sábado, 26 de dezembro de 2020

O ESPÍRITO DE NATAL ENFRENTA A PANDEMIA


 

Lá vem ele, de novo. É o ESPÍRITO DE NATAL. Nestes tempos pandêmicos desconfiava-se que ele pudesse não aparecer. Sabe como é, vírus, pandemia, pânico, medo, horror. Temia-se que o velho Espírito de Natal recuasse, ou desse para trás, já que faz parte do grupo de risco naturalmente, pela antiguidade.

Chega trazendo tanta coisa junta que andava escondida, depositando-a aos pés da população alvoroçada e ansiosa: amor, alegria, solidariedade, esperança, de tal forma abundantes e  gratuitas que pouca gente se dá ao trabalho sequer de perguntar: afinal de contas, quem é esse cara?

Ora, para simplificar, porque nem Freud explica, conjecturamos  logo que seja alguém da parte de Deus, um anjo, enfim. Alguém dessa turma especial, generosa pra valer, mas inatingível, alguém que só convêm aparecer na Terra uma vez por ano com essa estranha capacidade de coisas bonitas, mas, até certo ponto,  inexplicáveis.

Alguém que tem o dom até de alterar o clima da natureza. Os objetos inanimados parecem mais atraentes, diferentes, mais receptivos. O sol ardente já não queima da mesma forma, a chuva já não incomoda tanto, até a melancolia para de rondar como uma sombra para transformar-se numa névoa tão solidária, quanto íntima.

Sua visita, porém, todo ano tem um fim indefectível e, lá pelo dia 29, véspera do réveillon, como faz todo ano, ele levanta sua mala, sacode suas asas e, como um pássaro repelido, vai embora. Os humanos voltarão aos seus mesquinhos afazeres, às suas rotinas de se debaterem nas redes sociais por ideologias de araque, de se xingarem no trânsito, de mandarem para o inferno uma suposta paz que fingiam procurar.

As crianças logo se aperceberão que ele se foi. Os pais voltarão a ficar mal humorados e tensos. Os desejos de paz e felicidade serão  deixados para trás e os adultos se encaminharão para afogar as mágoas e apreensões rumo ao réveillon saudando, como histéricos, uma passagem de tempo que não tem significado algum.  

Mas isso serão outros quinhentos e outros covides. O ESPÍRITO DE NATAL finalmente apareceu, tratemos então de aproveitar e guardá-lo em nossos corações, transbordando sua presença em nossas confraternizações e desejando um Feliz Natal a todos.

Mas, como seguro morreu de velho, será oportuno não olvidar de  algo fundamental para nossa segurança. Fiquemos alertas, no réveillon o ESPÍRITO DE NATAL terá partido e não estará mais de sentinela para nos ajudar a enfrentar os Covides. 


José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis 



O ABC bem humorado de São Luis chega à sua terceira edição e já está nas melhores livrarias. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

SEGUNDA ONDA DO COVID 19 NÃO VEIO DE CIMA





645  O filósofo politicamente incorreto da PANDEMIA  





SINCERO COMO UM NÚMERO 

VERDADEIRO COMO A MATEMÁTICA  

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

MARADONA E GARRINCHA. DOIS GÊNIOS TRÁGICOS


artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


Personagens chaplinianos, anti-atléticos, desprovidos de beleza física  ou inteligência especial, a quem somente a genialidade seria capaz de sacá-los do lodo da história para convertê-los em mitos, no panteão de guerreiros e ídolos cultuados por uma nação .

Personagens que parecem saídos da ficção mas que, com certeza, vieram  da dura realidade dos desesperançados das favelas e periferias. Personagens que, não fosse pelo futebol, estariam condenados ao esquecimento e ao abandono,  mas a quem Deus, um dia,  parece ter depositado na testa dos mesmos uma estrela dizendo: “Vai estrela, brilha no caminho desses gauches da vida, e os torna  dribladores do destino”.

E deu-lhes a paixão por uma bola de futebol para exercitar justamente isso: o drible. Ao iniciar no Botafogo, Garrincha foi visto de longe pelo  craque Nílton Santos, merecendo dele o comentário irônico: “A coisa ta feia por aqui. Até aleijado aparece para  jogar futebol!” Mas o aleijado tinha paixão, de fato, pelo drible e ao colocar a bola pelo vão das pernas do craque começou a escrever a sua  história .

O outro, argentino, franzino, atarracado, cara de índio,  cujo biotipo parecia mais apropriado a um futuro vigia de puteiro.  A quem tive a sorte de ver quando sua fama despontava, no Maracanã em amistoso contra a seleção brasileira. Então, o índio atarracado não precisava driblar o inferno da droga para chegar ao céu,  tanto que eu pude ver o paraíso em seus pés, sem que ele sequer se esforçasse para isso.

A trajetória de ambos fora dos campos todo mundo sabe. Um se entregou à bebida, o outro às drogas. Após a morte do ídolo argentino, sob o manto da comoção  generalizada esperei que  da parte dos comentaristas houvesse uma menção à Garrincha , o gênio das pernas tortas que nos deu duas Copas . No entanto, veio a alusão  a um Airton Sena, parecido ao argentino apenas no final precoce.  

A comparação nada tem a ver. A engenharia e a precisão das corridas de Fórmula 1 não permitem a magia do futebol para amaciar mecanismos, como a uma bola. Ali o que predomina é a condição tecnológica do equipamento onde  não há espaço para mágicos, mas para os intrépidos. Sequer nas origens se pareciam. Ayrton Sena era filho de gente aquinhoada, se pareceu com Maradona na tragédia que comoveu os dois países, mas foram distintos nas paixões, na irreverência e nos sonhos.  

 “Sua ilusão entra em campo no estádio vazio, e ainda na rede balança seu último gol ”. O som da antiga balada composta em homenagem a Garrincha, interpretada  por Moacir Franco, ressoa insistente em meus ouvidos Talvez porque  devesse ser executada agora também nas rádios argentinas, transformada num tango,  que os meninos da Villa Fiorito, onde nasceu Maradona, cantariam  para homenagear aquele que foi seu maior ídolo. 

Música Balada no. 7 Moacir Franco em homenagem a Garrincha  





 

domingo, 22 de novembro de 2020

A ARTE DE XINGAR PARA SE SALVAR!


 artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


Estudo desenvolvido há alguns anos pela Escola de Psicologia da Universidade de Keele, na Inglaterra, publicado pela revista especializada  NeuroReport afirma que falar palavrões  ajuda a amenizar a dor física.

Esta notícia deve ser revista e propagada, especialmente nestes tempos de Covid19 em que faltam vacinas, remédios e leitos. Fico imaginando, um indivíduo, morto de dor, chegando ao SUS, diante de um médico de plantão, já perfeitamente inteirado dessa descoberta científica e adepto desse recurso, tão barato, para aliviar os males. Diante desse cliente aos berros, o médico dirige-se para a enfermeira.

- Se faltam remédios, enfermeira, mande  ele xingar.

- Xingar quem, doutor?

- Ora, mande-o  xingar qualquer coisa: Deus, o mundo, Bolsonaro, o juiz de futebol, pode xingar até a gente, se preferir.

À vista dessa alternativa, o doente, claro, não se faz de rogado.

- Médico filho da puta!, Enfermeira piranha!, Hospital de merda!

- Doutor, ele não para de xingar.  Os outros estão escutando.

- Sem problemas, deixe-o à vontade. Quanto mais alto ele xingar  melhor.

O doente enfim pára, extenuado. O doutor, com expressão vitoriosa, indaga para a enfermeira.

- E agora, enfermeira, como está o nosso doente?

- Ele diz que aliviou a dor.  

- Eu não disse? Chame o próximo.


2. Evidente que os médicos precisarão se especializar cada vez mais nessa matéria, tendendo a surgir os mais talentosos, ou seja, aqueles capazes de receitar o palavrão mais apropriado para cada sintoma. Ao invés de Novalgina: Sacana sem-Vergonha!; ao invés de Buscopan: Cadela Vagabunda!; ao invés de Atroveran: Corno safado!

Torna-se evidente que uma das complexidades para a adoção e proliferação desse tipo de remédio é que muitos doentes carecerão de altas dosagens de xingamento para aliviar suas dores, mas, onde encontrar esse palavrão, já tão desperdiçado no dia a dia?

Supõe-se que isso se resolva inventando-se novas matérias-primas, ou seja, novos palavrões. Enquanto isso ainda não foi feito, uma boa forma de aliviar as dores no pandemônio atual seria pedir que os pacientes xinguem o Covid19  o mais alto que puder. Exemplos práticos a serem receitados: Covid 19 vá-se F...!; Enfie o Covid nos seus, ladrões da saúde!; ou Volte para a China, Covid sem-vergonha!

Os médicos poderiam incluir a OMS também . Ainda que não aliviasse  a dor, faria muito bem à saúde.


terça-feira, 17 de novembro de 2020

VANUSA E SEU CAMINHEMOS


 artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


Caminhemos, talvez nos vejamos depois. Vida comprida, estrada alongada...”  Erivelto Martins

 

O Caminhemos, de Vanusa Santos Flores, a Vanusa, chegou para mm pela primeira vez em forma de balada-rock , ao invés de samba-canção tradicional composto por Erivelto Martins. A cantora, que começou a fazer sucesso na esteira da jovem- guarda , teve a feliz idéia de incluir Erivelto em seu repertório (gravou também Mensagem, sucesso anterior de Isaurinha Garcia, na mesma época e estilo).

Claro que ambas as músicas tornaram-se um dos alvos de aprendizado para mim, que aprendia violão, estimulado por meu pai, que  tocava esse instrumento musical muito bem, me ensinava,  e me iniciou no rico  repertório e no conhecimento de Erivelto Martins, até então um compositor desconhecido para mim.

Não  que eu tenha me tornado um ardoroso fã de Vanusa , embora dela apreciasse algumas canções.  Vanusa era uma cantora que parecia estar sempre a meio caminho, sem jamais despertar arroubos incondicionais de seus fãs. Não tinha aquela palpitação que distingue os grandes artistas e que, muitas vezes se associa a um destino trágico, como acontece com alguma freqüência em talentos especiais que se dilaceram pela arte. Não era uma Amy Whinehouse ou Billie Holliday, nem uma Elis Regina ou mesmo Cássia Eller.

Era bonita, mas não formosa ou deslumbrante. Cantava bem, mas não beirava as melhores artistas da época. Selecionava algumas boas canções, mas seus discos eram irregulares, vendia discos, mas nunca teve um sucesso arrebatador. E, assim, ela foi traçando a sua trajetória cada  dia mais arrefecida até falecer esta semana, com a notícia de sua morte ganhando as redes sociais, sua partida chegando de longe como se seu Caminhemos na vida houvesse findado faz tempo. Sem despertar o choro e a comoção devotadas  a um grande ídolo.

No auge do sucesso Vanusa foi atriz também, chegou a protagonizar a novela Cinderela 77 exibida pela TV Tupi, com o cantor Ronnie Von, que sobre ela se pronunciou  após sua morte: “Para mim é a perda da minha princesa, da minha Cinderela 77. Uma época em que nós confidenciamos uns aos outros, nossas alegrias e nossos momentos emocionais.” Foi casada  com o cantor galã Antonio Marcos (que morreu cedo e teve problemas com o álcool em cuja data de aniversário partiu, coincidentemente)  e, a partir daí, tem-se a impressão de que Vanusa passou a alimentar a cena artística mais por sina do que por prazer.Sofria de demência e morreu num asilo para onde foi encaminhada por seus familiares o que motivou as habituais comentários nas redes criticando a postura da família e o distanciamento a que foi relegada.

Porém, ainda que se queira estabelecer seu fim em um asilo  como um contraponto cruel a quem foi tão famosa, a verdade é que essa circunstância nada tem a ver, ainda que minimamente, com sua trajetória artística. Tem a ver mesmo com o fato de sermos humanos, demasiadamente humanos e, como tais, tantas vezes desprovidos de humanidade, especialmente para com os idosos,  quando  estes precisam de nós, mais da gente que a gente deles.

 ewerton.neto@hotmail.com 

                                                           

terça-feira, 10 de novembro de 2020

AS CELEBRIDADES TAMBÉM LÊEM

 



Artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


Começo por Tom Hanks, ator,  que escolheu A Sangue Frio de Truman Capote, este célebre romance-reportagem que teria As celebridades internacionais gostam de ler. E bem. A julgar pela lista de livros preferidos de alguns, de fazer inveja a muito intelectual meia boca, que se agarra a dois livros curriculares  e fica por aí.

Gostaria de reproduzir toda a lista, mas citarei por causa do espaço apenas as que coincidiram com leituras minhas.

inaugurado o gênero. O livro, que como reportagem atinge o ápice se dá melhor ainda como romance. Uma obra-prima da narrativa policial.   Lady Gaga, por sua vez,  preferiu Cartas a um Jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, o que traduz o extravasamento  de  seu coração poético por trás da cantora e atriz sensível que é.

Mel Gibson e Kit Harington preferiram  !984 de George Orwell, um romance, para o meu gosto, menor do que o frenesi que causa, cujo desencantamento para mim se origina justamente pelo que carrega de  simbologia político-social uma alegoria distópica que se tornou tão repetitiva que foi imitada por Chico Buarque em seu romance Fazenda Modelo.  Jessica Biel, a bela,  veio de Suave é a Noite de Scott Fitzgerald, um romance tão soberbo quanto o título, cuja narrativa se ombreia à de O Grande Gatsby, o romance mais famoso do autor, o que não é pouca coisa.    

Jennifer Lawrence, a cantora e atriz,  escolheu Levantem bem alto a cumeeira de J.D. Salinger que foi o autor com mais citações (3 vezes) por causa das duas de O apanhador no campo de centeio, este hino à liberdade da juventude no que ela tem de angustiantemente eterna em sua   efêmera passagem. Foi o escolhido também por Woody Allen, o que dispensa comentários.

Espremido pelo espaço gostaria de não deixar de citar um romance  que peguei por acaso num sebo e a ele me deliciei por algumas aceleradas  horas, chamado O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon, preferido do cantor Donald Glover,  um romance surpreendente desde o título,  que trata de um caso que beira o policial sobre o ponto de vista de um autista, envolvendo dramaticidade,humor e poesia, causando no leitor extraordinária empatia pela persona representativa desses humanos especiais.  

Passando para os políticos, o escolhido por Barack e Michele Obama foi o livro Uma canção para Salomon, de Toni Morrison, o único dos citados nesta crônica que ainda não li.  Toni Morrison, uma escritora  negra  Premio Nobel, apontei neste texto  para que se possa destacar também a formidável sincronia que paira nesse simpático casal.

De todas as escolhas, porém, a que mais me surpreendeu foi a de Donald Trump. Sim, ele mesmo, seu livro preferido sendo O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale, um livro a meio caminho entre auto-ajuda e religioso, que li  na juventude, e que não me constranjo em indicar como livro de formação para qualquer um, independente de sua crença religiosa ou inexistente. É um livro marcante para minha formação, não literariamente, mas pela sedimentação de uma expectativa filosófica, baseada em trechos bíblicos,  de muita utilidade para a travessia da minha juventude.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas






sexta-feira, 30 de outubro de 2020

SOBRE COVID, CAVALOS E BURROS

 


A ÚLTIMA DE 645, O FILÓSOFO POLITICAMENTE INCORRETO DA PERIFERIA 





terça-feira, 20 de outubro de 2020

SOBRE PELÉ, SANTOS E MAGIAS


 

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


1.A magia do futebol

O futebol é um esporte extraordinário. Somente no futebol  um aleijado como Garrincha poderia ter sido um gênio, competindo com grandalhões saudáveis e perfeitos. Somente no futebol um sujeito baixo  e atarracado, com  cara de porteiro  de boate  de quinta categoria, feito Maradona,  seria um extra-classe; somente no futebol um time do interior  sem dinheiro e sem torcida,  como o Santos FC poderia, em pouco menos de dez anos, se transformar no melhor time do planeta.

Pois foi esse esporte fascinante que conferiu a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que esta semana completou 80 anos de vida,  o título de melhor atleta do século, mesmo disputando com atletas legendários de outros esportes mais solicitados em países muito ricos como os USA. E foi ele, Pelé, o mágico capaz de transformar nas décadas de 50/60  um time de interior,  o Santos FC, num time de futebol que, ainda hoje, parece carregar o dom de uma sina memorável. Haja vista o surgimento de jogadores como Robinho e Neymar.

As novas gerações que não viram o apogeu do Santos FC  não têm idéia da tolice que falam quando tentam equiparar os feitos internacionais do São Paulo FC aos do Santos, da era Pelé. Isso seria desculpável para torcedores, mas não para analistas de futebol profissionais. O São Paulo ganhou, sim, títulos de torneios mundiais, mas nunca foi sequer considerado o melhor time do mundo. Há uma diferença básica. O Santos  ganhou títulos porque era o melhor e não foi o melhor apenas porque ganhou títulos. O  Santos era tão melhor que prescindia de títulos, tanto assim que os desprezou, negando-se a disputar o torneio Libertadores da América, cujo inchaço de times promovidos para disputar a competição,   incluindo os vices,  tinha por único objetivo poder ver Pelé e Cia se exibindo de graça.   

2.Pelé, o mágico. 

Pelé era o craque, Edson o homem. A ponto de o próprio Edson se referir a Pelé como outro personagem. As pessoas confundem as coisas. Tive oportunidade de ser inserido nas redes sociais em  debates nos quais muitos se manifestavam contra as homenagens prestadas ao craque por causa de seu comportamento (lamentável, diga-se de passagem)  no episódio de seu distanciamento da própria filha. Lembro, porém, que as homenagens que lhe estão sendo prestadas, se referem ao esportista excepcional, não ao homem.

 3. Em certeira crônica sobre o futebol, neste domingo,  o confrade e amigo Elsior Coutinho lembrou de várias expressões usadas por comentaristas e torcedores numa interessante listagem de termos bélicos adaptados ao jargão futebolístico.  

Isso me fez lembrar o que havia lido na revista Superinteressante quando cientistas evolutivos explicavam o formidável fascínio que este exerce na mente, especialmente  masculina, pelo  fato desse  esporte se desenvolver como uma estratégia de combate, que motivou o ser humano nas suas lutas pela sobrevivência. O instinto gregário, a luta, o ataque e a defesa, o estrategista, e o gol como objetivo a ser alcançado, fazem parte do ardor com que lutamos  nos mais remotos tempos.   

A tudo isso o futebol acrescenta o fascínio da imprevisibilidade. Somente no futebol um pequeno Davi pode vencer o gigante Golias. Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para sobreviver poderia se  tornar um  Rei de todo o Planeta ,   como Pelé se tornou.


Jose Ewerton Neto é autor de O Entrevistador de Lendas



 Uma história de ficção científica sobre as mais belas lendas maranhenses. Em segunda edição  




terça-feira, 13 de outubro de 2020

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE X


 artigo publicado no jornal O estado do Maranhão 


Aquela que ia chegando assim, tão cedo na Escola, era a incógnita X. Ainda não havia ninguém e X, fazendo uso de seu anonimato, subiu as escadas e adentrou a sala de aula. Sentia-se cansada, mortalmente cansada. Contemplou o quadro negro, as cadeiras vazias, sentou-se e se deixou invadir por uma carga de desânimo. Pensou: “Hoje não permitirei que nenhum aluno me ache.”

Nunca antes sua vida lhe parecera tão sem sentido : sair de fórmulas, entrar em fórmulas, correr sempre, driblar a inteligência do aluno  até e descobrir, afinal, quando o aluno fosse um perseguidor eficaz e implacável . Para depois ser exibida nas conversas após provas ( e como ele se sentia repugnante por ser tratada assim) , como um simples objeto , troféu passageiro que o vencedor, feliz, se orgulhava de haver conquistado, como um caçador exibindo a sua presa.

No começo, ela chegara a gostar dessa sua vida de fuga e perigo. Havia compensações! Como era prazeroso, por exemplo, quando ela se defrontava com um aluno pouco inteligente ou preguiçoso... Bastava-lhe se disfarçar, correr em ziguezague , ou mesmo ficar parada, estática na fórmula, e pronto, o estudante não a acharia. Prazeroso também era quando atuavam em grupo  ela e mais alguns colegas Y e Z. O aluno cansava e, não os encontrando, acaba por desistir angustiado e enquanto ela passeava e sua turma passava por perto, inatingível e vitoriosa.

Apesar disso, quantas vezes ela, voluntariamente virava o jogo e se descobria para o aluno com quem simpatizava ou cuja feição de angústia não conseguia  suportar. Tinha dó. Fugia, escondia-se com perfeição, mas com a vitória já ganha muitas vezes acontecia  de olhar para o rosto triste e fracassado do jovem, olheiras fundas de tanto haver estudado. Então pensava que este era uma vítima das traições do destino e que era injusto impor ao mesmo,  o crivo estúpido das instituições humanas. Então se oferecia, penalizada , claro, por perder mais um jogo, mas encontrando recompensa na expressão da felicidade que se estampava na face do aluno. Saber que ela era causadora daquilo era o alimento que lhe fazia prosseguir  e de onde extraía as cores com que dava tons menos fúnebres à sua  triste paisagem feita de integrais, raízes quadrada  e regras de Três.

Quem realmente ela detestava eram os arrogantes e insensíveis. Com estes ela jogava sujo. Quantas vezes ela aparecia , presa irrecusável desde o início da prova. O aluno, a um tempo deslumbrado e cético, quase sempre hesitava: “Não pode ser ela. Assim o problema fica muito fácil!. Aqui tem coisa.” Refletia por longo tempo e a deixava escapar , enveredando por trilhas mais difíceis. Errava a resolução do problema e X gargalhava impiedosa. Com ela se ria nessas horas!

Outros fossem os pensamentos atuais e X não se decepcionaria tanto. Mas X desiludia-se mais que com as derrotas com a falta de idéias e ideais de sua nova geração de adversários . Pobre juventude!

A prova começara e X exagerava em seus trejeitos de fuga . Dava para perceber que algo diferente acontecia nos corpos, nos espíritos ou nas sombras.  Mas o quê, de fato, se não se sentia alterar sequer o pulsar do relógio? De repente, o quadro-negro tombou como um bêbado sacudindo as mentes de seus remorsos e culpas exatamente naquele derradeiro instante em que a pobre incógnita esboçava um último gesto de paixão e medo e caía morta.


José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis 




agora em terceira edição 

sábado, 3 de outubro de 2020

O PARAÍSO CHEGA ÀS ESCOLAS

 


artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


“ Sempre imaginei o paraíso como uma espécie de Biblioteca.” Jorge Luis Borges  

 

A cena se passa em uma escola simples, do subúrbio. No intervalo das aulas, eis que,  saindo de suas salas,  os estudantes deparam com uma novidade: uma vasta e sinuosa estrutura de madeira, dotada de compartimentos interligados, ganha corpo pela primeira vez,  no interior dos muros da escola .

Ao  se aproximarem ainda mais ,  os atônitos alunos se defrontam com algo que conhecem bem:  livros e mais livros  organizados em prateleiras. Como se fossem estantes, várias estantes. Melhor ainda, como se fosse uma Biblioteca. Uma elegante, original, e simpática Biblioteca. Extasiados, os estudantes se interrogam entre si diante daquela visita, para eles  somente possível existir  no mundo da fantasia .

Uma aluna não se contêm, e se dirige  ao senhor que aparenta ser o responsável por aquela visita surpreendente e mágica.

- Moço, como é bonita essa espécie de Biblioteca! Como se chama? Por quanto tempo ficará aqui, conosco?

            Com um fraterno sorriso ele responde.

- Para sempre mocinha. Seu nome é GIROTECA,  e permanecerá em sua escola para sempre. Trata-se de um presente, concebido por nossa equipe para estudantes e professores, e que lhes foi doado pelo Prefeito da sua cidade, que apoiou esse projeto juntamente com seus auxiliares administrativos. Parabéns!

A aluna, extasiada corre para transmitir a novidade. Aos abraços, os professores também compartilham da festa.

2.  A GIROTECA.

Giroteca foi o nome dado a um projeto concebido pelos dois  parceiros  do empreendimento Kléber Castro  e Milton Lira, e nasceu da convivência de ambos com o ambiente dos  livros, de onde extraíram inspiração para a  criatividade e a ousadia com que lutaram pela sua realização.  O referido  projeto tem utilidade e praticidades imediatas para qualquer um que ponha os olhos na arquitetura da maquete inicial do projeto, tornando-se, a partir desse deslumbramento inicial, quase  um dever adotá-lo,  pelos   executivos da área de Educação. Por isso, o Projeto foi imediatamente validado entre outras 20 tecnologias modernas pelo Ministério da Educação, através da Portaria 12, de abril de 2019, sendo a única do Norte e Nordeste.

Seu baixo custo, 70 % menor que os tradicionais, aliada à facilidade de  adaptação a imóveis já construídos, torna possível cumprir o disposto pelo Ministério de Educação que determina como obrigatória a todas as Escolas deste país a disponibilização de  uma Biblioteca .

A essa praticidade se aliam muitos outros atrativos. São 1700 livros em quatro módulos, providos ainda de data-show, e-books, áudio-livros,   mapas e literatura inclusiva. Um relevante aspecto  destaca o referido projeto em termos do apoio à cultura maranhense em especial, contemplando a produção local (cada vez mais exuberante e nada devedora do restante do país)  com 25 % de seu acervo, o que significa,  reverberar um dom que doou à cidade o seu mais caro título,  de Atenas Brasileira, permitindo, ao mesmo tempo, confirmar esse título e incentivar o surgimento de novos escritores para  perpetuação dessa honrosa marca. A cidade e seus habitantes estão, sem dúvida,  de parabéns!  

Obs. A cena inicial que inspirou esse texto não foi uma ficção autoral, mas um fato absolutamente real, presente na primeira Escola contemplada com ‘essa espécie de ...Paraíso’ , como disse J.L.Borges.


José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas 





segunda-feira, 24 de agosto de 2020

OS DIAMANTES NÃO SÃO ETERNOS

 



DIAMANTES NÃO SÃO ETERNOS

 

Todo ser humano almeja a eternidade e comporta-se como se isso fosse possível. Na vida pós-moderna (especialmente após a virada do século) a cultura da ilusão e do apelo ao imediatismo procura excluir a morte da realidade cotidiana mediante a ocultaçãode sua presença  e do que ela representa.

Assim, tudo aquilo que a morte carreia é, propositadamente,tratado com distanciamento e indiferença, e isso se manifesta de variadas formas: No desprezo cada vez maior à velhice ; Na exaltação exacerbada à beleza e a juventude ; Na condolência pelos assassinos (cruéis, mas vivos) ao invés de pelas vítimas (honestas, mas mortas) ; Na falta de afeto pelos doentes terminais, confinados e entubados nos quartos dos hospitais, em vezde no convívio de seus familiares.

Esse comportamento é constatável no artificialismo a que tendem os funerais nas regiões urbanas, onde predomina o distanciamento afetivo, expresso nas conversas em paralelo e expressões de riso e até de alegria, diferentes da solidariedade espontânea que somente ainda se vê nos rincões mais afastados.

 Igualmente, os valores trazidos pela consciência da finitude da vida ficam relegados, cada vez mais, a segundo plano: a humildade, a honestidade, a maturidade e a reflexão  são interpretados como sendo incompatíveis com a agressividade necessária para competir no mundo atual e são desestimuladas pelos livros de autoajuda e pelas palestras de empreendedorismo que proliferam nos ambientes sociais.

Naatual Pandemia, esse comportamento, ao invés de interrompido ou, pelo menos,amenizado pela iminência da morte, ganhou tons mais concretos de efetivação como se a Pandemia o referendasse. As pequenas regras de solidariedade ao ente terminal, como a contrição, a reserva, o luto e a oração foram substituídos por um ‘salve-se quem puder’ muito adequado a quem já dispensaria os esforços de demonstração de pesar durante as exéquias de alguém.

Nada de estranhar que na Europa empresas hajam se especializado em prestar um ‘serviço de eternização’, digamos assim, transformando as cinzas dos mortos em diamantes. A procura desse serviço virou uma mania para quem pode pagar. Claro que a homenagem assim prestadatem valor afetivo, mas cedo reverbera uma verdade que a empobrece, pois induz à reflexão de que o dinheiro podendo comprar tudo, ao não conseguir vender a eternidade,  tenta, pelo menos, permutar seu símbolo. No fundo, não passa de um“Compra-se memória”, quemesmo quando visto pelo lado do negócio, tem um  custo-benefício do tamanho de um engodo. O dinheiro é gasto à toa, porque as mesmas cinzas conservadas em depósito mais humilde, se referenciadas com ternura teriam valor equivalente ou maior.

“Os diamantes são eternos” é um filme antigo de James Bond. Vá lá que isso seja verdade, porém,um ser humano, que em vida é  constituído de corpo e memória,  pode até transformar os restos de seu corpo em diamante, mas nunca em memória. Ao contrário esta terá de ser efetivadadurante a sua vivência como única chance de eternizar-se, findo o corpo.

A evolução tecnológica pode muita coisa, mas jamais conseguirá dourar a memória do que alguém fez ou do que construiu em prol dos homens e da sociedade. O que, por ser accessível ao mais humilde dos homens, é o seu maior diamante,e o único capaz de eternizar-se.


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

WALDEMIRO VIANA E MILSON COUTINHO

 







Estava dia 4, pela  manhã, no  velório do confrade  Waldemiro Viana para me despedir de corpo presente, em oração e afeto,  do amigo escritor que partia em definitivo, quando recebi outra triste notícia, o também confrade e amigo MIlson Coutinho acabara de falecer.

Num ambiente de Pandemia onde  os cuidados protetivos não são suficientes para servir de escudo contra o extravasamento da sensação de impotência e fragilidade humana, imagine a repetição dessa pungente sensação com novo impacto de melancolia e saudade. Permaneci no centro da cidade até chegar o momento de repetir, mais tarde,  a mesma jornada de despedida, desta vez rumo à Academia Maranhense de Letras onde  Milson Coutinho, outro amigo e confrade,  estava sendo velado.

WALDEMIRO VIANA.

As qualidades pessoais de Waldemiro Viana de companheirismo, afabilidade e alegria já foram tão decantadas por confrades, amigos e parentes nas redes sociais, blogs e jornais  que não cabe aqui repeti-las. A essas acresço ainda mais uma: a ironia.  Waldemiro Viana era um formidável irônico do bem. Aquele tipo de ironia desconcertante no trato das pessoas que faz  desanuviar semblantes carregados e emoldurar as faces compenetradas de sorrisos e gargalhadas, mesmo nas ocasiões mais solenes, permitindo que todos escapem brevemente da seriedade protocolar.

Essa ironia, dom de poucos, Waldemiro Viana carreou para seus romances  explicando-se assim a sedução que sua escrita exercia nos espíritos mais propensos à liberdade - e não apenas de sua livre interpretação no trato ficcional dos personagens e dos fatos. Assim, até nas situações mais angustiantes de A Tara e a Toga, um romance policial  de ficção histórica baseado no icônico e rumoroso caso do Desembargador Pontes Visgueiro, Waldemiro adicionava a sua verve peculiar, que permitiu aos leitores, mesmo no momentos cruciais da história , rir das desgraças humanas. Em outro livro A vez da caça (atenção para a curiosa escolha dos títulos segundo essa tônica),  idem quando nas situações mais inusitadas e imprevistas, o cinismo e a falta de escrúpulos desses anti-heróis fazia com que torcêssemos por eles,  como amigos a quem se perdoa o cinismo em nome de  espírito aventureiro, como tantos leitores torceram por Tom Jones, do escritor inglês Henry Fielding, à reboque de uma narrativa, como as de Waldemiro,  eivadas de deliciosa ironia.

 MILSON COUTINHO

Milson Coutinho também era da estirpe dos que fazem amizades sinceras e perenes com muita facilidade, a par dos cargos de comando que exerceu, onde nem sempre é possível agradar a gregos e troianos.

Literariamente Milson Coutinho enveredou por um gênero de elaboração árdua e complexa,  que é o da Pesquisa Histórica,  tornando-se  na AML e na intelectualidade maranhense um dos expoentes dessa corrente dedicada a esse trabalho de reavivar, documentalmente ou com alguma liberdade de interpretação, memórias e fatos que precisam ser  preservados.

Isso exige dedicação, agudeza e desprendimento e, sobretudo, generosidade, pois é um presente concebido, principalmente, para as gerações posteriores, ocorrendo muitas vezes que estas sim é que reconhecerão mais largamente o presente que lhes foi doado. Fico imaginando que ao autor dessa epopeia fundamental para os maranhenses A revolta de Bequimão só faltou brindar-nos, com aquela que seria outra obra preciosa: a sua autobiografia, sobre a sua trajetória tão rica e tão aplaudida por  todos. 


José Ewerton Neto é membro da Academia Maranhense de Letras e autor do livro  O entrevistador de lendas




quarta-feira, 29 de julho de 2020

O BRASIL QUANDO A PANDEMIA ACABAR




De volta para o futuro. É assim que nos sentiremos quando a vacina chegar,  anunciando o fim da pandemia.
Mas, como será esse futuro? Dá para imaginar?

1. O Pico da Pandemia até agora não foi visto. Nada, porém,  de apavoramentos! Fique tranquilo, leitor, ouso sugerir que,  até o fim do ano, “eles” darão  um jeito de anunciar sua descoberta.  
Sim, porque estaremos chegando ao fim do ano  e, algo me diz que por volta de Novembro,  no mais tardar, ele surgirá . Um milagre?
Sim, um milagre chamado Reveillon.
Pode-se imaginar, no planeta Terra, um ano sem réveillon? Pode até não ter ano, mas Réveillon tem que ter. Para felicidade geral, pela  certeza de que estamos vivos ainda, uma vacina terá de surgir sabe-se lá de onde. Com morcego ou sem morcego, com cientista ou sem cientista, com OMS ou sem OMS. E o  Pico terá de ser  anunciado lá pelos idos de Novembro.  

2.Depois do Pico virá a  Vacina,  sendo fácil prever o que acontecerá,  no Brasil, esse dia.
Galvão Bueno sairá de seu isolamento, (que nos fez tanto bem)  para voltar a gritar. Só que,  ao invés de berrar gooooooool do Flamengo gritará Vaaaaciiiinaaaaaaaaaaaa!!!,   em  programa da Globo.
O presidente Bolsonaro, convencido pelos militares  decretará  luto oficial de 5 dias em homenagem ás vítimas do Covide (sua ideia inicial  era meio dia,   apenas ).
Será aprovada a mudança de nome do estádio do Maracanã para estádio Sérgio Mandetta (ideia de um deputado carioca aprovada a toque de caixa) O primeiro bebê a nascer depois da Vacina receberá o nome de Vacina, se for mulher, e Enfermeiro, se for homem  O vídeo  do nascimento será transmitido pela Globo e repostado por milhões de seguidores na net.
Em seguida, serão iniciados os preparativos para o próximo Carnaval, com aceleração máxima e cobertura do trabalho 24 h por dia. Os temas de todas as escolas de samba,  versarão sobre a Pandemia com diferentes abordagens. A Turma da Mangueira, por exemplo,  terá uma ala da OMS, outra de médicos e, lá em cima, como um Deus egípcio, a figura de Tedros Adhanon em pessoa. (Adhanon, relutante a princípio , acabará aceitando o convite para desfilar na passarela do samba).
A Império Serrano, terá  tema e samba enredo com o título : 20 a 19. A explicação: contra o Covide 19, esperança 20. O vírus será representado em carro alegórico por uma espécie de maxixe gigante, rodeado de travestis,  vestido de diabos, representando as forças do mal.  

3. Decretos governamentais estabelecerão que as máscaras serão distribuídas gratuitamente, aos pares, com camisinhas. Um empresário pernambucano terá a feliz ideia de fabricar uma engenhosa Máscara/ Camisinha com dupla finalidade. Luciano Hulk, um dos entusiastas da ideia, apresentará  a máscara em seu programa e dirá que ficou perfeita para o seu imenso nariz.
Os bailes de máscara serão liberados, todos se divertirão pra valer! João Dória aparecerá vestido de Batman, o morcego do bem, no bloco da Preta  Gil.  Infelizmente, porém, um  gigantesco Covide-19 despencará  de cima de um carro alegórico e cairá na cabeça de duas folionas. Uma delas, vítima recente do Covid, ao se recuperar do impacto, no hospital,   bombará na net com esta frase: “É mais fácil escapar de um Covid de verdade do que de um Covid feito por gente.”  

Quem viver verá!


José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, 2a edição nas livrarias de São Luis  


sábado, 18 de julho de 2020

O.M.S ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO SUSTO.




artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


DO JEITO QUE AS MÃES RALHAVAM


Observem como as recomendações repetitivas e monocórdias da OMS ( que um amigo jornalista chama de Organização Mundial do Susto) se parecem com as falas de nossas mães, avós, tetravós,  não só nos seus  objetivos de nos antecipar proteção  como também no mesmo jeito das suas cantilenas imemoriais.
São os conselhos óbvios, elementares e necessários, como se estivessem ralhando com a gente, de nossas mães.  Mas, no caso da Pandemia, ausentes de uma solução,  que nunca se  esperaria  de uma intuitiva mãe - ansiosa por proteger suas crias, mas, obviamente, de uma organização Global dotada de vultosos recursos financeiros  e de inteligências científicas escolhidas a dedo para que , pelo menos em tese, fossem capazes de trazer soluções menos triviais do que apenas exortações de fuga e recolhimento.
Na prática,  repetem-se tanto as notícias pavorosas todo dia,  que nosso amigo acabou associando a OMS a uma agência disseminadora de pavor. Sei que alguém pode contrapor, com justa razão: “Como falar de notícias boas, se a realidade é tão cruel?” Sem dúvida, temos  de concordar com isso, mas com o passar do tempo e a ausência total de soluções é fácil intuir que deve haver algo deletério  nos alicerces dessa instituição para que, visivelmente,  exiba tanta  incapacidade de conduzir e orientar  soluções que façam frente  a epidemias desse porte.
Era de se esperar  estudos técnicos conclusivos sobre, por exemplo:  influência do clima;  remédios promissores ou nocivos;  perspectivas de curto e médio prazo etc. Mas o que sobressai são líderes atarantados que agem como vítimas, incapazes de se pronunciarem adequadamente sobre o manancial de dados colhidos, resumindo-se a lamentar os fatos e apontar os dedos como se fizessem parte, realmente, de  uma organização assustada e sem rumo.
E, assim, repetem as nossas mães sem serem dotados, sequer, do afeto e da empatia que ela  possuem. Basta comparar suas falas para vermos as semelhanças. A OMS, como mãe. O homem do povo, como o filho que responde.  

1.”Lá em casa, a gente conversa”.
Certo  mamãe OMS. Mas, primeiro preciso, pelo menos, ter uma casa.

2.”Você não faz mais que sua obrigação ao se proteger”.
Com certeza, mamãe OMS. Mas se minha obrigação é a de me proteger, a da senhora deveria ser a de estar propondo soluções, que já vão tarde. Ou não?

3.”Repete isso que você falou”.
Quem repete todo dia a mesma cantilena “Vá pra casa”, é a senhora. Quando  vai dizer  algo diferente ?

4.”Quantas vezes terei que falar?
Não sei, mamãe OMS. Só espero que não seja por toda a eternidade, como a senhora parece agourar. Rezo que seja antes de morrermos todos.

5.”Se você não guardar suas porcarias, vou jogar no lixo”.
O que aprendi mamãe OMS, é que nós, seres humanos,  não passamos de grandes porcarias, frágeis e indefesas diante de um minúsculo vírus. Quanto a jogar-nos no lixo, a verdade é que essa pandemia já nos jogou lá dentro há muito tempo.

6.”Se eu for aí e achar, esfrego em sua cara”.
A senhora está falando da máscara, mamãe OMS? Fique certa de que ela está em minha  cara há tanto tempo que não sei mais como era antes.


josé Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas 


Primeira novela de ficção científica sobre lendas maranhenses. Ação, aventura, e, de quebra, conhecimento! Agora em segunda edição. 

sábado, 11 de julho de 2020

MARTA ROCHA ( A BELEZA MORRE)





A beleza vive. A beleza morre. A beleza que morreu desta vez chamava-se Marta Rocha.
Lembro-me de quando eu tinha uns cinco anos de idade, em Guimarães, onde minha família residida. Na ocasião meu avô, José Ribamar Ewerton, me fez decorar uma fala de sua autoria. Satisfeito com meu rápido aprendizado, mandava me chamar onde eu estivesse para que a repetisse para os amigos, quando acontecia de se reunirem num armazém defronte à minha casa.  Ele me estimulava: - Vamos lá, rapaz, mostra para essa turma que você já sabe dizer o nome completo. Compenetrado, eu repetia tintim por tintim o pequeno discurso que ele havia me ensinado e falava: “Meu nome é José Ribamar Ewerton Neto, sou moço garoto da miss Brasil, Maria José Cardoso, minha querida noiva”. Eles gargalhavam, encenavam me cumprimentar como a um adulto e diziam: “Zé Ewerton, esse moço tem futuro, e já começa pela Miss Brasil.”




                               





Mais tarde tomei consciência, através do que via nas fotos de revistas como O Cruzeiro,  de que Maria José Cardoso “ a minha noiva” , era sim, muito bonita e , além disso, havia ganho o concurso de Miss Brasil em 1956. Mas  a beleza, a beleza de fato, não era ela, mas Marta Rocha,  que fora miss Brasil antes dela e cujos dons de formosura capitalizaram o entusiasmo  dos anos vindouros a ponto de seu nome se tornar  um sinônimo de beleza. Quando se dizia que fulana era Marta Rocha, as moças se engrandeciam muito mais do que se alguém dissesse que eram formosas.  
Confesso que para meu gosto pessoal ainda embrionário, Marta Rocha era, sim, bonita, mas não abarcava toda a  gama de suscetibilidades estéticas trazidas, a seguir, por certas atrizes como Sofia Loren , de quem me tornei ardoroso fã tão logo nos mudamos para a capital e vim a conhecer o cinema. Era fatal que Marta, como ideário de beleza, fosse sobrepujada por aquelas, cujas imagens se movimentando nas telas dos cinemas incorporavam uma dose adicional de erotismo, sedução, e amor platônico, que uma fotografia solitária era incapaz de sugerir. Dessa forma, Marta Rocha nunca foi páreo para a italiana, que me fazia sair de casa célere em direção aos seus filmes, assistidos muitas vezes à custa de burlar a idade mínima exigida.  
Em paralelo, mesmo envelhecendo, Marta Rocha continuou por muito tempo como símbolo da plenitude da beleza brasileira. Afinal era possuidora da eterna beleza, como disse a seu respeito,  Vera Fisher, outra bela,  em entrevista à rede Globo no dia de sua definitiva ida.
Ao conceber o título desta crônica em homenagem a essa mulher que obteve, como nenhuma outra, no Brasil, o máximo que pode ser  concedido à  transitoriedade da beleza física, talvez haja me inspirado no título do romance do japonês, premio Nobel, Yasunari Kawabata  intitulado Beleza e Tristeza,  no qual o narrador ao mesmo tempo em que se rende ao esplendor da beleza, traduz-lhe  a precariedade diante da derrocada humana
Como disse Stendhal  “A beleza é apenas a promessa da felicidade”.  Infelizmente, é ceifada pela morte também, sendo, no entanto,  suficiente para ter sido capaz de sobrepuja-la que, exuberantemente, nos traga, como agora,   toda  essa conjugação  de apogeu, melancolia e saudade.


José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas 



Segunda edição já nas livrarias. 
As mais belas lendas maranhenses. Ação, aventura, e informação
em uma novela de ficção científica para jovens e adultos.