artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Alguns anos
atrás escrevi neste jornal uma crônica
intitulada “De volta ao cocô de cachorro”. No texto eu lamentava que logo após
a recuperação da Praça Padre Jocy Rodrigues, no Renascença, ajardinada, limpa e
favorecida com brinquedos para crianças e aparelhos para ginastas, as fezes dos
cachorros voltassem a frequentar o espaço reservado para caminhantes diários, como eu.
Nessa época, de dias melhores economicamente, vislumbrava-se
um futuro promissor para a nossa Nação. Sugeri, no texto, que, enquanto a consciência popular não fosse
suficiente para zelar pelo espaço público como coisa sua, isso
seria um empecilho para nosso país chegar a esse pretendido estágio, de grande país, o que motivou cartas de solidariedade de leitores, em
especial, de moradores do bairro.
Por essa época, coincidentemente, esse
desmazelo foi objeto de uma reportagem em rede nacional do programa CQC, realizada
em parques e jardins públicos de São Paulo. Nesta, os jornalistas lamentavam que
os donos dos simpáticos animais não se apercebessem que, ao adotá-los sob sua guarda, a melhor forma de
retribuição ao afeto instintivo e descompromissado dos animais era, justamente,
zelar para que a sujeira inconsciente perpetrada por eles não manchasse o
espaço público ou do vizinho.
2.
Sexta-feira, 31 de agosto de 2018. Estou
na mesma Praça, em obediência à minha disciplina de caminhadas diárias. A praça já não tem o apelo e a atração daquele período pós-reconstrução. Os brinquedos se foram, danificados , assim
como os equipamentos de ginástica, mas ainda merece a atenção da Prefeitura com
uma rotina de limpeza e adequação que, embora precária, talvez não haja em todos
os logradouros desta cidade.
Eis
que, em meio a caminhada, percebo uma
equipe de trabalhadores iniciando um serviço de colocação de placas. Leio o que
está escrito: “Sua praça não é depósito de fezes de animais. Zele por ela!” Um
amigo, também em sua rotina de exercícios,
passa em sentido oposto, observa os
trabalhos, faz um sinal de positivo para mim e diz: “ Será que desta vez vai?”
Continuo minha caminhada. Noto que
estão levantando as placas para coloca-las na posição mais adequada e acabo por
distinguir aquele que, provavelmente é o
líder da equipe. Peço licença, me apresento e ele esclarece: “A iniciativa de colocação
das placas não partiu do poder público, mas consegui da Prefeitura o necessário aval para executar este serviço. Minha firma confeccionou
as placas, gratuitamente. Depois desta, várias outras praças serão distinguidas com a sinalização preventiva.”
Parabenizo-o pela iniciativa,
enquanto constato que as placas estão sendo estrategicamente colocadas em nos
galhos das árvores para evitar que os
vândalos a danifiquem.
Sigo meu caminho e lembro uma frase do escritor Graham Greene que diz “
Existe sempre uma casca de banana, por trás de toda grande tragédia”.
Pondero, inspirado na sábia sentença, que deve existir sempre um povo capaz de limpar a
própria sujeira, por trás de toda grande Nação.
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