ENCONTREI A
FELICIDADE
“ Para resolver essa parada...fui encontrar a FELICIDADE.”
Para resolver essa parada de extremismo político, liberdade
de pensar ameaçada, custo de planos de saúde nas alturas, guerras pra todo lado,
esperanças diminuindo e limão a vinte reais etc. etc. fui encontrar a
FELICIDADE.
Ela própria, em pessoa, com expressão um tanto depressiva
depois da Pandemia. Estava pronta para desabafar.
-
Não aguento mais.
( e eu que cheguei a pensa que era só
eu...)
- O quê, precisamente,
Dona Felicidade?
-
Tanta gente atrás de mim. Tanta
procura, tanta adulação, durante e, principalmente agora, depois da
Pandemia. Essa gente acha que virei o único remédio para as mazelas do
mundo. E o pior é que sequer se dão ao trabalho de querer saber quem sou.
-
E quem você é?
-
Isso é o que eu gostaria de saber. Esperei por isso a vida inteira! Todos tentam
me explicar em vão: filósofos, escritores, cientistas... Se felicidade é isso que todo mundo pensa que
eu sou, desconfio de que eu mesma nunca fui feliz e jamais vou ser.
-
Se a Sra. me permite, essa tristeza enfraquece rapidamente pessoas sensíveis como a senhora.
-
Se fosse apenas isso... A questão é que, mesmo sem saber quem sou, de repente,
me julgam capaz de resolver todos os problemas do mundo. Até das mortes. Ora, eu não sou Deus!
Definitivamente, estou pra ficar louca com tudo isso!
-Poxa,
dona Felicidade! Não sei o que dizer... Talvez... Bem, só me resta sugerir...
-
O quê, pelo amor de Deus!
-
Que tal procurar um analista, Dona Felicidade?
-
Jamais! Conheço-os muito bem: eles me usam de forma imprópria, como se eu fosse
vacina. Dizem: “procurem dona Felicidade, ela resolverá seus problemas”. Ora,
tem lógica isso?
-
A Sra. tem razão. Só desejaria que, pelo menos, a Sra. continuasse feliz, para o
bem da humanidade. Senão...
-
E quem lhe disse que me incomoda ser infeliz? Acredite, com tanta gente falando
asneira a meu respeito, até que gostaria de ser infeliz, só para que me
deixassem em paz, compreende? Estou prestes até a adotar uma solução para mim, doa a quem doer :
Infelicidade ou morte!
José Ewerton Neto é autor de A última viagem de Gonçalves Dias e outros contos, já nas livrarias