quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

APELIDO DE LADRÃO




artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão

Jose Ewerton Neto, autor de O entrevistador de lendas


Antigamente, apelido era coisa de jogador de futebol. Didi, Pelé, Vavá, o trio da copa de 58. Quem precisava de nome?
            Com o passar dos anos, apelido passou a ser evitado como uma pedra no caminho do sucesso. Jogador de futebol hoje tem de preferência um nome da moda, ou dois, para soar mais digno e merecedor de um futuro contrato na Europa: Lucas Lima , Rodrigo Caio, Gabriel de Jesus. Parece até nome de dupla sertaneja. Que por sua vez passou de Jararaca e Ratinho e Xitãozinho e Xororó para Bruno e Marrone, Tiago e Lucas, Luan e Santana, (Ou seria Luan Santana?) Tanto faz, já que  dá na mesma porcaria.
            Sobrou para marginal. Sim porque em bandido apelido sempre cai bem, já que vale como um distintivo. Neles, o nome próprio é que soa como nome emprestado.




                                           





            Eis que começaram as ações do lava-jato e logo se descobriu que todos os políticos denunciados tinham apelidos e, assim como os marginais, em tons pra lá de bizarros. A princípio, se poderia pensar nisso como uma tentativa de proteção  para encobrir a atividade sub-reptícia. Mas,  se é assim, por que não preferir senhas, ou números, ou códigos?  Não seria por que, para os corruptores, alguns dos políticos comprados se assemelham a marginais e, portanto, não mereceriam mais que as alcunhas com que os marginais se tratam?

            Deixemos pra lá. Tentemos, pelo menos, especular  uma possível causa para tão grotescos codinomes.

            1.CAMPARI. Apelido de Gim Argello que recebeu 2,8 milhões
            Será por causa do nome original, cuja referência a Gim  e Gello, lembra uma dose geladíssima de Campari? Ou teria sido porque ninguém se “compara” a ele na avidez por uma propinazinha? A escolha é sua, leitor.

            2.DECRÉPITO. Paes Landim. Recebeu cem mil.
            Este,  seguramente, nada tem a  ver com o nome. Então só pode ser porque só pediu cem mil enquanto os outros pediram de trezentas milhas pra cima. O comentário diante do seu pedido de cenzinho deve ter surgido, na bucha: “Só pode estar decrépito!”

            3.MISSA. José Carlos Aleluia,  que recebeu 300 pilas.
            A influência do nome surge  de novo e, neste caso, são duas as opções. Teria sido porque Aleluia lembra missa? Ou porque não há missa, nem padre, e nem reza,  que livre um corrupto do fogo do inferno?

            4.CARANGUEJO.Eduardo Cunha. Recebeu 7 milhões.
            Sem dúvida, algo a ver com unha, do nome C unha, e , daí, à unha do caranguejo.  Neste caso, seria porque um bom caranguejo não gosta de viver fora da lama ( como Cunha) ou porque sua unha, ao segurar uma grana, não a abandona de jeito algum?



                                                   





            5.A FEIA. Lídice da Mata. Duzentos mil.
            Essa sim,  dispensa explicações. É só olhar pro  retrato da moça. Mas, com tanta gente feia ela mereceu apelido tão simpático só porque fisicamente é feia de dar dó, ou porque sua feiura vai além e chega até a alma, como é próprio de quem rouba mais por vício do que por necessidade?

            E assim por diante, falta espaço para tanto apelido, o que nos força a reconhecer o malabarismo e a inventividade de seus inventores. Como a coisa não vai acabar tão cedo, nada como um apelido atrás do outro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário