Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo, jornal
O Estado do Maranhão, hoje, sábado
Em sua quarta
edição , segue o A-B-C bem humorado de
São Luis, um passeio com livre interpretação sobre as expressões idiomáticas,
ditos e coisas típicas de nossa cidade. ( Mais uma vez na carona dos imperdíveis livros de J.R. Martins e José Neres sobre expressões populares
maranhenses)
1. “A Valença é que”...A sorte é que. O
sanluizense, esperto, prefere falar de valença do que de sorte acreditando,
com razão, que falar de sorte pode dar azar.
2. “Acender o morrão”. Iniciar a
bebedeira. Embora seja usado por homens e mulheres teria sido originado do dito universalmente
conhecido: água de morro abaixo, fogo de morro acima e mulher quando quer dar
ninguém segura. Daí o ‘acender o morrão’, já que, ao iniciarem a bebedeira elas já estão
acesas há muito tempo.
2. “Baixar a matraca” – Surrar, bater. Como
ultimamente vem fazendo a Bolívia querida ( abaixo).
3. “Bolívia Querida” – Diz-se do time de
futebol mais querido da cidade, o Sampaio Correia F.C. , o único, em todo o
Brasil a possuir, depois de domingo
passado, três títulos de campeão
nacional : da segunda, terceira e quarta divisões, o que leva a concluir que o
próximo será o da série A, não pela seqüência no tempo ( primeiro foi a segunda,
depois a terceira e a quarta) mas porque não há mais divisões. O Sampaio Correia é possuidor de algumas
características que o diferenciam e o tornam
simpático até para os torcedores mais distantes . O nome não é uma homenagem a
um grande personagem histórico como, por exemplo, o Vasco da Gama, mas a um intrépido aviador quase
desconhecido que pousou pela primeira vez em São Luis num avião vindo de outro
país, no caso, a Bolívia. Daí as cores do time inspiradas na bandeira dessa nação.
Aliás, muito impressiona que, até hoje, os mandatários bolivianos não tenham
reconhecido esse imenso serviço prestado às cores de seu país pelo time
maranhense e não tenham convidado a Bolívia Querida para jogar contra a sua
seleção. Vai ver que devem ter medo do resultado, pois o Sampaio, a julgar pelo
que vem mostrando, ganharia de goleada.
Na última
partida, aliás, que fui assistir no renovado Castelão lotado – está uma
maravilha! - o segundo gol boliviano foi
uma obra-prima com impressionante semelhança com a marca de Diego Maradona (
que tive o privilégio de assistir no Maracanã, a primeira vez em que esteve no
Brasil quando, jovem ainda, era apenas
uma promessa genial) : o lançamento,
preciso, no espaço futuro que nos deixa atônitos
por alguns segundos até que aparece um
companheiro livre diante do goleiro para concluir. Coisas de Arlindo Maracanã, em seu dia de Maradona.
Quanto à
simpatia que exerce na torcida - que o leva a ter preferência local até de
torcedores flamenguistas, portanto rubro-negros, o que, a princípio, deveria
ser uma incoerência porque seu rival Moto-Clube tem essas cores - deve estar
nestas pequenas singularidades atraentes: a humildade de ter escolhido o nome
de um modesto aviador e, como símbolo, as cores, também, de um modesto país: verde, vermelho e amarelo na camisa e
calção cáqui. ( Cadê o calção cáqui ? O
calção verde que vi no domingo, a meu ver tira a originalidade do uniforme) . A Bolívia querida deve ter a preferência e admiração de uns oitenta por
cento dos torcedores desta ilha o que faz com que São Luis, além de Atenas
Brasileira e Jamaica Brasileira seja também a Bolívia Brasileira.
4. “... e ele nem seu Souza”. E ele nem
aí; não dar atenção a alguém ou coisa. Teria se originado quando um comerciante chamado Sousa abriu um
restaurante no centro de São Luis e, à semelhança do turco Nacib de Gabriela, não
via – ou fingia não ver - o batalhão de marmanjos que davam em cima de sua esposa que tomava conta do restaurante.
Quando perguntada por que não tinha filhos ela respondia: “Nem eu nem Sousa
gostamos de crianças”, embora, vez por outra, no cair da tarde fosse
surpreendida no colo de algum rapazote
na mesa mais oculta do restaurante. Grande Sousa!
5. “Paidegual”.
Superlativo de pai d`´egua ; avantajado; muito grande. Ou seja, trata-se do
aumentativo de um aumentativo já que o maranhense chama pai dégua algo
avantajado ou monstruoso. Ex prático: “Nada existe de mais paidegual do que as
mentiras que os políticos contam aos seus eleitores quando pedem voto. Donde se
conclui que paideguinhas, no mínimo, é como os políticos tratam, em suas
intimidades, os mesmos eleitores depois
de eleitos”.
ewerton.neto@hotmail.com