sábado, 27 de junho de 2015

O CAPETA: SUA VERDADEIRA HISTÓRIA




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


Só pode ser arte do demônio o fato de que sua história jamais poderá ser contada desde o começo. Isso por uma razão muito simples: ninguém sabe quando começou.  O fato é que se a história propriamente dita esclarece muito pouco sobre o assunto, a ciência muito menos e, por incrível que pareça, as religiões menos ainda.
            O embaraço começa por uma questão que talvez seja filosófica, mais até do que existencial: o demônio é o mal ou vice-versa? Admitindo que o demônio exista, de fato, e que seja o próprio mal, quando teria nascido, ou, em outras palavras, quando o mal começou? Tá vendo como essa biografia é complicada?  Ora, quando o universo surgiu, tinha de ser o bem em si, porque antes só havia o nada e nada poderia haver de mal no que não existe, pois contrariaria sua própria definição. Enfim, nada mal que Deus fizesse um universozinho, ou  seja, um bem, para que treze bilhões de anos depois, entre tantas coisas mais prazerosas de se fazer no momento (como dar uma olhada nas calcinhas das índias nos arraiais) 


                                                



um cronista de uma raça minúscula, de uma ilha de um planeta minúsculo, se metesse a investigar o bem, o mal e seus demônios,  por não ter encontrado um assunto melhor para sua crônica.  
            Como ninguém jamais vai poder acusar prótons, elétrons e nêutrons  de serem malévolos só pelo fato de se jogarem uns contra os outros desde que o mundo começou, brincando de serem ora energia ora matéria, num folguedo de quem não tem muito o que fazer (um pouco melhor, no entanto,  que o de Deus que é o de olhar para a eternidade  infinita), vale pensar que o mal e seus demônios só chegaram muito tempo depois. Mais precisamente, há uns  quatro milhões de anos quando...
            Êpa,  por via das dúvidas é melhor parar por aqui..
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            2.Para não ferir suscetibilidades humanas, é de bom alvitre perguntar às religiões para investigar o que sabem a respeito dessa história.
            O cristianismo  relaciona o início do mal aos anjos que foram expulsos do reino de Deus. Algumas hipóteses apontam que a expulsão ocorreu a partir de uma rebelião, tendo o ciúme contra os humanos como o motivo da queda. Ora, conhecedores que somos de alguns dos  mais legítimos representantes dessa nossa raça em questão, como Lula, Dilma Roussef, Faustão, Galvão Bueno, Luan Santana e Suzana Vieira - para ficar só no Brasil, forçoso é admitir que ter ciúme de seres desse tipo seria atitude totalmente descabida, principalmente para anjos, o que nos leva a concluir que essa hipótese não tem o menor fundamento.




                                                   





 
            Como o diabo cristão é, de certo modo, comparado e descrito similarmente a Iblis, no Islamismo e, no Budismo tem seu equivalente na figura de Mara, um sujeito que se utiliza da tentação para manipular os de boa fé por meio da ilusão, eis aí a receita de bolo de qualquer ser humano que se deu bem na vida, desde que o homem teve inteligência suficiente para se diferenciar (um pouco) do macaco.  De políticos a mafiosos, de empresários a oportunistas, os grandes milionários de hoje pouco fazem na vida mais do que se esmerar na arte de manipular por meio da ilusão negociada. (Não é isso mesmo,  empresários do lava-jato?).

            Se completarmos as informações religiosas relativas ao Egito Antigo (no qual existia a figura de Seth, denominado o deus da violência e da brutalidade); Grécia Antiga (em que não faltava o lado sombrio com Éris, deusa da discórdia e Hades, deus do subterrâneo e dos mortos); e à indígena (na qual Tupã, o deus supremo, criou Pirarucu para representar o mal e as Tiriricas como deusas da raiva, da vingança e do ódio), temos a constrangedora constatação de que os demônios que tanto nos apavoraram,  e ainda apavoram,  nasceram, isso sim,  da imaginação humana e foram concebidos à reboque de seus próprios dons.
            E, pior, o caos que estamos  vivendo atualmente, a violência desenfreada que nos cerca e a ordenação de nossas relações  sociais conduzida por picaretas que nós mesmos elegemos, não torna lícito concluir que vivemos hoje, mais que nunca, num mundo  assombrado por demônios e que estes nunca nasceram tanto como agora?




                                                   






            3. Satisfeita a curiosidade (à qual não queríamos chegar) que veio dar nessa triste história sobre a verdade/nascimento dos demônios, resta a parte mais complexa dessa curta biografia que é a de como exorcizar essas pragas da parcela da humanidade que ainda não foi possuída pelo capeta. Enfim, como identificar que uma pessoa está possuída e quais os caminhos existentes para a expulsão do demo.
            Segundo a doutrina espírita para fazer bem o exorcismo deve haver um apoio das duas partes: “É preciso mostrar que deve haver um acordo entre os dois, o diabo e a pessoa possuída, convencer o espírito que, com a vingança, ele não está se satisfazendo. Muito pelo contrário, ele está atrasando seu processo espiritual”.




                                                 





            Convenhamos: isso é que é difícil!  Como todo mundo sabe, a coisa mais complicada no mundo é convencer um petista, ou pensando bem, qualquer ser humano (seja em corpo ou  em espírito)  depois que assume o poder.
                                                                       ewerton.neto@hotmail.com
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quinta-feira, 25 de junho de 2015

DE UMA BOA ENTREVISTA






                                                 





Trechos de uma Boa Entrevista
( O MELHOR DAS BOAS ENTREVISTAS - agora quinta-feira neste blog)

Lina Meruane , escritora chilena, escreveu Febre no olho, sucesso editorial nos USA agora traduzido no Brasil pela Cosac Naify sobre o  drama de uma mulher ter tido a visão obscurecida por um derrame ocular, fato semelhante que aconteceu consigo em menor escala. Entrevista concedida ao jornal Rascunho, edição de maio de 2015.



(...)
1.Quais são os elementos da jornada em busca da cura? Ou ainda, a cura existe? Cura do quê?
Não sei se entendo essa pergunta, claro que há curas para muitas doenças físicas e emocionais, mas a cura total não existe: trata-se de um raro equilíbrio, cura-se de uma enfermidade e aparece outra; cura-se de uma angústia e aparece outra. A vida é uma longa doença degenerativa.

2.Caso houvesse uma inversão de papéis em Sangue no Olho ( romance da entrevistada) e fosse a protagonista que cuidasse do outro, como seria? As mulheres se veem em posição mais vulnerável quando acometidas por uma doença ou o gênero não importa?
O gênero importa muito. Historicamente as mulheres prezam o sacrifício como um valor: a mãe deve se sacrificar por seu filho, o pai contribui; a esposa se sacrifica pelo marido mas não deve esperar o mesmo de volta; a filha se sacrifica pelos pais e, sobretudo, pela mãe porque lhe deve a vida enquanto seus irmãos se apoiam nela...Isso está poderosamente inscrito na cultura e se reforça o tempo todo através de discursos múltiplos sociais. Quando as mães conseguem dizer não aos pedidos dos filhos sem se sentirem culpadas? Quando na intimidade de um casal, a mulher logra colocar suas necessidades acima da dos outros como quase sempre fazem os demais? Não são as filhas que se encarregam de cuidar dos pais idosos mais frequentemente?? Não digo que seja sempre assim, o que digo é que custa mais às mulheres deixarem de agir assim porque foram educadas para servir e para sentir que seus desejos e talentos possuam menos valor. Isso segue sendo assim e é difícil de enxergar. Quando tenho alguma dúvida na minha vida pessoal, sempre, como regra, inverto a situação e penso no contrário: o que fariam o meu parceiro, o meu irmão, o meu pai ou o que faria nessa situação se eu fosse um homem? (...) Para não me prolongar foi isso o que eu fiz ao escrever o meu romance, dar uma volta na relação do gênero e ver a situação clássica desde a inversão. O que surpreende os leitores é precisamente essa inversão: aí se enxerga as coisas muito melhor, e elas assustam muito mais.



sábado, 20 de junho de 2015

OS ÚLTIMOS MILAGRES DOS SANTOS (ZITO E CIA.)





Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


ZITO, falecido esta semana, volante  do  Santos e da Seleção Brasileira, para quem não sabe,  foi  bicampeão do mundo  nas jornadas de  1958 e 1962.




                                                 





            Estava assistindo na quarta  à constrangedora partida de futebol entre o Brasil e a Colombia, quando a Globo inseriu no intervalo uma homenagem ao finado craque, rememorando uma época vitoriosa e pródiga do futebol brasileiro do qual  Zito foi um dos protagonistas.  Constrangedora por isso mesmo: em contraste com o que estávamos vendo na tela - uma pífia exibição da outrora imponente seleção canarinho - um testemunho do que no passado foi algo  de que nos orgulhávamos possuir:  o melhor futebol do mundo.

            Pois Zito foi um dos últimos dessa fase áurea. Da seleção  brasileira bicampeã em 1962, no Chile, só estão vivos , agora,  Zagalo e Amarildo  ( que, inclusive, deram  o seu testemunho na reportagem).  Zito brilhou não apenas na seleção  brasileira , porém, muito mais no Santos. E é aí que começa a história dos milagres. E dos santos. E  do Santos.

                                             
                                            





            Antes de Pelé, um garoto de dezesseis anos, entrar na história em 1956, o  Santos tinha tudo para se perpetuar como  um time de menor envergadura. O Coríntians  já era o Coríntians, O Palmeiras o Palmeiras mas... Bem, o futebol brasileiro ainda não era o futebol brasileiro. E foi aí que começou o milagre. Da estatura, então, com boa vontade, da Portuguesa de Desportos, ou do América do Rio, o Santos se tornou em apenas uma década o melhor time do mundo, o mais admirado, o maior time brasileiro de todos os tempos, de forma que qualquer tentativa de equivalência em termos de glória futebolística com qualquer outro time brasileiro, em qualquer época, posterior ou anterior,  apenas ressoa como ignorância, descaso, ou desconhecimento.

            Imagine um time pelo qual não torcemos, mas admiramos. Mas que acabamos torcendo porque admiramos. Um time maior que as paixões regionais ou clubistas que pairava,  ao ritmo da bola que ia de Pelé para Coutinho, de Coutinho para Pelé, rumo ao gol inevitável. Tanto assim que, a Revista de Esporte, que era carioca,  proclamava  sem medo de ser feliz: Todo carioca torce pelo Santos. E  o Santos fazia jus ao título jogando as finais do mundial interclubes contra o Milan, não em São Paulo, mas no Maracanã. Para o Brasil todo participar.


                                                    




                        O  Santos, ao contrário dos times com o qual os neófitos de hoje  ousam comparar em termos de glória futebolística ( o São Paulo F.C. com maior insistência, de algum tempo para cá) reinou no futebol mundial  não porque fosse o melhor porque ganhava títulos, mas, sim, porque ganhava títulos por ser o melhor, o que é muito diferente.  As estatísticas cometem uma injustiça quando comparam considerando para efeito de mérito apenas os títulos mundiais e da  América. Ora, o Santos, que foi dois anos seguidos campeão mundial só  não ganhou mais títulos  internacionais desse naipe porque simplesmente não quis. A Libertadores, então, era disputada por apenas um time, o campeão do país. Quando viram a possibilidade de poderem assistir aos jogos do Santos, de graça, mais que depressa os hermanos empurraram seus vices para a disputa. O Santos, um time caro e que dava espetáculo a peso de ouro, recusou-se a jogar contra os Cobreloas da vida e tirou o time da disputa. Enfim, “os santos jamais  desperdiçariam seus milagres contra os ateus da bola”. 

            Claro que o fato de possuir em seu time o maior jogador de futebol de todos os tempos foi fundamental para o milagre de um time do interior ter se tornado uma glória universal e, de longe, o time brasileiro mais admirado no exterior até hoje. Talvez fale melhor de sua arte, alguns ‘milagres’ que de tão inusitados soam até como folclore.
            1.Expulso de um jogo em uma partida  no Peru ( ou Venezuela?) a torcida que pagou para ver Pelé jogar se impacientou e começou a vaiar o juiz. O representante da federação substituiu o juiz e mandou trazer Pelé de volta.

            2.Num jogo no interior paulista pelo campeonato estadual, que o Santos ganhou oito vezes em onze anos e Pelé foi artilheiro nove vezes seguidas,  depois de dar três lençóis em sequencia em diferentes adversários Pelé chutou em gol e a bola caprichosamente não entrou. O juiz validou o lance e quando os zagueiros correram para cima dele, este candidamente respondeu: “Pra mim foi gol e acabou”.

            3.Num jogo no Maracanã diante da famosa – e excelente -  dupla de zagueiros do Vasco, Brito e Fontana, o Vasco vencia por dois a um faltando poucos minutos para encerrar o jogo. Fontana caçoava de Pelé sob o olhar reprovativo de Brito  dizendo: “Você viu um rei, perdido por aí?” Em duas jogadas geniais o ataque do Santos virou o resultado. Depois do apito final, Pelé pediu a bola se dirigiu a Fontana e disse: “ Toma , leva pra tua mãe e diz que foi o rei que mandou.”

            Sem contar que esse time do Santos interrompeu uma guerra na África. Os litigantes em guerra acertaram um armistício de dois dias para que a população pudesse presenciar a atração. Depois, o pau quebrou de novo. O Santos sempre foi um time com tendência a jogar para  a frente,  e ser um celeiro de grandes jogadores malabaristas.  Mesmo depois da era Pelé o time jamais abdicou de seu estilo de privilegiar o toque de bola em detrimento das técnicas defensivistas que, egressas do Rio Grande do Sul, através de técnicos boçais como Felipão e Dunga acabaram causando a desgraça do futebol brasileiro. 

                                                



Essa epidemia – do futebol de resultados - se tornou uma praga entre os nossos times e culminou no resultado que conhecemos na última Copa e na sua reprodução patética de quarta feira passada. Curiosamente, é de Tostão, grande ex-jogador e talvez o mais consciente crítico do futebol brasileiro a hipótese de Neymar vir a se tornar o maior jogador brasileiro da era pós- Pelé. Ora, Neymar, por coincidência, é oriundo do   Santos.


                                              






            Seriam  os santos ainda capazes de fazer milagres? Torçamos que sim.  
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
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sábado, 13 de junho de 2015

CASADOS HOJE, SEPARADOS AMANHÃ





texto publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado

É de Scott Fitzgerald um conto, que virou filme,  em que a vida se passa de trás pra frente: primeiro a velhice, depois a maturidade, a adolescência, a infância etc. Se Fitzgerald tivesse passado dos cem anos teria comprovado  que não precisaria ter recorrido à ficção no tocante às relações amorosas.  O tempo e a modernidade se encarregaram de mostrar que os experimentos sentimentais seguem hoje o caminho inverso de alguns anos atrás. Antes: convívio, conhecimento, namoro, noivado e  casamento  Hoje: casamento, namoro, conhecimento, convívio  e separação. 
            Foi baseado nisso que um amigo meu, psicanalista, emitiu há poucos dias um juízo cínico: Por que um homem perderia seu tempo em se casar,  hoje em dia, se as mulheres já entregam, de mão beijada ( e etc. etc.) ,  o que de melhor um casamento pode oferecer? Se os casais jovens já estão se casando e morando na casa dos pais – da moça - antes até de serem namorados?
            Cinismos masculinos à parte, a verdade é que uma pesquisa recente veio confirmar a nossa cidade de São Luis como campeã em mais uma modalidade, além dos buracos de rua e manifestações de protesto: casais separados. Dificilmente se encontra, hoje em dia, um casal com mais de dois anos de convivência em que pelo menos um dos dois não esteja separado (o outro não precisa saber, necessariamente).




                                            






            Embora se possa justificar o fato de raramente serem vistos casais juntos em São Luis  pelo fato de as calçadas serem tão estreitas que não cabem os dois e, por outro lado, se andarem pelo meio das ruas fatalmente um deles cairá num buraco ou será atropelado por uma moto, existem , na realidade alguns fatores preponderantes para essa alarmante estatística, que tornaram nossa cidade capaz de rivalizar proporcionalmente com outros centros mais badalados. É lúcido dizer ainda que a condição física influencia a sentimental, e vice-versa, na busca pela igualdade do direito - de se separar.  

            1.”A mulher passou a  exigir o seu espaço”.
            Depois de muito sofrimento, a mulher lutou e conseguiu o seu espaço. O problema é que, para azar seu, o espaço dentro dos ‘apertamentos’, diminuiu muito. Os aposentos ficaram tão reduzidos que o homem passou a colocar dentro do espaço da mulher tudo o que não consegue guardar no seu. Como nunca ficam bem delimitadas as fronteiras, surgem as inevitáveis brigas. Como, por exemplo, na hora do amor.



                                                  





            - Amor,  sinto dizer isso, mas você , com certeza, está invadindo o meu espaço.
            - Claro! Você conhece outra forma?
            - Tente ser criativo, cara. Sinto, mas não posso ceder um milímetro do meu espaço.
            - Desisto. Vou procurar enfiar meu espaço em outro lugar.

            2. “A convivência sob o mesmo teto”.
            Claro que o teto é muito importante. Há algum tempo atrás o teto costumava ser diferente: podia ser a céu aberto ou, até mesmo o teto do carro. Em ocasiões não tão raras, era cheio de espelhos que estimulavam e excitavam. Nada parecido com o teto atual.

                                                 






            - Querida, o que está acontecendo com você. Por que não tira os olhos desse maldito teto? Antigamente não era assim
            - É que estou procurando o Brad Pitt.
            - Como?
            - Isso mesmo. Para aguentar você em cima de mim bastava olhar para cima e fantasiar com o Brad Pitt. Mas nem pra isso esse teto serve mais. Já reparou como tá sujo e cheio de rachaduras? Desse jeito não tem ator ou cantor que desça de lá. E minhas fantasias, como ficam?
            - Querida, você não deveria falar isso pra mim. Perdoo até o que você disse, vai ver que está estressada além da conta. Para mim o importante é termos resistido aos dissabores e estarmos sob o mesmo teto, independente de suas condições.
            - Já que você insiste, quem sabe se elevássemos.
            - Como? Você sabe que seria impossível: teríamos que mexer com a estrutura do prédio.
            - Estou falando é do “teto” salarial que você me dá, querido.  Tente aumenta-lo. Quem sabe role de novo...

            É por essas e outras – segundo a fonte da pesquisa – que a quantidade de casais separados em São Luis não é maior não só porque o dia só tenha 24 horas, mas porque a noite só tem doze horas, ou melhor, porque a madrugada só tem seis. 

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

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sábado, 6 de junho de 2015

DIA DOS NAMORADOS E O CÁLCULO DO AMOR




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão,hoje, sábado


A matemática do amor, da matemática inglesa, Hannah Fry, é livro que pretende explicar o amor a partir de expressões matemáticas(?).   Em homenagem ao próximo dia dos namorados, uma singela tentativa do cronista, para que você não precise gastar dinheiro com o livro, nestes dias tão bicudos.

1.O AMOR REGRA DE TRÊS           

            É o mais comum. Aliás, se não houver um terceiro, pra que serve o amor? Nem amor existe, na ausência da dúvida crucial, ou seja, da incógnita. Para haver amor, o x da questão tem de estar lá, indeterminado, misterioso, inalcançável. O verso de um poeta francês diz que todo amor dura enquanto for capaz de fazer voar de um coração até o outro a águia dos espaços. Coisa de poeta. Ora, o que é essa tal águia, senão o xis?

2.O AMOR PARALELAS.



                                               



            É aquele em que predomina certa distância permanente entre os parceiros. Pode ter começado na infância, nas escolas, no trabalho, às vezes nos três em sequencia, o certo é que entre os  amados sempre permanece aquele clima do que nunca se resolve. Aproximações, claro, existem, mas nesse tipo de amor nunca acontece de ambos se tocarem profundamente, sabe como é, né? Um presentinho aqui, outro ali, uma mensagem de e-mail no Natal, frases cheias de kkkks, no facebook, mas, nada de concretizarem seus desejos. Talvez porque tenham medo de descobrir que ao deixarem de ser paralelos perderão justamente o que os fascina: a distância irremovível. E assim, a vida segue plena de impulsos contidos, mas esperançosos –no inconsciente - de que um dia se encontrarão no infinito, como duas paralelas que se prezam.  Isso se a morte não chegasse antes.

3.O AMOR PERMUTAÇÃO.
            É aquele pleno de permutações e mais permutações em nome do amor que, aliás, começou por causa disso. Um dia ele disse “complete a minha felicidade com o teu sorriso”, ela respondeu “desde que você pague a minha conta”, e assim por diante. O amor permutação é rico, portanto, em trocas óbvias: de sexo por celular, de beijo por um ingresso de show, de ciúmes  por um sorvete, mas, nada de suruba: o amor permutação só admite trocas de parcerias, desde que seja uma após a outra.    
                                          





 E, assim, sobrevive até chegar o dia das permutações filiais. “Eu faço de conta que não sei do teu filho com outra, tu fazes de conta que nosso filho é teu” e corramos para o abraço - seja lá de quem for.

3.O AMOR ANÁLISE COMBINATÓRIA.

            ‘Combinamos que nos amamos’, esse é o começo padrão para a frutificação desse tipo de amor. O resto é matemática. Combinações de 2 três a três; de camas, cinco a cinco; de filhos a três por quatro. Suruba sim, por que não? O importante é a combinação. Que, infelizmente, ou felizmente,  não tem nada a ver com a antiga peça íntima que toda mulher usava num tempo em que essa era a única combinação possível. Mudaram as pessoas ou mudou a matemática?

            4.O AMOR TÁBUA DE LOGARITMOS.

            No início desse tipo de amor tudo tem de ser calculado nos mínimos detalhes. “Se não tivéssemos que  calcular, meu anjo, você teria casado com um cabeleireiro, e não com um professor, princesa”. E haja cálculo. Para saber o dia certo de casar, o empréstimo a pedir ao sogro para isso,  quanto vai custar um filho, dois, três. Depois os juros  do carro, da saída com os amigos, do ‘juro que não faço mais”. Termina quando a mulher descobre que se era para não ter dinheiro nem para fazer uma chapinha, não precisava ter casado com um cientista, e sim com um cabelereiro. E, assim, fica explicado porque o amor tábua de logaritmos sempre começa no cálculo e termina com a tábua – na cabeça do marido.

            5.O AMOR DÍZIMA PERIÓDICA.   


                                                 



            É aquele que se arrasta, se arrasta...Já faz tanto tempo que ninguém sabe se ainda é amor. Na verdade é mais costume que amor, e é justamente por isso que perdura. Nenhum dos dois tem coragem de se largar, não porque seja inebriante, mas por ser a rotina ainda possível. Cada um sabe de cor e salteado até os pensamentos do outro e, inclusive, suas fantasias sexuais, mas não têm coragem de desmascará-las porque também elas se repetem... Como uma dízima.  
          
            7.O AMOR NOVES FORA.

            É aquele que só é jogado fora depois que um dos dois descobre os nove  amantes do parceiro. 

                                    




            8. O AMOR MATRIZ

            É aquele que é a matriz de todos os males. Se tem dor de cabeça, é por causa do amor, se não come é por amor, se pegou o vírus da zica, idem. Às vezes a filha,  de tão boazinha até antecipa: “Mãe, não vai dar para passar de ano” “Por causa de que filha?” “Por causa do amor”. “Seria bom você começar a tirar zero em amor e dez em matemática”. “Tarde demais! Matemática não faz filho, mãe”

            9. O AMOR INFINITO.

            É aquele que  só existe na poesia de Vinícius de Moraes, tanto assim que virou clichê “que seja infinito enquanto dure”. O pior é que os amores infinitos não chegam a durar, hoje, nem enquanto duros. Por segurança, é  bom desconfiar: beijos em demasia e muito agarra-agarra para consumo público, o infinito é daqueles que  não duram e o amor é desses em que só a efemeridade é infinita. 

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