domingo, 27 de agosto de 2017

UM NOME ; JOMAR MORAES






artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

A Academia Maranhense de Letras tomou a iniciativa de celebrar, com uma missa em sua sede, a passagem de um ano de falecimento do escritor, pesquisador e ensaísta,  Jomar Moraes , um intelectual cuja vivência foi dedicada em grande parte  essa instituição, a par de uma atividade febril e diversificada para composição de uma trajetória literária que serviu de referência e dinamizou a vida cultural do estado.
            Assim como o escritor de romances  pode ser dividido ente o construtor de texto, de ideias e de enredos ou de personagens , como classificou em recente artigo o escritor Raimundo Carreiro, também se poderia dizer que, em termos do comportamento em relação ao ambiente cultural que o cerca,  o escritor pode agir de duas formas, conforme sua personalidade  e vocação. De um lado estão aqueles que objetivam e reverberam apenas sua produção, não se permitindo atuar como personagem de referência, fora dos limites de sua obra. Muitos chegam a ser arredios nesse propósito, sendo exemplos típicos J.D.Sallinger nos USA e Dalton Trevisan, no Brasil.
            Há, no entanto,  aqueles que proliferam sua atuação e não  se completam apenas no mero exercício do ofício que escolheram. Fazendo uma analogia futebolística,  assim como existem jogadores que se comprazem na plenitude do gol, existem aqueles que se realizam em dar o passe - para que outros atinjam esse clímax. Certamente Jomar Moraes fez parte dessa segunda categoria, secundando a própria produção e abraçando a tarefa de propiciar esse deslumbre para outros. Esse aspecto generoso do seu caráter foi lembrado durante a missa realizada, tanto pelo capelão João Rezende como pelo intelectual Sebastião Moreira Duarte, em seu discurso,  nessa noite.
            Evidentemente, não cabe aqui o detalhamento de sua obra tão  extensa e do conhecimento de todos. Daí porque o tom mais eloquente  da cerimônia foi a rememoração, justamente,  dos aspectos humanos de sua personalidade; um humor sutil por trás da postura combativa, seu exacerbado espírito crítico em relação à literatura que considerava de pouco valor, enfim, alguém cuja sinceridade intelectual não poupava nem a si mesmo e que atinge o seu ápice quando ele, ironicamente, ao responder a uma pergunta sobre onde poderia ser encontrado seu primeiro livro de poesias disse  “ Gostaria até de saber quem  tenha,  para dar fim aos dois, ao leitor e ao livro.”, o que provocou risos generalizados na plateia. 






Tudo isso está registrado no documentário realizado pelo cineasta Joaquim Haickel, exibido após a missa. Aliás, essa série de  documentários, com  testemunhos valiosos sobre gente do calibre cultural de Jomar Moraes, Erasmo Dias e outros , a meu ver,  deveria ser exibido em todas as escolas públicas, com o objetivo de ampliar o horizonte intelectual e contribuir para a formação de nossa juventude.
            Por fim, ao nome Jomar Moraes, que motivou esta crônica. Lamentável que este ainda não tenha sido escolhido para título de via ou edificação pública  relevante. Jomar Moraes, assim como Nauro Machado, José Chagas e Ferreira Gullar,  merecidamente já contemplados com a inserção na pedra da memória cultural maranhense, fez jus a também fazer parte dessa plêiade, por ter sido um intelectual de estirpe equivalente. A AML, através de sua diretoria já principiou diligências nesse sentido. Que os homens públicos atendam a esse reclame, e que se proceda então. 

José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas 

                                          

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

LINGUAJAR MARANHENSE (pérolas)










artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão

josé ewerton neto é autor de  O ABC bem humorado de São Luis






Aqui se fala assim. Ou se falava? Dia virá ( e não falta muito) em que do Oiapoque ao Chuí só haverá uma fala, sem a riqueza idiomática peculiar a cada região do país.  E essa fala será em uníssono, repetição das asneiras que se repetem na Tevê: no maneirismo dos apresentadores, nos tiques das celebridades das novelas, uma coisa só.  
                Bem, o que ainda se fala por aqui estará na reedição de O ABC bem humorado de São Luís, ainda  uma vez explorando sua provável origem risível.

                BICA. Torneira.
                O maranhense chama torneira de bica porque num estado com tanta abundância de água de chuva, o fato de as torneiras viverem secas só tem uma explicação. Para muita gente, o negócio de água virou bico.

                PEGADOR. Brincadeira de esconde-esconde. Originalmente, de crianças.
                A brincadeira adquiriu esse nome por aqui porque o garoto, futuro ‘pegador’, começa sua futura vocação de Don Juan se escondendo com as meninas, sabe-se lá onde.

                JUÇARA. Açaí
                O maranhense chama açaí de juçara porque lembra uma crioula com esse nome, suculenta, gostosa e que vai lhe dar muita força e algo mais.

                ATRACA. Diadema ou tiara.
                O que lá fora é chamado de diadema ou tiara ganhou por aqui o nome de atraca, porque, antigamente,  os marinheiros quando aportavam no Desterro  doavam tiaras para as meninas da Rua 28, (zona do baixo meretrício) com o objetivo, pré-anunciado, de atracá-las.

                RI-RI. Fecho éclair, zíper.
                O maranhense chama zíper de ri-ri porque, via de  regra, quando ele abre o de sua parceira e ri de felicidade. Depois é a vez de ela rir, quando abre, por sua vez,  o dele.

                                         




                BANHAR. Tomar banho.
                O maranhense diz banhar ao invés de tomar banho porque, ao contrário dos que aqui chegaram tentando impor a fala “tomar banho”, não está tomando o banho de ninguém, aqui chove o suficiente, não há razão para isso.

                BALDIAR. Vomitar
                O maranhense diz baldiar ao invés de vomitar porque no carnaval de antigamente ( quando o daqui era o terceiro do Brasil) ao chegar na quarta-feira de cinzas estava tão bêbado que na hora de vomitar confundia o penico com um balde. 
               
                PEGAR CORDA. Ficar zangado.
                O maranhense , quando está zangado diz até hoje que está pegando corda porque na época da escravidão quando o feitor se zangava , bastava ameaçar os escravos: “Já tô pegando a corda!”

                DIZENDO. Algo está ‘Dizendo’, quando dá uma impressão muito positiva.         
                O maranhense julga que uma coisa espetacular está dizendo por que certas bocas gostosas  (mudas e não oficiais, de sua parceira ) no seu entender, só faltam falar, e dizem mais que se pudessem.  

                CINTURÃO. Cinto grande.
                O maranhense chama cinto de cinturão porque quando as crianças apanhavam de cinto,  a dor era tanta que viam tudo no aumentativo. Não parecia cinto, mas um cinturão.

                HEIN-HEIN. Concordância, negação. Fala-se com a voz anasalada.
                Essa expressão típica maranhense tanto pode significar sim como não. Até hoje, as grandes decisões administrativas maranhenses são tomadas desse jeito. Daí...  nosso  caos organizacional .  Antigamente, durante o casamento,  tanto o noivo como a futura esposa diziam Hein Hein, ao invés de sim ou não, quando o padre perguntava. Acontece que ao sair logo depois, atrás da virgindade da esposa,  o marido, atônito perguntava “Hein? Onde?” Ela respondia Hein, Hein, confirmando que havia acabado de surgir um corno novo na praça .






                                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

domingo, 20 de agosto de 2017

A ARTE DE PISAR NOS ASTROS





artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

“Tu pisavas nos astros, distraída” da música  Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa, foi considerado por Manuel Bandeira o mais bonito verso da língua portuguesa.
            O fato de tê-lo escolhido não de um poema concebido inicialmente para ser apenas lido (como a maioria) sugere que a escolha de um verso bonito não é tão simples assim e demanda atenção, percepção e sensibilidades típicas de alguém do ramo, no caso um poeta da envergadura de Manuel Bandeira.
            Talvez porque a captação da emoção propiciada pela beleza, tal como ocorre na atração física, envolva submeter-se inicialmente ao impacto do conjunto e, somente no instante seguinte, aos detalhes que suportam e evidenciam essa atração. No caso da atração física, a harmonia do conjunto é sucedida pelo êxtase concedido pela contemplação separada de olhos, boca, postura, etc. No caso da leitura a repetição raramente é feita fragmentando-se os elementos distintos que compõem a teia de sedução.  
            Por isso, ao indagar-se a alguém pelo poema mais bonito que leu muitos hão de se lembrar de seu favorito com alguma facilidade, enquanto que à indagação de seu verso favorito, poucos se arriscarão a uma resposta. Imagino que alguns poemas tornados clássicos, se destacariam na preferência coletiva, casos de A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, As Pombas, de Raimundo Correia, Soneto da Fidelidade de Vinícius de Moraes ou algum poema de Augusto dos Anjos. Outros menos votados somente surgiriam de uma leitura e preferência pessoal. No meu caso, entre os brasileiros prefiro A Mosca Azul de Machado de Assis, ainda que o escritor carioca seja mais conhecido como romancista do que como poeta. Mas, e o verso? Quantos se arriscariam a dizer? 
            Certamente não seria o “escarra nesta boca que te beija”, ainda que coexista muito à vontade no soneto popular e belíssimo de Augusto de Anjos. Uma nova leitura do poema Versos Íntimos, focada apenas neste verso, sobrepõe, porém, com nitidez o fato de que um poema bonito subsiste a não ter sequer um grande verso ou, até mesmo, versos bizarros como esse. Em a Canção do Exílio, até surpreendentemente, nenhum verso se distingue sozinho, compondo uma peça poética que, mesmo sem ser cantada produz acordes nostálgicos de alta vibração, com harmonia e ritmo tão apropriados à fala que poucas canções chegam perto. Assim como este não sente falta de um belo verso, versos muito bonitos podem sobreviver a poemas sofríveis.
            Dito isso, alguém poderia ajudar-me a escolher o ‘meu’ Verso mais Bonito? Lembro,  de supetão, de algumas construções dos grandes de nossa terra que nos deixaram há pouco como “Palavra, escrevo-a nua: água”, de Nauro Machado ou “Um pássaro preso, mesmo cantando é mudo”, de José Chagas ou , de mais longe,  “Homem livre, hás de sempre estremecer o mar”, de Charles Baudelaire.







            Como não fui capaz, porém,  de escolher um entre tantos , resta-me a opção de render-me ao talento do poeta pernambucano e concluir que sim, de fato, o verso escolhido por ele é o mais bonito.  Mesmo porque, se não for, ele ainda assim terá acertado, pois o verso mais belo será sempre aquele capaz de nos postar extasiados diante de sua sedução, enfim aquele capaz de nos fazer pisarmos nos astros, distraídos.

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com


José Ewerton Neto é autor de O oficio de matar suicidas





domingo, 13 de agosto de 2017

PAIS ESPECIAIS, PRESENTES ESPECIAIS



artigo publicado no jornal O estado do Maranhão



            Todos os pais são especiais, certo? Mas existem aqueles que são mais especiais ainda. Claro que estamos nos referindo aos pais celebridades, aqueles que são sempre assunto do dia, enfim, aqueles que, de uma forma ou de outra, influenciam a vida que vivemos, para o bem ou para o mal.
            Porém, já que a palavra “especial” estabelece uma distinção da qual eles nem sempre são merecedores,  não seria melhor chamá-los, ao invés, de pais excepcionais? Ora, deixa pra lá. O que importa é a curiosidade de sabermos o que podem fazer seus filhos para agradá-los, já que podem ganhar  tudo. Em primeira mão, conseguimos descobrir a motivação que move seus filhos neste dia .

            1.De Neymar para o seu pai.
            Um vídeo (com cenas eróticas numa praia paradisíaca) de uma bela modelo russa, parecidíssima com a Bruna Marquezine. 





Com os dizeres: “Pai, depois que a Marquezine me deixou ofereceram-me  esta, mas ultimamente ando preferindo me divertir com os parças. Sei que desde que o contratei como meu empresário, você tem grana pra comprar tudo que quiser,  mas,  como sei que você gosta da ‘coisa’ pensei nesta que é uma baita gata. Não se preocupe que não terei ciúmes. É quase uma Bruna Marquezine, mas não é.
            P.S. A praia está no pacote. Pode encarar,  a mãe não vai saber”

            2.Do filho de Michel Temer.

            Um dispositivo anti-gravação. Com o oferecimento “Pai querido, comprei no Paraguai  mas funciona mesmo. Depois desse, você não precisará  temer (sem trocadilhos, paisão, kkkkk!) delator algum. O aparelho  confunde qualquer som e o torna inaudível. Aproveite. De qualquer forma, querido pai, acrescento que é  bom não facilitar com Sérgio Moro. Soube que enquanto você tava recebendo o Joesley no Palácio da Alvorada, o Sérgio foi recebido pela Gisele Bundchen na sua mansão de Boston. O homem é fera, pai. Não dê uma de principiante.
            P.S. Não se esqueça de tentar botá-lo na cadeia, paisão. Afinal de contas, você tem a faca, o queijo,  e os ratos na mão. Você é o cara! .

            3.Do filho de Geddel.
            Uma tornozeleira especial. Com o oferecimento: “Foi  ideia da mamãe, querido papai, sempre preocupada com você. Isso para que você não fique constrangido quando tiver de usar uma comum. É de alta tecnologia, tem pulsações para descanso muscular, pode servir para jogos eletrônicos com os pés, enfim muitas atividades. Se apertar no botãozinho interno toca até música. Um show! Enfim, muito digna do grande pai que você é e de tudo que você arriscou pela gente.  

           
            4.Do filho de Nestor Cerveró.






            Uma coleção completa de revista Playboy, conservadíssimas, em embalagem de luxo. Com os dizeres: “Pai. Depois que eu li a entrevista do Alberto Youssef (seu parceiro de cela),  à revista Veja, dizendo que você fazia coisas estranhas na cama da cadeia, debaixo dos lençóis, matei a charada e saí atrás dessas edições exclusivas. Sei que tem coisa mais moderna por aí, mas acho que tecnologia não é do seu agrado,  tanto assim que até hoje você se vira na base da gloriosa. Com esse material você vai se divertir muito debaixo dos lençóis. Preste atenção na de Juliana Paes quando tinha só 25.
            P.S. Pode ficar tranquilo, mamãe até riu quando soube do presente. Ela até me disse (cá pra nós) que prefere que você continue praticando assim quando voltar, do que ficar de novo com aquele olho de zumbi, copulando em cima dela. Kkk. Beijo Paisão.  Te amo!


                                                           José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas








domingo, 6 de agosto de 2017

TÁ FALTANDO ESPERMA!




Conserve seu esperma  ou aproveite melhor seu esperma? Essa questão começou  a se tornar cruciante ao se constatar que o ser humano pode ser extinto se a quantidade de espermatozoides no esperma dos homens  continuar a cair no ritmo atual, segundo um estudo liderado por um pesquisador da Universidade Hebraica de Jerusalém.
            Um grupo de sete especialistas de diversas universidades, ao redor do mundo, se uniu para analisar os resultados de 185 estudos diferentes da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia. Eles concluíram que a contagem de espermatozoides entre homens dessas regiões caiu pela metade nos últimos 40 anos. O estudo também aponta que a taxa de declínio continua alta e pode possivelmente estar aumentando.
            De uma forma ou de outra, as mulheres, sempre perspicazes, talvez se tenham dado  conta disso . A atriz Karina Bacchi anunciou recentemente, na mídia, a sua produção independente de filhos, preferindo uma inseminação à companhia masculina, tradicionalmente usada para isso. Como se dissesse nas entrelinhas: “Homem não compensa mais  e, além disso, apenas me antecipo a uma tendência universal.”  Da mesma forma,  outra beleza global, Bruna Linzmeyer, declarou há poucos dias que a humanidade sempre foi gay (?)  como se  insinuasse: “ Se os chimpanzés  já eram gays há quatro milhões de anos com esperma pra dar e vender,  imagine seus descendentes, agora que a coisa tá indo pro beleléu”.
            Confiança no esperma masculino ou não, o fato é que as mulheres estão useiras e vezeiras em reclamar de que não se fazem mais homens como antigamente.
            Pois foi pensando em tudo isso que a comunidade científica compartilhou com a ONU um Manual de Prevenção de Esperma, para ser distribuída em breve.   Eis o resumo  que conseguimos obter:
             1.Mantenha seu estoque. Jamais se considere uma máquina de produzir esperma assim como há políticos que se  consideram máquinas de abocanhar propinas. Nada de desperdiça-lo com mulheres ocasionais, ou imitações. Se puder, evite a masturbação. Embora esta tenha ,segundo Woody Allen, a grande vantagem de leva-lo a transar  com as mulheres que mais deseja, nada se compara à satisfação de poder negá-lo a uma dessas mulheres.  Já experimentou? Fabrique uma fantasia dessas e economize. O resultado poderá ser compensador.

            2.Faça depósitos regulares.  Nada mais preventivo que começar a deixar,  nos bancos de esperma, alguma das sementinhas que você ainda é capaz de produzir. Tendo esse cuidado isso será garantia de que sua linhagem  não se extinguirá. Daqui a algumas centenas de anos, quando a escassez for maior,  quem sabe uma princesa ou presidenta (presidenta? Deus o livre!) queira se apropriar  justamente do seu esperma. E seu filho será feliz por você.






            3. Use-o com eficácia. Saiba muito bem para onde seu precioso (agora) esperma está indo. Espermas depositados em locais para onde não deveriam ter ido sempre foram uma dor de cabeça ao longo dos anos, quanto mais agora! Claro, você não pode exigir de sua parceira um certificado de bons antecedentes, mas pelo menos fique atento. Tenha especial cuidado com o trânsito a ser percorrido por aquele ‘um entre um milhão’ que vai virar um ser vivo. Se suspeitar de trânsito congestionado por excesso de uso, resguarde-o para o futuro. Alguém precisará dele.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas



                                                                           ewerton.neto@hotmail.com

terça-feira, 1 de agosto de 2017

GOSTO DE VOCÊ ASSIM




artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


AS COISAS BELAS DA JUVENTUDE 
José Ewerton Neto, autor de O oficio de matar  suicidas

            A liberdade é a maior de todas as ilusões, dizia Herman Hesse. O narrador de um de meus contos finaliza sua narrativa dizendo  que a juventude é a maior de todas as liberdades. Admitindo que ambos estejam certos, a juventude seria a maior de todas as ilusões.
            E, por ser justamente a juventude a  expressão mais comovente dessa necessária ilusão da liberdade, confesso que sempre me incomodei  com a literatice imposta aos jovens , nas escolas, através dos livros que lhes são intimados a ler.  Acontece que, a meu ver, a propagação do hábito da leitura não se promove através da obrigação, mas pelo prazer.
             Considerando que cabe ao mestre orientar seus alunos no rumo da melhor escolha,  o ideal seria  que se concedessem alternativas aos clássicos que estes considerarem chatos (e isso acontece até para quem  tem “estrada” intelectual). Vejo como opções mesmo  os best-sellers (por que não?) quando são capazes de condensar o propósito maior da literatura que é de oferecer prazer e reflexão através de uma boa escrita.
            Como apreciador do bildungsroman ( romance de formação) vez por outra saio à cata, nos sebos, de alguma ‘pérola’. Se não é possível,  a qualquer hora, descobrir um O Apanhador no Campo de Centeio, consigo encontrar, porém,  gratas surpresas:






                        1.Gosto de você assim. Romance de Francesco Gungui,  autor italiano, tornou-se best-seller internacional. Para  introdução ao seu conteúdo bastam algumas falas de  sua personagem central, Alice: “As conversas de sempre, as palavras de sempre. O seu futuro antes de tudo, você tem que fazer, você tem que entender...Mas por quê? Por que tenho que encontrar um futuro ? Por que tenho que ler livros de que eu não gosto?” .
            Este resumo das inquietações e perplexidades de uma jovem reprovada na escola dizem mais do que qualquer crítica literária, inclusive tangenciando o assunto do início desta crônica. Uma leitura insinuante e agradável que traz uma curiosidade: um poema da escritora gaúcha  Martha Medeiros, introduzido  por um dos personagens.







            2.Simon vs. A agenda homo sapiens. Romance cujo título  pouco convencional desperta a atenção para uma jornada que faz jus ao título. A troca de e.mails entre dois jovens que se desconhecem substitui a tradição literária dos romances epistolares para uma linguagem adaptada às novas gerações, explorando uma linguagem idem, inserida numa simbologia que traduz as ansiedades típicas de uma geração.
            Dessa forma a autora contorna a densidade de um tema tradicionalmente opressivo como a homossexualidade para inseri-lo no contexto da naturalidade e ironia com que os jovens o observam.  Por assim dizer a autora higieniza o tema, mas não o desqualifica ou o sublima mantendo o fio condutor da trama em torno do mistério trazido pela identificação dos personagens envolvidos.








            3. O Limão. Romance que talvez seja o mais literariamente valioso dos três. Deparando-me, agora,  com a exiguidade deste  espaço,  direi, resumindo,  que o encontrei no sebo do Poeme- se e que minha curiosidade foi despertada, também, quando vi o nome do tradutor, o político e jornalista Carlos Lacerda. Resgatado pelo escritor Paul Bowles de um contador de histórias árabe, o texto já  instigante pelo ambiente exótico e bizarro, torna-se sobremaneira envolvente quando os diálogos reproduzem, no mesmo diapasão,  igual atmosfera mágica.


José Ewerton Neto é autor de o oficio de matar suicidas



                                                                       ewerton.neto@hotmail.com