sexta-feira, 30 de outubro de 2020

SOBRE COVID, CAVALOS E BURROS

 


A ÚLTIMA DE 645, O FILÓSOFO POLITICAMENTE INCORRETO DA PERIFERIA 





terça-feira, 20 de outubro de 2020

SOBRE PELÉ, SANTOS E MAGIAS


 

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


1.A magia do futebol

O futebol é um esporte extraordinário. Somente no futebol  um aleijado como Garrincha poderia ter sido um gênio, competindo com grandalhões saudáveis e perfeitos. Somente no futebol um sujeito baixo  e atarracado, com  cara de porteiro  de boate  de quinta categoria, feito Maradona,  seria um extra-classe; somente no futebol um time do interior  sem dinheiro e sem torcida,  como o Santos FC poderia, em pouco menos de dez anos, se transformar no melhor time do planeta.

Pois foi esse esporte fascinante que conferiu a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que esta semana completou 80 anos de vida,  o título de melhor atleta do século, mesmo disputando com atletas legendários de outros esportes mais solicitados em países muito ricos como os USA. E foi ele, Pelé, o mágico capaz de transformar nas décadas de 50/60  um time de interior,  o Santos FC, num time de futebol que, ainda hoje, parece carregar o dom de uma sina memorável. Haja vista o surgimento de jogadores como Robinho e Neymar.

As novas gerações que não viram o apogeu do Santos FC  não têm idéia da tolice que falam quando tentam equiparar os feitos internacionais do São Paulo FC aos do Santos, da era Pelé. Isso seria desculpável para torcedores, mas não para analistas de futebol profissionais. O São Paulo ganhou, sim, títulos de torneios mundiais, mas nunca foi sequer considerado o melhor time do mundo. Há uma diferença básica. O Santos  ganhou títulos porque era o melhor e não foi o melhor apenas porque ganhou títulos. O  Santos era tão melhor que prescindia de títulos, tanto assim que os desprezou, negando-se a disputar o torneio Libertadores da América, cujo inchaço de times promovidos para disputar a competição,   incluindo os vices,  tinha por único objetivo poder ver Pelé e Cia se exibindo de graça.   

2.Pelé, o mágico. 

Pelé era o craque, Edson o homem. A ponto de o próprio Edson se referir a Pelé como outro personagem. As pessoas confundem as coisas. Tive oportunidade de ser inserido nas redes sociais em  debates nos quais muitos se manifestavam contra as homenagens prestadas ao craque por causa de seu comportamento (lamentável, diga-se de passagem)  no episódio de seu distanciamento da própria filha. Lembro, porém, que as homenagens que lhe estão sendo prestadas, se referem ao esportista excepcional, não ao homem.

 3. Em certeira crônica sobre o futebol, neste domingo,  o confrade e amigo Elsior Coutinho lembrou de várias expressões usadas por comentaristas e torcedores numa interessante listagem de termos bélicos adaptados ao jargão futebolístico.  

Isso me fez lembrar o que havia lido na revista Superinteressante quando cientistas evolutivos explicavam o formidável fascínio que este exerce na mente, especialmente  masculina, pelo  fato desse  esporte se desenvolver como uma estratégia de combate, que motivou o ser humano nas suas lutas pela sobrevivência. O instinto gregário, a luta, o ataque e a defesa, o estrategista, e o gol como objetivo a ser alcançado, fazem parte do ardor com que lutamos  nos mais remotos tempos.   

A tudo isso o futebol acrescenta o fascínio da imprevisibilidade. Somente no futebol um pequeno Davi pode vencer o gigante Golias. Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para sobreviver poderia se  tornar um  Rei de todo o Planeta ,   como Pelé se tornou.


Jose Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de Lendas



 Uma história de ficção científica sobre as mais belas lendas maranhenses. Em segunda edição  




terça-feira, 13 de outubro de 2020

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE X


 artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


Aquela que ia chegando assim, tão cedo na Escola, era a incógnita X. Ainda não havia ninguém e X, fazendo uso de seu anonimato, subiu as escadas e adentrou a sala de aula. Sentia-se cansada, mortalmente cansada. Contemplou o quadro negro, as cadeiras vazias, sentou-se e se deixou invadir por uma carga de desânimo. Pensou: “Hoje não permitirei que nenhum aluno me ache.”

Nunca antes sua vida lhe parecera tão sem sentido : sair de fórmulas, entrar em fórmulas, correr sempre, driblar a inteligência do aluno  até e descobrir, afinal, quando o aluno fosse um perseguidor eficaz e implacável . Para depois ser exibida nas conversas após provas ( e como ele se sentia repugnante por ser tratada assim) , como um simples objeto , troféu passageiro que o vencedor, feliz, se orgulhava de haver conquistado, como um caçador exibindo a sua presa.

No começo, ela chegara a gostar dessa sua vida de fuga e perigo. Havia compensações! Como era prazeroso, por exemplo, quando ela se defrontava com um aluno pouco inteligente ou preguiçoso... Bastava-lhe se disfarçar, correr em ziguezague , ou mesmo ficar parada, estática na fórmula, e pronto, o estudante não a acharia. Prazeroso também era quando atuavam em grupo  ela e mais alguns colegas Y e Z. O aluno cansava e, não os encontrando, acaba por desistir angustiado e enquanto ela passeava e sua turma passava por perto, inatingível e vitoriosa.

Apesar disso, quantas vezes ela, voluntariamente virava o jogo e se descobria para o aluno com quem simpatizava ou cuja feição de angústia não conseguia  suportar. Tinha dó. Fugia, escondia-se com perfeição, mas com a vitória já ganha muitas vezes acontecia  de olhar para o rosto triste e fracassado do jovem, olheiras fundas de tanto haver estudado. Então pensava que este era uma vítima das traições do destino e que era injusto impor ao mesmo,  o crivo estúpido das instituições humanas. Então se oferecia, penalizada , claro, por perder mais um jogo, mas encontrando recompensa na expressão da felicidade que se estampava na face do aluno. Saber que ela era causadora daquilo era o alimento que lhe fazia prosseguir  e de onde extraía as cores com que dava tons menos fúnebres à sua  triste paisagem feita de integrais, raízes quadrada  e regras de Três.

Quem realmente ela detestava eram os arrogantes e insensíveis. Com estes ela jogava sujo. Quantas vezes ela aparecia , presa irrecusável desde o início da prova. O aluno, a um tempo deslumbrado e cético, quase sempre hesitava: “Não pode ser ela. Assim o problema fica muito fácil!. Aqui tem coisa.” Refletia por longo tempo e a deixava escapar , enveredando por trilhas mais difíceis. Errava a resolução do problema e X gargalhava impiedosa. Com ela se ria nessas horas!

Outros fossem os pensamentos atuais e X não se decepcionaria tanto. Mas X desiludia-se mais que com as derrotas com a falta de idéias e ideais de sua nova geração de adversários . Pobre juventude!

A prova começara e X exagerava em seus trejeitos de fuga . Dava para perceber que algo diferente acontecia nos corpos, nos espíritos ou nas sombras.  Mas o quê, de fato, se não se sentia alterar sequer o pulsar do relógio? De repente, o quadro-negro tombou como um bêbado sacudindo as mentes de seus remorsos e culpas exatamente naquele derradeiro instante em que a pobre incógnita esboçava um último gesto de paixão e medo e caía morta.


José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis 




agora em terceira edição 

sábado, 3 de outubro de 2020

O PARAÍSO CHEGA ÀS ESCOLAS

 


artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


“ Sempre imaginei o paraíso como uma espécie de Biblioteca.” Jorge Luis Borges  

 

A cena se passa em uma escola simples, do subúrbio. No intervalo das aulas, eis que,  saindo de suas salas,  os estudantes deparam com uma novidade: uma vasta e sinuosa estrutura de madeira, dotada de compartimentos interligados, ganha corpo pela primeira vez,  no interior dos muros da escola .

Ao  se aproximarem ainda mais ,  os atônitos alunos se defrontam com algo que conhecem bem:  livros e mais livros  organizados em prateleiras. Como se fossem estantes, várias estantes. Melhor ainda, como se fosse uma Biblioteca. Uma elegante, original, e simpática Biblioteca. Extasiados, os estudantes se interrogam entre si diante daquela visita, para eles  somente possível existir  no mundo da fantasia .

Uma aluna não se contêm, e se dirige  ao senhor que aparenta ser o responsável por aquela visita surpreendente e mágica.

- Moço, como é bonita essa espécie de Biblioteca! Como se chama? Por quanto tempo ficará aqui, conosco?

            Com um fraterno sorriso ele responde.

- Para sempre mocinha. Seu nome é GIROTECA,  e permanecerá em sua escola para sempre. Trata-se de um presente, concebido por nossa equipe para estudantes e professores, e que lhes foi doado pelo Prefeito da sua cidade, que apoiou esse projeto juntamente com seus auxiliares administrativos. Parabéns!

A aluna, extasiada corre para transmitir a novidade. Aos abraços, os professores também compartilham da festa.

2.  A GIROTECA.

Giroteca foi o nome dado a um projeto concebido pelos dois  parceiros  do empreendimento Kléber Castro  e Milton Lira, e nasceu da convivência de ambos com o ambiente dos  livros, de onde extraíram inspiração para a  criatividade e a ousadia com que lutaram pela sua realização.  O referido  projeto tem utilidade e praticidades imediatas para qualquer um que ponha os olhos na arquitetura da maquete inicial do projeto, tornando-se, a partir desse deslumbramento inicial, quase  um dever adotá-lo,  pelos   executivos da área de Educação. Por isso, o Projeto foi imediatamente validado entre outras 20 tecnologias modernas pelo Ministério da Educação, através da Portaria 12, de abril de 2019, sendo a única do Norte e Nordeste.

Seu baixo custo, 70 % menor que os tradicionais, aliada à facilidade de  adaptação a imóveis já construídos, torna possível cumprir o disposto pelo Ministério de Educação que determina como obrigatória a todas as Escolas deste país a disponibilização de  uma Biblioteca .

A essa praticidade se aliam muitos outros atrativos. São 1700 livros em quatro módulos, providos ainda de data-show, e-books, áudio-livros,   mapas e literatura inclusiva. Um relevante aspecto  destaca o referido projeto em termos do apoio à cultura maranhense em especial, contemplando a produção local (cada vez mais exuberante e nada devedora do restante do país)  com 25 % de seu acervo, o que significa,  reverberar um dom que doou à cidade o seu mais caro título,  de Atenas Brasileira, permitindo, ao mesmo tempo, confirmar esse título e incentivar o surgimento de novos escritores para  perpetuação dessa honrosa marca. A cidade e seus habitantes estão, sem dúvida,  de parabéns!  

Obs. A cena inicial que inspirou esse texto não foi uma ficção autoral, mas um fato absolutamente real, presente na primeira Escola contemplada com ‘essa espécie de ...Paraíso’ , como disse J.L.Borges.


José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas