segunda-feira, 28 de setembro de 2009

TWITTAR, VERBO IRRACINAL

Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Jornal O Estado do Maranhão, sábado passado





TWITTAR, VERBO IRRACIONAL


José Ewerton Neto, membro da AML
ewerton.neto@hotmail.com



Twittar, verbo irracional, conjuga-se assim:
Eu twitto
Tu twittas
Ele twitta
Nós twittamos
Vós twittais
Eles twittam
Uma possível tradução, para quem não sabe, seria:
Eu sou bobo
Tu és idiota
Ele nos faz de idiota
Nós não temos o que pensar
Vós gostais de perder tempo
Eles não têm o que fazer
Provavelmente algum leitor, já me corrigindo, dirá que não existe, na classificação gramatical, verbo irracional. Que existe, sim, verbos transitivos e intransitivos, verbos de ligação, verbos irregulares etc. mas verbo irracional, não.
De fato, temos que concordar. Ao invés de verbos irracionais seria mais correto dizer que existem atitudes irracionais, mas o que teria isso a ver com o verbo, ou a ação de twittar?
Tentemos entender, já que eu também não sabia perfeitamente o que era, tinha apenas uma vaga idéia, quando que me dispus a ler uma reportagem da revista Época. Através dela fiquei sabendo que twittar, grosseiramente, é tomar contacto através de uma ferramenta da Internet com mensagens enviadas a torto e a direito (mais a torto do que a direito) por celebridades sobre suas vidas. Donde surgiu a primeira dúvida: “Que interesse pode ter alguém, minimamente racional, por detalhes cotidianos da vida de uma pessoa, seja celebridade ou não?”
Bem, uma razoável explicação seria a de que o dia a dia dessa tal celebridade fosse pleno de eventos inusitados, recheado de emoções, enfim, guardasse algo fora do comum para despertar curiosidade. Ou então que essa pessoa, possuidora de singular sabedoria fosse capaz de exprimir, através de mensagens, frases de conteúdo edificante para quem se dispusesse a lê-las, assim justificando a perda de tempo. Mas parece que a coisa não é bem por aí, a julgar pelas frases exibidas na reportagem e que são continuamente enviadas por esses “grandes personagens”:
Ivete Sangalo: “Gente amada, vou tomar um banho senão o corpo se acostuma com o fedô, ahahahahah.vou tomar meu bainho pra ficar xero”
Sandy: “A coceira nos braços já passou, sim, obrigada! Sempre acontece isso qdo. eu tomo sol (mesmo q por pouco tempo)...
Preta Gil: “Não tenho nojo do vômito do meu cachorrinho,
como nunca tive do cocô do meu filho”
Angélica: “Chutei um móvel no quarto voltando do banheiro de madrugada...kkkkkkkkkkridículo!!!”
Donde surge a segunda pergunta: “Que interesse pode ter alguém por banalidades cotidianas provenientes de gente tão insípida?” ou ainda: “Será que ao tornar-se celebridade, o indivíduo automaticamente assume o dom de se transformar num manancial de asneiras?”
Porém, - acreditem! - o pasmo sequer chegara ainda ao seu clímax! A reportagem dá conta, a seguir, de que cada uma dessas celebridades têm milhares de seguidores. (Seguidores são aqueles que twittam). Isso mesmo, eles são milhares, e bote milhares nisso: Luciano Huck tem 850 mil, Ivete tem 270 mil, Angélica duzentos mil, Preta Gil cem mil etc. Portanto, uma população muito maior que a de uma cidade como São Luis se presta para isso: fuçar porcarias da insossa vida de gente mais insossa ainda.
Vamos repetir: tem gente que ao invés de ler um livro, tomar um chope, escutar uma música, aprender a tocar um instrumento musical, regar o jardim, pintar ou esculpir, olhar o pôr-do-sol, estudar ou namorar prefere twittar. Eles preferem twittar.
O que me fez imediatamente recordar a frase de um escritor norte-americano que dizia: “99 % dos seres humanos são seres completamente irracionais, o restante são aqueles que têm consciência disso.” Assim, á semelhança das distrações por demais conhecidas: Big-Brother, A fazenda, o Faustão, etc., exemplos em que a pulsão coletiva de toda uma sociedade pelo que há de mais mesquinho, age em contracorrente com qualquer resquício do senso inteligente de que tanto nos orgulhamos, é fácil chegar à conclusão de que, de fato, a ação de twittar, nada mais é que humana, demasiadamente humana, como dizia Nietzche.
Fica, portanto, explicada a razão pela qual o verbo twittar talvez seja realmente um verbo irracional, embora profundamente humano. Para quem faz parte do um por cento acima citado pelo escritor, mas está a fim de tornar-se menos racional e mais humano, conjuga-se assim:
Eu twitto
Tu twittas
Ele twitta
Nós twittamos
Vós twittais
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