MINHA VIDA DE CAMISA
LISTRADA
José Ewerton Neto
Listas e listras. Listras são sedutoras. Nas vestes, nos
enfeites e nos animais ( zebras). Quanto
às listas, sempre fui vidrado por elas.
Tenho desde o Livro das listas a até Listas Extraordinárias, presente de minha amiga
confreira, poeta Laura Amélia Damous.
Esses dias, relendo revistas antigas deparei com uma edição
da revista Bravo ( certamente está na lista
das melhores revistas já publicadas neste país) com sua lista das cem canções essenciais da MPB.
Uma rápida olhada na seleção me fez constatar que lá estavam
desde as clássicas inevitáveis até as menos votadas, da nossa cota pessoal. Do
primeiro grupo Construção, Garota de Ipanema, Carinhoso, Detalhes, de
diferentes compositores de peso. Do segundo grupo aquelas das quais nos
apropriamos sentimentalmente na base do “somos eternamente responsáveis por
aquilo que cativamos”, não é mesmo, Exupéry? No meu caso, lá estavam Baby, de
Caetano, Ouça, de Maysa, Feitiço da Vila, de Noel, Marina, de Caymmi. Dentro
desse espírito, comecei a ficar incomodado na medida em que percorria os
títulos e ela não aparecia. Cadê a Camisa
Listrada?
Escutei o samba Camisa Listrada pela primeira vez, quando, em
criança iniciei o meu aprendizado de violão sob a batuta de meu pai, ele, um
exímio instrumentista que tocava também clarinete e saxofone. Não sei o que me
fascinou mais quando ouvi a canção, se a melodia repetitiva que, como no Bolero
de Ravel vai num crescendo enquanto dramaticamente chega ao êxtase, ou se a
letra que, com frases bizarras atordoa nossos ouvidos com precisão angelical e
infantil. O início do samba “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí”, é uma
declaração de independência à brasileira, muito mais inspirada do que
“Independência ou Morte”, por exemplo. Quando logo depois o samba descamba em
um “Mamãe eu quero mamar, mamãe eu
quero mamar...”(expressão que mesmo quando soube que se tratava de uma gíria de
época, jamais perdeu sua conotação pueril ) já o mistério e o êxtase,
essenciais em toda obra de arte, se
completam.
Ora, listas! Se pretendem citar os melhores hão de ser sempre incompletas e imperfeitas.
No caso desta, quando busca as essenciais, isso me parece um artifício dos
autores para se proteger dos inevitáveis esquecimentos que, no caso do genial
compositor Assis Valente ( que suicidou-se na década de 50) foi apenas parcial
pois incluiu sua canção E o mundo não se acabou.
Por algum motivo o samba foi considerado essencial e não
Camisa Listrada ou Boas Festas, a mais plangente canção de Natal que já
escutei, também de sua lavra. Vai ver que essas músicas são belas, mas não
essenciais, assim como também, muitas outras , preferidas por gente de gosto,
certamente, mais refinado que o meu.
Enfim, coisas de listas.
Mas a Camisa Listrada deveria estar lá.
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