A ÚLTIMA DE 645, O FILÓSOFO POLITICAMENTE INCORRETO DA PERIFERIA
artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
1.A magia do futebol
O futebol é um esporte
extraordinário. Somente no futebol um
aleijado como Garrincha poderia ter sido um gênio, competindo com grandalhões
saudáveis e perfeitos. Somente no futebol um sujeito baixo e atarracado, com cara de porteiro de boate de quinta categoria, feito Maradona, seria um extra-classe; somente no futebol um
time do interior sem dinheiro e sem torcida,
como o Santos FC poderia, em pouco menos
de dez anos, se transformar no melhor time do planeta.
Pois foi esse esporte fascinante que
conferiu a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que esta semana completou 80
anos de vida, o título de melhor atleta do
século, mesmo disputando com atletas legendários de outros esportes mais solicitados
em países muito ricos como os USA. E foi ele, Pelé, o mágico capaz de
transformar nas décadas de 50/60 um time
de interior, o Santos FC, num time de
futebol que, ainda hoje, parece carregar o dom de uma sina memorável. Haja vista
o surgimento de jogadores como Robinho e Neymar.
As novas gerações que não viram o
apogeu do Santos FC não têm idéia da tolice
que falam quando tentam equiparar os feitos internacionais do São Paulo FC aos
do Santos, da era Pelé. Isso seria desculpável para torcedores, mas não para
analistas de futebol profissionais. O São Paulo ganhou, sim, títulos de torneios
mundiais, mas nunca foi sequer considerado o melhor time do mundo. Há uma
diferença básica. O Santos ganhou
títulos porque era o melhor e não foi o melhor apenas porque ganhou títulos. O Santos era tão melhor que prescindia de
títulos, tanto assim que os desprezou, negando-se a disputar o torneio
Libertadores da América, cujo inchaço de times promovidos para disputar a
competição, incluindo os vices, tinha por único objetivo poder ver Pelé e Cia
se exibindo de graça.
2.Pelé, o mágico.
Pelé era o craque, Edson o homem. A
ponto de o próprio Edson se referir a Pelé como outro personagem. As pessoas
confundem as coisas. Tive oportunidade de ser inserido nas redes sociais em debates nos quais muitos se manifestavam
contra as homenagens prestadas ao craque por causa de seu comportamento
(lamentável, diga-se de passagem) no
episódio de seu distanciamento da própria filha. Lembro, porém, que as
homenagens que lhe estão sendo prestadas, se referem ao esportista excepcional,
não ao homem.
3. Em certeira crônica sobre o futebol, neste
domingo, o confrade e amigo Elsior
Coutinho lembrou de várias expressões usadas por comentaristas e torcedores numa
interessante listagem de termos bélicos adaptados ao jargão futebolístico.
Isso me fez lembrar o que havia lido
na revista Superinteressante quando cientistas evolutivos explicavam o
formidável fascínio que este exerce na mente, especialmente masculina, pelo fato desse esporte se desenvolver como uma estratégia de combate,
que motivou o ser humano nas suas lutas pela sobrevivência. O instinto
gregário, a luta, o ataque e a defesa, o estrategista, e o gol como objetivo a
ser alcançado, fazem parte do ardor com que lutamos nos mais remotos tempos.
A tudo isso o futebol acrescenta o
fascínio da imprevisibilidade. Somente no futebol um pequeno Davi pode vencer o
gigante Golias. Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para
sobreviver poderia se tornar um Rei de todo o Planeta , como
Pelé se tornou.
Jose Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de Lendas
Aquela que ia chegando assim, tão
cedo na Escola, era a incógnita X. Ainda não havia ninguém e X, fazendo uso de
seu anonimato, subiu as escadas e adentrou a sala de aula. Sentia-se cansada,
mortalmente cansada. Contemplou o quadro negro, as cadeiras vazias, sentou-se e
se deixou invadir por uma carga de desânimo. Pensou: “Hoje não permitirei que
nenhum aluno me ache.”
Nunca antes sua vida lhe parecera tão
sem sentido : sair de fórmulas, entrar em fórmulas, correr sempre, driblar a
inteligência do aluno até e descobrir,
afinal, quando o aluno fosse um perseguidor eficaz e implacável . Para depois
ser exibida nas conversas após provas ( e como ele se sentia repugnante por ser
tratada assim) , como um simples objeto , troféu passageiro que o vencedor,
feliz, se orgulhava de haver conquistado, como um caçador exibindo a sua presa.
No começo, ela chegara a gostar dessa
sua vida de fuga e perigo. Havia compensações! Como era prazeroso, por exemplo,
quando ela se defrontava com um aluno pouco inteligente ou preguiçoso... Bastava-lhe
se disfarçar, correr em ziguezague , ou mesmo ficar parada, estática na fórmula,
e pronto, o estudante não a acharia. Prazeroso também era quando atuavam em
grupo ela e mais alguns colegas Y e Z. O
aluno cansava e, não os encontrando, acaba por desistir angustiado e enquanto
ela passeava e sua turma passava por perto, inatingível e vitoriosa.
Apesar disso, quantas vezes ela,
voluntariamente virava o jogo e se descobria para o aluno com quem simpatizava
ou cuja feição de angústia não conseguia
suportar. Tinha dó. Fugia, escondia-se com perfeição, mas com a vitória
já ganha muitas vezes acontecia de olhar
para o rosto triste e fracassado do jovem, olheiras fundas de tanto haver
estudado. Então pensava que este era uma vítima das traições do destino e que
era injusto impor ao mesmo, o crivo
estúpido das instituições humanas. Então se oferecia, penalizada , claro, por
perder mais um jogo, mas encontrando recompensa na expressão da felicidade
que se estampava na face do aluno. Saber que ela era causadora daquilo era o
alimento que lhe fazia prosseguir e de
onde extraía as cores com que dava tons menos fúnebres à sua triste paisagem feita de integrais, raízes
quadrada e regras de Três.
Quem realmente ela detestava eram os
arrogantes e insensíveis. Com estes ela jogava sujo. Quantas vezes ela
aparecia , presa irrecusável desde o início da prova. O aluno, a um tempo
deslumbrado e cético, quase sempre hesitava: “Não pode ser ela. Assim o
problema fica muito fácil!. Aqui tem coisa.” Refletia por longo tempo e a
deixava escapar , enveredando por trilhas mais difíceis. Errava a resolução do
problema e X gargalhava impiedosa. Com ela se ria nessas horas!
Outros fossem os pensamentos atuais e
X não se decepcionaria tanto. Mas X desiludia-se mais que com as derrotas com a
falta de idéias e ideais de sua nova geração de adversários . Pobre juventude!
A prova começara e X exagerava em
seus trejeitos de fuga . Dava para perceber que algo diferente acontecia nos
corpos, nos espíritos ou nas sombras. Mas
o quê, de fato, se não se sentia alterar sequer o pulsar do relógio? De
repente, o quadro-negro tombou como um bêbado sacudindo as mentes de seus
remorsos e culpas exatamente naquele derradeiro instante em que a pobre
incógnita esboçava um último gesto de paixão e medo e caía morta.
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis
“ Sempre
imaginei o paraíso como uma espécie de Biblioteca.” Jorge Luis Borges
A cena se passa em uma escola
simples, do subúrbio. No intervalo das aulas, eis que, saindo de suas salas, os estudantes deparam com uma novidade: uma vasta
e sinuosa estrutura de madeira, dotada de compartimentos interligados, ganha
corpo pela primeira vez, no interior dos
muros da escola .
Ao
se aproximarem ainda mais , os
atônitos alunos se defrontam com algo que conhecem bem: livros e mais livros organizados em prateleiras. Como se fossem
estantes, várias estantes. Melhor ainda, como se fosse uma Biblioteca. Uma
elegante, original, e simpática Biblioteca. Extasiados, os estudantes se
interrogam entre si diante daquela visita, para eles somente possível existir no mundo da fantasia .
Uma aluna não se contêm, e se
dirige ao senhor que aparenta ser o responsável
por aquela visita surpreendente e mágica.
- Moço, como é bonita essa espécie de
Biblioteca! Como se chama? Por quanto tempo ficará aqui, conosco?
Com um fraterno sorriso ele responde.
- Para sempre mocinha. Seu nome é GIROTECA,
e permanecerá em sua escola para sempre.
Trata-se de um presente, concebido por nossa equipe para estudantes e
professores, e que lhes foi doado pelo Prefeito da sua cidade, que apoiou esse
projeto juntamente com seus auxiliares administrativos. Parabéns!
A aluna, extasiada corre para
transmitir a novidade. Aos abraços, os professores também compartilham da
festa.
2.
A GIROTECA.
Giroteca foi o nome dado a um projeto
concebido pelos dois parceiros do empreendimento Kléber Castro e Milton Lira, e nasceu da convivência de
ambos com o ambiente dos livros, de onde
extraíram inspiração para a criatividade
e a ousadia com que lutaram pela sua realização. O referido projeto tem utilidade e praticidades imediatas
para qualquer um que ponha os olhos na arquitetura da maquete inicial do
projeto, tornando-se, a partir desse deslumbramento inicial, quase um dever adotá-lo, pelos executivos da área de Educação. Por isso, o
Projeto foi imediatamente validado entre outras 20 tecnologias modernas pelo
Ministério da Educação, através da Portaria 12, de abril de 2019, sendo a única
do Norte e Nordeste.
Seu baixo custo, 70 % menor que os
tradicionais, aliada à facilidade de adaptação
a imóveis já construídos, torna possível cumprir o disposto pelo Ministério de
Educação que determina como obrigatória a todas as Escolas deste país a
disponibilização de uma Biblioteca .
A essa praticidade se aliam muitos outros
atrativos. São 1700 livros em quatro módulos, providos ainda de data-show, e-books,
áudio-livros, mapas e literatura
inclusiva. Um relevante aspecto destaca o
referido projeto em termos do apoio à cultura maranhense em especial, contemplando
a produção local (cada vez mais exuberante e nada devedora do restante do país)
com 25 % de seu acervo, o que significa,
reverberar um dom que doou à cidade o
seu mais caro título, de Atenas
Brasileira, permitindo, ao mesmo tempo, confirmar esse título e incentivar o
surgimento de novos escritores para perpetuação dessa honrosa marca. A cidade e
seus habitantes estão, sem dúvida, de
parabéns!
Obs. A cena inicial que inspirou esse
texto não foi uma ficção autoral, mas um fato absolutamente real, presente na
primeira Escola contemplada com ‘essa espécie de ...Paraíso’ , como disse J.L.Borges.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas