artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Suspeito que haja leitores que diante do título desta crônica
estejam torcendo o nariz. Ouso desconfiar de que não estejam sendo
sinceros. Torcem o nariz para o Miojo, de fato, mas não torcem a boca. Isso
porque o MIOJO é mais consumido no Brasil que o arroz com feijão e, no mundo,
são devorados mais de 3 mil pacotes e copos de macarrão instantâneo, a cada segundo.
Há lances
épicos na sua trajetória. Vamos a ela.
1.Pode-se
dizer que o pai do Miojo foi a Segunda Guerra Mundial e sua mãe a Fome. Portanto,
o Miojo foi filho de pais não casados - embora ligados indissoluvelmente. A
ideia de gera-lo em blocos de macarrõezinhos encaracolados nasceu num Japão em
ruínas com 3 milhões de mortos, economia destroçada e resquícios arrasadores de
bombas atômicas, gerando fome, muita
fome.
Ora, o
alimento mais comum no Japão, além do arroz, historicamente é o lámen – um macarrão fresco
servido na forma de ensopado. Com a economia em baixa no pós-guerra o
Ministério da Saúde tentou substituir esse alimento pelo pão fabricado com
farinha de trigo, doado pelos USA. Só que esqueceram
de combinar com a população, que, sem outra alternativa, comia o pão ‘na
marra’, pois continuava com saudade do velho macarrãozinho.
Foi então
que Momofuku tirou uma ideia do Kofu (se a tradução fosse cofo não seria uma
rima, mas seria uma solução).
Sua ideia foi produzir o macarrão desidratado
em larga escala. Superando dificuldades financeiras Momofuku somente conseguiu
desenvolver sua linha de fabricação em 1958, mas, agora, deparou com outro tipo
de obstáculo: é que a primitiva ideia não fazia mais sentido justamente
porque a essas alturas... Ninguém mais estava
com fome.
2.Momofuku,
perseverante como todo japa, não
desistiu. Se estudou a fundo matemática não se sabe, mas o certo é que chegou a
uma fórmula que, se não revolucionou a ciência moderna, pelo menos, influenciou
diretamente a forma da boca humana lidar com alimentos, no mundo inteiro:
Fome + Falta
de Tempo = MIOJO
Um
verdadeiro postulado que, trocando em miúdos, determina que o ideal para um faminto
acelerado matar a fome é aquele alimento que praticamente não se come, ou, melhor
ainda, aquele que se faz de conta que está comendo. Assim, unindo o útil ao
desagradável o Miojo se estabeleceu como a alimentação mais adequada a um século
de gente apressadinha.
3.O resto
todo mundo sabe. Se a fome estava em baixa no Japão, continuou em alta em outros
cantos do mundo.
Hoje, continua
vitorioso mesmo diante daqueles que o acusam de ser uma bomba de sódio. (Cada
saquinho contém 1,6 grama desse verdadeiro “carrasco” do coração e o máximo
recomendado pela saúde é 2 gramas).
Embora isso
seja verdade, ninguém pode acusar nosso herói de ser infiel às suas origens. Cada
vez que alguém encara um pratinho de Miojo sabe que está lutando contra a fome,
em guerra contra o sabor e arriscando sua vida contra bombas (de sódio). Ou
seja, guerra, fome e bomba. Tal como foi no início.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
Uma amiga minha disse no feicebuque que os consumidores fizeram 3 minutos de silêncio pela morte de Momofuku! Rsss
ResponderExcluirNo Japão? Quando morreu? O Momofuku merece todas as homenagens, afinal, ninguém morrerá sem jamais ter provado sua invenção, não é mesmo?
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