quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

SOLDADO DESCONHECIDO POR QUÊ?



SOLDADO DESCONHECIDO POR QUÊ?

 

José Ewerton Neto

 

            Qual o motivo de uma homenagem a um desconhecido se existe tanta gente conhecida que mereceria, se não uma homenagem, pelo menos um pouco mais de consideração?

            Estamos falando da homenagem prestada ao soldado desconhecido.

            Evidentemente que os políticos, autoridades e chefes de Estado –fingem estar exercendo um papel muito digno, supostamente corrigindo uma injustiça ao homenagearem alguém que morreu pela pátria sem a contrapartida do reconhecimento devido.

            E é aí que, se pensarmos com isenção e racionalidade -  reside uma notória contradição, expondo até onde pode ir a hipocrisia humana. Pois se o soldado é desconhecido, até hoje, como saber qualquer coisa a seu respeito? Será que foi, de fato, um herói? Não teria preferido fugir do que receber uma homenagem como essa depois de morto? E, depois de morto: perpetrar para o dito cujo uma situação como essa, de incógnito entre tantos outros presumidos desconhecidos não é muito mais vexatório do que seria a ignorar completamente o seu passado?

            Pensemos bem. Para uma Nação que se preze o que deveria haver de desconhecido entre seus cidadãos? Puxa vida, será que nem mesmo sua mãe o conhecia? Nem o dono do boteco onde tomava umas pingas em dia de folga? Nem sua namorada, ou o agiota para quem devia? Fica claro que inferir que o cidadão era mesmo desconhecido faz parte do vício que os mandatários do país têm de jamais se interessarem pelos humildes, por preguiça, comodidade ou safadeza.

            De que adianta a alguém uma homenagem que lhe é prestada após a morte? Em que isso engrandece mais sua memória do que o choro de seus filhos?  Mesmo porque, dificilmente alguém se julgará homenageado – nesta vida ou depois dela – sabendo-se tratado como desconhecido pela nação para a qual deu a vida.

Portanto, se o Estado através de seus mandatários pretende realmente fazer alguma coisa por aqueles que o dignificaram, deveria fazê-lo em vida tratando qualquer cidadão, com respeito e consideração. Que não o obrigue a morrer em vão e depois não o ofenda ignorando sua existência e tratando como herói um indivíduo sem sequer ter se dado ao trabalho de conhece-lo. Que ao menos procure dar à sua família um pouco da recompensa pelo que ele fez pela Pátria.

Essa família que sabe mais do que todo mundo que ele nunca quis nem pretendeu ser herói, mas apenas um homem comum e que merece – não homenagens póstumas que não enchem a barriga de seus filhos,  mas o direito de ter aquilo que os ricos têm, em dobro e em abundância sem nunca ter feito metade do que ele fez: educação, moradia, direito à assistência médica e social e a tratamento digno. 


 

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