terça-feira, 21 de abril de 2020

A BOA QUARENTENA LITERÁRIA







VIEIRA NA ILHA DO  MARANHÃO, de Ronaldo Costa  Fernandes
Neste romance de ficção histórica, Ronaldo se afasta dos temas habituais,  em seus contos e romances,  para construir   uma homenagem à sua terra, o Maranhão – e que homenagem! Para tanto buscou um de nossos  personagens mais ricos  e emblemáticos, o padre Antonio Vieira.
Vieira, no romance, paira, por assim dizer, como um farol, iluminando a ocorrência dos fatos, mas  sem participação no desenlace dos mesmos. Mantendo-o equidistante de sua criação imaginativa,  Ronaldo edificou um significativo registro de uma época, da qual até os maranhenses mais letrados sabem pouco. Aos poucos,  o leitor vai percebendo que, com suas palavras, o autor traçou um denso painel em que suas  frases substituíram  registros documentais, desenhos e mapas de uma fase embrionária da nossa formação como povo .  É um romance cujo fascínio não está no mistério da trama, não linear e quase inexistente, mas na composição dos tipos: fortes, devassos, estúpidos e aventureiros, e na descrição dos eventos em torno dos mesmos, o que   nos transporta   para o passado como se estivéssemos – perdoem o clichê- viajando através do tempo.
Certamente fruto de árdua pesquisa, a abordagem literária  a meio caminho entre crônica dos acontecimentos  e romance , valoriza sobremaneira o resultado.  Uma obra enriquecedora  que deveria ser recomendada para  leitura em nossas faculdades , especialmente para os formandos em Letras ou História.

ANÔNIMOS, de Lindevania Martins
Os contos de Lindevania Martins possuem o dom de aberturas poderosas, sugestivas e originais. Leva-se algum tempo para constatar isso porque, extasiados, somos motivados a continuar  com progressivo  interesse,  já que o que vem pela frente não se desloca do mistério ou da inquietação prometida. Ao invés, nos conduzem a mais labirintos perfeitamente delineados, sem que se tope com bizarrias que, de algum tempo para cá, se tornaram um caminho fácil para escritores que, sem o mesmo talento, ficam emparedados,  no espaço curto de um conto,  descambando para  a conclusão  grotesca ou ineficaz.
Assim, em dilacerantes contos como a Língua ou Coisa sem nome, para citar apenas estes, Lindevânia Martins consolida a narrativa de seus contos em um todo monolítico, fazendo com que  o start-up impactante perdure até o final,  para deleite do leitor.

LITTERAE SEMPRE, De Alexandre Lago
Este segundo livro de Alexandre Lago sobre a mesma temática  , pode ser considerado , dada a linguagem accessível e dinâmica, tanto como livro de iniciação à boa literatura , como de aprimoramento,  para os mais versados .
Mesmo aquele que já tenha viajado literariamente por “ mares nunca antes navegados”  há de encontrar aqui  o tesouro da ilha que julgava perdida , e dotará  sua navegação ( a leitura é uma viagem ) com um  fértil manancial de obras sutilmente postas à disposição do leitor através de uma arquitetura de compartilhamento em que o autor concede, além do resumo da obra, sua abalizada opinião.
Mais um utilíssimo livro que deveria enriquecer o acervo de nossas escolas. Desta feita para estudantes do segundo e terceiro grau.


José Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de Lendas , cuja segunda edição
já está na gráfica 



quarta-feira, 15 de abril de 2020

DE CARONA CONTRA O CORONA






De Carona no humor, contra o Corona::


1.Gretchen. A cantora Gretchen bombou nas redes sociais, após solidarizar-se  à campanha Fique em Casa.
Foi muito aplaudida.  Embora muitos não saibam,  apesar da avançada idade ela é uma das poucas pessoas do Brasil imune ao ataque do vírus. Especialistas entendem que o vírus jamais conseguiria atravessar a barreira de botox sobre a pele da cantora.  

2.Galvão Bueno. Eis que bombou na net uma pergunta de resposta complexa:  “A rede Globo vibra mais com notícias trágicas da pandemia ou com os gols  do Flamengo?
Resposta difícil. Alguém sugeriu que a  única forma de saber seria colocar Galvão Bueno para narrar os momentos mais trágicos,  gritando gol toda vez que acontecer uma nova tragédia .  Caso o grito de Galvão perdurar mais na pandemia, essa opção seria a verdadeira.

3.Sexo Virtual. O confinamento das pessoas aumentou o volume de serviços eróticos disponibilizados na Rede. O PornoHub, um dos maiores sites de conteúdo erótico, teve, por exemplo, um aumento de 6 % de procura.
Isso significa   que as escapadas do lar com a desculpa de que a rotina cansa, está definitivamente descartada doravante. A partir de agora, os parceiros terão  de convir que é melhor levar chifre de um Ricardão(ona)  virtual do que um real. E sem sair de casa. 

4. Outros Vírus. Alguns vírus, HN1, Dengue etc. estariam incomodados com o sucesso que o Corona está fazendo na mídia.
O HN1 teria travado com o mosquito da dengue o seguinte diálogo:
- Tá vendo o sucesso que esse cara tá fazendo na TV ? E nem precisou entrar no BBBrasil.

5.Dupla Sertaneja. Outra dúvida sobre os efeitos do Covid 19  bombou na Internet. A dúvida: Quando um dos membros de uma dupla musical sertaneja é contaminada  o parceiro também é?
Evidentemente que isso foi uma maldade. Mas disso surgiu uma ideia, esta sim,  benéfica para todo mundo.
“Que o vírus jamais faça mal a saúde deles, mas bem que podia deixar as suas canções de quarentena, ou melhor, de oitentena.”   

6.Ações em alta . As ações que mais subiram desde o início da pandemia foram: sites de streaming, empresas pesquisadoras de vacinas e aplicativos de vídeo conferência.
Especialistas afirmam que a ação que vai disparar assim que findar o período de quarentena, (Quando a Economia do país estará em pandarecos) será a ação  contra o bolso dos outros.

7. Baile de Máscara. De olho no futuro, já existem  empresários  se arregimentando para promover a volta dos bailes de máscaras,  que tanto fizeram sucesso nos primitivos carnavais.  
Aliás,  como a contaminação foi maior em São Paulo e no Rio onde o Carnaval e a promiscuidade correram  soltos,  governadores desses estados já estariam pensando em exigir que, para o próximo ano, o Carnaval volte a ser de máscaras, preservando o romantismo, a saúde da população e, principalmente,  escondendo melhor os bandidos.

8.O ministro Gilmar Mendes fiel ao seu mantra de soltador de bandido começou a libertar vários  condenados da lava jato sob o  argumento de que estes poderiam  ser contaminados.
Um internauta comentou: “Gilmar não perde tempo,  não respeita nem o vírus. Pega Carona até no  Corona,  se for para soltar bandido!”

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas 



sexta-feira, 10 de abril de 2020

A ARTE DE SER O PRIMEIRO






 “Os últimos serão os primeiros”  dizia Jesus Cristo contrariando a obsessão moderna de primazia em tudo que se refere a poder e visibilidade . Nestes tempos de Corona, a enxurrada de especialistas que aparece para ostentar  sapiência sem oferecer soluções,   batendo em uma tecla de prevenção  do tempo de nossos tataravôs, faz ver  que a ciência progrediu muito em certas direções relacionadas à tecnologia de  consumo e , relativamente,  pouco no que se refere à proteção à saúde dos indivíduos.
Nada como, nesses tempos sombrios, refletir sobre alguns primeiros  especiais.

                1.O primeiro mandamento no Velho Testamento é “ Não terás outros deuses diante de mim”. ( Exodo 20.3). No Novo Testamento  uma sutil  alteração foi feita por Jesus Cristo. “Amarás, pois,  o senhor teu Deus de todo coração, de todo teu entendimento, e de toda a tua força.

                Isso significa que até os mandamentos são adaptáveis,  segundo a visão daquele que tem o poder de alterá-los. Por exemplo, na política, o primeiro mandamento que regeu a administração dos governantes corruptos, associados à lava jato foi: “Só terei um Deus diante de mim, o dinheiro”.

Já o primeiro mandamento cabível a um bom governante nestes tempos de crise é “ Deixe a politicagem de lado”.

2.As primeiras cordas de violão clássico eram feitas de tripas de gato.
Isso explicaria  porque, de vez em quando,  ouvia-se um indescritível e fascinante acorde. Devia ser  o gato miando.

3.A primeira máquina construída para facilitar o trabalho das mulheres  foi a de costura.
Mas a única que lhes fez realmente vibrarem foi a última: o  vibrador.

4.O primeiro método que se tem notícia para evitar a gravidez das mulheres era um tanto rústico. As egípcias colocavam pedrinhas no útero que funcionavam como um verdadeiro DIU.

As mulheres, coitadas, recorriam ao que estivesse ao alcance. Quando não conseguiam afugentar os machões com pedradas, resolviam depois com pedrinhas.

5.Os chineses foram os inventores dos primeiros sorvetes. Estes tinham como ingredientes uma pasta de leite e arroz.
Ainda bem que não tinha pasta de carne de morcego na composição. Já pensou?

6.O primeiro carro a vapor que circulou no Brasil colidiu com uma árvore. Seu motorista era o poeta Olavo Bilac. Foi o primeiro acidente automobilístico do país.
Romário, se  vivo na época, talvez dissesse: “ Olavo Bilac dirigindo um automóvel é um poeta!”
Pelo menos isso serviu de inspiração a Olavo Bilac para criar uma célebre abertura lírica “Ora, direis , ouvir estrelas”, que ele teria adaptado  do original “ Ora, direis. Eu vi estrelas!”

8. A primeira criança russa vacinada contra a varíola recebeu o nome de Vacccinov.

Espera-se que a primeira criança vacinada no Brasil contra o Corona Vírus não receba o nome  de Cora Vacinona .

9.A primeira guerra mundial iniciou-se em 28 de junho de 1914 e terminou em 11 de novembro de 1918. A segunda  durou de 1939 a 1945.

A terceira começou há dois meses contra o Coronavìrus. A diferença é que as nações do planeta, desta vez,  não estão se digladiando entre si, mas  seguem juntas contra um único mas pavoroso inimigo comum.   Um  vírus.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas 



segunda-feira, 6 de abril de 2020

SUA MAIOR ILUSÃO É VOCÊ MESMO





Sim, caro leitor,  você é uma ilusão. Nosso eu é uma ilusão, não passamos de ilusões. E nem estou me referindo à vida humana, essa de quem, com muito maior razão, se desconfiava “A vida de alguém é a soma de suas ilusões” já dizia Henry James.
Estou me referindo a esse Eu, que todo mundo pensa que é e que, agora, a ciência desmente como apenas um conceito, dissociado da realidade. Como diz o neurocientista Daniel Dennet em seu livro “A perigosa ideia de Darwin”.  Ele atesta, assim como outros especialistas, que a mente humana é apenas uma constante sucessão de ideias, lembranças, sucessões, projetos, sentimentos, disputa por atenção etc. que passa por nossa consciência, de forma não linear. Para ele a forma de dar sentido a esse turbilhão é dizer que há um Eu que está experimentando, ou no comando de seus pensamentos. Mas esse eu unificado é apenas um conceito, portanto, um impostor.  
Para ilustrar essa realidade pode-se imaginar o seguinte diálogo entre um homem e seu espelho, ao  perceber que, dentro da moldura, a imagem o encara fixamente, como se estivesse viva e fosse outro ser. O homem, intrigado, pergunta àquele que julgava ser apenas a  réplica de si mesmo.

- Quem é você?
- Eu sou você.
- Nada disso. Você é apenas a minha imagem. Eu sou eu.
- Não se iluda. Eu sou você.
- Idiota! Se você for eu, quem, afinal, eu sou?
- Uma ilusão. Somente isso e mais nada além  disso, meu caro.
- Ah, quer dizer então que eu como, bebo, respiro, transo, posso te mandar à puta que pariu agora mesmo e,  mesmo assim,  eu não sou eu. Enquanto que você, sem corpo e sem vida, por trás da lente de um espelho é a minha pessoa...
- Eu pelo menos sou sua imagem. Você  nem isso, simplesmente é uma fantasia criada por você mesmo.
- Essa é boa! Vejo que você pretende me tirar do sério. Quer dizer que sequer uma imagem eu consigo ser, ou ter?
- Claro! Basta pensar. Daqui a um segundo você já terá outra imagem. Eu poderei ser sempre sua imagem atualizada, basta vir até a mim. Já você, ao sair daqui, pensará  que sua imagem ainda será a mesma de agora, esquecido de que esta já foi envelhecida pela passagem de mais um segundo.  E, assim por diante, uma sucessão de rostos se deteriorando até morrer.
- Peraí. E meu pensamento?
- Seu pensamento é uma soma de sensações que você teve,  imitou dos outros ou lhe impuseram, portanto, nada exclusivo seu.
- E meu relógio? Meus pais? Meus genes? Minha carteira de identidade?
- Não são seus. Você os tem apenas provisoriamente.
- Nada existe então de meu? De minha pessoa?
- Nada, você é pó, e ao pó retornarás, lembra? Já eu não. Hoje sou você, amanhã posso ser outro, mais outro. Pelo menos sou uma imagem. Valho mais que você.
- Miserável! Vou te matar criatura, seja lá quem você for.
- Vamos lá, pegue uma pedra atire em minha direção e me quebre. E assim perderá a oportunidade de continuar vendo  a ilusão que você é. O resto é memória. Quando fica.



José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, cuja segunda edição
estará em breve nas livrarias