sábado, 15 de agosto de 2009

DÁ-LHE SAUDADE

Artigo de hoje, sábado, 15 de Julho do jornal
O estado do Maranhão coluna Hoje é dia de


DÁ-LHE, SAUDADE!

Jose Ewerton Neto, membro da AML.

ewerton.neto@hotmail.com




Que saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa, muita gente sabe. E que expressa um sentimento que mais gente ainda é incapaz de traduzir, quase todo mundo sabe. Só não sabia é que ela foi escolhida em 2004, numa pesquisa com mil tradutores de todo o mundo, como o sétimo vocábulo mais intraduzível do planeta.
Só o sétimo? Calma, leitores, que não estava em jogo a sua beleza mas a sua tradução impossível, não a sua sedução, mas a sua verdade oculta. Esta não foi uma disputa entre países, mas entre suas simbologias universais. Para efeito de comparação, nada como lembrar das palavras que chegaram à primazia.
A campeã foi a palavra Ilunga, dialeto do Congo que significa perdoar uma ofensa uma vez, depois a segunda e, nunca, uma terceira. Ora, por que terceira? Por que não a quarta, ou a quinta? Quem perdoa a primeira e a segunda, perdoa até a milésima, não é assim que fazem os brasileiros com seus políticos? Portanto, tudo indica que essa palavra só não encontra equivalente em outro idioma, pela absoluta falta de necessidade de se pronunciada.
Em segundo lugar ficou a palavra Shlimazl, em iídiche, que significa aquele que tem uma má sorte crônica. Ué, e isso não é a mesma coisa que azarado? Ou terá evoluído para Botafogo, o time que quando o juiz não rouba contra, seus zagueiros fazem as vezes de? De qualquer forma, o que não falta é tradução – e fácil - para a mesma.
E em terceiro ficou Radioukacz (em polonês) que significa pessoa que trabalhou como telégrafo para os movimentos de resistência no lado soviético da cortina de ferro. Ufa!, A palavra é tão difícil de traduzir quanto inútil para qualquer outra nação deste planeta e dos confins de qualquer outro lugar do universo!
Donde se conclui facilmente que sim, que a nossa “saudade” foi mesmo passada para trás. Os juizes a subestimaram, levando-se em conta que a beleza mais profunda de qualquer coisa implica na sua difícil tradução; em outras palavras, no seu mistério. Quer queiram quer não, estava em jogo também o que cada palavra tem de especial. Só para dar um exemplo, basta lembrar que de mulheres bonitas hoje o mundo está cheio (Giseles Bundchens, Carolinas Dieckmans e mais um batalhão interminável de modelos, cada uma cara de um c...da outra) mas, nelas não se encontra a chama sutil e intraduzível da beleza misteriosa, que seja capaz de marcar além de uma apreciação meramente física. Esta não é privilégio das “gentes bonitas” das colunas sociais e, sequer do universo das celebridades, onde é raro ser encontrada da mesma forma com que reluzia - no passado - no rosto para lá de marcante de uma Sofia Loren, por exemplo. Hoje, se permite cintilar, vez por outra, em algumas aparições fugazes de Angelina Jolie, Juliete Binoche.ou Isabelle Adjani, para citar apenas celebridades..
Assim como ocorre com a verdade da beleza humana, também o que atrai na palavra saudade é o fato de transmitir de forma avassaladora (não encontrei outro termo mais apropriado) um sentimento intraduzível, que nenhuma frase, nenhum período, nenhum romance seria capaz de expressar. Que os franceses tentam traduzir por regret – que não é saudade, mas pesar –, e os ingleses como miss - que está mais para sentir falta - e que só alguns poetas, em instantes raros de inspiração ousaram interpretar, provavelmente comprimidos por sua presença como Fernando Pessoa em seu poema: “Saudades, só portugueses conseguem senti-las bem. Porque têm essa palavra para dizer que as têm.”
Dá-lhe, então, até o fim (sem piedade de nossos corações), saudade!

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