artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
“As palavras, como se sabe , são seres vivos” dizia Vítor Hugo e,
poderíamos acrescentar, “que agem, muitas vezes, com inconformismo “. Basta refletirmos sobre palavras que tomaram
conta do palavreado nacional de algum
tempo para cá e que se revelaram, se não inócuas, denunciadoras da hipocrisia
que lateja através delas. Isso acontece quando
se tenta, mediante o uso de palavras estrangeiras, ou ‘modernosas’, resolver problemas
que só se resolvem com ação e não com mera substituição de palavras .
Tanto a palavra Bullyng, como Feminicídio
e Empoderamento , só para citar essas três, depois que foram adotadas e
disseminadas, parece terem atingido um efeito exatamente o contrário ao que se
pretendia , ao serem alçadas a assunto do dia na mídia e repetidas à exaustão, nos
discursos, teses e palestras. Sobre as mesmas repousa uma estatística trágica.
Depois que foram adotadas os crimes monstruosos associados à semântica que
através delas deveria coibir o que deve
ser evitado, se perpetuaram,
A palavra bullyng, por exemplo,
importada da língua inglesa apontaria para uma influência devastadora se traçássemos
um gráfico de correlação estatística entre a implantação dessa palavra e o advento de
tragédias que não existiam antes em território nacional. Jovens
desestruturados, frágeis (para maltratar a si mesmos ) e covardes ( para atacar
seus iguais indefesos) , passaram a usar a representação da palavra bullyng
para justificar suas monstruosidades . O pior é que sobre essa monumental mentira
afloraram as teses de educadores e especialistas, sempre prontos para vitimizar
covardes e para justificar crueldades.
De repente, o conceito de ‘bullyng’
que passou séculos associado a uma chateação obsessiva por parte de colegas, (e
que no popular era chamado aporrinhação) virou objeto de discussões, debates, e,
sobretudo comiseração daqueles que a sofrem, passando por tremeliques,
histerias, e estresses de professores e pais sobrecarregando a mente em
formação do jovem de um estado de vigília permanente.
Idem com a palavra Feminicídio.
A coisa chegou
a tal ponto que, depois de implantada as monstruosidades começaram a acontecer
com tal frequência que os comentários estupefatos viraram rotina. “Porque tanta
brutalidade?“ “Será que não seria melhor continuar chamando esses covardes de boçais ou monstros e não de feminicidas?”
A alusão à impropriedade da palavra tem razão de ser: Feminicida, cuja
pronúncia remete a suicida, sinaliza fragilidade e carência, o que soa por
demais ameno para classificar as feras que cometem os crimes.
Claro, ninguém iria tão longe a ponto
de inferir que o poder das palavras vai além do que significam, mesmo quando embutem na sua utilização a hipocrisia
do poder público e sua incapacidade de proteger nossas mulheres que clamam por solução.
Assim como inventam leis e mais leis para falsearem a solução que não são
capazes de oferecer, a utilização de
palavras novas, na prática, apenas serve
de enfeite para uma tomada de posição corretiva da qual os poderes
mostram-se incapazes de executar.
Pobres palavras! São seres vivos, decerto,
mas, sabiamente, não se prestam para dourar a hipocrisia expressa
na estupidez dos homens, e na leniência dos que não agem para evitar a
continuação de tantas aberrações e monstruosidades.
José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas
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