domingo, 16 de janeiro de 2011

BELEZA NÃO É PARA QUALQUER UM

Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção
Hoje é dia de...sábado, caderno Alternativo


BELEZA NÃO É PARA QUALQUER UM

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com



1. Não se sabe como, um norte-americano chamado Ronald Tornambe encontrou um jeito de calcular a beleza de um ser humano. Não satisfeito com isso achou de propagar seu feito através de um livro chamado a Fórmula do Cálculo da Beleza. E, de lá se saiu com um tal de Quociente de Beleza. Diga-se, de passagem, que o cara não é matemático, nem cientista, muito menos lunático, mas cirurgião plástico.
A revista Veja, sempre carente de novidades, deu crédito ao sujeito e, exibindo em reportagem de capa, considerações sobre sua façanha, haja classificar a beleza de celebridades como Tânia Khalil, Paulo Zulu, Ana Hickman, Claudia Leite etc. Pelos seus cálculos Ana Hickman seria a campeã, deixando para trás a graciosa axé-forrozeira Cláudia Leite. Eu, que prefiro a segunda em matéria beleza, procurei me aprofundar no texto para avaliar se o fato de cantar porcarias fez a baiana perder pontos. Parece que sim, a julgar pelo quesito “estilo” em que Ana Hickman deu de 46 a 29 (quase o dobro) na Claudinha. Portanto, garotinhas bobinhas e eternas candidatas a modelo de shopping-center, se querem ser belas, de verdade, vão tratando de colocar seus cedezinhos de forró no lixo.
Ou será que não foi só o forró? Não sei por que cargas dágua no quesito denominado genética Ana continuou matando a pau: teve 112 pontos contra 103 de Claudia que, por sua vez, empatou com Carolina Ferraz. Ora, se Claudinha empatou com Carolina é fácil deduzir que, pela lógica, deveria ser considerada então mais bela que Hickman, pois Carolina Ferraz, incontestavelmente, dá de dez a zero na gaúcha. Ou será que a matemática da beleza não funciona igual as outras e se x é igual a y que é igual a z , x não é igual a z? Ou será, também, que o fato de ser loura natural, no caso de Ana, ao invés de Cláudia ( que é morena), conta mais pontos na matemática do gringo nesse nosso país de cafuzos - que gostam de se proteger com leis raciais mas não aceitam seus próprios focinhos?


2. Confesso que, a essas alturas, fiquei ansiando pela presença da indefectível Suzana Vieira na competição para que, servindo de referencia, tornasse mais confiável a confusa escala. Certo, porque, confirmado seu coeficiente de beleza negativo, o índice do gringo se revestiria de um mínimo de coerência. (Que beleza, senão negativa, pode possuir uma perua de 70 anos, como Suzana, que se acha o máximo em estilo e beleza, mas depende de um gigolô debaixo do braço para poder aparecer ?)
Para aumentar a confusão, no final da reportagem, a revista oferecia um questionário onde o leitor poderia avaliar sua própria beleza. Dentre a miríade de perguntas havia desde as misteriosas ( qual o formato do seu corpo?); científicas ( qual a sua tendência de ganhar massa muscular?); metafísicas ( os olhos são os elementos mais marcantes do seu rosto?); até as filosóficas (qual a sua opinião sobre pessoas obcecadas por aparência?). Ou seja, mais de cinqüenta perguntas que seriam facilmente substituíveis por uma breve olhada no espelho. Ou será que ninguém mais é capaz de se olhar num espelho, hoje em dia, para avaliar o grau de sua feiúra?
Ah, os espelhos... Não é a toa que Jorge Luis Borges tinha fascinação pelos espelhos e, ao mesmo tempo, por labirintos. Pois que grande labirinto é, para qualquer ser humano, a sua própria contemplação! Se as pessoas se olhassem num espelho, o que não seria economizado em cirurgias plásticas, produtos embelezadores, e remédios! No mínimo, as pessoas aprenderiam que “a beleza é apenas a promessa da felicidade”, como dizia Montagne.
E quanto ao Sr. Ronald Tonambe, quantas páginas de idiotice seriam poupadas se, ao invés de propagar seu índice inconcebível, exibisse três ou quatro fotografias da - excelente - atriz italiana Sofia Loren, quando jovem, acrescentada de um conselho: “Minha filha, não fique triste se você jamais conseguir a beleza pois se houve poucas que quase a conseguiram: uma delas foi esta.”

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