sábado, 24 de outubro de 2015

AÇAÍ X JUSSARA OU SAMPAIO X PAISSANDU


ou SAMPAIO X PAYSSANDU?






artigo publicado quinta-feira no jornal o Estado do Maranhão



AÇAI X JUSSARA, quem ganha? Bem, pelo menos no Maranhão deveria dar jussara, pelo orgulho do nome maranhense. E, no entanto, alguns maranhenses com complexo de vira-lata preferem chamar a saborosa fruta  pelo nome ( importado do Pará) de açaí. São os mesmos que adoram morar em nome de prédio com nome inglês e se enfiar num capote, sob um  frio desgraçado, para,  tirando uma foto com pau de selfie , enfiar no instagram ou no facebook e pedir ao jornalista para colocar na coluna social do jornal.

            Sim, “tem gosto pra tudo nesse mundo e ainda sobra para ficar debaixo de um boi”, como dizia o caboclo e ainda sobra para esses maranhenses que adoram mostrar que estão no exterior, seja  lá em que condições a serem suportadas por um vira-lata.


                                          



 Eles acham muito mais saudável virar picolé do que chupar  um,  de jussara ( eu disse jussara)  sob o sol das maravilhosas praias de sua própria terra.
            Mas, meio “sem querer querendo” acabamos por falar na salutar competição entre maranhenses e paraenses e, nesse item deveria dar empate, afinal trata-se da mesma fruta, deliciosa, por sinal. Ou não? A daqui não seria mais gostosa, até mesmo porque seu nome é mais bonito e... mais feminino?
            Eles ganham na pontualidade da chuva, nós na do sol.  Eles ganham na umidade, nós no vento. Eles dizem que as mulheres daqui são quentes, nós dizemos que as de lá são acesas. Eles  têm a Banda Calypso, nós temos o Boi Barrica. Eles têm Fafá de  Belém , nós temos Chico – e Rogério -, do Maranhão. O povo de lá gosta de brega aforrozado, o daqui gosta de forró abregalhado. Eles têm Carimbó, nós temos o bumba-boi. Eles  têm Amado Batista, nós temos Alcione. Eles têm pato no tucupi, nós temos arroz de cuxá. Eles têm praias de água doce, nós temos de água salgada. 

                                              


Eles têm índios diversos, nós temos índios de versos - Gonçalves Dias não era índio?. (Por falar nisso, damos de dez a zero neles em literatura, com um time da  pesada: Aluízio Azevedo, Artur Azevedo, Raimundo Correa, Gonçalves Dias etc. etc.)  Dá até para mandar o Sousândrade de quebra – ele, que, no fim da vida, quebrava pedras. Eles têm o Círio de Nazaré, nós temos São José de Ribamar.

                                                 



 Eles são marajoaras,  nós somos Timbiras, Eles tem o Mercado de Ver-o-Peso, nós temos o Mercado Grande, onde não se vê o peso.
            E no futebol, quem ganha? Eles têm um time com nome de remo, o Clube do Remo, nós temos um com nome de moto, o Moto Clube.  Eles têm o Mangueirão, nós temos o Castelão. Eles deram Sócrates, nós demos Canhoteiro. Que, por sinal,  era muito melhor (leiam o livro: Canhoteiro, o Garrincha que não foi). Eles têm o Paissandu, nós temos o Sampaio Correa, um tem o pai no nome, o outro tem nome de pai. Um está na série B, o outro também. O Paissandu tem Pikachu nas pernas alheias, o Sampaio tem Pimentinha nos olhos dos outros. E vão se enfrentar sábado pelo Campeonato Brasileiro. 

                                            



Quem será mesmo o melhor, de verdade, sem tergiversações?
            Vai dar Sampaio. Deixemos de complexo de vira-lata e vamos lá, torcer pelo que é nosso!

                                                                       ewerton.neto@hotmail.com
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sábado, 17 de outubro de 2015

ESTAR É FÁCIL, SER É QUE É DIFÍCIL!






artigo publicado quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão


Perdido sem saber onde está? Não se preocupe com isso, caro leitor, a tecnologia está colocando cada vez mais à nossa disposição, instrumentos capazes de nos localizar,  onde quer que estejamos. Uma antena ali, um satélite acolá, um celular em suas mãos,  e pronto. Geograficamente, estamos achados, definidos, realizados. Ufa! Pelo menos em relação ao onde estamos parece que ficamos resolvidos. Já, quanto ao quem somos...

            Aí são outros quinhentos e, pensando bem, já seria querer demais. Quem  somos? Ora, para com isso, leitor, melhor deixar esse assunto pra Deus e olhe lá, já que a coisa ao invés de melhorar, anda ficando cada vez pior. Se a humanidade, como um todo, ninguém sabe o que é, imagine você, pobre criatura, parte ínfima dessa humanidade! Quem é você? Ora, vá se enxergar!

            Bons tempos aqueles em que um nome nos servia e em que, na falta deste, um apelidozinho nos quebrava o galho. No século XXI e em pleno apogeu do nosso avanço tecnológico,  para saber quem somos precisamos não só de um nome mas, além disso, de senhas, muitas senhas. Tudo obedecendo àquela lei fundamental da identidade no reino do modernismo: “Quando mais números decorarmos para indicar quem somos, mais eles se tornarão  insuficientes.”





                                                   






            Estar é fácil, ser é que é difícil aprendi a filosofar,  num belo dia em que resolvi fazer uma transferência de valores pela internet. Precisei de identidade, CPF, nome do pai, nome da mãe, CEP, palavra-chave e frase de referência. Já estava na vigésima senha quando me pediram o nome. No auge da minha ansiedade sonhei em como seria bom se houvesse, definitivamente, uma única senha, para guardar todo o restante. Logo percebi que eu estava delirando, tudo se confundia em minha memória, eu dava voltas, muitas voltas sem conseguir chegar a lugar algum. Meu Deus, e agora? Eles pediam meu nome, eu havia esquecido.

            Irritei-me, mas logo cheguei à conclusão de que não valia a pena. Não, não nos zanguemos com isso, nosso nome é apenas um risco na memória alheia, há milhões de anos que pelejamos para saber quem somos sem conseguir, é natural que uma máquina desconfie da gente. Se um ser humano duvida de si mesmo a ponto de procurar outro ser humano (no caso um analista)  para descobrir quem é,  como se pode reclamar da desconfiança de uma pobre máquina?

            De incerteza em incerteza, perseguido por números e senhas, dia virá em que seremos acusados de assaltarmos nossas próprias senhas. Seremos julgados e condenados como ladrões de senhas, hackers de nós mesmos. O suicídio surgirá como uma solução,  ávidos que estaremos de que, pelo menos Deus, no paraíso, saberá quem somos.
            Mas não nos  iludamos. A tecnologia terá chegado por lá também e São Pedro – imaginando que seja São Pedro aquele sujeito com capuz de santo e jeito de terrorista em frente a um notebook – exigirá:





                                               





            “Digite a senha”
            “Como? Senha de quê?”
            “Para entrar no céu, precisa  de senha. Admira-me que não saiba. Deus não lhe mandou a senha pro seu whatsupp pouco antes de você morrer?”
            “Pelo amor de Deus,  nem tenho celular. A única coisa que sei é rezar o Padre Nosso, de cor e salteado. Será que não serviria como senha?”
            “Sinto muito, senhor,  mas sem senha, o inferno é a serventia da casa! Se mande pra lá. É o único lugar do mundo onde ainda dispensam senhas.”

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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sábado, 10 de outubro de 2015

LER, COMPRAR, ESCREVER




artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão,
quinta-feira, dia 08.10.2015


Afinal de contas, uma Feira de Livros, a que será que se destina? Diante de uma pergunta dessas, muitas interpretações acadêmicas, todas evocando o papel da difusão cultural e o engrandecimento do saber popular, se  ouviriam e, não estariam, de fato,  erradas.  Porém, sendo lícito supor que se move na difusão do livro em si, o começo e o fim do propósito de uma feira de livros como se responderia aos estudantes, que para lá se dirigem, se estes perguntassem: “Mas o que há de prazeroso nisso?”
            Qualquer leitor calejado poderia lhes responder: “Três dos maiores prazeres do mundo: ler, comprar livros e escrever”. Porém se um desses personagens fosse além: “Mas, dentre esses, qual seria o prazer maior?”,  só restaria a opção de compará-los para encontrar uma possível resposta.

            1.Escrever. Um personagem de um recente filme de sucesso diz em sua fala que “É necessário viver a vida em plenitude, e não apenas sobreviver”, o que é, em outras palavras, uma versão do que já fora dito por Dostoiévski  em um de seus romances : “ O segredo da existência humana consiste não apenas em viver, mas em encontrar um sentido para viver” Pois escrever, ao contrário de ser uma chatice como disse arrogantemente o escritor Chico Buarque, é justamente (pelo que se depreende dos escritores que levaram essa tarefa a sério), essa compulsão de viver em plenitude, o que acontece quando alguém se entrega à tarefa de interpretar, e recriar o mundo, primeiro para si, depois para o alheio.




                                                        






            Esse tipo de exercício, provavelmente, era o que fazia Maranhão Sobrinho, poeta maranhense, ao escrever seus poemas em botequins, rabiscando-os  em papéis de embrulho, diferentemente de Chico Buarque de Holanda que, como se sabe, precisa ir a Paris para escrever seus romances , residindo aí a razão, talvez,  de achar isso tão chato. Recuado em seu luxuoso apartamento sob os céus de Paris não terá alcançado a plenitude a que me referia acima e que extasiava o pobre –financeiramente – Maranhão Sobrinho. Diríamos que o compositor carioca (será mesmo escritor?)  não pegou,  nem jamais pegará o espírito da coisa.

            2.Comprar livros. Até as crianças se rejubilam com a dádiva de receber presentes, sendo maior, no entanto, quando você se dá o próprio presente, o que acontece quando você compra livros para si. E, principalmente,  quando você o descobre com algum esforço de pesquisa (a preço de banana, então nem se fala!) – o que faz a paixão dos colecionadores e bibliófilos.





                                                   






            Se ler um livro, como já foi dito, é viajar sem sair do lugar, o que há de mais extasiante do que levar uma viagem ou um mundo novo para casa, com a possibilidade de deixar o livro na estante e poder viajar quando quiser?
            3.Ler. A estas alturas, será que ainda carece falar desse último prazer? Será que a simples menção dos outros dois já não nos conduziu a este último para solucionar definitivamente a questão? Sim, porque o que seria dos primeiros se não existisse este, que  é a chegada, a causa e a partida?
            Certamente, se escrever é potencializar a plenitude da vida  e comprar livros um vício irradiante, nada supera o prazer de ler, sem o qual não haveria os outros dois.

            Para a Feira, então senhores, que 3 dos maiores prazeres do mundo, os esperam!

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                        http://www.joseewertonneto.blogspot.com

sábado, 3 de outubro de 2015

O FLUMINENSE NAS COSTAS




ou O PESO DO MOLEQUE CRAQUE NAS COSTAS DO CRAQUE MOLEQUE



artigo publicado quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão


Ronaldinho Gaúcho é, talvez, o ultimo craque-moleque do futebol. Moleque no sentido que tem a ver com o lúdico e o irreverente  no  trato de sua atividade futebolística, em que destacou-se com raro virtuosismo. No seu caso específico, tão moleque que extrapola o exercício futebolístico com uma visão do mundo coerente com o que mostra em campo. Daí que, milionário, dá-se ao luxo hoje de ser inconsequente com sua profissão, tornando-se um antiprofissional assumido a favor de festas e bebedeiras, tão comentadas no jargão do jornalismo esportivo.





                                               





            Esta semana Ronaldinho Gaúcho saiu de campo vaiado pela torcida do Fluminense para, logo depois, ter seu contrato rescindido pela diretoria do clube, como se fosse  um perna de pau qualquer. Situação esta que em tudo contrasta com as festividades de três meses atrás. Então eram festas, aplausos, plumas e paetês na sua apresentação para a torcida. Aos que se recordam,  o motivo aparente da festa era a contratação de um jogador fora de série e de prestígio internacional. Porém, por trás desse motivo aparente estava o principal: dar-se um drible em Eurico Miranda presidente do Vasco e, por tabela, no clube rival.
            E é aí que entra o segundo personagem da história e do título desta crônica: o moleque craque. Não mais o craque-moleque Ronaldinho, mas, agora o moleque-craque 



                                                 






Peter Siemsen, presidente do Flu, de 48 anos. Ele que (exatamente igual aos cartolas anacrônicos e fanfarrões que ele repudia, como Eurico Miranda) achou-se no direito de também dar um drible no adversário, custasse o que custasse. E tomou a inciativa de passar o Vasco para trás na história da contratação de Ronaldinho Gaúcho. Depois de ter sido anunciado no Vasco, o moleque-presidente surgiu em surdina e, oferecendo muito grana, levou Ronaldinho Gaúcho para as Laranjeiras. E deve ter pensado: “Que drible, hein! Agora vou partir  pro abraço”.

            Hoje todos sabem que fim levou a história do tal drible. Ronaldinho Gaúcho, como era de se esperar, estava mais preocupado em rebolar nas baladas que promove, do que em driblar dentro de campo. Resultado: seus dribles se tornaram dos mais caros da história e cada drible seu, afinal de contas, custou a bagatela de 500 mil reais para o Fluminense.
            E tudo porque o moleque presidente também quis dar uma de craque. Está claro que a rescisão de contrato não vai sair barato para o glorioso time das Laranjeiras. Até mesmo porque se Ronaldinho tá pouco ligando para a grana, seu empresário e irmão Assis está. Ele não tem culpa se oferece um drible de seu irmão por 500 mil reais  (no ocaso da carreira dele) e, a essas alturas, ainda encontra quem pague . Que se apressem, pois os cartolas porque o contrato está em dólar e a conta está subindo.



                                           





            É por essas e outras que, mesmo fanática, a torcida de um time deveria pensar duas vezes antes de vaiar um grande jogador, pelo menos em respeito ao seu  passado. Ronaldinho Gaúcho não tem culpa se foi contratado. Seria muito mais válido e salutar para as tradições e as muitas glórias do Fluminense que vaiassem ao invés do craque-moleque, o moleque-craque. Que continua por lá.
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                        http://www.joseewertonneto.blogspot.com