artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão
Jose Ewerton Neto, autor de O entrevistador de lendas
Antigamente,
apelido era coisa de jogador de futebol. Didi, Pelé, Vavá, o trio da copa de
58. Quem precisava de nome?
Com o passar dos anos, apelido
passou a ser evitado como uma pedra no caminho do sucesso. Jogador de futebol
hoje tem de preferência um nome da moda, ou dois, para soar mais digno e
merecedor de um futuro contrato na Europa: Lucas Lima , Rodrigo Caio, Gabriel
de Jesus. Parece até nome de dupla sertaneja. Que por sua vez passou de Jararaca
e Ratinho e Xitãozinho e Xororó para Bruno e Marrone, Tiago e Lucas, Luan e Santana,
(Ou seria Luan Santana?) Tanto faz, já que dá na mesma porcaria.
Sobrou para marginal. Sim porque em
bandido apelido sempre cai bem, já que vale como um distintivo. Neles, o nome
próprio é que soa como nome emprestado.
Eis que começaram as ações do
lava-jato e logo se descobriu que todos os políticos denunciados tinham
apelidos e, assim como os marginais, em tons pra lá de bizarros. A princípio,
se poderia pensar nisso como uma tentativa de proteção para encobrir a atividade sub-reptícia. Mas, se é assim, por que não preferir senhas, ou
números, ou códigos? Não seria por que, para os corruptores, alguns dos políticos
comprados se assemelham a marginais e, portanto, não mereceriam mais que as
alcunhas com que os marginais se tratam?
Deixemos pra lá. Tentemos, pelo
menos, especular uma possível causa para
tão grotescos codinomes.
1.CAMPARI. Apelido de Gim Argello
que recebeu 2,8 milhões
Será por causa do nome original,
cuja referência a Gim e Gello, lembra
uma dose geladíssima de Campari? Ou teria sido porque ninguém se “compara” a
ele na avidez por uma propinazinha? A escolha é sua, leitor.
2.DECRÉPITO. Paes Landim. Recebeu cem
mil.
Este, seguramente, nada tem a ver com o nome. Então só pode ser porque só
pediu cem mil enquanto os outros pediram de trezentas milhas pra cima. O
comentário diante do seu pedido de cenzinho deve ter surgido, na bucha: “Só
pode estar decrépito!”
3.MISSA. José Carlos Aleluia, que recebeu 300 pilas.
A influência do nome surge de novo e, neste caso, são duas as opções. Teria
sido porque Aleluia lembra missa? Ou porque não há missa, nem padre, e nem reza,
que livre um corrupto do fogo do
inferno?
4.CARANGUEJO.Eduardo Cunha. Recebeu
7 milhões.
Sem dúvida, algo a ver com unha, do
nome C unha, e , daí, à unha do caranguejo.
Neste caso, seria porque um bom caranguejo não gosta de viver fora da lama
( como Cunha) ou porque sua unha, ao segurar uma grana, não a abandona de jeito
algum?
5.A FEIA. Lídice da Mata. Duzentos
mil.
Essa sim, dispensa explicações. É só olhar pro retrato da moça. Mas, com tanta gente feia
ela mereceu apelido tão simpático só porque fisicamente é feia de dar dó, ou
porque sua feiura vai além e chega até a alma, como é próprio de quem rouba mais
por vício do que por necessidade?
E assim por diante, falta espaço para
tanto apelido, o que nos força a reconhecer o malabarismo e a inventividade de
seus inventores. Como a coisa não vai acabar tão cedo, nada como um apelido
atrás do outro.
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