Artigo publicado hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão
Nem faz tanto tempo assim as expressões latinas eram muito
repetidas como fenômeno de erudição. Faz bem menos tanto tempo assim, chegou-se
a aventar o reestudo do latim, como obrigatório na grade curricular de certas
profissões para, justamente melhorar a pobreza vocabular que assola o nosso
país a reboque da linguagem televisiva e da Internet. Será que daria certo?
Tenho minhas dúvidas, mas não custa imaginar.
1.Podemos começar com “Ad libitum” que
quer dizer á vontade. Poderia ser usado pelo namorado na entrada do motel para
dar uma impressão, um tanto quanto fora de moda, de cavalheirismo. Correndo o
risco de parecer um dinossauro ele poderia dizer
- Ad libitum, querida!
- O quê ?
- Quis dizer , fique à vontade...Meu
amor, essa é uma frase latina.
- Como ? Quem late? Está me chamando
de cachorra e ainda nem começou a bater e a me xingar para me dar prazer?
Não daria certo. Talvez ficasse mais
apropriada em outro cenário. Que tal Joaquim Barbosa levando os mensaleiros para a Papuda e caprichando na eloqüência do seu latim: “Ad libitum, senhores políticos!”?
Pelo menos ficaria mais atual.
2.”Fiat Lux” é uma expressão que o
povo conhece muito mais como nome de caixa de fósforos. Significa faça-se a
luz e era usada ironicamente quando se
desejava que alguém esclarecesse melhor
o que queria dizer, porque havia saído uma asneira. Que tal seu uso nas novelas
das tevês para melhorar os diálogos?
Qual, com a quantidade de idiotices
que se fala por lá, seria um tal de
acender fósforos que a novela não acabaria nunca por excesso de luz.
3. Deo Gratias”. Palavras comuns nas
orações litúrgicas e que se repetiam familiarmente para dar a entender que
alguém se alegra com o término de algo desagradável ou pesado.
Não deixa de ser uma boa idéia para
substituir o ainda muito usado ‘graças a Deus’. Deo gratias porque se conseguiu
chegar a casa depois de uma manifestação; Deo Gratias porque o show de Luan
Santana acabou; Deo Gratias porque se está às portas da morte, mas nunca mais
vai ser preciso votar em alguém; Deo Gratias porque a vida continua... E até,
para os ateus de araque (como todos são) : “Não acredito em Deus, Deo Gratias!”
4.”Consumatum est”. Ultimas palavras
de Cristo, crucificado. Usa-se a propósito de um grande desastre, de uma perda muito
dolorosa, de um acontecimento irremediável.
Melhor esperar passar a Copa. Com o
carniceiro Felipão no comando, com o
futebol medíocre praticado pelos times nos campeonatos brasileiros e com os
altos e baixos de São Neymar, melhor não pensar , por enquanto, em consumatum
est.
Vira essa boca com esse latim pra lá!
5. Ecce homo”. Eis o homem, são as
palavras de Poncio Pilatos quando apontou Jesus Cristo, ironicamente aos
judeus, com um caniço por cetro, e uma
coroa de espinhos na cabeça. Familiarmente era usado quando se anunciava alguém
ou a si mesmo.
Hodiernamente, é o que deveria fazer
Ivete Sangalo ao anunciar Daniela Mercury ( depois de anunciar sua nova opção
sexual) no próximo carnaval baiano:
Ecce Homo!, com a galera quase vindo
abaixo. Teria tudo até para dar um axé,
cujas letras só precisam de duas palavras. Quem se habilita?
6.”Ex abrupto”. Esta quer dizer
bruscamente. Como quase tudo o que
acontece neste Brasil é feito dessa forma, ou seja, ex abrupto, ou, sem
eufemismos, ‘na marra’ cedo cairia em desuso. Uma utilização recente poderia
ser a propósito do absurdo que foi a
morte de dois operários, esta semana, nas obras do Itaquerão, estádio do
Coríntians, construção decidida ‘ex abrupto’, pelos que não se pejam em enfiar
dinheiro do contribuinte para satisfazer oportunistas, que se locupletam
às custas de torcedores idiotas.
“Ex abrupto” foi o jeito como tombou
um guindaste por cima de duas vidas. “Ex abrupta”foi a forma como se comportaram tanto o
presidente do Coríntians como o da C.B.F. quando se referiram ao fato dizendo “
Acidentes acontecem” - como se a vida de dois operários nada
representasse. “Ex abrupto” deve
ser a reação do ladino Andrés Sanchez e
do ex-presidente Lula, seu grande amigo,
os mentores da bizarra idéia de
desperdiçar milhões para construir um estádio numa cidade em que isso não falta:
Vai Curíntiaaaaaaa!