sábado, 13 de abril de 2019

FEMINISMO, BULLYNG E OUTRAS PALAVRAS TRÁGICAS



artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


“As palavras, como  se sabe , são seres vivos” dizia Vítor Hugo e, poderíamos acrescentar, “que agem, muitas vezes,  com inconformismo “.  Basta refletirmos sobre palavras que tomaram conta do palavreado   nacional de algum tempo para cá e que se revelaram, se não inócuas, denunciadoras da hipocrisia que lateja através delas.  Isso acontece quando se tenta, mediante o uso de palavras estrangeiras, ou ‘modernosas’, resolver problemas que só se resolvem com ação e não com mera substituição de  palavras .  
Tanto a palavra Bullyng, como Feminicídio e Empoderamento , só para citar essas três, depois que foram adotadas e disseminadas, parece terem atingido um efeito exatamente o contrário ao que se pretendia , ao serem alçadas a assunto do dia na mídia e repetidas à exaustão, nos discursos, teses e palestras. Sobre as mesmas repousa uma estatística trágica. Depois que foram adotadas os crimes monstruosos associados à semântica que através delas deveria coibir  o que deve ser evitado, se perpetuaram,
A palavra bullyng, por exemplo, importada da língua inglesa apontaria para uma influência devastadora se traçássemos um gráfico de correlação estatística entre a  implantação dessa palavra e o advento de tragédias que não existiam antes em território nacional. Jovens desestruturados, frágeis (para maltratar a si mesmos ) e covardes ( para atacar seus iguais indefesos) , passaram a usar a representação da palavra bullyng para justificar suas monstruosidades . O pior é que sobre essa monumental mentira afloraram as teses de educadores e especialistas, sempre prontos para vitimizar covardes e para justificar  crueldades.
De repente, o conceito de ‘bullyng’ que passou séculos associado a uma chateação obsessiva por parte de colegas, (e que no   popular era chamado aporrinhação)  virou objeto de discussões, debates, e, sobretudo comiseração daqueles que a sofrem, passando por tremeliques, histerias, e estresses de professores e pais sobrecarregando a mente em formação do jovem de um estado de vigília permanente.
 Idem com a palavra Feminicídio. 








A coisa chegou a tal ponto que, depois de implantada as monstruosidades começaram a acontecer com tal frequência que os comentários estupefatos viraram rotina. “Porque tanta brutalidade?“ “Será que não seria melhor continuar chamando esses  covardes de boçais ou monstros e não de feminicidas?” A alusão à impropriedade da palavra tem razão de ser: Feminicida, cuja pronúncia remete a suicida, sinaliza fragilidade e carência, o que soa por demais ameno para classificar as feras que cometem os crimes.
Claro, ninguém iria tão longe a ponto de inferir que o poder das palavras vai além do que significam, mesmo  quando embutem na sua utilização a hipocrisia do poder público e sua incapacidade de proteger nossas mulheres que clamam por solução. Assim como inventam leis e mais leis para falsearem a solução que não são capazes de oferecer,  a utilização de palavras novas, na prática,  apenas serve de enfeite para uma tomada de posição corretiva da qual  os poderes  mostram-se incapazes de executar.  
Pobres palavras! São seres vivos, decerto, mas, sabiamente,   não se prestam para dourar a hipocrisia expressa  na estupidez dos homens,  e na leniência dos que não agem para evitar a continuação de tantas aberrações e monstruosidades.

José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas




                                                                                                                                                          ewerton.neto@hotmil.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário