sexta-feira, 3 de março de 2023

A BELEZA TAMBÉM MORRE


 

Nas  últimas semanas dois ícones da Grande Beleza sucumbiram. Gina Lolobrígida e Raquel Welch, ambas atrizes.  Anteriormente, da mesma geração, tinham ido Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe, Ava Gardner. Que eu me lembre, desse time da “grande beleza” permanecem  Cláudia Cardinale e Sofia Loren.

Quando me refiro à Grande Beleza, falo de belezas estonteantes, que marcaram uma geração de fãs, numa época em que o foco das ilusões e de deslumbramento era o cinema e suas atrizes eram suas marcas mais exuberantes. Eram  tão belas que a constatação  parece óbvia: Já  não se fazem belezas como antigamente!

Embora o “amor à primeira vista”, de suas fotos,   mesmo para as gerações que não as conheceram  permita chegar, de forma enviesada,  a essa conclusão, penso, contudo,  que isso não seja verdadeiro  e a explicação, deve estar embutida no comentário anterior: o deslumbramento causado por suas aparições em filmes, fotos de revistas e calendários, acontecia porque havia um clima criado em torno e, sobretudo, concentração , o que era um terreno fértil para fomentar todas as ilusões possíveis  - desde as de atrativos sexuais até as platônicas. 

Ao  contrário de hoje, quando as belezas, paradoxalmente numa época mais favorável, devido à tecnologia posta a serviço da estética, são equivalentes, porém,  fragmentadas, dispersas, emocionalmente difusas num oceano de  imagens pululando a cada momento nas redes sociais.

Hoje não há mais lugar mais para a pausa refletida e para a contemplação e, consequentemente, para a imaginação e o sonho, que é o suporte da beleza confiável.

Isso explicaria, a meu ver, porque Sofia Loren, ainda viva,  foi a maior de todas. Havia a magia causada pelo seu magnífico olhar, pela sua sensibilidade e por seu talento, adicionados à sua beleza natural. Quem duvidar que leia Sofia Loren, vivendo e amando sua primeira biografia escrita, onde tais ingredientes são captáveis, no rastro  de sua trajetória vitoriosa, mas nem sempre fácil.  

Fica fácil entender porque ela ainda permanece,  mesmo descaracterizada fisicamente e erodida pelo tempo, no  degrau superior  da grande beleza. 

 

Artigo publicado no site http://www.imirante.com