EMILY
BRONTE, DAS PAIXÕES UIVANTES
José Ewerton
Neto
...o morro dos ventos uivantes é um aprendizado sobre a paixão.
3 anos atrás o livro O morro dos ventos uivantes, de forma um
tanto surpreendente porque é um clássico, permaneceu por vários meses na lista
dos mais vendidos no Brasil. (Clássicos da literatura, como se sabe, não
permanecem tanto tempo na lista dos best-sellers). Tive a ventura de ler esse romance mais de duas
vezes e de ter assistido outro tanto de suas diferentes versões
cinematográficas, a última com Juliette Binoche no papel principal.
Se outro clássico famoso, Romeu e Julieta, é um ensinamento sobre
o amor O morro
dos ventos uivantes é um aprendizado sobre a paixão. Parece a mesma coisa,
mas não é. Creio ser essa uma das razões para tanta fascinação que carreia para
suas páginas. A primeira vez que o li, na adolescência, fiquei arrebatado de
forma inusitada. Certamente, havia em seu enredo e sua narrativa algo de mágico,
sombrio e, ao mesmo tempo, sedutor.
Pois foi através desse arrebatamento
que cheguei à criadora desse romance, Emily Bronte, quando anos mais tarde fui pesquisar
a sua biografia.
Parece que a estou vendo agora, na
casa onde morava, ou nas charnecas, ao lado, onde os morros uivavam e era fácil
ver fantasmas vindo dos cemitérios que circundavam seu rancho. A mente
sonhadora, de moça oprimida por um pai autocrático e severo, que tinha como
único divertimento com suas duas irmãs, conceber cenas de teatro que escreviam
em caixas de papelão.
A terna Emily, que não se casou e morreu cedo,
falecendo antes de completar 30 anos, de tuberculose, ao se recusar a receber
cuidados médicos. Que passava seus dias com o olhar fixo na janela, onde batiam
os ventos, transportando-se para o único lugar possível fora do lar onde as
confinavam, vivificando as cenas com que revestiria o romance que a
imortalizaria. Um drama em que as paixões beiravam o paroxismo, resvalavam para
o doentio, mas jamais atingiam o ponto da insanidade ou do puramente tenebroso
ou fantasmagórico. Humano, demasiadamente humano, como diria o filósofo
escritor
Uma moça débil, mas formosa, de
beleza melancólica e suave, dotada de um coração que guardava paixões tão
intensas que foi capaz de transformá-las em furacões uivantes para deleite de
seus eternos leitores