artigo publicado hoje, quinta-feira, no jornal
o Estado doMaranhão
EXISTIRMOS:
a que será que se destina? Se pensarmos na existência da humanidade, como um
todo, não se encontrará resposta fácil para essa questão na ciência, sendo
necessário que nos socorramos da religião e da fé como solução para essa
indagação tão vital, mas tão secundarizada no dia a dia dos homens. “Não se
preocupe em entender, a vida é absurda!”, já sentenciava Clarice Lispector.
Diante das falas emocionadas das
últimas homenagens prestadas a Jomar Moraes (não cabe aqui a descrição de sua rica biografia tão conhecida
de todos) por representantes da AML, da
sociedade, amigos e parentes, ficou-me a convicção de que o “existirmos” de Jomar Moraes se destinou,
por vontade própria, à cultura e aos livros, usando como veículo para a
consumação dessa sina, por ele
escolhida, a AML, instituição à qual dedicou quase uma vida inteira.
Ao enfatizarem essa simbiose, os
confrades Benedito Buzar, presidente da AML e Lourival Serejo, em ocasiões
distintas, sugeriram que Jomar Moraes
tantas vezes foi a própria AML, enquanto teve vida para incorporá-la, no
exercício dessa capacidade de encontrar essa destinação, tão rara em muita
gente, que motiva a própria existência. “O segredo da existência humana consiste não apenas em
viver mas em encontrar um motivo para viver”. O resto ( e como foi grande esse
resto!) foi, entre outros dons, a sua generosidade tão decantada e exaltada
pelos parentes e amigos.
No meu caso, essa generosidade se
manifestou através de uma amizade de raízes antigas e familiares (meu pai Juvenil
Ewerton aprendeu a tocar saxofone com o seu, Alípio de Moraes, que era músico e
compositor) e facilitou-me a posterior inclusão na vida literária maranhense,
primeiro ao possibilitar a publicação, pelo extinto Sioge que dirigiu, do meu
primeiro livro de poesias chamado Estátua da Noite quando, vindo da
adolescência, eu não sabia que podia vir a ser poeta e, depois, ao enviar para o escritor e cineasta José
Louzeiro, sem que eu soubesse, os originais da novela O
prazer de matar que, depois de uma resposta encorajadora e
entusiasmada do consagrado escritor maranhense,
mostrou-me que eu podia vir a ser
escritor.
“Pois quando tu me deste a rosa pequenina
” é o verso seguinte de Caetano Veloso, que sucede ao verso-indagação do início desta crônica e
que pertence à, talvez , sua mais bela composição, o xote Cajuína, que foi escrita em homenagem ao poeta e compositor
piauiense Torquato Neto, precocemente morto. Esse verso, que não é uma rima e,
muito menos, uma solução, como diria Drummond, sugere que o “Existirmos” de determinadas
pessoas, quando especiais ( por terem encontrado a sua destinação),
complementam e ajudam o Existirmos de tantas outras. O que também foi evocado pelo poeta Chico Poeta em
sua homenagem póstuma a Jomar Moraes quando exaltou jamais haver se
constrangido, pelo contrário sempre se
orgulhou, de ter usufruído e tirado proveito dessa generosidade intelectual de
Jomar Moraes , uma Biblioteca Ambulante a serviço da comunidade, como eu também
me referi , em entrevista no mesmo dia de sua morte , reproduzida nas páginas
deste jornal.
Pois foi essa rosa cristalina da
esperança na cultura e nos livros, que
densamente povoou o seu EXISTIRMOS e que
ele espalhava para iluminar a destinação
de tantos outros, como eu, no rumo da vocação literária ou artística , a que
repousava, entre outras rosas que lhe foram presenteadas em seu
ato final; oferendas recíprocas que
levou em sua viagem, no rumo de sua ,
agora sim, imortalidade.
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