terça-feira, 28 de junho de 2011

SÓ MAIS UMA SAIDEIRA

artigo publicado no jornal

O estado do Maranhão, Seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo







Todo bêbado, aparentemente, sabe o que é uma saideira. Pelo menos, enquanto ainda está tomando a primeira delas. É óbvio que depois desta vem uma outra, mais outra, enfim dezenas... Apenas raia sanguínea e fresca a madrugada, como diria o poeta.
Nesses tempos de São João de poucos arraiais e muitos cornos; de poucos bois vivos, mas de muito boi morto (no espeto), a preço turístico, é mister tomar uma saideira, quando mais não seja até para prolongar a ilusão de que ainda se vê o mesmo São João de outrora.
Mas, o que é mesmo a saideira? Nada como recorrer às grandes definições científicas.

Definição Matemática: “A SAIDEIRA é a dízima periódica da Beberologia”

Química: “ A SAIDEIRA é o único líquido com teor de álcool – ainda - superior ao do bêbado.”

Biológica: “ A SAIDEIRA é a única tentativa evolutiva bem-sucedida do homem eternizar-se ( em cima de um copo). Enquanto não chega ao cemitério: sua saideira definitiva.”

Psicológica: “ A SAIDEIRA começa sendo a tentativa de satisfazer o ego, e termina sendo a tentativa desesperada de descobrir onde ele se meteu.”

Zoológica; “ A SAIDEIRA foi a maneira mais fácil que os homens encontraram para suas mulheres descobrirem o animal que se esconde dentro de cada um.”

Literária: “A SAIDEIRA é um combate, que os fracos abate, aos fortes, aos bravos, só pode exaltar”, de um bêbado recitando Gonçalves Dias, ou de G. Dias, bêbado.

Religiosa: “É um ato derradeiro de fé e esperança em encontrar um caminho de salvação, que não seja o de casa.”

Histórica: “É a declaração de Independência que, parecida com a do Brasil, começa com um fico (na mesa de bar) e termina com um saio (de casa).”

Médica: “É a diarréia do álcool, antecedendo a do alcoólatra.”

Estatística: “É um evento cuja probabilidade de se repetir é diretamente proporcional à promessa de nunca mais acontecer.”

Geográfica: “É uma ilha de copos e garrafas, cercada de idiotas por todos os lados.”

Econômica: “É a única inflação que não é paga a juros econômicos, nem reais, mas incalculáveis: JURO QUE NÃO BEBO MAIS.










segunda-feira, 20 de junho de 2011

O FIM DO ARRAIAL DO RENASCENÇA E...

artigo publicado na sessão Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, O estado do maranhão, sábado


O Arraial, que acabou, foi o do Renascença e, seu fim, não deixa de turvar a alegria pela chegada dos festejos de São João em São Luis. Mas, comecemos pelos E...

...E o terrorista está solto.
Cesare Battisti é o nome dele. É italiano, bandido, assassino e terrorista. Deixou quatro filhos órfãos, um dos quais paralítico, depois de assistir à morte cruel do pai. Estivesse em seu país, onde os bandidos pagam por seus crimes, já teria ido para a cadeia, depois de submetido a julgamento.
“ Mas no Brasil é diferente!” devem ter lhe soltado a pérola. E ele correu para cá. Devem ter lhe dito, entre outras coisas, que este é um país de bandidos para bandidos, como disse um grande historiador.
Dito e feito. O “magnânimo” ex-presidente Lula, antes de sair do Palácio da Alvorada, não esqueceu de, no último ato de seu governo, libertar o assassino. “Para não dar trabalho a Dilma”, disse ele, preferindo dar trabalho “à Consciência Nacional” - se é que isso existe.
O Superior Tribunal referendou seu ato, indicando que eles – os que decidem - devem ter pensando à vista de ministros que enriquecem da noite para o dia, Mensalão e Satiagrahas: “Um a mais não vai fazer diferença!”

...E depois do trem-bala do Vasco, o trem- dos- Municípios.
Pois é, lá vem o trem dos municípios. Completamente descarrilado, com quase 150. ( Dizem que logo depois virá o trem dos Maranhão(s): Maranhão do Sul, do Norte, do Leste, do Centro-Oeste, de cima e de baixo).
Bons tempos aqueles, nos idos dos anos setenta, em que se dizia no semanário carioca o Pasquim que cada vinte e quatro maranhenses, dois livros e uma folha de papel equivaliam a uma Academia de Letras.
Agora é diferente. No Maranhão atual, cada rua com três casas, uma Frontier (do futuro prefeito) e um quebra-molas, equivale a um município.

...E da Pesca aos Tubarões.
A ministra Ideli Salvatti, que era do Ministério da Pesca, foi pescada para ser guardiã dos interesses políticos do Governo. A presidenta deve ter concluído que a amiga deve estar bem preparada para isso, se aprendeu a lidar com tubarões.
Já o outro, o das Relações Institucionais foi convidado a tomar uma canoa e escolher entre encalhar num gabinete obscuro ou se afogar no rio do Ostracismo.
O pior é que o coitado nem leva no nome a única grande virtude de Ideli: “Salva-tti a ti mesmo!”

...E o Arraial agonizou e morreu.
Ao invés da morte do boi a morte do arraial. Quando regressei a São Luis descobri que o bairro do Renascença além de muitas vantagens, tinha uma outra: um arraial particular e único.Todas as brincadeiras peculiares ao período de São João e mais um ambiente familiar e muito próprio para crianças se divertirem sem se atropelarem com as multidões de adultos, cujo propósito, está longe de ser apenas o de apenas se deleitarem com o espírito do São João; com o que ele pode propiciar à imaginação em matéria do lúdico e da fantasia.
Acabou. Foi substituído pelo gigantismo dos demais, pelo espetaculoso, pelo carnavalesco. Onde o bonito não são as danças, o espírito junino e as músicas da terra mas o strip-tease moças e de pseudo-dançarinos, eternos candidatos a BBBs , exibindo corpos sarados por trás de uma expressão mongolóide e uma dança canhestra. Ouvi falar que o arraial do Renascença, de porte médio, foi preterido pelas entidades oficiais em favor daqueles onde a grande atração não são os folguedos, mas as multidões se multiplicando, para gáudio de gente se amontoando sobre gente.
A morte de um arraial é a morte do boi sem um final feliz, quando anuncia o que está se tornando uma praga: mais um carnaval fora de época. Desta vez em Junho.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

PARA QUE SERVE UM NAMORADO

artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo, sábado



PARA QUE SERVE UM NAMORADO



ewerton.neto@hotmail.com




Quando perguntada sobre porque preferiu ficar solteira, uma famosa atriz norte-americana respondeu que a razão era muito simples: tinha três animais em casa que faziam tudo o que um homem faz e muito melhor: “um papagaio que só falava palavrão, um cachorro que só vivia latindo e um gato que só chegava em casa de madrugada”.
Ironias à parte, causa estranheza que, diante de suas mais recentes conquistas, as mulheres continuem tão carentes da ostentação de um namorado, e estabeleçam disputas veladas entre si, desfavoráveis para aquelas que não os possuem. Recente matéria neste jornal chega a ponto de sugerir conselhos para aquelas que estão solteiras como se ficar sozinha no Dia dos Namorados fosse um suplício pior do que o de namorar parceiros tão chatos e execráveis como Suzana Vieira - no caso deles, ou Dado Dolabela - no caso delas.
Ainda bem , para nós homens, que elas nunca se deram ao trabalho de perguntar para que serve, afinal de contas, um namorado?

1. Durante muito tempo, um namorado teve alguma utilidade para uma dama. A principal era como protetor, já que, nessa época, era essencial se juntar aos mais fortes. Afinal de contas, eram eles que, espertamente, ficavam com as armas. Crédulas, elas acreditavam até nas histórias de capa e espada – que eles mesmos inventavam – onde um valente e idealizado guerreiro era capaz de batalhar mundos e fundos por amor à sua donzela. (No fundo, eles podiam batalhar mundos, mas estavam mais preocupados era mesmo com o “fundo” delas).
Só depois da proteção vinham o sexo, o amor e a procriação. Lembremos que, nessa época, um namorado era a única alternativa possível já que não havia vibradores, concepção em laboratório e cenas de sexo explícito nas novelas e no BBBrasil. (Nem lesbianismo aplaudido, nem transexuais, nem drags, nem as mais de cinqüenta variações sexuais que hoje existem por aí). O único vibrador que elas conheciam, era o clitóris, mas nele não podiam mexer sob pena de apanhar dos próprios namorados que faziam questão de ignorar esse dispositivo tão natural ( Aliás, até hoje elas se queixam que não são tantos assim aqueles que o conhecem).
Assim, elas se diziam prontas para o amor embora não soubessem exatamente o que significava isso. O namorado, muito menos, mas todos faziam de conta que sim até que chegava o casamento quando a mulher, tão solidária quando sonhadora, tão romântica quanto dedicada, mas, principalmente, com medo de apanhar dizia para aquele que um dia foi seu namorado: “ Senhor, estou pronta para o amor, pode servir-se à vontade” O amor, portanto, durante séculos nunca passou disso e até hoje não se entende como ainda tenha tanta fama neste século. Deve ser por causa das músicas sertanejas.
O desenvolvimento tecnológico trouxe novas “luzes” para a relação amorosa e uma nova vantagem em ter namorado: alguém para trocar lâmpadas. Como todo mundo sabe as mulheres sempre foram inábeis para isso, já que em matéria de luz elas eram mais especialistas em dar à luz do que em acendê-las.. Além disso, por terem estatura mais baixa que os homens, não tinham acesso a lâmpadas, telhados e sótãos ( onde os maridos escondiam os presentinhos das amantes) etc . Hoje, mesmo essa vantagem acabou já que as mulheres cresceram e estão quase da mesma altura dos homens. Tanto subiram que já existe mulher até na presidência da república. Sem namorado, diga-se de passagem.

2. Restou, ao fim, a única e derradeira vantagem: como objeto de ostentação. Um namorado hoje não passa disso, para a nova mulher, a Lady Gaga do século XXI: um adorno como qualquer outro, com a desvantagem comparativa em relação a uma fitinha do senhor do Bonfim – por exemplo - que da fitinha se espera um milagre, enquanto que, de um namorado, sabe-se de antemão que jamais vai sair nada. As poucas que se iludiram um dia acreditando que um namorado servia, também, para leva-las a show de forró já desistiram de acreditar nisso: quando elas conseguem suportar o show é difícil suportar o namorado, e vice-versa
Sem contar último e definitivo risco: o de que, contrariamente a todas as previsões, um dia ele possa se tornar um marido. Nada como um marido do lado, no futuro, para mostrar o quanto pode sair tão trágica essa história de contar vantagem, no dia dos namorados, por estar ao lado de um.

domingo, 5 de junho de 2011

A ULTIMA DO BOM PORTUGUES

Artigo publicado na seção Hoje é dia de...

O Estado do Maranhão, sábado

A ÚLTIMA DO BOM PORTUGUÊS

José Ewerton Neto

ewerton.neto@hotmail.com

Lembram daquela do português? A de que houve um dia um “melhor português do Brasil” e era, justamente, falado no Maranhão? Pois é, está virando piada. Primeiro, porque ninguém está nem aí para essa tal de tradição histórica de falar bem e, segundo, porque, como querem os gramáticos do Ministério da Educação, sequer se precisa mais falar um bom português.

Tudo já foi dito sobre essa discussão, portanto “lá vem a lua saindo, redonda como um botão, se ela virar coalhada nóis come”, como dizia o caboclo. Melhor negócio é sair atrás desse português que, a muito custo descobri, cansado, depauperado e, algo revoltado, em um cantinho qualquer da Praia Grande.

- Ainda estás em São Luis, bom português?

- Aos trancos e barrancos.

- Mais trancos ou mais barrancos?

- Tantos trancos que nem ligo mais para os barrancos. Por exemplo, o de você me chamar de bom português, quando fui, indiscutivelmente e durante muito tempo, o melhor português do Brasil.

- Oh, desculpe. Mas os trancos têm vindo da parte de quem?

- Ora, de quem deveria zelar por mim, dos órgãos oficiais, dos planos culturais, das escolas, dos próprios professores que se recusam a admitir que eu ainda existo, que fui parte do que se chamou Atenas Brasileira, enfim que ainda estou aqui.

- Você se queixa, então que a nova geração não o conhece?

- Não só não me conhece, como está completamente indiferente a mim. Em matéria de português eles prestam muito mais atenção ao português - pra lá de chato! - da tevê, que anda comendo uma atriz da outra, nas novelas e fora delas.

- Ouvi dizer que você está a ponto de desistir de tudo e ir embora.

- Ir embora? Como, se não tenho alternativa? Outrora, era bem recebido em toda parte. Toda vez que um maranhense visitava outro estado, as pessoas de lá diziam logo: “Já ouvi falar em tua terra. É lá que mora o melhor português do Brasil.” Hoje é mais fácil que perguntem: “ Maranhão? Não é a Jamaica Brasileira”?

- Isso sugere que não te adaptaste aos novos tempos.

- Recuso-me a isso. Se adaptar significa falar as besteiras que falam Faustão, Luciana Gimenez e o ex-presidente Lula, estou fora. O idioma deles eu não consigo entender. Aliás, dá para acreditar no que estão tentando fazer?

( Desde o início da entrevista evitava tocar no assunto para não entristece-lo, mas, agora, não havia outro jeito)

- Sei, existe uma turma de idiotas que está propondo que se ensine o português errado nas escolas.

- Ouvi falar disso, claro, mas essas coisas não me entristecem mais. Faz muito tempo que a televisão é a melhor cartilha do mundo para ensinar besteira e sacanagem para crianças e ninguém jamais se importou com isso. Estava falando de coisa muito pior.

- Pior?

- Sim, pior é o que estão tentando fazer no quarto centenário desta nossa cidade Segundo ouvi falar contrataram uma escola de samba do Rio e nela vai ter lugar (ala) para tudo: para bumba-boi, para tambor de crioula, para Alcione, para o Beco da Bosta e até para reggae, só não vai ter lugar para lembrarem de mim: aquele que foi durante muito tempo o melhor português do Brasil.

(Temi pelo pior, ao perceber sua tristeza. Evitei lembrar que ele, de fato, talvez já nem existisse, era quase uma sombra, apenas uma lembrança)

- Talvez reconsiderem isso, Melhor Português. Não fique assim, tenha esperança!

- Sei o que estás pensando, amigo, mas... Não se preocupe, não corro o menor risco de morrer na sua frente de depressão, infarto, ou apoplexia. Sinto-me resignado e calmo, embora sem vontade de viver e resistir. Eu não saberia continuar a viver num país em que as pessoas fazem questão de não serem mais burras, não só porque o dia tem apenas vinte e quatro horas, mas, agora também, porque o alfabeto só tem 23 letras.