 Esse “misto quente tropical”  que, por incrível que pareça, quanto mais intragável é, mais gente surge para apreciá-lo, não acontece  apenas com os  gêneros musicais. Infelizmente, existe por aí um batalhão de misturas, igualmente férteis:  


                                                


A primeira delas, esta no campo futebolístico, é a FILIPEIRA. Mistura de Felipão com Parreira foi o mix ideal, engendrado pela CBF,  para espremer patriotismos de araque em tempos de Copa.  Unem-se a arrogância siderúrgica de Felipão com a boca murcha de Parreira para dar a impressão, finalmente,  de que em matéria  de futebol o céu está, de novo, ao nosso alcance. Claro que para o sucesso do sabor da mistura, seus criadores contam com  a pitadinha milagrosa de um craque excepcional , e Neymar está aí para isso.  Assim foi, com Parreira, quando Romário o salvou do fiasco nos USA. E com Felipão, idem, quando o boquirroto gaúcho teve de se socorrer do talento nordestino do execrado – pela crônica sulista – Rivaldo. O mesmo nordestino que ele humilhou e não quis receber no Palmeiras, tempos depois. O mesmo Palmeiras que ele treinava e que abandonou como um rato fujão, tão logo pressentiu o cheiro de rebaixamento. Haja  pois  talento dos craques e Deus brasileiro  para que o sabor intragável da Filipeira não nos impeça de ecoar o grito ‘Galvanizado’ entalado na nossa garganta: Brasiiillllllllllllllll!!!!!

                               
                                           
Outra oportunista mistura – pelo menos para um dos lados – poderia se chamar MARINACAMPOS. Atenção, nada de confundir com Marina dos Campos A combinação a que estamos nos referindo é de Marina Silva, egressa dos grotões  e heroína dos humildes com Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco. É a mistura dos olhos verdes do nascido em berço de ouro com os olhos negros da mulher mestiça, da ex- empregada doméstica,  que estudou por conta própria, com o filho de pai milionário que sempre teve o de bom e de melhor, da revolucionária com o burguês, da mulher de voz esganiçada  com a voz tonitruante do outro, do corpo franzino  com a opulenta barriga. Dizem que os opostos devem se atrair  para que haja um bom casamento, mas dizem que também que a corda só rebenta do lado mais fraco. Alguém duvida qual seja?

                                 
                                 

Vale a pena ainda lembrar a recente união de ROBERTO-CHICO-GIL-CAETANO-MILTON-ERASMO-e DJAVAN. Nesta, ao contrário das parcelas originais de baixa qualidade citadas acima, temos até uma boa matéria-prima. Chico, Caetano  Gil e Milton Nascimento são o que de melhor a MPB produziu  na segunda metade do século passado.  Mesmo assim, como todos sabem,  a coisa começou a desandar quando se misturou as partes, e o grupo resolveu ter voz uníssona a favor da censura. Um, que bradava contra a intolerância virou proibidor, o que fazia canções românticas, virou inquisidor, o revolucionário virou ditador, o delicado virou grosseiro e o carinhoso virou louco furioso. Hão de dizer que o problema, mais que atávico é da  natureza humana: não há rebeldia sem causa, da juventude, que resista às rebeldias contra as idéias libertárias, da velhice.
Sei não, mas acho que nesse caso o culpa vem  mesmo desse talento nacional para a fusão, com fim catastrófico.  Melhor não misturar.
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                                                  http://www.joseewertonneto.blogspot.com

sábado, 19 de outubro de 2013

ADOLESCÊNCIA: SEU OURO E SEU LIXO



Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal O estado do Maranhão, hoje, sábado

“Não existe mais juventude. Na pós-modernidade se passa direto de criança precoce para adulto retardado.”

Adolescente ou aborrecente? Nenhum dos dois, segundo psicólogos britânicos especializados no tratamento de jovens. Ado-recente: é assim que essa nova geração de cientistas talvez devesse chamar a este adolescente pós-moderno que dura, agora, até os vinte e cinco anos. Segundo Antrobus “os avanços da Neurociência mostram que o desenvolvimento da mente não para em determinada idade  e vai além do que se pensava, provavelmente, até os vinte e cinco anos”.

Já pensou se essa nova classificação chega aqui no Brasil, onde a lei já protege assassinos pós-graduados em crueldade, sob a camuflagem da adolescência? Se hoje em dia o que mais existe é barbado de dezesseis anos matando à vontade, logo  vai aparecer marmanjo de vinte e cinco esquartejando ou estuprando e, depois,  saindo direto do crime para uma sessão de mama no peito da mãezona.

A vantagem é que não haverá mais terceira idade, nem quarta. Se a adolescência topa nos vinte e cinco a juventude irá de vinte e cinco a cinqüenta, e a adulta de 50 até a morte. Velhice pra quê? Já que ninguém quer mais ser velho  acabe-se com a velhice. Como se toda idade, por mais radiante que seja,  não tivesse além de seu ouro, o seu lixo:

1.O lixo da Infância: A criança que só quer ser adulta; O pai que só quer ser criança; os concursos de miss infantis; a Xuxa; o cachorro-quente; o dengo excessivo; a má educação disfarçada de hiper-atividade; a implicância da supermãe com os filhos quietos.

O ouro da infância: O riso de felicidade que brota das pequenas coisas, espontâneo e sem cálculo.

                                                       

2.O lixo da Adolescência/Juventude: A espinha no rosto; o frio na espinha; A vontade de transgredir transformada em grosseria; a doença do celular; o forró; o sertanejo universitário; o desprezo pelas coisas sábias sob a desculpa de ultrapassadas.

O luxo: O deslumbramento do primeiro amor; a esperança; a música; Os Beatles; o  One Direction; O Apanhador no campo de centeio; a rebeldia ‘sem causa’; a ânsia de  liberdade oriunda da rebeldia sem causa (que só existe na juventude).


3.O lixo da Velhice: O Alzheimer; o plano de saúde; a aposentadoria, as rugas.

                                           

O luxo: O desapego pelo que não tem tanto valor assim; A descoberta ( quando chega) de que a juventude é uma conquista da maturidade. “Jean Cocteau”
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A adolescência: seu ouro e seu lixo

sábado, 12 de outubro de 2013

LÚCIFER SOB INVESTIGAÇÃO



artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão,
hoje, sábado, dia 12

A maior arrogância do homem não é considerar-se á  imagem e semelhança de Deus, mas imaginar que o diabo  pode ser pior do que ele.Do livro O Infinito em minhas mãos.

Muita gente pensa que Lúcifer é o mesmo que Satanás. Talvez porque nunca  leu a Bíblia, o suficiente, para saber como ambos surgiram. Basta  lembrar, no entanto, do que lá está escrito para constatarmos  que se faz urgente uma reavaliação.  Pelo menos à luz da modernidade.

1.”De acordo com a Bíblia, no segundo dia da criação, Deus criou o céu e, nesse mesmo dia, surgiram os anjos, mas o que mais impressionava pela beleza era Lúcifer”.

Portanto, Lúcifer, se vivesse hoje, seria  uma espécie de pop-star , sem culpa de sua própria beleza alucinante ( se anjos já são bonitos, imagine um que impressionava!) . Como ninguém até agora descobriu qual é o sexo dos anjos,  ele deveria ser uma mistura de Brad Pitt com Gisele Bundchen, Carolina Dieckmann  e Suzana Vieira (esta para sua futura versão dragão, como veremos ). Para muitos entendidos ele  era um querubim e um mensageiro do céu, mas o certo é que, para isso, não precisava ser tão bonito. Uma falha divina?  

                                      

2.”O pecado de Lúcifer foi ter deixado sua beleza e sua alta posição na hierarquia do céu subirem à sua cabeça e, no sexto dia,  ter recusado a ordem de Deus de louvar sua nova criação, O HOMEM, feito à sua imagem e semelhança”.

Ora, se nos dias atuais, até a posição de puxa-saco oficial na hierarquia de qualquer repartição pública faz subir  à cabeça, imagine alguém  sendo  anjo, bonito e, ainda,preferido de Deus. A vaidade não sobe só à cabeça, mas  à lua!
Quanto à sua recusa em obedecer a ordem de Deus para louvar o homem... Será que  depois de tantas atrocidades já cometidas pelo mesmo, alguém duvida de que Lúcifer estava mais do que certo em repudiá-lo?  

3.”Orgulhoso, Lúcifer quis formar um reino acima de Deus e convenceu um terço dos anjos a segui-lo. Para isso se transformou num dragão de sete cabeças e dez chifres”.

            Verdade que formar um reino acima de Deus era muita pretensão, mas o problema a essas alturas, para Lúcifer, era o de conceber a tal companhia humana. “Dizem-me com quem andas e te direi quem és”  deve ter pensado . Um detalhe a mais é que com dez chifres em cima de cada uma de suas sete cabeças é impossível tomar a decisão correta, como  qualquer corno sabe disso até hoje,


                                                


4.”O exército dos rebeldes não conseguiu vencer os celestiais, comandados pelo Arcanjo Miguel que saiu para a batalha com um efetivo de 70% dos anjos.Os perdedores foram considerados anjos caídos e passaram a arder no fogo por toda a eternidade. Só então Lúcifer foi transformado em Satã”.

Em qualquer julgamento imparcial que hoje se faça, a luta inglória de Lúcifer, deveria ser  considerada, no mínimo ,como heróica. Lutando contra a maioria por uma causa justa ( a não aceitação dos humanos, como raça preferida de Deus ), e com derrota pré-anunciada Lúcifer foi, sem dúvida, um guerreiro idealista. E  o que é pior:  sem poder sequer recorrer ao Supremo, como hoje em dia pode fazer  qualquer mensaleiro.   

                                             


5.”Lúcifer, agora Satã,  partiu para a vingança jurando destruir a raça humana. Como manteve o poder de mudar de aparência, às vezes aparece como serpente. Foi usando essa camuflagem que ofereceu a árvore da vida à Eva ”.

Perdido por um, perdido por mil, deve ter pensado Lúcifer, agora Satanás. O mal já estava feito, só lhe restando continuar sua sina como símbolo do mal. Aliás,  nada me tira da cabeça que a maior raiva de Lúcifer não foi ter perdido a batalha, mas sim ter sido obrigado a trocar um nome original,  tão bonito como Lúcifer, para o de Satanás, cumprindo assim uma sina pra lá de desgraçada.
Enfim, à luz da modernidade,  uma diferença de avaliação deve ser feita,  se não para resgatar Lúcifer, pelo menos para compreendê-lo. Se nós, humanos,  milhares de anos depois que nasceu Abel, o primeiro,  acabamos de nos premiar esta semana com um Nobel ( de física) por termos sido  capazes de descobrir uma mera partícula de Deus, nada explica porque razão nos recusamos a descobri-lo em plenitude, como ele gostaria,   ao longo desses quatrocentos milhares de anos.

                                   
Lúcifer sob investigação


E  pensar que isso sempre esteve  ao nosso alcance!
                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

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domingo, 6 de outubro de 2013

DE DILMA PARA OBAMA



artigo publicado na seção Hoje é dia de....
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, sábado


DISSE A ELE QUE DEPOIS QUE A PASTA DE DENTE SAI DO DENTIFRÍCIO DIFICILMENTE VOLTA. ELE ME RESPONDEU QUE FARIA TODO ESFORÇO POLÍTICO PARA QUE ESSA PASTA DE DENTES, PELO MENOS, NÃO FICASSE SOLTA POR AÍ, E VOLTASSE PARA DENTRO DO DENTIFRÍCIO”, Dilma Roussef, presidente do Brasil, relatando parte de sua recente conversa com o presidente dos USA."

Para você ver, caríssimo leitor, o que rola por aí em reuniões de ministérios e conversas de presidentes. Anos atrás,  na era Collor, de triste memória,  fomos surpreendidos  com os bilhetinhos de amor que eram enviados, sob a mesa e entre coxas, de um ministro para outro.Então, era o ministro Bernardo Carvalho que os enviava para Zélia Cardoso de Melo,Ministra da Economia, enquanto discutiam o destino de nosso dinheiro. Vinte anos após, o incrível papo acima foi travado, semana passada, entre a nossa presidente Dilma e o todo poderoso Obama,presidente dos USA. Segundo ela, o diálogo foi para discutirem sobre a espionagem que os USA andaram fazendo por aqui.
Ora, se para falar de espionagem o assunto era pasta de dente saindo de dentro de uma bisnaga, já pensou se fosse para tratar de uma possível guerra entre as partes? Vai ver que falariam  de um  consolo sexual saindo de dentro de uma lata. 
Algumas hipóteses surgem para explicar o que pode estar oculto por trás de tanto apuro de ‘linguagem presidencial’.
1.Hipótese realística-surreal.

                                              

Dilma Roussef  talvez tenha aproximado sua face muito próximo da de Obama,  o que pode ter denunciado algum súbito mal-hálito com o que tratou de justificar-se de imediato. Obama , educadamente, reagiu dizendo que reconhece o problema da ‘rebeldia da pasta’, e deve tê-la consolado prometendo não divulgar o episódio. Daí o “ vou fazer tudo para que a pasta não fique solta por aí e volte para dentro da bisnaga”. O que, em linguagem não- presidencial deve significar: vou ficar com o bico calado.

2.Hipótese corrupto-política.

                                    
                                 


Dilma teria se apressado (diante de tudo o que os gringos espionaram - e que ainda não mostraram) em justificar tanta bandalheira nacional, explicando-lhe que no meio que convive - e que administra, ‘tudo que sai, nunca mais volta’, pedindo-lhe compreensão para isso. Referia-se, claro,  a dinheiro. Obama, desconsolado,  escolheu uma forma sub-reptícia de dizer-lhe que iria fazer um esforço nessa direção, mas que, de fato, não acreditava que alguém um dia pudesse resolver seu problema. Talvez Dilma devesse lhe ter dito, em linguagem não-presidencial novamente,  que a única pasta que a maioria dos políticos brasileiros entendem  - e gostam -  é aquela cheia de dinheiro.

                                          

3.Hipótese Erótica-Sexual

Sabedora de que foi espionada por Obama (quiçá em trajes íntimos), Dilma teria liberado seus impulsos e se insinuado para o gringo, usando uma metáfora provocante e carregada de ambiguidades. De acordo com esta hipótese, a “pasta de dente saindo do dentifrício que dificilmente volta” seria uma alusão ao não regresso de Obama à companhia  de Michelle depois de ele ter-lhe espionado por dias e dias.  ( De fato,  Obama não parece mesmo  com uma bisnaga?)

                                                  

                Pego de súbito em falso, Obama não teve outro recurso senão contemporizar e sutilmente deve ter respondido que faria tudo para que a pasta de dente voltasse para dentro, ou seja, no caso, ao próprio lar. Donde a pergunta que não quer calar:  “Poderia a visão do que conseguiu espionar de Dilma, tê-lo feito decidir-se   a correr imediatamente de volta para casa?” Ou para o dentifrício, em linguagem presidencial?
                                                                                                                             ewerton.neto@hotmail.com

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