VIEIRA NA
ILHA DO MARANHÃO, de Ronaldo Costa Fernandes
Neste romance de ficção histórica,
Ronaldo se afasta dos temas habituais, em seus contos e romances, para construir uma
homenagem à sua terra, o Maranhão – e que homenagem! Para tanto buscou um de nossos
personagens mais ricos e emblemáticos, o padre Antonio Vieira.
Vieira, no romance, paira, por assim
dizer, como um farol, iluminando a ocorrência dos fatos, mas sem participação no desenlace dos mesmos. Mantendo-o
equidistante de sua criação imaginativa,
Ronaldo edificou um significativo registro de uma época, da qual até os
maranhenses mais letrados sabem pouco. Aos poucos, o leitor vai percebendo que, com suas palavras,
o autor traçou um denso painel em que suas
frases substituíram registros
documentais, desenhos e mapas de uma fase embrionária da nossa formação como
povo . É um romance cujo fascínio não
está no mistério da trama, não linear e quase inexistente, mas na composição
dos tipos: fortes, devassos, estúpidos e aventureiros, e na descrição dos
eventos em torno dos mesmos, o que nos transporta para o
passado como se estivéssemos – perdoem o clichê- viajando através do tempo.
Certamente fruto de árdua pesquisa, a
abordagem literária a meio caminho entre
crônica dos acontecimentos e romance , valoriza
sobremaneira o resultado. Uma obra enriquecedora que deveria ser recomendada para leitura em nossas faculdades , especialmente
para os formandos em Letras ou História.
ANÔNIMOS, de Lindevania Martins
Os contos de Lindevania Martins
possuem o dom de aberturas poderosas, sugestivas e originais. Leva-se
algum tempo para constatar isso porque, extasiados, somos motivados a continuar com progressivo interesse, já que o que vem pela frente não se desloca do
mistério ou da inquietação prometida. Ao invés, nos conduzem a mais labirintos perfeitamente
delineados, sem que se tope com bizarrias que, de algum tempo para cá, se
tornaram um caminho fácil para escritores que, sem o mesmo talento, ficam
emparedados, no espaço curto de um conto,
descambando para a conclusão grotesca ou ineficaz.
Assim, em dilacerantes contos como a
Língua ou Coisa sem nome, para citar apenas estes, Lindevânia Martins consolida
a narrativa de seus contos em um todo monolítico, fazendo com que o start-up
impactante perdure até o final, para
deleite do leitor.
LITTERAE SEMPRE, De Alexandre Lago
Este segundo livro de Alexandre Lago
sobre a mesma temática , pode ser
considerado , dada a linguagem accessível e dinâmica, tanto como livro de
iniciação à boa literatura , como de aprimoramento, para os mais versados .
Mesmo aquele que já tenha viajado literariamente
por “ mares nunca antes navegados” há de
encontrar aqui o tesouro da ilha que
julgava perdida , e dotará sua navegação
( a leitura é uma viagem ) com um fértil
manancial de obras sutilmente postas à disposição do leitor através de uma
arquitetura de compartilhamento em que o autor concede, além do resumo da obra,
sua abalizada opinião.
Mais um utilíssimo livro que deveria enriquecer
o acervo de nossas escolas. Desta feita para estudantes do segundo e terceiro
grau.
José Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de Lendas , cuja segunda edição
já está na gráfica