segunda-feira, 30 de agosto de 2021

ENTREVISTA COM A GALINHA


 

O projeto de lei da deputada Elisângela Moura ( PC do B) que institui a galinha da raça “Canela-Preta” como patrimônio histórico, cultural e genético do Piauí  foi aprovado há poucos dias  na Assembleia Legislativa desse Estado.

O projeto suscitou controvérsias nas redes sociais com diferentes posicionamentos a respeito de sua  necessidade, mormente em tempos tão conturbados. Curiosamente ninguém foi ouvir a opinião do personagem principal: ela, a própria galinha. Nossa equipe de reportagem conseguiu esse ‘furo’ suprimindo essa lacuna. .

Repórter - Antes de tudo parabéns, Dona Galinha Canela-Preta! Como a senhora está se sentindo?

Galinha - Como assim?

Repórter – Em breve a senhora e suas parceiras serão reconhecidas como Patrimônio Histórico Cultural e Genético do Piauí.

Galinha – Ninguém me disse, mas se for verdade, isso me faz sentir  como uma galinha humana. Humana, demasiadamente humana, como disse alguém.  

Repórter – Galinha  humana? Nietzche? Confesso que me confundo. Desculpe, a senhora poderia esclarecer melhor?

Galinha – E precisa?  Vocês humanos  não apelidam de galinha a mulher que dá pra tudo e pra todos, e que depois de comida vocês maltratam e desprezam? Pois é justamente assim que estamos nos sentindo agora.

Repórter – Calma,  dona Galinha! Não era bem isso o que esperávamos.

Galinha – E o que você esperava? Que fôssemos sair cacarejando pra lá e pra cá por causa disso? Pra que nos serve homenagens como essa?

Repórter – Puxa vida, não interprete assim, Dona Galinha. Pense que a deputada apenas  quis prestar uma distinção à espécie de galinácea que  distinguiu vocês , tão saborosa!

Galinha – Poupe o  “saborosa” senhor! Essa deputada nunca quis homenagear galinha alguma, mas sim o próprio bucho. No dia em que esse decreto for aprovado sabemos que será a primeira a comemorar comendo justamente uma galinha.

Repórter – Quanta amargura, Dona Galinha!

Galinha – Quisera eu que realmente tivéssemos um gosto amargo para que todos vocês nunca mais nos engolissem. .Ou o senhor acha que é bom acordar todo dia esperando apenas a hora de ser guilhotinada?. Nossa vida se resume a isso.

Repórter – É doloroso e constrangedor, mas Juro que não havia lembrado, disso dona Galinha  os humanos se esquecem eternamente do sofrimento de vocês. Sei que é desagradável, mas não posso me furtar a mais uma pergunta que já estava programada. Não me leve a mal, mas como a senhora prefere ser servida?

Galinha – Viva.

Repórter – Por fim, a senhora gostaria de fazer um último pedido?

Galinha – Que as galinhas de verdade como a gente sejam, pelo menos um dia, tratadas como os homens tratam as suas.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

O FIM DO DON JUANISMO MASCULINO


 645 O PENSADOR POLITICAMENTE INCORRETO DA PANDEMIA , comenta o noticiário do dia. 



SINCERO COMO UM NÚMERO

PRECISO COMO A MATEMÁTICA 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O CHEIRO NOSSO DE CADA DIA


 

“O homem é o  único animal que não gosta do próprio cheiro”, dizia Millor Fernandes, assim resumindo  a solitária diferença que nos distingue dos demais animais. Sim, porque o cérebro maior e mais inteligente não nos distingue tanto assim, já que no resto somos quase iguais.  A ciência mostra que o nível genômico da espécie humana atinge a extraordinária semelhança de 95 a 99 % ao dos chimpanzés.

Resta especular se essa diferença não teria sido provocada pelos humanos apenas como forma de se destacarem dos outros animais. Mais ou menos como se, a partir de determinado momento de sua curta trajetória geológica, os homens resolvessem se perfumar como uma forma de dizer a si mesmos: “Tá vendo? Somos, de fato, superiores aos outros animais, tanto assim que não fedemos como eles.”

A história comprova essa tese, já que somente de pouco tempo para cá, os homens passaram a rejeitar o próprio cheiro. Basta ver como procediam nossos tataravôs em seus ambientes, mesmo os supostamente mais refinados.  

1.A higiene do palácio de Versalhes, por exemplo, no século 17 era de “lascar” para os padrões de hoje. O corpo inteiro das pessoas só era lavado uma vez por ano e para se limpar bastava lavar as mãos e o rosto.  Nessa ocasião a família inteira se banhava no mesmo barril e com a mesma água. A urina era despejada pelas janelas, a limpeza íntima era feita com sabugos de milho ou com as próprias mãos, as necessidades eram feitas em qualquer lugar indo parar nos corredores e jardins. Um decreto de 1715 dizia que as fezes deveriam ser retiradas dos corredores uma vez por semana.

Um pouco mais para longe, na  Roma Antiga,  os banheiros públicos eram frequentados sem distinção de sexo. Nesses espaços não havia preocupação em oferecer material para higiene íntima. As pessoas se viravam com o que estivesse à mão, como água, grama e até areia. E – pasmem! -  era nessas latrinas coletivas, instaladas em grandes barricadas de pedra,  que se promoviam debates, banquetes, e encontros cívicos.

Por aí se vê que o fedor não incomodava.  E que a porcaria que saia pela parte de baixo era mais inofensiva do que a que  hoje sai, pela boca,  dos que se reúnem em ambientes palacianos para tomar   grandes decisões administrativas, perfumados por fora e imundos por dentro, “os sepulcros caiados” de que falava Cristo.

2.Quanto aos outros animais, estes  continuam ‘cagando  e andando’ para o próprio cheiro, o que não significa dizer que sejam menos limpos. A barata, por exemplo, tida como um animal fétido e repulsivo tem o seu exterior extremamente limpo, mais higiênico que o rosto de muita coroa habituê de coluna social, entupido de creme, loção e botox.

A sujeira das baratas, é bom saber, restringe-se ao seu interior, mais exatamente ao seu sistema digestivo. É lá que ficam os vírus e as bactérias que são expelidos em seu cocô e podem causar infecções. Portanto, caro leitor(a),  aproveite a ideia e dê um afetuoso beijo na couraça de uma barata,  que isso não lhe trará problema algum.

Isso leva a acreditar que a tão anunciada substituição dos homens pelas máquinas, prevista para breve, apresentará pelo menos uma vantagem evolutiva. Estas jamais terão nojo do  próprio cheiro.

domingo, 8 de agosto de 2021

DE FILHOS DE HOJE A PAIS DE ONTEM



A equipe de reportagem entrevistou alguns jovens procurando saber qual o presente que os filhos estavam comprando para seus pais e o que lhes dariam, se pudessem.

 

            1. Pablo, 17, mora na Cidade Operária. Comprou-lhe uma gravata. Daria, se pudesse, uma periguete para ele parar de encher o saco da sua namoradinha de 15 anos, Keyla, que ele apelidou de Calú, dizendo-lhe piadinhas sem graça, e querendo se insinuar. (Calú – epa!, Keyla – vive ameaçando lhe deixar porque já não agüenta mais).              

                                                                              

            . 3. Franco Júnior, 14 anos, mora no Felipinho. Comprou-lhe um depósito portátil de uísque. Daria se pudesse um alambique completo para ele parar de mexer no seu notebook, toda vez que está bêbado. O que acontece a cada dois dias.     

 

            4. Surama, 18, mora no Anjo da Guarda. Comprou-lhe  um ursinho de pelúcia cor-de-rosa. Daria, se pudesse, ao pai que é cabeleireiro uma assinatura do Jornal do Anjo da Guarda, para ele aprender como vai ‘sair na foto’ se continuar a dar em cima do namorado de sua colega, Tania, que é traficante perigoso e não gosta, nem um pouco, desse assédio.  

 

            5. Técio, 11, mora no São Francisco. Comprou-lhe um time de botão. Se ele não perceber a indireta daria se pudesse um time de futebol de marmanjos para ele tomar conta e parar de se meter a técnico do time de futebol júnior do bairro, onde joga e que se chama Demolidores F.C.  Isso quando não entende de querer jogar na ponta-esquerda

 

             6. Vadinho, 18 anos, mora no Centro. Comprou-lhe um cedê pirata da Jovem Guarda. Daria se pudesse um baita som de carro para que ele passasse a escutar muito longe de casa esse tal de Márcio Greyck, que ninguém agüenta mais ouvir dentro de casa quando ele está ‘consertando’ alguma coisa, todo sábado pela manhã. .

 

            7. Baron, 20 anos. Mora no Jardim América. Comprou-lhe um relógio paraguaio. Daria se pudesse, uma casa em Jacaré dos Homens nas Alagoas, ou na Conchinchina, para que ele fosse embora de vez e os deixassem (ele, sua mãe e o amante dela) em paz para sempre.  Com a casa, naturalmente.

 

                       9. Cristana, 18 anos, mora no Calhau. Comprou-lhe uma garrafa de vinho tinto (adquirido por sua mãe). Daria se pudesse, uma adega de vinhos importados se ele prometesse nunca mais lhe abraçar com seu insuportável mau hálito de álcool quando quer se exibir para os amigos. Pois sabe muito bem que ele não conhece vinho algum e gosta mesmo é de emborcar, disfarçadamente, uma boa caninha do engenho.