domingo, 20 de agosto de 2023

UM K CHATO COMO Q

 


Foi o whats´app que consagrou o K. Antes este andava meio oculto, mais conhecido como coeficiente de segurança nas fórmulas da Matemática. Agora só se vê kkkkk pra cá kkkkkk pra lá. Até quem não é chegado a uma boa risada  se esbalda num kkkkk.

Antes este era apenas aquela constante que os cientistas colocavam nas fórmulas, por segurança, quando a igualdade não vinha de jeito algum. “ Bota um K aí que resolve”. E, pronto,  a coisa foi indo.

Mas o K talvez não quisesse mais o anonimato das fórmulas e, como todo ignorado que se preze, quis sair atrás dos holofotes e da mídia. Queria, como todo mundo, aparecer,  e assim chegou ao whats’app. Foi a glória!, embora, ultimamente, um pouco indigesta, pelo excesso de trabalho.

Porque, se pensarmos bem, o kkkkkk do whats’app nunca deixou de ser o que sempre foi: um coeficiente se segurança.  Contra a piada sem graça dita pelo amigo, ou pelo patrão; contra a falta de assunto; contra aquela informação científica que você não entendeu bulhufas.

E, como a vida atual ficou muito perigosa e o mais seguro para todo ser humano é se proteger com todos os coeficientes de segurança possíveis, deu no que deu :

 Kkkkkk na monotonia do trânsito; kkkkk nas dificuldades do trabalho; kkkkkk nas sensaborias  da vida.

Enfim, KKKKKKKKKKKKK neles!


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

SÓ FALTA DOAR A ALMA

 


SÓ FALTA DOAR A ALMA

José Ewerton Neto

 

Volta e meia surgem reportagens estimulando as Doações, em si uma atitude de generosidade que só engrandece quem as pratica. O problema são as incompatibilidades.

Isso mesmo. Junta de cientistas acaba de descobrir que os órgãos dos pobres são incompatíveis para os ricos, por isso sugere que o potencial beneficiário rico pense duas vezes antes. A questão não é mais de desprendimento e generosidade, mas do que foi feito dos corpos dos pobres ao longo dos séculos.

 

Cabeça. A cabeça do pobre não serve para rico. É cheia de vazios ou, melhor dizendo, de buracos mesmo. Reais ( porque mora em um ) e imaginários ( se não sonhar com um buraco prazeroso , vai sonhar com o quê?).  Pobre não pensa no futuro e no passado e sempre acha que o presente é melhor esquecer,  ao contrário dos ricos. Definitivamente, um rico não aguentaria por muito tempo a cabeça de um pobre em seu pescoço. 

Pé. Todo pobre é pé-de-chinelo, portanto, pé suado e arrebentado, sofrido,  de andar muito. Calça sandálias sem qualidade,  depósitos de fungos e bicheiras. Não serve para circular em shopping-centers de luxo nem para subir em transatlânticos  rumo ao exterior. Para o rico o pé de um pobre nunca vai dar pé.

Sangue.  O sangue do pobre é sangue-de-barata. É sangue que não transmite vibração, a não ser quando está dançando reggae, forró, ou apanhando da polícia. Jamais serviria para um rico que precisa possuir o sangue azul dos nobres e arrogantes.

Peito. O peito do pobre é peito aberto, se não for pela natureza cordial é por causa de bala perdida ou endereçada. É um peito incompatível com o organismo do rico que precisa ter o seu absolutamente fechado para as coisas que considera  bobas,  como solidariedade e honestidade.

Pele. A pele do pobre é pele-de-cordeiro, de animal manso e obediente. Já a pele do rico tem que ser no mínimo parecida com a pele de um leão, de casca grossa, própria para a ferocidade de atacar quando põe a mão na grana dos mais humildes.  

Olho. O olho do pobre conduz um olhar pedinte, subserviente,  que só aumenta de tamanho quando leva um susto. Jamais se adaptaria às órbitas do olho de um rico,  que precisa ter o olho- grande para se dar bem.

Enfim, os cientistas descobriram que o pobre não serve mais nem para DOADOR. Está mais para doa-dor do que para doador. Só falta agora que doem as almas.